Repare-se em dois aspectos.
Primeiro. O culto das imagens está a exceder os parâmetros normais. Penso que já chega de correr atrás de imagens e de modo especial no que diz respeito às imagens de Nossa Senhora. No tempo histórico dos Apóstolos (os que tiveram convivência histórica com Jesus), existiam determinações bem claras quanto ao culto mariano. O perigo do endeusamento de Maria era muito evidente, segundo alguns dados históricos (escassos por sinal), porque não interessa muito falar-se neles, para que as actuais devoções marianas não sejam desautorizadas.
O que se sabe é que o nome de Maria nos primeiros tempos do Cristianismo não era muito falado e até existiam proibições para que tal não acontecesse. O mais importante seria adorar Jesus Cristo e anunciar este nome, como figura central da religião cristã. Esta era a principal preocupação dos Apóstolos. Será que todos os Apóstolos de hoje têm a mesma preocupação?
Actualmente, vê-se tudo ao contrário disto, há um endeusamento do nome e da imagem de Maria. Seria preciso estabelecer princípios claros para que o perigo da idolatria não esteja semeado no coração dos cristãos. É preciso apontar Maria como Mãe de Deus e da humanidade, mas nunca como deusa. Nossa Senhora, Maria de Nazaré, teve e tem um papel crucial no processo da Incarnação, mas chega de endeusá-la e falar mais Dela do que de Jesus Cristo. Esta anomalia, provavelmente é mais cómoda, mais fácil e mais animadora, porque mobiliza gente, reúne multidões. Porém, não radica no principal da fé cristã, que é viver o Evangelho que Jesus Cristo anunciou e pelo qual entregou a Sua vida. Uma prova muito evidente desta anomalia perigosa, é a fraca adesão à adoração do Santíssimo Sacramento. É mais fácil adorar imagens com rosto, mesmo que inanimados, do que contemplar e adorar o invisível e o Mistério da Santíssima Eucaristia. Esta é a situação actual da nossa Igreja Católica. A maioria não corre pelo mistério de Deus, mas pelo espectáculo das celebrações e das procissões. É pena que não se tome consciência deste cancro e não se tomem as devidas medidas para curá-lo e que antes disso se alimente o caminho que o desenvolve ainda mais.
A meu ver falta-nos uma concentração maior na Mulher, Maria de Nazaré, a prima de Isabel, que canta o Magnificat, o canto de Maria e menos importância na mulher endeusada e nada histórica que a tradição criou e alimentou com devoções, que muitas vezes roçam o ridículo e o desumano. Daí estarmos muitas vezes perante pura idolatria e nada perante a mulher libertadora que o Evangelho nos apresenta.
Segundo aspecto. Outro dado triste e deprimente, prende-se com as visitas pascais nalgumas das nossas paróquias. Eles são grupos que se organizam à volta das insígnias (bandeiras) do Espírito, com muita animação popular, que vão de porta em porta, pretensamente, anunciando que Cristo Ressuscitou. Mas parece que é mais forte a animação do brinquinho do que todos os sinais da fé. Terminada esta corrida, as ofertas recolhidas nas respectivas casas são esbanjadas ao desbarato entre tocadores e no arraial que chamam eufemisticamente de festa do Espírito Santo. Toda a gente gosta disto, até alguns se organizam em grupos para irem ver estes folguedos.
Sei de uma Paróquia da nossa terra que este ano recolheu 20 mil euros, que foi tudo esbanjado no arraial e em comezainas para alguns apenas. Estamos perante um escândalo e uma injustiça que brada aos céus, realizada em nome da Igreja e do Evangelho de Cristo. Não creio neste cristianismo e abomino estas manifestações tradicionais empacotadas apenas com o nome de fé, para justificar o entretenimento e o negócio.
É preciso determinar claramente um fim a isto. Porque não se pode à volta das coisas da Igreja reduzir a religiosidade a folclore e folguedo. Apela-se aos responsáveis da Igreja Católica que com coragem determinem o fim desta idolatria perigosa que nada tem de Evangelho nem com o verdadeiro espírito das Visitas Pascais, que deveriam recolher donativos para os pobres e não sendo para tal devem reverter esses bens para a comunidade, a Paróquia, que o deve aplicar em algo que beneficie o bem de todos. Às pessoas que admiram e riem com o folclore à volta desta actividade pretensamente religiosa, que se eduquem e tomem consciência que estão a alimentar um negócio que nada tem que ver com fé, mas com entretenimento injusto, porque enche os bolsos de alguns e nada sobra para o bem comum.
Sabe-se de bispos que no passado tiveram a coragem de proibir as Visitas Pascais e as Missas do Parto, porque tinham caído na mais pura idolatria e no folguedo apenas.
José Luís Rodrigues