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Convite a quem nos visita

segunda-feira, 30 de abril de 2012

“O mal é a ausência do homem no homem.” [Eugénio de Andrade]

Frei Bento Domingues, Funchal 26 Abril 2012

Pelos anos 60, os novos titãs entraram pelas vinhetas da Banda desenhada com o mesmo vigor do medo com que a Humanidade se munia face a essas longínquas, remotas, mas ameaçadoras possibilidades. Entretanto, o “progresso” foi gerundiva, mas velozmente, sendo edificado e, da ficção, a uma suposta realidade tem sido um passo bem curto. As implicações sociais, culturais e, infelizmente, também, económicas e financeiras, da crescente automatização do mundo têm marcado as sociedades com traços de paradoxal retrocesso e carecem, muito gravemente, de reflexão e de análise, mas e sobretudo, de acção. Num ápice, está o mundo a discutir o que, actualmente, se designa por “pós-humanos”. Trata-se de um de um novo campo de reflexão que, em breves e nada profundas palavras, discute a “redefinição” do conceito de humano, uma re-escrita – versão século XXI – do homem e das suas circunstâncias actuais. Esta questão não se encontra isenta de polémica sendo que as suas principais vozes não “aprovam” esta designação que, em certa medida, tem contribuído para “manchar” a natureza dos pressupostos epistemológicos que subjazem à mesma.
Numa recente palestra, na paróquia de São Roque, no Funchal, Frei Bento Domingues proferiu a afirmação que reproduzo em epígrafe e que nos interpela para o lugar de onde olhamos o mundo, onde nos posicionamos e que ideia projectamos do ser que somos [passe a redundância]. A propósito do Concílio Vaticano II, Bento Domingues desenvolveu uma reflexão acerca do quanto, implicitamente, falta cumprir de humanidade, neste mundo de [des]harmonias várias, de contrassensos e paradoxos que acentuam as diferenças e que reduzem – dramaticamente – o número de “obsequiados”. Relembrando que João Paulo II tantas vezes se insurgiu contra o neo-liberalismo a que apelidou de “loucura”, este frade que faz da sua postura na vida uma homenagem ao título que ostenta, fez carregadas referências ao papel da mulher na sociedade actual. Os oxímeros deixaram de ser tropos assim que este tema passou a designar uma semântica de retorno a um passado que já não tem sentido, nem como resquício, e que persiste em ser utilizado como argumento de uma suposta feminilidade associada ao exclusivo exercício de tarefas domésticas. Creio, até, que terá abordado, consciente e “descaradamente”, a questão dos próximos tempos no que respeita à instituição Igreja Católica que teima em entender as mulheres e o seu contributo à sociedade apenas na qualidade de “virgens piedosas” ou como “mães e esposas devotas”. Nada disto seria – em si mesmo – errado se não fosse redutor e manipulador. Esses papéis, sem dúvida relevantes, não podem ser considerados os únicos. Sobretudo se não forem opção das próprias. Diante de um mundo que acentua diferenças e agrava as condições da maioria da sua população, discutir os homens no âmbito de um qualquer pós-humanismo parece, aos olhos de Bento Domingues, despropositado. Para ele, como para o grande poeta Eugénio de Andrade, falta realizar o Homem: “É possível que só as árvores tenham raízes, mas o poeta sempre se alimentou de utopias. Deixe-me pois pensar que o homem ainda tem possibilidades de se tornar humano.”
Do Concílio Vaticano II falta, ainda e também, realizar essa humanidade de dentro da Igreja e cumprir o sonho revolucionário de João XXIII. É que – como refere este religioso – os textos emanados desse encontro cabem todos, em papel bíblico, na palma de uma mão. Mas é necessário que se expandam em acção pelos povos. A extensão desse passo poderá significar um profundo contributo de uma religião que se terá fechado demasiado em instituição. A Igreja, relembrou Bento Domingues, deixou de ser edifício [no sentido físico do termo, claro], para tornar-se no conjunto de cada um e de todos quantos se unem no propósito comum de realizar os desígnios legados por Deus através do seu Filho.
Lição de humanidade, vinda de dentro, esta a que pudemos assistir. Afinal, o que falta cumprir do Concílio que referimos e que foi tema da palestra é mesmo muito simples: é a mensagem e o exemplo completamente revolucionários de um homem que ousou desafiar os cânones, as barreiras e as hipocrisias. Disse Bento Domingues que, aquando da morte de Cristo, ficaram apenas as mulheres, as únicas que acreditaram que algo ia suceder e que ele iria “regressar”. Os homens foram todos embora. Da homenagem a Maria Madalena fica, igualmente, este registo no que consubstancia uma forte mensagem para o que se designa como “século das mulheres”.
Escutar Bento Domingues é viajar pelo coração de um inconformado, de um fervoroso crente que olha o mundo com os mesmos olhos do seu mestre e que sofre com as lágrimas que os povos derramam numa terra que nem sempre sabem amar. Este peregrino que os anos vão curvando, caminha cada vez mais perto da essencialidade, cada vez mais perto de nós. Escutar este frade é confrontar-nos com as nossas inquietudes, com as nossas grandezas e misérias – é escutar a nossa consciência – e saber que a nossa voz não nos trai.
[Notas muito pessoais:
Quando nos despedimos, entre votos de felicidades, Frei Bento Domingues encostou a sua testa à minha e disse-me com ternura: “agora ficamos amigos”. De lágrima ao canto do olho, a mesma que teima em insinuar-se nestas linhas, confesso que senti uma bênção especial que me invadiu de carinho, em suma, que me encantou.
Uma palavra de gratidão e de amizade infinda ao amigo e Padre José Luís Rodrigues que teve a amabilidade de convidar-me para apresentar Frei Bento Domingues nas duas palestras que proferiu, proporcionando-me, assim, momentos de inesquecível e muito saborosa paz.]

Ana Maria Kauppila, in Polis... Palavras no tempo...

domingo, 29 de abril de 2012

Dinheiro dos deputados


Nota: vai o homem fica a obra... Miguel Portas, falecido recentemente. Grande denúncia. Uma homenagem. Que calem bem fundo as suas palavras e que nos façam reflectir imenso.

sábado, 28 de abril de 2012

Para onde levam a Igreja Católica?

Ivone Gebara, Escritora, filósofa e teóloga diz o seguinte a propósito da punição inquisitorial dirigida pela Congregação da Doutrina da Fé contra religiosas americanas.

