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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Histórias terrenas com anjos de saias

Mais esterco lançado na ventoinha...
Plauto (254-184) em sua obra Asinaria, diz exatamente: «Lupus est homo homini non homo». Mais tarde foi popularizada desta forma: «Homo homini lupus é uma sentença latina que significa «o homem é o lobo do homem». Muito bem.
O italiano Antonio Gramsci, numa nota de rodapé nos seus Cadernos do Cárcere, recorda que a origem da expressão deve ser tomada «em amplo sentido devido para ser aplicado à fórmula eclesiástica em latim medieval: Homo lobofoemina foeminae lupiorsacerdotes Sacerdos lupissimus’», quer dizer, «o homem é o lobo do homem, a mulher é ainda mais pior com a mulher, o sacerdote é lobíssimo com o sacerdote». Não queria crer, mas perante as evidências, já não sei o que pensar...
Por isso, deixemos o silêncio dizer da verdade e da transparência que tanto ansiamos para  que se faça luz nas nossas mentes.

O arrependimento constante

Mesa da palavra
Comentário à Missa do próximo domingo
3 de Março de 2013 - III Domingo da Quaresma

O arrependimento deve fazer parte de qualquer vida humana. Mas, acima de tudo, deve fazer parte da vida de qualquer pessoa que confesse a sua fé em Jesus Cristo.
Este sentimento humano e cristão é fundamental para identificar-se uma pessoa que vive a dinâmica da proposta apresentada pelo Evangelho de Jesus. Afinal, o que será o arrependimento? – O arrependimento, segundo o dicionário, é o acto ou efeito de arrepender-se; contrição; mudança de opinião. Porém, a palavra arrependimento, conjuga-se a partir do verbo arrepender-se, que significa sentir mágoa, pesar ou mágoa por faltas ou erros cometidos; mudar de parecer ou de propósitos; desdizer-se; retratar-se. Estes elementos permitem-nos melhor assemelhar o desafio de Jesus.
O Cristianismo não inventou o arrependimento, porque o arrependimento é um sentimento humano nem nenhum homem precisa necessariamente da fé para viver o dinamismo do arrependimento. Porém, a convicção de Jesus e a densidade das suas palavras, revelam-nos que mediante a proposta cristã o arrependimento torna-se uma vivência essencial para identificar os que acolhem o desafio da fé na pessoa de Jesus.
Mas, não menosprezamos que o arrependimento deve ser um valor para libertar, salvar e convidar a ser melhor na prática quotidiana para que não tenha razão a denúncia do «Arrependimento Imoral» de Freud quando diz: «O homem a quem o arrependimento, após o pecado, impõe grandes exigências morais, expõe-se à acusação de ter tornado a sua tarefa demasiado fácil. Não praticou o que é essencial na moral, a renúncia; com efeito, o comportamento moral ao longo da vida é exigido em função dos interesses práticos da humanidade. O homem citado recorda-nos os bárbaros das grandes ondas migradoras, que matavam e depois faziam penitência, e para os quais fazer penitência acabou por se tornar uma técnica facilitadora do assassínio» (Sigmund Freud, in 'As Palavras de Freud').
Porém, o mais importante será sabermos que não há pecado nenhum, que mediante o arrependimento, resista à misericórdia de Deus. E também se reconhece a partir da parábola da figueira estéril, que a realidade do pecado torna a vida um peso estéril que não produz nada de bom para ninguém. Por isso, o arrependimento torna-se uma força necessária a todos os homens e, de modo especial, a todos os cristãos, como ideal de conversão eficaz para a descoberta da verdade das palavras e das atitudes em toda a vida.
Muita gente poderá pensar e confessar o seguinte: não mato nem roubo, por isso, não tenho nada para me arrepender. Não é bem assim. Matar e roubar são situações muito graves, mas existem outra, quem sabe se menos graves, mas que não deixam de ser prejudiciais para o bom entendimento entre as pessoas e cortam também a relação com o Deus do amor. Por isso, o cuidado com o nosso interior deve ser uma constante para que sejamos sempre mediação da verdade e da sinceridade para que plantemos no mundo os valores que conduzem à felicidade e à paz para todos. É isto o Reino de Deus construído pelo «fazer» positivo de cada pessoa.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Porque estamos no Ano da Fé (18)

O que a fé não é
A fé não é sem a Palavra de Deus
A palavra que Jesus anuncia não se coaduna com as nossas pieguices frívolas ou estéreis. Muitas pessoas pensarão que a vivência da Palavra de Deus tem um único padrão, como se fosse uma coisa humana ou material que se pode possuir e dominar como todas as coisas que são deste mundo.
A palavra que Jesus comunica tem fundamentalmente a ver com o amor, reparemos no que nos diz Jesus: «Quem Me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará... Quem Me não ama não guarda a minha palavra». Aqui manifesta Jesus que fora do amor não pode haver escuta da palavra de Deus. Esta palavra é-nos dada por Jesus o Filho de Deus, que a tornou palavra sempre viva e encarnada em todos os contextos da história dos homens.
A Palavra de Deus é viva e eficaz. Todos os momentos da vida podem ser iluminados por esta palavra que Deus proclama. Não são estas ou aquelas formas de viver que dão consistência à Palavra de Deus. Isto é, não é este esquema, esta forma de vida ou aquela opção pessoal que predefine a palavra que Jesus nos envia. A Palavra de Deus está para a vida toda e para todos os modos de existir. Nada nem ninguém se pode considerar plenamente iluminado ou totalmente consagrado pela Palavra de Deus, porque Deus não permite aprisionamentos ou domínios desta ou daquela forma de existência. Somos chamados a guardar a Palavra com amor e não a possuí-la com arrogância sobre todos os outros.
Jesus revela-nos a verdadeira Palavra, a Palavra de Deus, e com ela somos convocados para o acolhimento do Espírito Santo. Este é o único Espírito que salva e que pode dar garantias de futuro. Nada nos deve demover desta causa. O Espírito de Deus é um caminho de salvação que nos garante uma possibilidade de graça salvadora. Nada nem ninguém nos pode contrariar nem desviar desta luz de amor revelada por Jesus Cristo na Sua Palavra.

