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quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Páscoa tira o medo de existir

Comentário às Celebrações desta Páscoa - 2012
Os cristãos celebram a Páscoa de forma vibrante, porque Cristo, o fundador da Religião Cristã, ressuscitou, manifestou-se glorioso às mulheres e aos homens – digo assim, porque Jesus não precisou de cotas - que o acompanharam no anúncio da Boa Nova da salvação. O sinal visível e histórico de que a Ressurreição é uma verdade fundamental do Cristianismo, é o túmulo vazio. A pedra retirada e lá dentro o vazio do túmulo manifestam que neste Domingo em cada tempo começa um existir novo para todos.
A palavra Páscoa significa passagem. Em Jesus Cristo deu-se essa passagem pelo sofrimento e pela morte até à vida ressuscitada. E tomando as palavras de São Paulo, descobrimos que essa passagem não foi só para Jesus Cristo, mas para todos os crentes. Ora vejamos: «Se com Ele morremos, com Ele viveremos; se com Ele sofremos, com Ele reinaremos» (2Tm 2, 11-12). Nesta palavra descobrimos o sentido para esta vida terrena e uma resposta para a inquietação da realidade «invisível» (palavra utilizada por São Paulo) depois da morte.
Mas o que importa saber da Páscoa de há 2012 anos para hoje, é o seguinte: que sentido faz falar em alguém que morreu e ressuscitou por causa da salvação do mundo? – A Páscoa é um sinal e um apelo para o sentido da vida. Mas gosto ainda mais de pensar e celebrar a Páscoa e, particularmente, o dia da Ressurreição, como provocação à coragem de existir perante os desafios desta vida. Com a Ressurreição de Cristo nada desta vida material nos pode vencer, mas tudo se vencerá. Porque, outra vez São Paulo diz: «Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens» (1Cor 15, 19). Por isso, o sofrimento e a morte não têm a última palavra nem são um fim em si mesmos, mas sempre mediação de mais e melhor.
Mas, apesar de tudo falta-nos uma linguagem objectiva e clara sobre estas matérias. As Igrejas Cristãs, sentem sempre uma dificuldade tremenda para falar claro quanto ao conteúdo da fé. A verdade da fé e de modo especial a verdade sobre a Ressurreição de Jesus Cristo não deve compadecer-se com longos textos doutrinários com linguagem difícil e pesada, que só os iniciados compreenderão.
O sentido da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo descobre-se não apenas nas circunstâncias históricas do tempo passado, mas nos emaranhados históricos do nosso hoje e do nosso amanhã. Cristo está nos pobres, nos simples, nos desprezados e em todas as vítimas da lógica deste mundo que cerceiam a dignidade da vida. A entrega de Cristo à Paixão e à Morte, é um grito contra tudo o que em todos os momentos da História sempre teima em ser opressão dos mais fracos e dos desafortunados deste mundo. A Ressurreição de Cristo, é a vitória para todos, tanto para os que foram vítimas e outro tanto sinal de conversão para os dominadores desta vida.
É perante os retratos de dor e de sofrimento que as Igreja Cristãs, tomadas pelo gozo alegre da Ressurreição, são chamadas a proclamar alto e bom som, que este mundo pode ser um lugar de paz e de amor entre todos. Não basta proclamar e reclamar pelo cumprimento de leis - muitas vezes, totalmente obsoletas e anacrónicas. Nunca uma lei deu sentido a uma vida.
As Igrejas Cristãs são propagandistas de uma Boa Nova, a Boa Nova de que Deus existe e é um Pai para cada um dos habitantes domundo. Não é missão de ninguém, que acredite na Ressurreição de Cristo, defender uma ordem moral contra um mundo totalmente perdido. Só o reconhecimento do amor que emerge da Ressurreição, liberta o homem do pecado e da morte. Boa Páscoa para todos.
José Luís Rodrigues
(Imagem Google - Salvador Dali)

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