«Só que agora não apontaram o dedo acusador para uma pessoa, mas para uma instituição que congrega e representa mais de 55.000 religiosas norte-americanas. Trata-se da Conferencia Nacional das Religiosas conhecida pela sigla LRWC – Conferência da Liderança Religiosa Feminina. Estas religiosas ao longo de sua história desenvolveram e ainda desenvolvem uma missão educativa ampla em favor da dignidade de muitas pessoas e grupos dentro e fora dos Estados Unidos.
Plagiando Jesus no seu Evangelho ouso dizer: "Tenho pena desses homens" que não conhecem as contradições e as belezas da vida de perto, que não deixam seu coração vibrar às claras com as alegrias e os sofrimentos das pessoas, que não amam o tempo presente, que ainda preferem a lei estrita à festa da vida. Apenas aprenderam as regras fechadas de uma doutrina fechada numa racionalidade já ultrapassada e a partir dela julgam a fé alheia e especialmente as mulheres. Pensam talvez que Deus aprova e se submete a eles e às suas elucubrações tão distantes dos que têm fome de pão e de justiça, dos famintos, dos abandonados, das prostituídas, das violentadas e esquecidas. Até quando teremos que sofrer sob seu jugo? Que posturas nos inspirará o "Espírito que sopra onde quer” para continuarmos fiéis à VIDA em nós?»
Nota: Não é esta «inquisição» da mesma Igreja Católica que um dia destes na figura do Papa esteve em Cuba a reclamar mais liberdade? - Sintomático e reveleador...
Se alguém estiver interessado no texto inteiro pode ler aqui:

A Palavra de Jesus e os nossos sentidos

A Sua palavra nunca nos pode enganar, ao passo que os nossos sentidos nos enganam facilmente; Ela nunca erra, mas eles erram frequentemente. Quando o Verbo diz: «Isto é o Meu corpo», confiemos n'Ele, acreditemos e contemplemo-Lo com os olhos do espírito. [...]
Quantas pessoas dizem hoje em dia: «Gostaria de ver Cristo em pessoa, o Seu rosto, as Suas vestes, as Suas sandálias». Pois bem, na Eucaristia, é Ele que tu vês, que tocas, que recebes! Desejavas ver as Suas vestes; e é Ele que Se dá a ti, não apenas para O veres, mas para O tocares, O receberes, O acolheres no teu coração. Que ninguém se aproxime, pois, com indiferença ou frouxidão, mas que todos venham a Ele animados de um amor ardente.

In São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia, depois bispo de Constantinopla, doutor da Igreja Homilias sobre o evangelho de Mateus n° 82; PG 58, 743.

Nota: Com votos de um bom fim de semana para todos os meus leitores...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

As cordas de Deus na nossa alma

Aqui fica um extracto do vídeo do conserto magnífico na Igreja de São Roque no dia 24 de Abril de 2012, pela Orquestra de Bandolins do Recreio União da Mocidade de São Roque. Uma oportunidade para quem não teve a possibilidade de assistir. A não perder. Por isso, disfrutem...

A DEVIDA COMÉDIA

Vale a pena ler...


Miguel Carvalho
Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo
Criancinhas
A criancinha quer Playstation. A gente dá.
A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.
A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate.
A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.
A criancinha quer camisolas adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.
A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.
A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.
Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher.
Desperta.
É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.
A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.
A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.
A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».
Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal.
Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».
A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».
Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha?
Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos.

Artigo publicado na revista VISÂO online

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Somos filhos de Deus


Comentário à Missa do próximo domingo
Domingo do Bom Pastor
29 de Abril de 2012
I Jo. 3, 1-2
Agora somos filhos de Deus. Esta filiação radica em Jesus, que veio ao mundo para realizar a obra maior da história humana. Nós, humanidade englobada neste processo, somos agora membros desta grande família de Deus. Os filhos de uma fraternidade que marcha a partir do Deus revelado por Jesus Cristo e que caminha na História em direcção à eternidade que se encontra na «casa deste» Deus. Por mais desgraçados que sejamos, não somos órfãos nem muito menos "filhos das varas verdes", mas filhos no Filho do Deus revelado na história humana.
Nós precisamos e é bom que nos digam sempre que somos filhos de Deus. A tristeza que o sofrimento desta vida provoca precisa de uma palavra que nos anime na esperança de uma realidade consoladora a partir de um Deus que nos ama como seus filhos.
Por isso, São João desafia-nos a estender os braços, como faz o Bom Pastor com as suas ovelhas, a todos os recantos da vida. Onde a doença consome a vida e debilita o corpo, podemos aquecer o coração dessas vítimas com a nossa palavra de esperança e tocar bem fundo com esta certeza, o nosso Deus é um Deus Pai-Mãe da humanidade inteira e ama de modo especial todos aqueles e aquelas que experimentam a dor como «companhia» em tantos momentos desta vida.
Podemos nós lutar contra a injustiça, que o nosso mundo alimenta e dá como alimento a tantos irmãos nossos. A nossa filiação divina devia encorajar-nos e escandalizar-nos contra tudo o que não promova a vida em todo o seu esplendor. Tudo o que seja contra a felicidade devia receber de nós uma luta constante e uma séria oposição.
Somos filhos de Deus e nesta condição devemos estar atentos a tudo o que não é felicidade. Deus deseja que tomemos consciência da nossa condição e logo depois colocá-la em prática, deixando o nosso egoísmo e comodismo de parte para nos devotarmos à vida partilhada para o bem de todos.
José Luís Rodrigues
(Imagem Google)

O Concílio Vaticano II. O que é?

O Vaticano II foi o concílio realizado na Igreja Católica, com os bispos de todo o mundo, desde 1962 a 1965 em diversas sessões na cidade do Vaticano. O concílio foi convocado pelo Papa João XXIII e encerrado pelo Papa Paulo VI.
Em resposta a um desejo antigo de muitos cristãos católicos, o papa João XXIII convocou o Concílio Vaticano II com o objectivo de atender às mudanças e exigências dos tempos modernos e de renovar a Igreja católica nas suas várias dimensões.
O concílio Vaticano II (1962-65), chamado ‘ecuménico’ por causa da sua dimensão universal, reflectiu sobre a seguinte questão de alcance ecuménico: qual o contributo dado por cada Igreja para a divisão dos cristãos e o que poderá cada uma fazer em ordem à reconciliação e unidade?
O papa João XXIII manifestou a sua vontade ecuménica: o reconhecimento público dos erros cometidos no passado pela Igreja católica; da criação do Secretariado Romano para a Unidade dos Cristãos e do convite dirigido a vários representantes de outras confissões cristãs para participarem no Concílio como observadores.
Decreto Unitatis Redintegratio (Restauração da Unidade).