Nota: esperemos, que por estes dias em que um Papa se retira e outro será colocado, não fique  à porta o Dom do Espírito Santo e a Palavra de Deus não seja remetida às calendas do esquecimento... É este o meu propósito e oração. 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Habemus Papam

Não poderiam cair melhores os escândalos da Igreja Católica, a resignação do Papa Bento XVI e todas as patifarias que nos chegam do Vaticano para os vários governantes que esfregam as mãos de contentes, porque as atenções sobre as suas malfeitorias esbateram-se um pouco, estão mais descansados por uns dias. As opiniões públicas desviaram-se, estão longe da realidade concreta. Por isso, muito cuidado…
Para quem já estava farto de ouvir falar de austeridade, corrupção, manifestações, troicas e «baldroicas», pobres, fome, campanhas de solidariedade e todos esses ingredientes que fazem a nossa vida hoje, os recentes acontecimentos da Igreja Católica são um rico manjar para todos, especialmente, para políticos interesseiros e para alguma opinião pública cansada de tanta notícia negativa que a comunicação social nos vai presenteando diariamente. 
Mas, que ninguém adormeça e que não se deixe adormecer porque afinal se surpreende, porque caiu a pior nódoa no melhor pano. Estejamos atentos que pelo meio da coisa podem surgir atentados contra a liberdade, mais corrupção que depois todos nós temos que pagar e mais medidas que apertam ainda mais o nosso povo. 
Não nos desviemos do essencial. O Papa da Igreja Católica é muito importante, mas a papa no prato das famílias ainda mais, por isso, que ninguém se descuide do que verdadeiramente está em causa. Porque, infelizmente, à volta de tudo isto há muito circo e descobrimos o mais grave, é que pessoas da Igreja Católica que consideramos inteligentes, sábias, lúcidas se prestem a esse serviço do circo para entreter os povos.

«Quem se humilhar será exaltado»

Sentenças dos Padres do Deserto (séculos IV-V)
Macário 11
Certo dia, Abba Macário vinha do Paul e regressava à cela, trazendo consigo umas folhas de palmeira. Pelo caminho, o demónio veio ao seu encontro com uma foice de ceifeiro, e tentou atacá-lo, mas não conseguiu. Disse-lhe então o demónio: «Macário, sofro muitos tormentos por tua causa, porque não consigo vencer-te. Contudo, faço tudo o que tu fazes: tu jejuas, e eu não como; tu velas, e eu não durmo. Há só um aspecto em que me vences.» «Qual?»
«A tua humildade. É ela que me impede de te vencer.»

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A Igreja-instituição como “casta meretriz”

Até agora não encontrei melhor... 
Um texto magnífico que devia ser lido e rezado por toda a hierarquia da Igreja Católica. Não percam esta magnífica reflexão não me contive e quase que me levou às lágrimas, pois, comungo desta forma de ser e de estar na Igreja Católica. Que o Espírito Santo nos ajude, porque bem precisamos de ajuda sobrenatural... Destaco o seguinte: «Só quem ama a Igreja pode fazer-lhe as críticas que lhe fizemos, citando textos de autoridade clássicas do passado. Quem deixou de amar a pessoa um dia amada, se torna indiferente à sua vida e destino. Nós nos interessamos à semelhança do amigo e de irmão de tribulação Hans Küng, (foi condenado pela ex-Inquisição) talvez um dos teólogos que mais ama a Igreja e por isso a critica. 
Não queremos que cristãos cultivem este sentimento de descaso e de indiferença. Por piores que tenham sido seus erros e equívocos históricos, a instituição-Igreja guarda a memória sagrada de Jesus e a gramática dos evangelhos. Ela prega libertação, sabendo que geralmente são outros que libertam e não ela. Mesmo assim vale estar dentro dela, como estavam São Francisco, Dom Helder Câmara, João XXIII e os notáveis teólogos que ajudaram a fazer o Concílio Vaticano II e que antes haviam sido todos condenados pela ex-Inquisição, como De Lubac, Chenu, Congar, Rahner e outros. Cumpre ajuda-la a sair deste embaraço, alimentando-nos mais do sonho de Jesus de um Reino de justiça, de paz e de reconciliação com Deu e do seguimento de sua causa e destino do que de simples e justificada indignação que pode cair facilmente no farisaísmo e no moralismo».

