Loucos monumentos de pedra e tijolo,
Erguidos a deuses cruéis e a reis insanos,
Guerras inglórias, impérios exaustos,
Heróis, profetas e santos,
Todos povoam o passado, gravemente.
Tudo é lógico, tudo está registado em pedras,
Em papéis, em lendas…
Os poderosos venceram batalhas,
Construíram impérios, massacraram,
Escravizaram, consolidaram reinos,
Salvaram os seus povos,
Fizeram palácios, muralhas e estradas.
A sua glória final erguida em pirâmides
Para os mortos, gigantescos palácios,
Templos para os deuses que os protegeram.
Os práticos venceram a Natureza,
A ler os calendários escritos pelas estrelas,
A ensinar o cultivo de plantas,
Construindo pontes e cidades,
Na busca da imortalidade
Na cura das doenças
E reescrevendo a superfície da Terra.
Os bons e sábios venceram o Mal,
Falaram com a voz da santidade,
Convertendo milhões com a sua dor e a sua palavra.
Mas, mas, mas e os apaixonados felizes,
Os que fazem loucuras à espera de um olhar,
Que não entendem diferenças entre noite e dia,
Entre sonhar e viver, e a sua felicidade,
Incontáveis gotas de chuva
A se armazenar em secretos lençóis!
Onde estão as lembranças dos seus feitos?
E os amargurados,
A olhar sem ver as ondas nalgum cais,
A beber sem notar um vinho entre estranhos,
E as suas lembranças,
Reflexos do sol no orvalho
Que temem perder com o calor do dia,
Doloridas lascas que lhes restam.
Mas a História a eles não regista,
Aos que atravessaram o ar com palavras,
Suaves promessas eternas,
Para que macias mãos pousem nas suas,
Aos que possuem longos silêncios
Que não conseguem mais carregar,
Quadros de tristeza e dor
Pintados dentro de si com lágrimas há muito secas.
Não são poderosos, não são práticos,
Não são bons nem sábios, nada se sabe deles
Mas os entendemos e estes, sim fazem tudo.
Carmen Rodrigues
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