No Salão Paroquial de São Roque tivemos o prazer de escutar ontem dia 25 de Abril de 2012 o Frei Bento Domingues sobre esta temática. Uma verdadeira lição sobre este acontecimento tão marcante para a Igreja Católica dos nossos tempos.
Após uma revisitação sobre as causas e o contexto social, político e religioso que levou à convocação do Concílio Vaticano II pelo Papa João XXIII, conclui-se o seguinte:

A MISSA
ANTES DO CONCÍLIO - Rezada em latim, com o padre voltado para o altar, de costas para os fiéis. Apenas membros do clero comandavam a celebração.
DEPOIS DO CONCÍLIO - Rezada no idioma de cada país, com o padre de frente para o público. Mulheres e homens leigos (que não são do clero) podem ajudar na celebração.
A SEXUALIDADE
ANTES DO CONCÍLIO - Doutrina rígida, contra o prazer sexual, sem misericórdia nenhuma perante as situações dramáticas de violação…
DEPOIS DO CONCÍLIO – Infelizmente ainda mantém a mesma posição.
AS OUTRAS RELIGIÕES
ANTES DO CONCÍLIO - Desconfiança em relação aos ensinamentos de religiões não-cristãs (islamismo, judaísmo, etc.).
DEPOIS DO CONCÍLIO - Aceita a idéia de que, por meio de outras religiões, também é possível conhecer Deus e a salvação.
CULTO DOS SANTOS
ANTES DO CONCÍLIO - Proliferação de "santos" criados pela crença popular e não-canonizados pela Igreja.
DEPOIS DO CONCÍLIO - "Santos" não-canonizados são abolidos. Cristo volta a ser o centro das atenções na missa e na vida do cristão.

COMPORTAMENTO DO SACERDOTE
ANTES DO CONCÍLIO - Uso obrigatório da batina e de outros símbolos da Igreja. Casamento e relações sexuais são proibidos.
DEPOIS DO CONCÍLIO - Cai o uso obrigatório da batina: agora, os padres podem usar trajes sociais. Segue a proibição ao casamento.
QUESTÕES POLÍTICAS
ANTES DO CONCÍLIO - Condenação do capitalismo e esforço para evitar a "contaminação" do catolicismo por idéias comunistas.
DEPOIS DO CONCÍLIO - Continua a condenação ao capitalismo e ao comunismo, mas aumenta um pouco a liberdade dos teólogos para interpretar a Bíblia.
Por fim, saliente-se a grande viragem do pensar e ser Igreja. Se antes a Igreja era o templo, agora passou a ser todos os baptizados, que assumem o valor da corresponsabilidade como elemento essencial da sua condição. Será por isso que se aprende de um dos mais importantes profetas e mártires do séc. XX, Óscar Romero: «Que maravilha será o dia em que cada baptizado compreender que a sua profissão, o seu trabalho, é um trabalho sacerdotal; que, assim como eu celebro a missa no altar, cada carpinteiro celebra a sua missa na sua carpintaria, cada profissional, cada médico com o seu bisturi, a mulher na feira, no seu lugar de trabalho… estão fazendo um ofício sacerdotal. Quantos motoristas que escutam esta mensagem no seu táxi. Tu, querido motorista, junto ao volante do seu táxi és um sacerdote se trabalhas com honradez, consagrando a Deus o seu táxi, levando uma mensagem de paz e de amor aos teus clientes que vão no seu automóvel». (20/11/1977). Está tudo dito, eis então, o que fez o Concílio Vaticano II e o muito que ainda falta fazer-se...
 
José Luís Rodrigues

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Tempos novos respostas novas. Onde estão?

A Igreja Católica precisa urgentemente de um 25 de Abril...

Se olharmos para a história da Igreja Católica vamos descobrir que o Espírito Santo é o seu motor. Por isso, faz muita pena notarmos que ainda perdura nalgumas mentes os paradigmas punitivos da Idade Média, as sentenças à boa maneira da Inquisição e o velho modelo de Igreja decadente que o único sentimento que provoca é de compaixão, muito longe da adesão que reclama o Evangelho de Jesus Cristo.
Hoje, os leigos foram amordaçados e é claro o retrocesso quanto à doutrina que o Concílio Vaticano II tinha produzido sobre este aspecto. Os sacerdotes e os bispos estão totalmente vergados aos ditames que o Vaticano impõe. Não são raras as vezes que observamos uma quantidade enorme de gente da Igreja totalmente «zarolha» à espreita daquilo que sai do Papa e das suas comissões para repetir só e exclusivamente o que lá é dito e bem aceite.
Assim sendo, felizmente, é cada vez maior o número de cristãos que alimentam o sonho de uma Igreja renovada nas suas estruturas e na sua doutrina. O sonho de que a era do Espírito Santo tomará conta da Igreja está às portas do coração de muita gente.
A Igreja dos novos tempos ou dos tempos actuais vai emergir, porque o Espírito Santo não dorme. Também devemos aprender que, o que melhor sabemos deste dom secreto de Deus é que esteve sempre na história do mundo e que o fecunda constantemente com a sua força transformadora.
Tempos novos requerem respostas novas. Mas impera uma luta feroz contra a diferença e a criatividade. A palavra mais ouvida é comunhão que se confunde com obediência cega e os anacranismos são o pão que alimenta meia dúzia de egos assoberbados com o poder. Lá vamos nós com a convivendo com idolatria e todo o género de actividades religiosas que enchem o olho mesmo que de Evangelho não tenham nada. Sinais tristes que nesta manhã de Abril se animam com o fermento dos ideias da liberdade, da igualdade e da fraternidade.

José Luís Rodrigues

(Imagem Google)

Amor à liberdade


«Já não vos chamo servos, mas amigos» (Jo 15,15).
Neste dia que fizeste a libertação do dom da liberdade.

Nasce a esperança da expressão sublime do pensamento.

E vertem todas as oportunidades do bem para todos.

Foi sonho. É desejo. É sonho.

- Porque os vampiros ainda não morreram.