23/02/2013

Quem acompanhou o noticiário dos últimos dias acerca dos escândalos dentro do Vaticano, trazidos ao conhecimento pelos jornais italianos “La Repubblica” e o “La Stampa”, referindo um relatório com trezentas páginas, elaborado por três Cardeais provectos sobre o estado da cúria vaticana deve, naturalmente, ter ficado estarrecido. Posso imaginar nossos irmãos e irmãs piedosos que, fruto de um tipo de catequese exaltatória do Papa como “o doce Cristo na Terra” devam estar sofrendo muito, pois amam o justo, o verdadeiro e o transparente e jamais quereriam ligar sua figura a notórios malfeitos de seus assistentes e cooperadores.
O conteúdo gravíssimo destes relatórios reforçaram, no meu entender, a vontade do Papa de renunciar. Ai se comprovava uma atmosfera de promiscuidade, de luta de poder entre “monsignori”, de uma rede de homossexualismo gay dentro do Vaticano e desvio de dinheiro do Banco do Vaticano. Como se não bastassem os crimes de pedofilia em tantas dioceses que desmoralizaram profundamente a instituição-Igreja. 
Quem conhece um pouco a história da Igreja – e nós profissionais da área temos que estuda-la detalhadamente- não se escandaliza. Houve épocas de verdadeiro descalabro do Pontificado com Papas adúlteros, assassinos e vendilhões. A partir do Papa Formoso (891-896) até o Papa Silvestre (999-1003) se instaurou segundo o grande historiador Card. Barônio a “era pornocrática” da alta hierarquia da Igreja. Poucos Papas escapavam de serem depostos ou assassinados. Sergio III (904-911) assassinou seus dois predecessores, o Papa Cristóvão e Leão V.
A grande reviravolta na Igreja como um todo, aconteceu, com consequências para toda a história ulterior, com o Papa Gregório VII em 1077. Para defender seus direitos e a liberdade da instituição-Igreja contra reis e príncipes que a manipulavam, publicou um documento que leva este significativo título “Dictatus Papae” que literalmente traduzido significa “a Ditadura do Papa”. Por este documento, ele assumia todos os poderes, podendo julgar a todos sem ser julgado por ninguém. O grande historiador das idéias eclesiológicas Jean-Yves Congar, dominicano, considera a maior revolução acontecida na Igreja. De uma Igreja-comunidade passou a ser uma instituição-sociedade monárquica e absolutista, organizada de forma piramidal e que vem até os dias atuais.
Efetivamente, o cânon 331 do atual Direito Canônico se liga a esta compreensão, atribuindo ao Papa poderes que, na verdade, não caberiam a nenhum mortal, senão somente a Deus: ”Em virtude de seu ofício, o Papa tem o poder ordinário, supremo, pleno, imediato, universal” e em alguns casos precisos, “infalível”.
Esse eminente teólogo, tomando a minha defesa face ao processo doutrinário movido pelo Card. Joseph Ratzinger em razão do livro “Igreja:carisma e poder” escreveu um artigo no “La Croix”(8/9/1984) sobre o “O carisma do poder central”. Ai escreve:”O carisma do poder central é não ter nenhuma dúvida. Ora, não ter nenhuma dúvida sobre si mesmo é, a um tempo, magnífico e terrível. É magnífico porque o carisma do centro consiste precisamente em permanecer firme quando tudo ao redor vacila. E é terrível porque em Roma estão homens que tem limites, limites em sua inteligência, limites em seu vocabulário, limites em suas referencias, limites no seu ângulo de visão”. E eu acrescentaria ainda limites em sua ética e moral.
Sempre se diz que a Igreja é “santa e pecadora” e deve ser “sempre reformada”. Mas não é o que ocorreu durante séculos nem após o explícito desejo do Concílio Vaticano II e do atual Papa Bento XVI. A instituição mais velha do Ocidente incorporou privilégios, hábitos, costumes políticos palacianos e principescos, de resistência e de oposição que praticamente impediu ou distorceu todas as tentativas de reforma.
Só que desta vez se chegou a um ponto de altíssima desmoralização, com práticas até criminosa que não podem mais ser negadas e que demandam mudanças fundamentais no aparelho de governo da Igreja. Caso contrário, este tipo de institucionalidade tristemente envelhecida e crepuscular definhará até entrar em ocaso. Os atuais escândalos sempre houveram na cúria vaticana apenas que não havia um providencial Vatileaks para trazê-los a público e indignar o Papa e a maioria dos cristãos.

Meu sentimento do mundo me diz que estas perversidades no espaço do sagrado e no centro de referencia para toda a cristandade – o Papado – (onde deveria primar a virtude e até a santidade) são consequência desta centralização absolutista do poder papal. Ele faz de todos vassalos, submissos e ávidos por estarem fisicamente perto do portador do supremo poder, o Papa. Um poder absoluto, por sua natureza, limita e até nega a liberdade dos outros, favorece a criação de grupos de anti-poder, capelinhas de burocratas do sagrado contra outras, pratica largamente a simonía que é compra e venda de vantagens, promove adulações e destrói os mecanismos da transparência. No fundo, todos desconfiam de todos. E cada qual procura a satisfação pessoal da forma que melhor pode. Por isso, sempre foi problemática a observância do celibato dentro da cúria vaticana, como se está revelando agora com a existência de uma verdadeira rede de prostituição gay.


Enquanto esse poder não se descentralizar e não outorgar mais participação de todos os estratos do povo de Deus, homens e mulheres, na condução dos caminhos da Igreja o tumor causador desta enfermidade perdurará. Diz-se que Bento XVI passará a todos os Cardeais o referido relatório para cada um saber que problemas irá enfrentar caso seja eleito Papa. E a urgência que terá de introduzir radicais transformações. Desde o tempo da Reforma que se ouve o grito: ”reforma na Cabeça e nos membros”. Porque nunca aconteceu, surgiu a Reforma como gesto desesperado dos reformadores de fazerem por própria conta tal empreendimento.


Para ilustração dos cristãos e dos interessados em assuntos eclesiásticos, voltemos à questão dos escândalos. A intenção é desdramatizá-los, permitir que se tenha uma noção menos idealista e, por vezes, idolátrica da hierarquia e da figura do Papa e libertar a liberdade para a qual Cristo nos chamou (Galatas 5,1). Nisso não vai nenhum gosto pelo Negativo nem vontade de acrescentar desmoralização sobre desmoralização. O cristão tem que ser adulto, não pode se deixar infantilizar nem permitir que lhe neguem conhecimentos em teologia e em história para dar-se conta de quão humana e demasiadamente humana pode ser a instituição que nos vem dos Apóstolos.
Há uma longa tradição teológica que se refere à Igreja como casta meretriz, tema abordado detalhadamente por um grande teólogo, amigo do atual Papa, Hans Urs von Balthasar (ver em Sponsa Verbi, Einsiedeln 1971, 203-305). Em várias ocasiões o teólogo J. Ratzinger se reportou a esta denominação.

A Igreja é uma meretriz que toda noite se entrega à prostituição; é casta porque Cristo, cada manhã se compadece dela, a lava e a ama.


O habitus meretrius da instituição, o vício do meretrício, foi duramente criticado pelos Santos Padres da Igreja como Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Jerônimo e outros. São Pedro Damião chega a chamar o referido Gregório VII de “Santo Satanás” (D. Romag, Compêndio da história da Igreja, vol 2, Petrópolis 1950,p.112). Essa denominação dura nos remete àquela de Cristo dirigida a Pedro. Por causa de sua profissão de fé o chama “de pedra”mas por causa de sua pouca fé e de não entender os desígnios de Deus o qualificou de “Satanás”(Evangelho de Mateus 16,23). São Paulo parece um moderno falando quando diz a seus opositores com fúria: ”oxalá sejam castrados todos os que vos perturbam”(Gálatas 5.12).

