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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Quarta Feira de Cinzas

Qual será o sentido das Cinzas? - Descobrimos uma série de textos bíblicos que nos sugerem o significado das Cinzas na liturgia cristã. Ora vejamos: «Abraão continuou: Eu atrevo-me a falar ao meu Senhor, eu que sou poeira e cinza» (Gen 17, 28). «Jejuaram naquele dia, vestiram-se com saco, cobriram a cabeça com cinza e rasgaram as suas vestes» (1 Mac 3, 47). «Satanás feriu com chagas malignas desde a planta dos pés ao cume da cabeça. Então Job apanhou um saco de cerâmica para se coçar e sentou-se no meio da cinza» (Job 2, 8). «De que se orgulha quem é terra e cinza?» (Ecle 10, 9)…
Cobrir a cabeça com a cinza ou sentar-se sobre a cinza, é sinal exterior de uma realidade profunda, a realidade da existência interior: arrependimento dos caminhos da destruição, reconhecer que sou tão frágil como o pó que desaparece ao mais pequeno sopro e que ainda há muito para mudar e converter.
Esta prostração e este despojamento, poderão ferir as mentes menos esclarecidas ou mais ávidas na exaltação da grandeza do homem. A razão, aparentemente, poderá estar do seu lado, porém, este sentido das cinzas pretende relembrar que será no reconhecimento da sua pequenez, que o homem manifesta a sua grandeza e que na sua simplicidade encontra a sua verdadeira dimensão diante de Deus, da Criação e, sobretudo, diante dos seus semelhantes.
Deus não quer o sofrimento, a morte e a angústia humana. Deus quer um homem vivo e feliz em plenitude. Deus consiste no amor. Não cria homens religiosos, mas cria homens para viverem em plenitude.    
Mesmo na pequenez e fragilidade humana, Deus quer que o homem se afirme infinitamente na construção do amor e da paz para todos. Não deseja nunca que o homem se negue a si próprio. Não nos quer sofredores e perdidos, mas que sejamos nós a negar o pecado, o mal, a falta de amor, a falta de esperança e tudo o que seja egoísmos e ódios. O Deus que se descobre em todo o tempo, mas particularmente, neste Tempo da Quaresma, é o Deus da acção afirmativa, da acção sempre positiva sobre e para a humanidade.
Reparemos no que diz o profeta: «…ó povo de Gomorra: Que me interessa a quantidade dos teus sacrifícios? - diz Javé. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de novilhos. Não gosto do sangue de bois, carneiros e cabritos. Quando vindes à minha presença e pisais os Meus átrios, alguém vos exige alguma coisa? Deixai de trazer ofertas inúteis. O incenso é coisa nojenta para mim; luas novas, sábados, assembleias… não suporto injustiça juntamente com solenidade. Eu detesto as tuas luas novas e solenidades. Para mim torna-se um peso que já não posso suportar. Quando para mim ergueis as mãos, Eu desvio o Meu olhar; ainda que multipliqueis as vossas orações, Eu não vos escutarei. As vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos e purificai-vos, tirai da frente dos meus olhos as maldades que praticais. Deixai de fazer o mal, e aprendei a fazer o bem…» (Is 1, 10-20).
Perante esta declaração qual será o verdadeiro jejum? - Será este: deixar a injustiça, a mentira, o egoísmo, a ganância, a violência das palavras e dos gestos, a concorrência desleal, a calúnia, a inverdade das coisas como norma de vida pessoal e social, a religiosidade puramente exterior, o fundamentalismo religioso e todas as fezadas infantis, o comodismo interesseiro, o silêncio calculado, a vida centrada no ego sem pensar que somos comunidade, o mal como opção consciente, a recusa do encontro (se quiserem podem continuar a lista)... Podem ser estes ou outros os propósitos de jejum para esta Quaresma e para toda a nossa vida. Tentar não custa e se realizada qualquer coisa nem que seja em pequeno gesto ou sinal pode já fazer uma grande diferença. Tentemos...

1 comentário:

PR disse...

Sr.Pe.José Luis,

Esta reflexão será um "hino" à conversão humana.

Permita-me, discordar de si, "Tentar não custa...", CUSTA, custa muito meu amigo, muito mesmo, custa uma vida de certezas fundamentadas em principios menos válidos.
A pessoa que tenta, e quer mesmo mudar, sente-se perdida desnorteada e diria que "humanamente fica sózinha"...
"...pequeno gesto ou sinal pode já fazer uma grande diferenç. " Disto eu não tenho duvidas.
OBRIGADA, por ter partilhado este texto.

Paulina.