José Luís Rodrigues

terça-feira, 24 de abril de 2012

Os amigos


Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos...
Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido... Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre...
Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe...nos e-mails trocados...
Podemos nos telefonar... conversar algumas banalidades. Aí os dias vão passar... meses... anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro. Vamos nos perder no tempo...
Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas? Diremos que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto!!! Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um último adeus de um amigo. E entre lágrima nos abraçaremos...
Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado... E nos perderemos no tempo...
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores... mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!!!
Vinícius de Moraes

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Vaticano: notícia desafiante

«Fé cristã é fermento de cultura» e Evangelho pode «orientar» soluções de problemas graves.
«A fé cristã é fermento de cultura e luz para a inteligência, estímulo para desenvolver todas as potencialidades positivas, para o bem autêntico do Homem», considera Bento XVI através de mensagem assinada pelo secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Tarcisio Bertone.
A carta, enviada a propósito da 88.ª Jornada para a Universidade Católica, que decorre este domingo em Roma, frisa que a fé, «sem nunca a impor», transmite-se através de «argumentação racional», consolidando um «substrato antropológico de valia insuperável para constituir percursos pedagógicos válidos».
O Evangelho tem a capacidade de «iluminar e orientar a solução de questões vitais para o futuro da humanidade», depositado «nas mãos daqueles que são capazes de transmitir às gerações de amanhã razões de vida e de esperança».
«A fé daqueles que fizeram a experiência do encontro com Jesus Cristo como presença real é uma força que transforma a vida pessoal e conduz ao compromisso pelos outros, é uma força potente de renovamento social», aponta a mensagem divulgada no sábado.
A referência à fé cristã, «como luz que dilata a razão humana e conforta o espírito, define a originalidade da elaboração do saber na Universidade Católica, a sua especificidade cultural e pedagógica».
Rui Jorge Martins

Livro do Amor

Homenagem ao livro no Dia Mundial do Livro...
O mais singular livro dos livros
É o Livro do Amor;
Li-o com toda a atenção:
Poucas folhas de alegrias,
De dores cadernos inteiros.
Apartamento faz uma secção.
Reencontro! um breve capítulo,
Fragmentário.
Volumes de mágoas
Alongados de comentários,
Infinitos, sem medida.
Ó Nisami! — mas no fim
Achaste o justo caminho;
O insolúvel, quem o resolve?
Os amantes que tornam a encontrar-se.
Johann Wolfgang von Goethe, in "Divã Ocidental-Oriental"
Tradução de Paulo Quintela
(Imagem Google)

Frei Bento Domingues – Funchal 25.04.2012

Com a minha nota de excelente à autora destas belíssimas palavras sobre Frei Bento Domingues que temos a alegria de receber por estes dias em nossa casa...
A Paróquia de São Roque, no Funchal, celebra o dia 25 de Abril de 2012 [pelas 20:00, no salão paroquial], promovendo uma esperada palestra com Frei Bento Domingues. Os mais atentos leitores do jornal o Público habituaram-se, já, a tratar a sua presença por tu, guardando embora o respeito que impõe um homem para quem a religião rima com paz, serenidade e reflexão séria e fundamentada acerca do mundo e das suas múltiplas incongruências. Nas suas crónicas, muitas das quais já compiladas numa excelente publicação, o peregrino que ele não abdica de ser revela-se nas suas múltiplas viagens pelos trilhos da aproximação entre credos, da diluição das margens que separam seres iguais por direito, do grito sereno com que denuncia injustiças e reclama a veracidade de cada rosto humano com as suas múltiplas cicatrizes e do doce olhar que posa sobre os silenciados. Saint-John Perse afirmou que “Os nossos caminhos são inumeráveis, mas incertas são as nossas estadias.” Muito mais que propor caminhos, embora o faça sem imposições fáceis, Bento Domingues dirige-se à forma como nos situamos nas nossas estadias em tempos de grandes inconstâncias, dúvidas e, infelizmente, de tão dramáticas desistências.
Ana Maria Kauppila – abril 2012

sábado, 21 de abril de 2012

Amar Deus em nós

Quem não se aceita e não se ama a si mesmo, separa-se de Deus. Ora vejamos o que dizia a Velha Abadessa, no «Diálogo das Carmelitas» de Bernanos, quando falava com o jovem Blanche de la Force: «Acima de tudo, nunca se despreze a si mesmo. É muito difícil desprezarmo-nos sem ofender a Deus em nós». Já Fernando Pessoa dirá: «nunca digas mal de ti próprio, porque os outros podem acreditar».
Também com este mesmo sentido descobrimos a interessante passagem no livro de Henri Nouwen «O Regresso do Filho Pródigo». Diz assim: «Durante muito tempo considerei a baixa auto-estima como uma virtude. Tinham-me prevenido tanto contra o orgulho e presunção que cheguei a pensar que desprezar-me era uma coisa boa. Mas agora dou conta de que o verdadeiro pecado é negar o amor que Deus me tem, ignorar o meu valor pessoal. Porque se não reconhecer este amor primeiro e este valor, perco o contacto com o meu verdadeiro eu e começo a procurar em falsos lugares o que se encontra só na casa do Pai».
Então, eis o seguinte desafio: sejamos o que formos, mas que ninguém esteja privado de exercer o direito de ser o que entender ser. Por um lado, a consciência deste direito leva depois à aceitação das limitações, dos erros e dos pecados. Por outro, este direito amansa a loucura de querer ser como os modelos da moda que a cultura actual apresenta.
Sou o que sou e como sou. Nada mais anseio senão viver com esta luz bem presente dentro do meu coração.
José Luís Rodrigues
(imagem Google)

Crítica certeira

«Outra classe "Cromática" tem ódio de estimação a quem escreve artigos de opinião. Já há algum tempo desisti de trocar galhardetes com cromos, porque é simplesmente inglório, pura perda de tempo. Se critico um partido ou um político de esquerda sou um "mamão que não larga a teta do jardinismo", é que de certeza ando "à procura dum tacho"; se assesto a pena num alvo da direita, sou um "comuna", e outros mimos deste jaez. Poderia ser exasperante, se não fosse tão ridículo».
Raul Ribeiro, in Dnotícias, 20 de Aril de 2012
Nota: Vivemos numa terra assim. Toda a crítica, análise ou um simples pronunciamento são vistos como «ataque pessoal» ou motivo de ofensa. A meu ver, isto revela uma falta de cultura e uma pobreza grave que nos mergulha num primeirismo terrível. Por isso, revejo-me totalmente na brilhante crónica que o Raúl Ribeiro publicou. Por fim, há cromos que não merecem que se perca tempo com eles e não se deve dar importância a quem não a tem.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Um azulejo em Toledo

Para que não tenham dúvidas... Esta é a sua tradução para português:
A SOCIEDADE É ASSIM:
O POBRE TRABALHA
O RICO EXPLORA-O
O SOLDADO DEFENDE OS DOIS
O CONTRIBUINTE PAGA PELOS TRÊS
O VAGABUNDO DESCANSA PELOS QUATRO
O BÊBADO BEBE PELOS CINCO
O BANQUEIRO "ESFOLA" OS SEIS
O ADVOGADO ENGANA OS SETE
O MÉDICO MATA OS OITO
O COVEIRO ENTERRA OS NOVE
O POLÍTICO VIVE DOS DEZ...
Recebido por mail...