Há portanto, lugar para a profecia na Igreja e para a denúncias dos malfeitos que podem ocorrer no meio eclesiástico e também no meio dos fiéis.


Vou referir outro exemplo tirado de um santo querido da maioria dos católicos brasileiros, por sua candura e bondade: Santo Antônio de Pádua. Em seus sermões, famosos na época, não se mostra nada doce e gentil. Fez vigorosa crítica aos prelados devassos de seu tempo. Diz ele: “os bispos são cachorros sem nenhuma vergonha, porque sua frente tem cara de meretriz e por isso mesmo não querem criar vergonha”(uso a edição crítica em latim publicada em Lisboa em 2 vol em 1895). Isto foi proferido no sermão do quarto domingo depois de Pentecostes ( p. 278). De outra vez, chama os prelados de “macacos no telhado, presidindo dai o povo de Deus”(op cit p. 348). E continua:” o bispo da Igreja é um escravo que pretende reinar, príncipe iniquo, leão que ruge, urso faminto de rapina que espolia o povo pobre”(p.348). Por fim na festa de São Pedro ergue a voz e denuncia:”Veja que Cristo disse três vezes: apascenta e nenhuma vez tosquia e ordenha… Ai daquele que não apascenta nenhuma vez e tosquia e ordena três ou mais vezes…ele é um dragão ao lado da arca do Senhor que não possui mais que aparência e não a verdade”(vol. 2, 918).


O teólogo Joseph Ratzinger explica o sentido deste tipo de denúncias proféticas:” O sentido da profecia reside, na verdade, menos em algumas predições do que no protesto profético: protesto contra a auto-satisfação das instituições, auto-satisfação que substitui a moral pelo rito e a conversão pelas cerimônias” (Das neue Volk Gottes, Düsseldorf 1969, p. 250, existe tradução português).

Ratzinger critica com ênfase a separação que fizemos com referencia à figura de Pedro: antes da Páscoa, o traidor; depois de Pentecostes, o fiel. “Pedro continua vivendo esta tensão do antes e do depois; ele continua sendo as duas coisas: a pedra e o escândalo… Não aconteceu, ao largo de toda a história da Igreja, que o Papa, simultaneamente, foi o sucessor de Pedro, a “pedra” e o “escândalo”(p. 259)?
Aonde queremos chegar com tudo isso? Queremos chegar ao reconhecimento de que a igreja- instituição de papas, bispos e padres, é feita de homens que podem trair, negar e fazer do poder religioso negócio e instrumento de autosatisfação. Tal reconhecimento é terapêutico, pois nos cura de toda uma ideologia idolátrica ao redor da figura do Papa, tido como praticamente infalível. Isso é visível em setores conservadores e fundamentalista de movimentos católicos leigos e também de grupos de padres. Em alguns vigora uma verdadeira papolatria que Bento XVI procurou sempre evitar.

A crise atual da Igreja provocou a renúncia de um Papa que se deu conta de que não tinha mais o vigor necessário para sanar escândalos de tal gravidade. “Jogou a toalha” com humildade. Que outro mais jovem venha a assuma a tarefa árdua e dura de limpar a corrupção da cúria romana e do universo dos pedófilos, eventualmente puna, deponha e envie alguns mais renitentes para algum convento para fazer penitência e se emendar de vida.


Só quem ama a Igreja pode fazer-lhe as críticas que lhe fizemos, citando textos de autoridade clássicas do passado. Quem deixou de amar a pessoa um dia amada, se torna indiferente à sua vida e destino. Nós nos interessamos à semelhança do amigo e de irmão de tribulação Hans Küng, (foi condenado pela ex-Inquisição) talvez um dos teólogos que mais ama a Igreja e por isso a critica.


Não queremos que cristãos cultivem este sentimento de descaso e de indiferença. Por piores que tenham sido seus erros e equívocos históricos, a instituição-Igreja guarda a memória sagrada de Jesus e a gramática dos evangelhos. Ela prega libertação, sabendo que geralmente são outros que libertam e não ela.


Mesmo assim vale estar dentro dela, como estavam São Francisco, Dom Helder Câmara, João XXIII e os notáveis teólogos que ajudaram a fazer o Concílio Vaticano II e que antes haviam sido todos condenados pela ex-Inquisição, como De Lubac, Chenu, Congar, Rahner e outros. Cumpre ajuda-la a sair deste embaraço, alimentando-nos mais do sonho de Jesus de um Reino de justiça, de paz e de reconciliação com Deu e do seguimento de sua causa e destino do que de simples e justificada indignação que pode cair facilmente no farisaísmo e no moralismo.

Leonardo Boff

- Mais reflexões desta ordem se encontram no meu Igreja: carisma e poder (Record 2005) especialmente no Apêndice com todas a atas do processo havido no interior da ex-Inquisição em 1984.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

A voz

- Curto ensaio poético para dizer o indizível nas limitações desta vida que corre na procura do centro onde descansar o sentido... Bom fim de semana para todos.

Ecoa nos tímpanos do nosso tempo
A música da paz do momento que nos abraça
Na festa da alegria que acolhe o dom
Que digo pão na hora da saudade do que se perdeu
Quando todos dançam a vibração do som das pedras.

Não podem os deuses antigos calar o prazer
A memória que só no canto dizia a música da água
Nada. Mesmo que portentoso e imenso
Corta a voz deste canto nobre e grosso
Que o espírito fustiga no vento que trouxe no sorriso
E fez-se encanto que se ouve na serenidade do silêncio.

Neste ar impotente que respiramos da morte
Sabemos apenas de um vestígio solene e divino
Mesmo que transcendente e distante neste ambiente.
E tomo o cálice o gosto em vinho do sangue vivo
Na aliança nova em cada manhã do amor e da esperança.
Nada é o fim se antecipo um céu na orquestra do bem
Eis a música do tempo que os olhos viram na alma
Que canta na alegria da eternidade.
Só o centro inquieto que resta na vertigem da luz
Pensa e canta o som perene dessa voz distante.
José Luís Rodrigues
Imagem Google...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A verdade ou falatório de sarjeta...