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Jesus ao partir do pão

Comentário à Missa do próximo domingo
III Páscoa, 22 de Abril de 2012
O calor da presença de Jesus ressuscitado é uma realidade testemunhada pelos discípulos de Emaús, que nos reconforta também e que nos faz sentir que essa presença é muito importante para enfrentar todas as caminhadas da vida neste mundo repleto de contrariedade e perplexidades. O calor da Ressurreição faz arder o coração de alegria, porque não se sente desamparado nem à margem do amor de Deus. Deus aí está e diz-nos: "Tocai-Me e vede…". Eis o melhor que se pode ouvir e sentir do ressuscitado.
Perante esta constante paixão amorosa de Deus por nós, não pode haver medos nem desconhecimentos, que possam eventualmente travar o acolhimento desta proposta que nos torna grandes diante do amor compassivo de Deus-Pai-Mãe, revelado por Jesus Cristo.
Na Eucaristia, Jesus senta-se à mesa, pega no pão, parte o pão e entrega o pão para todos como sinal do Seu Corpo glorioso. Não podemos temer esta entrega e esta disponibilidade para o banquete, porque aí descobrimos Cristo totalmente entregue à causa de salvação designada por Deus-Pai-Mãe, que nos defende e nos protege com o Seu amor infinito e incondicional.
Somos hoje, também chamados pelo nosso nome a tomar parte nesta festa de amor e de vida. Os tormentos dos caminhos da vida, nada são diante desta maravilha que Jesus nos oferece. Como venceríamos o desgosto das caminhadas sem sucesso que muitas vezes encetamos pela vida fora? - Só com a força de Jesus que é alimento eucarístico entregue sobre o que somos e temos. E só nessa entrega podemos encontrar sentido para os altos e baixos deste mundo.
A comunidade que se reúne à volta do altar da Eucaristia descobre-se a si mesma como corpo vivo de Cristo presente na história e descobre também a mediação do Espírito Santo como razão de ser da convocação que Cristo faz todas as vezes que a possibilidade do encontro se manifesta.
Dentro da comunidade cada um descobre a sua vocação ou a sua capacidade de doação aos outros. A comum união fraterna que Cristo deseja e para a qual nos chama em todos os momentos, só é possível mediante a disponibilidade do coração para o acolhimento da fé. Não há outra forma de descobrir Cristo vivo nem há outra forma de salvação.
Ninguém se salva sozinho. Só na comunidade à volta da mesa do pão e do vinho se pode encontrar a possibilidade da redenção, porque Cristo ressuscitado manifesta-se de forma plena na comunidade reunida. Que todos sejam capazes de abrir a sua existência à Palavra do Amor que Cristo nos dirige. Não se encontra o verdadeiro sentido da vida fora de Jesus ressuscitado. E a verdadeira vida só é possível quando todos os homens e mulheres, como irmãos, se juntarem à volta da mesa do banquete que Cristo nos prepara. O comensal do amor de Deus para todos sem excepção. Vinde à mesa da festa da vida.
José Luís Rodrigues

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Desassossego

E como me revejo nesta inquietação...
«Estou efectivamente desassossegado e muito; mas como não estar? Cada vez mais o falso da minha posição nesta terra lusitana. Não me entendo com os homens e com as coisas; apenas com o céu e com os montes, mas isto não é suficiente. Para onde irei? Ignoro; talvez daqui até lá, indague dum emprego para a Índia, para Goa ou Macau, países onde a vida moderna não deve ostentar-se em muito excessivo luxo de seu vermelho sangue burguês e gordura de banalidade, como acontece nesta Europa soesmente comodista, esta Cartago sem Moloch - mas com muitos mercenários. Tenho pena de não ter achado aqui o silêncio e a despreocupação que esperava e ansiava... Se eu tivesse achado um ermitério de S. Columbano, uma ilha - no mar - ah! mas bem no mar! Assim o julguei e desejo ainda».
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Antero de Quental
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O QUE DIZ A MORTE
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Deixai-os vir a mim, os que lidaram;
Deixai-os vir a mim, os que padecem;
E os que cheios de mágoa e tédio encaram
As próprias obras vãs, de que escarnecem...
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Em mim, os Sofrimentos que não saram,
Paixão, Dúvida e Mal, se desvanecem.
As torrentes da Dor, que nunca param,
Como num mar, em mim desaparecem.»
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Assim a Morte diz. Verbo velado,
Silencioso intérprete sagrado
Das coisas invisíveis, muda e fria,
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É, na sua mudez, mais retumbante
Que o clamoroso mar; mais rutilante,
Na sua noite, do que a luz do dia.
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Nota: hoje conta-se o 170º aniversário do nascimento do escritor português Antero de Quental (1842-1891).
(Imagem Google)

Uma coisa inocente

Estendi a mão por qualquer coisa inocente
uma pedra, um fio de erva, um milagre
preciso que me digas agora uma coisa inocente
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Não uses palavras
qualquer palavra que me digas há-de doer
pelo menos mil anos
não te prepares, não desejes os detalhes
preciso que docemente o vento
o longínquo e o próximo
espalhe o amor que não teme
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Não uses palavras
se me segredas
aquilo que no fundo das nossas mentiras
se tornou uma verdade sublime
..
José Tolentino Mendonça: "A Noite Abre Meus Olhos"

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Nota: Sublime alegria nos segreda esta imagem enfeitada com este magnífico poema...