Igreja Católica

A denúncia de assédio sexual contra o bispo D. Carlos Azevedo está envolta num tremendo mistério. Se for apenas o que tomamos conhecimento pela comunicação social, estamos perante um linchamento de uma pessoa e perante uma situação que a todos deve fazer pensar muito. Porque um dia destes qualquer um pode ser acusado de assédio sexual só porque fez um aperto de mão. Não creio, que o teor das denúncias, se resumam apenas a isto que é dito por todo lado sobre o assédio do bispo que é quase nada. 
Coisas estranhas
O alegado assédio sexual passou-se nos anos 80, só em 2010, o padre denunciante lembrou-se de fazer a denúncia. A Nunciatura não ouviu o acusado, pelo contrário, foi intermediária provavelmente da promoção do bispo acusado, que o levou para o Vaticano, para assumir um importante cargo no domínio da cultura. O comunicado da Comissão Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa não diz nada, nas entrelinhas diz muito e entala ainda mais o bispo acusado. O Patriarcado, na pessoa do Cardeal D. José Policarpo, que se pressupõe conhecer muito bem o Bispo D. Carlos Azevedo, calou-se, empurra a questão com a barriga e diz que o assunto não é seu, mas da Nunciatura. Um imbróglio atabalhoado que entala uma pessoa sem piedade nenhuma.
A seguir fiquei atónito com as declarações de outro bispo D. Januário Torgal Ferreira. São de uma irresponsabilidade horrível e uma falta de lealdade que está nos píncaros da proteção que nestas situações deve existir na camaradagem e na condição de ser colega ou até quiçá amigo. A seguir as declarações do Padre Carreira das Neves também revelam uma imprudência inqualificável. Resumem-se as declarações de um de outro a isto, nada que não se esperasse, confirmou-se o que se falava à boca pequena, que havia assédio sexual e homossexualidade.
Se o assédio consiste numas carícias, palavras, ideias, insinuações, sugestões e alguma prática sexual entre adultos, pressupõe-se tolerância de parte a parte e se algo foi forçado então devia ser considerado crime à integridade física e como tal devia ter sido denunciado à justiça dos tribunais logo de imediato e não ter ficado tanto tempo à espera não se sabe do quê. Não tendo sido denunciado à altura dos factos e só passados tantos anos, há aqui algo de muito esquisito e levanta-me sérias suspeitas de que estamos perante brigas e ciúmes passionais, que resultam em vinganças. Face a isto estamos perante algo que é muito grave vindo de quem vem, figuras eminentes de quem se espera carácter impoluto.
Luta de galos permanente
A seguir tendo em conta as graves declarações de D. Januário Torgal Ferreira, as do Padre Carreira das Neves, o comunicado da Conferência Episcopal, o silêncio da Nunciatura e do padre denunciante, fico com a ideia e penso que uma grande maioria da opinião pública, de que a Igreja Católica em Portugal é um albergue de gente que se alimenta do falatório de uns contra os outros onde não falta a calúnia, a vingança e o desprezo pelo bom nome das pessoas. Dá a ideia que parece existir uma luta de galos que não tem em conta os meios para alcançar os seus fins. D. Carlos Azevedo é um investigador, um intelectual da Igreja Portuguesa, é normal que num clero anormal, porque pobre de cultura, surjam investidas contra os cultos e os que vão construindo um percurso enorme quanto ao seu contributo para o desenvolvimento intelectual da sociedade e da Igreja. A confirmar-se isto, é chegado o tempo de colocar padres e bispos num mega retiro a refletir sobre a vida pouco digna a que está votada a nossa Igreja, que devia antes centrar-se no Evangelho de Jesus de Nazaré, que acolhe os pecadores com a maior das aberturas e com misericórdia incondicional.
Já me tinha dado conta há muito tempo que dentro do clero católico reina a inveja e o rebanho de cordilheiros multiplica-se como cogumelos. O clero na sua maioria hoje, alimenta-se de uma pobreza intelectual e espiritual impressionante. Se tivéssemos gente de alto gabarito intelectual, dedicados à investigação, à leitura e ao estudo não ficaria tempo para a intriga, para a inveja, o falatório de sarjeta e este tipo de denúncias maldosas e vingativas que não se importa com o bom nome das pessoas e das instituições.
Mudança urgente
Não pretendo com isto branquear o que quer que seja. Mais serenidade nas coisas e mais ponderação poderiam salvar-nos a todos destas vergonhas abjetas. Todos devem concentrar-se na vida que se deseja com paz e felicidade, tudo o resto é acessório. E o desprezo que alguns hierarcas vão pregando contra a sexualidade e apontando o celibato como o único ideal de salvação redunda nesta tristeza. 
Por isso, urge que a Igreja Católica venha para a praça e diga claramente, a sexualidade é um bem querido por Deus, faz parte da humanidade inteira, não é um pecado como absurdamente às vezes é defendido, todos os homens e mulheres têm direito a viverem a sua sexualidade como muito bem entenderem dentro das normas elementares do respeito e da saúde. Sem esta mudança urgente nunca deixarão de existir vítimas que dentro e fora da Igreja vão sofrendo o calvário dos desvios tenebrosos que conduzem ao crime ou à desgraça da difamação por qualquer gesto que indicie comportamentos pouco dignos. Esta mudança não é para amanhã é para ontem. 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A transfiguração de Jesus o que representa para nós?