terça-feira, 17 de abril de 2012

Mensagens libertadoras de Dom Oscar Romero

Nota: Que coragem! Impressionante exemplo para todos nós responsáveis da nossa Igreja Católica...
Por Frei Gilvander Luís Moreira
Dia 24 de março de 2012 celebramos 32 anos de martírio de dom Oscar Romero, arcebispo da arquidiocese de San Salvador, capital de El Salvador. Nomeado bispo por ser considerado conservador, passou por um processo de profunda conversão e assumiu a causa dos pobres. Sentiu profundamente o assassinato do padre Rutílio Grande, seu secretário, e de milhares de lideranças camponesas, de Comunidades Eclesiais de Base, que se levantavam contra a ditadura militar imposta sobre El Salvador.
Eis, abaixo, 17 anúncios e denúncias que ecoaram a partir da boca de Romero nas suas homilias. Através da Rádio a mensagem de Romero encontrou acolhida nos corações de tanta gente que segue vivendo se inspirando no ensinamento e testemunho libertador de Romero.
1. “Irmãos, eu gostaria de gravar no coração de cada um esta ideia: o cristianismo não é um conjunto de verdades nas quais devemos acreditar, de leis que devem ser cumpridas, de proibições! Assim se torna muito repugnante. O cristianismo é uma pessoa, que me nos amou tanto, que pede nosso amor. O cristianismo é Jesus Cristo e o evangelho.” (06/11/ 1977)
2. “Que maravilha será o dia em que cada batizado compreender que sua profissão, seu trabalho, é um trabalho sacerdotal; que, assim como eu celebro a missa no altar, cada carpinteiro celebra sua missa na sua carpintaria, cada profissional, cada médico com seu bisturi, a mulher na feira, no seu lugar de trabalho… estão fazendo um ofício sacerdotal.
Quantos motoristas que escutam esta mensagem no seu táxi. Tu, querido motorista, junto ao volante do seu táxi és um sacerdote se trabalhas com honradez, consagrando a Deus seu táxi, levando uma mensagem de paz e de amor a teus clientes que vão no seu automóvel.” (20/11/1977)
3. “Uma religião de missa dominical, mas de semanas injustas não agrada ao Deus da Vida. Uma religião de muita reza, mas de hipocrisias no coração não é cristã. Uma Igreja que instala só para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, porém que não ouve os clamores das injustiças não é a verdadeira igreja de nosso Divino Redentor.” (04/12/1977)
4. “Ainda quando nos chamem de loucos, ainda quando nos chamem de subversivos, comunistas e todos os adjetivos que se dirigem a nós, sabemos que não fazemos nada mais do que anunciar o testemunho subversivo das bem-aventuranças, que proclamam bem-aventurados os pobres, os sedentos de justiça, os que sofrem.” (11/05/1978)
5. “Muitos querem que o pobre sempre diga que é “vontade de Deus” que assim sobreviva. Não é vontade de Deus que uns tenham tudo e outros não tenham nada. Não pode ser de Deus. A vontade de Deus é que todos os seus filhos e filhas sejam felizes.” (10/09/1978)
6. “É ridículo dizer que a Igreja se tornou marxista. Porém há um "ateísmo" mais próximo e mais perigoso para nossa igreja: o ateísmo do capitalismo, quando os bens materiais se tornam ídolos e substituem Deus.” (15/09/1978)
7. “Uma igreja que não sofre perseguição, mas que desfruta privilégios e o apoio de coisas da terra – Tenham Medo! – não é a verdadeira igreja de Jesus Cristo.” (11/03/1979)
8. “Quantos existem que não dizem ser cristãos, porque não têm fé…! Têm mais fé no seu dinheiro e em suas coisas do que no Deus que criou tudo.” (03/06/1979)
9. “Para que servem belas estradas e aeroportos, belos edifícios e grandes palácios, se foram construídos com o sangue de pobres que jamais vão desfrutá-los?” (15/07/1979)
10. “Não nos cansemos de denunciar a idolatria da riqueza, que faz consistir a grandeza da pessoa humana no ter e esquece que a verdadeira grandeza é ser. A pessoa humana não vale pelo que tem, mas pelo que é e faz.” (04/11/1979)
11. “Devemos buscar o menino Jesus, não nas imagens bonitas de nossos presépios. Devemos buscá-lo entre as crianças desnutridas que foram dormir esta noite sem ter o que comer, entre os pobres vendedores de jornal que dormiram muito mal.” (24/12/1979)
12. “Que maravilha será o dia em que uma sociedade nova, em vez de armazenar e guardar egoisticamente, se partilhe, se reparta e se alegrem todos, porque todos nos sentimos filhos do mesmo Deus! Que outra coisa quer a palavra de Deus neste ambiente salvadorinho senão a conversão de todos para que nos sintamos irmãos?!!!” (27/01/1980)
13. “Não é um prestígio para a Igreja estar bem com os poderosos. Prestígio para a igreja é sentir que os pobres a sentem como sendo sua, sentir que a igreja vive uma dimensão na terra, chamando todos, também os ricos, à conversão e à salvação a partir do mundo dos pobres, porque eles são unicamente os bem-aventurados.” (17/02/1980)
14. "Se denuncio e condeno a injustiça é porque é minha obrigação como pastor de um povo oprimido e humilhado... O Evangelho me impulsiona a defender meu povo e em seu nome estou disposto a ir aos tribunais, ao cárcere e à morte.”
15. “Tenho estado ameaçado de morte frequentemente. Tenho que dizer-lhes que como cristão não acredito na morte, mas na ressurreição: se me matam, ressuscitarei no povo salvadorenho. Digo isso sem nenhuma vanglória, mas com grande humildade. Como pastor, estou obrigado, por mandato divino, a dar minha vida por aqueles que amo, que são todos os salvadorenhos, inclusive por aqueles que vão assassinar-me. Se chegarem a cumprir as ameaças, desde já ofereço a Deus meu sangue pela redenção e pela ressurreição de El Salvador. O martírio é uma graça de Deus, que não creio merecer. Porém se Deus aceita o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e sinal que a esperança se torna realidade. Minha morte, se aceita por deus, seja para a libertação do meu povo e como testemunho de esperança no futuro. Vocês podem dizer, se chegarem a me matar, que perdôo e bendigo aqueles que me matarem. Desta maneira se convencerão que perdem seu tempo. Um arcebispo morrerá, porém a igreja de Deus, que é o povo, nunca perecerá.” (março de 1980)
16. “O Reino já está misteriosamente presente na nossa terra. Quando vier o Senhor, se consumará sua perfeição. Esta é a esperança que alenta a nós os cristãos. Sabemos que todo esforço para melhorar a sociedade, sobretudo quando está tão metida na injustiça e no pecado, é um esforço que Deus bendiz, que Deus quer, que Deus exige de nós.” (24/03/1980)
17. Dom Oscar Romero bradou aos militares que estavam assassinando o povo: “Nenhum soldado está obrigado a obedecer uma ordem contrária à lei de Deus que diz: “Não Matar.” Uma lei imoral não deve ser cumprida por ninguém. Soldados, em nome de Deus e no nome deste povo sofrido, cujos clamores sobem até ao céu cada dia mais tumultuosos, lhes suplico, lhes rogo, lhes ordeno em nome de Deus: cessem a repressão.”
Belo Horizonte, MG, Brasil, 23 de março de 2012.
(Imagem Google)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Cartão da Visita Pascal

Nota: Cartão da visita do Espírito Santo nas Paróquias de São José e de São Roque do Funchal deste ano... Para terem melhor visibilidade e permitir uma leitura mais acessível, carreguem com o rato sobre as imagens e é só esperar que o computador faça o resto. Que o Divino Espírito Santo a todos ilumine.