Mesa da palavra
Comentário à Missa do próximo domingo
II Domingo da Quaresma
A transfiguração. Vamos ao encontro de alguns aspectos particulares que o texto de Lucas nos apresenta sobre este assunto. Primeiro, «Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago...», do grupo dos Apóstolos, estes eram os principais amigos de Jesus e destacam-se na sua intimidade. Hoje, à maneira desta ocasião Jesus, toma consigo cada um dos seus irmãos e mostra como o silêncio e a oração, continuam a ser os principais caminhos eficazes de intimidade com Deus Pai. E aí revela-nos plenamente qual a vontade do Pai. Parece irreal, mas também é possível escutar hoje nesse lugar da oração e do silêncio a voz do Pai, que nos mostra o rosto «refulgente» do Seu Filho muito amado, que veio ao nosso encontro para nos salvar da morte ou da perdição eterna.
A oração e o silêncio transfiguram Jesus, para que a voz de Deus se fizesse ouvir mais uma vez: ''Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O", O sinal da presença de Deus é muito evidente e mostra a predilecção amorosa pelo Seu Filho que é este mesmo que se faz rosto visível diante da humanidade. 
Hoje, Jesus toma consigo cada um de nós e leva-nos ao monte da vida e mostra-nos também a voz misericordiosa de Deus Pai, que nos revela como é importante escutar a voz do Seu Filho, presente na existência humana em todos os tempos e lugares da história. À maneira de Jesus todos necessitamos de transfiguração. Mas de uma verdadeira transfiguração do coração que nos leve a assumir atitudes de justiça e de amor perante os nossos irmãos. Estamos no tempo em que os pobres e os sem sorte devem encontrar solidariedade, amizade para que a presença de Deus se faça sentir aí no lugar da tristeza e do desamparo da vida deste mundo pela nossa ação. 
Os soberbos de coração, precisam de transfigurar-se para a eficácia do perdão e da humildade. Os mentirosos, necessitam de converter essa propensão para a verdade das palavras, das atitudes e dos gestos. Os que vivem mediante a violência dos actos e das palavras, precisam de transfigurar essa tendência desumana para a autenticidade do diálogo e da paz como únicos caminhos que nos movem para a luz da salvação. Só esta transformação dará sentido à vida e fará do nosso mundo o lugar da paz e porque está lá bem presente a fraternidade. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Porque estamos no Ano da Fé (17)

 O que a fé não é

A fé não é sem o amor aos outros

O Evangelho segundo São João apresenta-nos o mandamento novo de Jesus: «Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros». Não é fácil cumprir este mandamento que Jesus nos manda viver. A nossa vida está tão repleta de tantas coisas complexas demais que se torna, por vezes, impossível corresponder ao mandato de Cristo. Todos temos experiências de relações com outras pessoas que nos marcaram profundamente para o bem e para o mal. 
No entanto, cada um deve em primeiro lugar ser capaz de acolher todos aqueles que Deus colocou na sua vida e amá-los profundamente. Dessa forma, já viveremos o mandamento novo que Jesus nos ensina. Os contextos mais difíceis do mundo são o melhor lugar para viver o amor.
Primeiro que tudo, devem estar no nosso coração todos os que a vida nos ofereceu como membros de família, do trabalho, da opção pessoal e de todas as caminhadas que realizamos. Logo depois, somos desafiados a viver o amor para com todos aqueles que se cruzam connosco no dia a dia.
A esta forma de vida não se chama ingenuidade ou inocência doentia, mas disponibilidade para a vivência da felicidade pessoal e dos outros. Não devemos aceitar todas as patetices e asneiras da humanidade ou da sociedade onde estamos inseridos, mas somos chamados a acolher, compreender e perdoar. O amor que Jesus nos manda viver como elemento essencial do seu Reino passa pela entrega ao serviço dos outros e pelo acolher a todos como irmãos.
O reino de Jesus Cristo está identificado pela fraternidade. Até podemos definir a religião cristã como uma fraternidade. Ninguém se pode dizer cristão se não vive a dinâmica da amizade e da abertura aos outros como irmãos como valor fundamental da sua vida diária. Talvez seja esta visão do cristianismo que nos leva a concluir que esta religião é difícil de se viver. No entanto, não devemos deixar que este pensamento nos atrofie a coragem ou a entrega à descoberta do essencial para a felicidade.
A descoberta do amor é um bem crucial para a realização de cada um como ser humano e como pessoa. Por isso, desistir de o procurar será como que dizer não à vida e ao que ela tem de mais belo. Deus, pela pessoa de Jesus convoca-nos para o ideal do amor e cada um de nós deve procurar corresponder o mais que puder para esse chamamento/apelo frequente de Deus.
As coisas boas da vida não são fáceis de conseguir e exigem sempre uma dose de persistência, boa vontade, de luta e de paciência para se realizarem como sonhamos e desejamos. Porém, nada nos deve demover deste ideal sublime que Jesus nos oferece. O cristão é aquele que se reconhece discípulo de uma pessoa que o chama em cada momento da vida para o ideal do amor, mas que se reconhecendo limitado procura não desistir de tentar enquadrar no seu viver a proposta do amor.
Todos só seremos verdadeiros homens e mulheres se soubermos amar sem condições a todos os que se cruzam no nosso caminho. Diz-nos claramente Jesus Cristo: «se vos amardes uns aos outros», conheceremos claramente o conteúdo e o significado da felicidade.
Nada nem ninguém deve sentir-se inibido perante o dom maravilhoso da vida e deve procurar conduzir os passos e as opções para o sentido do amor que salva e liberta da escravidão do desespero.
Só o amor salva e só o amor nos revela o conhecimento da verdadeira luz que nos guia na escuridão deste tempo de vida do mundo. O amor é o outro nome da paz. Por isso, serão bem-aventurados todos os que promovem o amor sempre para a vida toda e em toda a vida. 

20 de Fevereiro de 2010 - pouco se aprendeu


Dr. Raimundo Quintal, divulga hoje 16 fotografias que nos mostram como continuam as asneiras na nossa terra nos leitos das ribeiras. Temos os pés debaixo de uma mina que nalgum dia ou noite com alguma relevante queda de chuva podemos outra vez sofrer imenso se as coisas tivessem sido tomadas a sério e se o aviso de 20 de Fevereiro não caísse no esquecimento. Meu Deus, dramaticamente nãos e aprende nada. Hoje para assinalarmos no Banquete da Palavra a fatídica data de 20 de Fevereiro de 2010, publicamos com a devida vénia as palavras e as fotos do Dr. Raimundo Quintal. 