Ser Cristão hoje

Inventar novas maneiras de ser cristão ou de ser fiel - não só no sentido de fidelidade, mas também no sentido de ser cristão de plenos direitos e deveres na Igreja -, será a linha de fogo da Igreja para os próximos anos. Inventar não em nome de gostos e caprichos, mas em nome da máxima fidelidade ao Evangelho de Cristo, o único a quem devemos cantar: «És a nossa fé». Não ser cristãos como quem vive de uma recordação que vai desaparecendo a pouco e pouco, mas ser fiéis à responsabilidade que o estatuto de filhos de Deus confere e que São Paulo exprime: «Se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo» (Rom 8, 17). Quem diz herdeiro, diz continuador da missão, da vida e do amor do Evangelho de Jesus de Nazaré.
Todos se devem esclarecer na Igreja, mas de modo especial a hierarquia a quem compete guiar os fiéis à salvação. Deles deve vir o impulso que permitirá a muitos cristãos desestabilizados a fazerem o funeral do mundo do qual se sentem órfãos e reencontrarem o dinamismo inscrito no centro da sua fé.
Os psicólogos verificam todos os dias que os traumatismos sofridos pesam muito, mas mais grave ainda é o seu recalcamento. A dor aumenta quando a pessoa atingida não pode manifestar o seu sofrimento e não tem quem a oiça com atenção. É importante que os cristãos possam manifestar o seu descontentamento e o seu desgosto, a sua impaciência e, por vezes, a sua raiva.
Por isso, renovarem-se e saírem do sofrimento faz supor que se purificaram interiormente em relação à crise, o que implica terem sido ouvidos. A hierarquia deve continuar a ver chegar-lhe esta queixa por vezes difícil de escutar. Compreende que é também sua tarefa acolher os decepcionados (ou os «vencidos do catolicismo» como diria Ruy Cinatti e tantos outros irmãos que se desencantaram com a Igreja ou que simplesmente foram esquecidos por ela) com a Igreja, os desencantados com os tempos, aqueles que a história recente afastou, aqueles que se inquietam com os progressos do mundo. Interessar-se-á por compreender a angústia de alguns cristãos e as suas interrogações. Preocupar-se-á com o acolhimento benevolente tanto das tentações de recuar, como das tentativas de experimentar. Sobretudo, saberão confiar na armadilha de uma atitude de defesa orgulhosa de um equilíbrio passado que se desfaz sem que a isso se possam opor.
No fundo, basta não marginalizar ninguém e centrar toda a missão evangelizadora no acolhimento de todos como irmãos, numa atitude de humildade e desprendimento. Uma Igreja interessada só em bens deste mundo não tem futuro e tem os dias contados. Por isso, requer-se uma Igreja que ponha em prática a expressão tão conhecida e badalada do Papa João XXIII, «a Igreja, deve ser Mãe e Mestra». Mais deve a Igreja toda estar ciente da palavra do Evangelho: «toda árvore boa produz bons frutos, enquanto a árvore de má qualidade produz maus frutos. Uma árvore boa não pode dar maus frutos, nem uma árvore de má qualidade pode dar bons frutos» (Mt 7, 17-18).
Para abandonar a Igreja da crise, é preciso fazer-lhe o funeral, depois é preciso também aceitar a realidade, a separação, a ausência, o desaparecimento, o desenvolvimento, as crises e os sofrimentos para ressuscitar cheia de vida nova à maneira de Cristo que se enclausura no túmulo para daí fazer brotar a explosão da abundância de vida ressucitada para todos...
O carisma do acolhimento, da confiança, da renovação, será uma qualidade de que há-de fazer prova a Igreja dos próximos tempos, porque a Igreja tem necessidade disso. A fase que se aproxima permite-o e exige-o.
José Luís Rodrigues

(Imagem Google)

sábado, 14 de abril de 2012

Alegria

Não tivesses tu simplicidade, como poderia
acontecer-te o que agora a noite enche de luz?
Vê, o Deus que sobre os povos em ira ardia
torna-se manso e em ti ao mundo vem Jesus.
Terias imaginado maior esse Menino?
O que é a grandeza? Através de toda a medida
pela qual Ele passa, se traça o Seu vertical destino.
Nem mesmo um astro tem uma rota assim erguida.
Vês, estes reis são grandes, imponentes,
diante de ti depositam presentes
que tomam por tesouros sem par,
e talvez te assombre a oferenda que aí está:
mas para as pregas dos teus panos dirige teu olhar,
vê como Ele tudo supera já.
Todo o âmbar que se envia para a distância
Todas as jóias de ouro e especiaria do ar,
que turvando-se nos sentidos se vêm envolver:
tudo isto rapidamente veio a terminar,
e por fim todos se vieram a arrepender.
Mas, hás-de ver, Ele enche de alegria toda a ânsia.
Rainer Maria Rilke
(A Vida de Maria)

Nota: Título do autor do blogue... Bom fim de semana para todos os leitores deste Banquete da Palavra.

(Imagem Google)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Frases sobre o diálogo entre fé e cultura

Bispo do Funchal em vários momentos... Frases chave sobre a necessidade do diálogo entre e Igreja e a cultura actual. Só para lembrar. A prática nem sempre corresponde à teoria e neste caso à pregação. Mas, adiante...
«A Madeira é hoje um grande centro turístico, uma sociedade de profundo intercâmbio cultural, com inevitáveis e normais repercussões nas mentalidades e nos comportamentos; uma Região Autónoma que, devido ao Turismo e a outros factores, nomeadamente a entrada de Portugal na União Europeia, já manifesta um notável desenvolvimento e aponta para novos projectos de crescimento.
Partilhar vida e a fé na Diocese do Funchal de hoje implica saber acolher os valores e s tradições das gerações passadas, mas também olhar em frente, discernindo os sinais” deste tempo e romovendo o indispensável esclarecimento e aprofundamento da fé no diálogo fé-cultura-vida, como suporte da nova evangelização e de adequados dinamismos pastorais».
In Mensagem de Saudação à Diocese do Funchal, Porto, 8 de Março de 2007
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43.º dia Mundial das Comunicações Sociais, que amanhã se assinala sob proposta do Papa, foi o motivo especial para o encontro de ontem (dia 22 de Maio de 2009) do Bispo do Funchal com os jornalistas. Na saudação inicial, D. António Carrilho fez questão de lembrar que "a Igreja faz memória do momento em que Cristo, ao deixar este mundo, lhe confia a grande responsabilidade de anunciar o Evangelho a toda a criatura. Por missão lhe compete fazer chegar a toda a gente, em todos os tempos e lugares, a Boa Nova da Palavra de Jesus e a força do testemunho da Sua Vida!"
"É preciso não deixar de afirmar esta sua convicção e desejo, a consciência de que a fidelidade à missão recebida de Jesus passa por procurar aproveitar e colocar as novas tecnologias ao serviço da verdade, do bem e do belo, ‘ao serviço de todos os seres humanos e de todas as comunidades", disse, citando o Papa na sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações deste ano.
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Pela Palavra, “São Paulo tornou-se o grande Apóstolo de Jesus, o grande anunciador da mensagem, o grande construtor das comunidades cristãs.” Pela Palavra, “São Tomás de Aquino, uma das maiores figuras intelectuais da Igreja, o Doutor Angélico, preocupou-se em fazer chegar a mensagem às pessoas do seu tempo”, promovendo o “diálogo entre a cultura e a fé”, tão actual também nos dias de hoje, sublinhou D. António Carrilho.
In no 15.º aniversário do Renovamento Carismático Católico da Diocese do Funchal, 28/01/2009
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«Mas não pode haver dicotomias na vivência eucarística: quem participa no Banquete Pascal e contempla o Rosto Eucarístico de Jesus, entra no dinamismo da oferta generosa da vida. É particularmente convocado e enviado para a missão na seara do Senhor, imensa e sem fronteiras, que é o mundo globalizado de hoje. A Igreja, porque vive da Eucaristia, é chamada a saciar as novas sedes e fomes da humanidade, oferecendo o pão da amizade, da alegria, do perdão, da ternura, do sorriso amigo, da esperança e do serviço gratuito, enfim, a reinventar a solidariedade neste tempo de crise, num mundo em rápida e profunda mutação civilizacional.
A comunidade eclesial, face à moderna dependência económica, social, política e cultural, é convidada a promover e defender a dignidade humana, a despertar a humanidade para o Essencial e a reconhecer, em cada irmão ou irmã, o próprio Corpo do Senhor. O cardeal Van Thuan, preso por causa da sua fé, escreve assim no livro "Cinco pães e dois peixes": "Quando comungo e distribuo a comunhão, entrego-me juntamente ao Senhor para fazer de mim alimento para todos. Isso significa que estou totalmente ao serviço dos outros».
In homilia do Corpo de Deus do Bispo do Funchal, em 12 Junho 2009.
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«Hoje, como outrora...presente em todas as circunstâncias e situações da nossa vida concreta, Deus não falta: Ele está presente na travessia dos desertos da nossa história, nos sofrimentos e nas carências, bem como na prosperidade, com a abundância das Suas bênçãos e dons, apontando sempre para a esperança de um futuro melhor», disse.
«Perante os desafios do mundo actual, com uma profunda e grave crise de valores, que todos reconhecemos, onde a solidão, a tristeza e a falta de sentido para a vida marcam e caracterizam muitos dos nossos contemporâneos, a eucaristia ilumina a história de cada homem e de cada mulher», sublinhou D.António Carrilho.
Para o bispo funchalense é da "intimidade e reciprocidade do amor de Deus, que há-de brotar, numa Europa cada vez mais secularizada, a urgência de evangelizar, testemunhar e viver a missão espiritual e social da Igreja." Recordou que João Paulo II considerou a "eucaristia uma grande escola de paz, onde se formam homens e mulheres que, a vários níveis de responsabilidade na vida social, cultural e política, são instrumentos de paz, de diálogo e de comunhão".
"A Eucaristia implica sempre um compromisso social de fraternidade, porque é exigência de comunhão com os outros", realçou.
In D. António Carrilho falava na homilia na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, 23/06/2011

Mostrar Deus aos homens

«Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens» (Lc 5,1-11).
«Também hoje é dito à Igreja e aos sucessores dos apóstolos que se façam ao largo no mar da história e que lancem as redes, para conquistar os homens para o Evangelho, para Deus, para Cristo, para a vida.
Os Padres dedicaram um comentário muito particular a esta tarefa. Dizem eles: para o peixe, criado para a água, é mortal ser tirado para fora do mar; ele é privado do seu elemento vital para servir de alimento ao homem. Mas na missão do pescador de homens acontece o contrário: nós, homens, vivemos alienados nas águas salgadas do sofrimento e da morte, num mar de obscuridade sem luz; a rede do Evangelho tira-nos para fora das águas da morte e conduz-nos ao esplendor da luz de Deus, na verdadeira vida. É precisamente assim na missão de pescador de homens, no seguimento de Cristo: é necessário conduzir os homens para fora do mar salgado de todas as alienações, rumo à terra da vida, rumo à luz de Deus. É precisamente assim: nós existimos para mostrar Deus aos homens».
Papa Bento XVI - Homília da missa inaugural do pontificado, 24/04/05

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Nascer de Deus

Comentário à Missa do Próximo Domingo
15 de Abril de 2012
Domingo de Pascoela e Domingo da Divina Misericórdia
1 Jo 5,1-6
A partir da Páscoa de Jesus Cristo, descobre-se que "nascer de Deus" é ressuscitar. A Ressurreição mostra-nos claramente que a vida venceu a morte e que com esse acontecimento inaugura-se o tempo escatológico da Acão do Espírito Santo.
A era do Espírito começa com as palavras de Jesus ressuscitado, atestando que sem a Acão transformadora do Espírito Santo nada será possível realizar. Estamos diante da realização da promessa de Jesus: "Não vos deixarei abandonados, vou enviar-vos o Espírito..." (Várias vezes pronunciou esta ou outras frases semelhantes nos Evangelhos, quando se refere ao Espírito ou o Paráclito). Jesus revela-nos agora que chegou o tempo do Espírito Santo e sem Ele nada pode ser feito (este aviso também foi pronunciado várias vezes por Jesus).
Por isso, há-de ser o Espírito que realiza o mais nobre ministério, acreditar ou como se refere São João, viver "a nossa fé". Esta é a Missão principal que Jesus confere aos seus Discípulos, que consiste em promover a paz através do perdão dos pecados e mediante a força da fé e da esperança que emergem do coração sempre renovado. Somos todos nós os continuadores deste anúncio. É o Espírito que sempre nos deve fazer renascer, para que a vida não se torne uma prisão, mas libertação para a felicidade. Nisto consiste o nascer de Deus e para Deus. E como precisa o nosso mundo deste testemunho.
Também estamos diante do mais que curioso episódio de Tomé, um dos doze, que não estava presente por ocasião das primeiras aparições de Jesus. Claramente nega tal facto e à maneira tipicamente humana, assegura que não acreditará sem ver e sem tocar no lugar dos cravos.
A expressão: «Vimos o Senhor», leva-nos a imaginar que deveria ser muita a alegria que transparecia nos rostos dos Discípulos que corriam ao encontro de Tomé para dar-lhe essa grande notícia. Não é que Tomé, um homem prudente, se mostra incrédulo e joga bem alto! Mas querem enganar quem! «Não acredito sem ver e tocar!» – dirá profundamente seguro de si mesmo. Porém, logo depois também afirmará com grande convicção: «Meu Senhor e meu Deus». A fé em Cristo ressuscitado, é o outro nome da felicidade, porque é a possibilidade última para o único sentido da vida que salva, a eternidade.
José Luís Rodrigues
(Imagem Google)