Caros Amigos / Caríssimas Amigas,
Três anos após a aluvião catastrófica de 20 de Fevereiro de 2010, sinto, com enorme tristeza e preocupação, que o poder político, muitos agentes económicos e uma parte significativa dos madeirenses pouco aprenderam com aquela dolorosa lição da Natureza.
Para ilustrar este meu sentimento selecionei dezasseis fotografias, que julgo constituírem uma amostra representativa das vulnerabilidades de que continua a padecer o território desta ilha:

Madalena do Mar
Vale da Ribeira da Madalena onde se destacam as marcas da extração de pedra e um grande deslizamento (foto: António Freitas).
Deslizamento na vertente oriental e obstrução do leito da Ribeira da Madalena, a jusante da estrada regional (foto: António Freitas).













Saudações ecológicas
Raimundo Quintal

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

As aulas dos «mestres» que nos desgovernam

Farpas...

O sumário de cada lição destes «professores» políticos que andam por aí a «dar aulas», que eles chamam de «debates» tem o seguinte conteúdo: «Grândola Vila Morena»; a segunda parte da aula foi composta por: «gatunos»; «chulos»; «ladrões»; «25 de Abril sempre! Fascistas nunca mais» e, a melhor pedido, «demissão»…
Bonito de se ver este ambiente que resulta numa mais bonita reação destes «mestres da sabedoria», sorriem muito e quando o coro entoa a «Grândola Vila Morena» eles vão atrás cantarolando mesmo que na maior desafinação. O calo é tanto que os insultos são mimos. Repare-se Miguel Relvas, o maior dos «mestres» do desgoverno: «Nestas circunstâncias [estas manifestações] não me desencorajam, não tenho qualquer tipo de preconceito». Calo grosso, impenetrável.
O mais engraçado é encontrarmos estes senhores por todo o lado que desgraçaram o país e que vão a caminho de destruírem o povo português. Agora armam-se com o maior desplante em salvadores e andam por todo o lado a dar lições de como se renova, como se salva, como se muda… Entre tantas coisas que implicam redenção e serviço à causa comum. Estamos perante «mestres» do saber que já não há «pachorra» para ouvir nem muito menos para comentar. Faz lembrar António Aleixo: «Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma ciência». Ou ainda: «Sei que pareço um ladrão... / Mas há muitos que eu conheço / Que não parecendo o que são, / São aquilo que eu pareço». Escola de saber cada cabeça que desgoverna o nosso burgo.
Assim anda este nosso mundo. Num tenebroso vazio, num jogo sujo do empurra de responsabilidades que nos levam ao abismo, à desgraça sem que com isso se importem pouco. O regabofe continua, porque se implantou como ciência. A injustiça fez-se programa de todos os desgovernos para que se alimente os poderosos, os donos do mundo.
Por isso, venha outro Papa que não seja «imperador absolutista», mas um Católico crente, que diga sobre os telhados do mundo que estamos cheios de gente mesquinha que nos assalta ao abrigo das leis mais cruéis que alguma vez este mundo criou. Que uma luz nos ilumine a alma e nos livre destes demónios que pairam sobre as nossas cabeças infernizando a nossa vida com um desgoverno carnavalesco disfarçado com a máscara da altíssima sabedoria. «Mestres reles» do nada e do vazio, mentirosos e armados em salvadores de coisa nenhuma, rua com eles… 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Recreio União da Mocidade de São Roque - 100 anos

A Associação Recreio União da Mocidade de São Roque do Funchal, tem uma Orquestra com provas dadas de alta qualidade musical participando em vários lugares importantes do mundo, onde a música é rainha. Esta Orquestra de bandolins é a mais antiga na Europa.
A Orquestra de Bandolins Madeira pertence ao Recreio Associação Musical União da Mocidade de São Roque do Funchal. Tudo começou com a fundação da Associação em 18 de fevereiro de 1913, e tem a sua sede na freguesia de São Roque, Funchal - Madeira. Constituída na sua maioria por jovens músicos, todos formados nas escolas do grupo, a Orquestra procura não só evidenciar as sonoridades para bandolim, mas também, para preservar e dinamizar a longa tradição madeirense no domínio da composição musical.
Hoje este grupo da Freguesia de São Roque do Funchal celebra 100 anos. Um orgulho para freguesia. Haverá às 20 horas uma missa solene de acção de graças na Igreja de São Roque. 
Deixamos aqui os nossos sinceros parabéns e que continue a ser um grupo que congregue sempre pessoas de todas as idades e que seja um lugar por excelência na nossa Freguesia para expressar actividades culturais (particularmente a música), que são uma manifestação vigorosa do melhor da alma humana e o fermento do entusiasmo dos grupos que se congregam numa causa comum. Precisamos muito deste espírito... 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Paisagem distante

Poema para vós em dia de luta e com votos de bom fim de semana...

Saio de mim na crista ondulante deste mar
Que desejo ardente feito procura em todos os cantos
Neste agora que me perturba diante da inconsciência
Da injustiça que poucos sobre os muitos infligem
Até ao fundo da alma mesmo que o sangue testemunhe
O crime do roubo que se faz contra o sentido.

Não me calo diante da paisagem que queria distante
Digo em nomes o que calam em silêncios calculados
Porque sei da verdade e do amor feito cálice para todos
Na comum fraternidade do tempo e da vida
Que Deus imolou na fonte da água viva na frescura de uma manhã.

Aqui estamos vendo e escutando o som presente
Que a sinfonia do horizonte desvela em glória
Um dom solene que retratam os pintores dos deuses
E assim fizeram numa jornada um quadro quente
Contra a barbárie e contra a comodidade
Que os poderosos anseiam como antídoto para nós.

Não, não... Digo não até à hora em que vislumbre o sol
A paz e a libertação no sorriso que a tez em festa
Testemunha quando pronuncio alegria.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Portugal há 140 anos

ARTIGO PUBLICADO HÁ 140 ANOS... O QUE É QUE MUDOU ?
A história repete-se e sempre pelas piores razões: má gestão dos dinheiros públicos seguida de austeridade e de empréstimos externos! Mais actual não pode ser... Um Portugal de sempre, afinal!


Encerrando Ciclos

Via-sacra da transformação...
Sempre é preciso saber
quando uma etapa chega ao final.

Se insistirmos em permanecer nela
mais do que o tempo necessário,
perdemos a alegria
e o sentido
das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos,
fechando portas,
terminando capítulos,
não importa o nome que damos.
O que importa é deixar no passado
os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedido do trabalho?
Terminou uma relação?
Deixou a casa dos pais?
Partiu para viver em outro país?
A amizade tão longamente cultivada
desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo
se perguntando por que isso aconteceu.
Pode dizer para si mesmo
que não dará mais um passo
enquanto não entender as razões
que levaram certas coisas,
que eram tão importantes e sólidas em sua vida,
serem subitamente transformadas em pó.

Mas
tal atitude
será um desgaste imenso para todos:
seus pais, seu marido ou sua esposa,
seus amigos, seus filhos, sua irmã...
Todos estarão encerrando capítulos,
virando a folha,
seguindo adiante,
e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo
no presente e no passado,
nem mesmo quando tentamos
entender as coisas que acontecem conosco.

O que passou não voltará:
não podemos ser eternamente meninos,
adolescentes tardios,
filhos que se sentem culpados
ou rancorosos com os pais,
amantes que revivem
noite e dia
uma ligação com quem já foi embora
e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam
e o melhor que fazemos
é deixar que elas realmente possam ir embora.

Por isso é tão importante
(por mais doloroso que seja!)
destruir recordações,
mudar de casa,
dar muitas coisas para orfanatos,
vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível
é uma manifestação do mundo invisível,
do que está acontecendo em nosso coração
e o desfazer-se de certas lembranças
significa também abrir espaço
para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora.
Soltar.
Desprender-se.
Ninguém está jogando
nesta vida com cartas marcadas.
Portanto, às vezes ganhamos e às vezes perdemos.

Não espere que devolvam algo,
não espere que reconheçam seu esforço,
que descubram seu gênio,
que entendam seu amor.

Pare de ligar sua televisão emocional
e assistir sempre ao mesmo programa,
que mostra como você sofreu com determinada perda:
isso o estará apenas envenenando
e nada mais.

Não há nada mais perigoso
que rompimentos amorosos que não são aceitos,
promessas de emprego
que não têm data marcada para começar,
decisões que sempre são adiadas
em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo
é preciso terminar o antigo:
diga a si mesmo que o que passou,
jamais voltará.

Lembre-se de que houve uma época
em que podia viver sem aquilo,
sem aquela pessoa...
Nada é insubstituível,
um hábito não é uma necessidade.

Pode parecer óbvio,
pode mesmo ser difícil,
mas é muito importante.

Encerrando ciclos.
Não por causa do orgulho,
por incapacidade, ou por soberba.
Mas porque simplesmente
aquilo já não se encaixa mais na sua vida.

Feche a porta,
mude o disco,
limpe a casa,
sacuda a poeira.

Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.
Paulo Coelho

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

As tentações no deserto

Mesa da palavra
Comentário à missa do próximo fim de semana
I domingo da Quaresma
A história pessoal de cada um e de todos nós, pode ser às vezes um deserto, onde as tentações para o mal podem ser abundantes. Mas, vejamos que o deserto pode ter dois sentidos, um positivo e outro negativo.
Do ponto de vista positivo, podemos dizer que o deserto é uma ocasião propícia para o silêncio, para a oração e para a penitência. Mediante estes aspectos podemos reencontrar o sentido da vida e redescobrir tudo aquilo que é fundamental para sermos felizes. O deserto pode ser ainda uma ocasião onde deixamos o Espírito nos encher de verdade por dentro e assim criarmos as condições necessárias para assumir plenamente todos os projectos da nossa vida. Jesus dá-nos o exemplo. Ele retirou-se para o deserto, orou e jejuou durante 40 dias.
Do ponto de vista negativo, o deserto pode ser tudo o que não tem sabor nem é importante para nos tornarmos mais humanos e mais irmãos uns dos outros. O deserto pode ser toda a nossa propensão para a esterilidade do amor. Uma vida toda carregada de egoísmo e de ódio contra os outros é uma vida no deserto árido sem sombra de existência verdadeira.
Os nossos desertos também podem ser positivos ou negativos. Porém não podemos esquecer que em nenhum momento o Espírito Santo nos abandona. Assim, podemos estar seguros que o amor de Deus ou o Espírito Santo, será a força principal que nos guiará para a verdade e nos livrará de todas as tentações que o diabo intente contra o nosso coração.
As tentações fazem parte da vida e podem ser uma constante no nosso pensamento e no nosso coração. Porém, se acreditamos de verdade na mediação fiel do Espírito Santo nada nos pode demover daquilo que escolhemos para a nossa vida.
Nenhuma pessoa pode, em nenhum momento, vangloriar-se de que está livre de tentações. Porque todos os seres humanos estão sujeitos às travessias no deserto e em qualquer momento podem ser atacados com as piores artimanhas do mal.
O diabo ou demónio, é uma figuração do mal. É a nomeação de tudo aquilo que seja contra a dignidade humana. O demónio, é um nome que manifesta a força do mal ou da maldade que gera o coração da humanidade e a lógica do mundo.
Parece que nem o próprio Jesus se livrou dessa propensão, embora sendo verdadeiramente Deus. A humanidade de Jesus foi assumida em toda a sua radicalidade e neste momento também podemos perceber de verdade, como Jesus não deixa de assumir as tentações como aspecto peculiar da condição humana. Elas tornam-se um instrumento, que Jesus utiliza para nos mostrar que na nossa vida, embora também cheia de tentações, devemos mediante a presença do Espírito Santo, lutar sempre contra tudo o que nos desvie do caminho do bem. E se quisermos podemos sair sempre vencedores. É esse o objectivo de Jesus, mostra que é sempre possível para todos.