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Convite a quem nos visita

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Casa

Carlos Drummond de Andrade(1902-1987)
Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra
circulação e uma boa
entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um
cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os
móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras
e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições
fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca
ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.
.................
Nota: a «nossa casa», que nos guarda todos os momentos da vida. Nesse interior se retempera a esperança, a paz, a alegria... E noutra face a tristeza, as lágrimas... Porém, sempre na casa, em cada casa, o amor devia ser sempre a luz mais forte que daria sentido à vida e ao mundo de cada pessoa. Cuidemos da «nossa casa» com todo o carinho e usemos esse lugar com a maior alegria... Muito belo este texto do poeta Carlos Drumond de Andrade.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ele foi a Nazaré

“Ele foi a Nazaré, onde fora criado, e, segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; abrindo-o, encontrou o lugar onde está escrito: o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor enrolou o livro, entregou-o ao servente e sentou-se. Todos na sinagoga o olhavam, atentos. Então, começou a dizer-lhes: “’Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos esta passagem da Escritura.’”
(Evangelho de Lucas 4, 16-21)
É este o Jesus em que acredito. Um Jesus não cativo de códigos religiosos enclausurantes. Um Jesus que estilhaça as fronteiras “bem-comportadas” de uma moral sem ética. Um Jesus infinitamente bom – o totalmente bom. O Jesus que veio para todos, que abateu todos os muros que nos separam uns dos outros. O Jesus que escolheu o “pátio dos gentios” e não o Templo como lugar para o encontro com um Deus que não exclui ninguém, de um Deus para quem a glória é o ser humano vivo. O Jesus libertador: não só libertador de amarras internas, mas também de opressões externas, da injustiça estrutural, do “pecado organizado” em que o nosso tempo se tornou (para dizer como Sophia de Mello Breyner), um Jesus que não quer a pobreza, que não quer a guerra, que não quer a cobiça pelas matérias-primas, que não quer o racismo, que não quer a violência brutal sobre mulheres, crianças e velhos à qual nenhuma sociedade escapa, na qual nenhuma tem as mãos limpas. Um Jesus esperança dos sem esperança. Um Jesus com um abraço sem fronteiras.É este o programa de Jesus. É este o programa de um mundo outro. É esta a utopia que se espera. É esta a utopia na qual tantos se empenham. É este o Jesus em quem acredito.
(Teresa Martinho Toldy)
Nota do autor: também é este o «meu» Jesus...

Deus na simplicidade de um abraço

O realizador polaco Krzysztof Kieslowski, no primeiro episódio do seu Decálogo («Não terás outro Deus...»), oferece uma das definições de Deus mais emocionantes, mais «estéticas». O pequeno protagonista, Pawel, órfão de mãe e educado numa fé laica na ciência, pelo pai, engenheiro informático - o seu deus é a ciência -, pergunta à tia: «Como é Deus?» A tia permanece um momento em silêncio, depois, aproxima-se de Pawel, abraça-o, aperta-o contra si e sussurra-lhe: «Pawel, como é que agora te sentes?» «Bem», responde a criança. Em seguida, um silêncio: «Estás a ver, Deus é assim», sugere a tia.
Ermes Ronchi
In Os beijos não dados / Tu és Beleza, ed. Paulinas

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

«Foi a Mim mesmo que o fizestes»

Bem-Aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da CaridadeJesus, the Word to Be Spoken, cap. 8.
Jesus disse: «O que fizerdes ao mais pequeno dos vossos irmãos, é a Mim queo fazeis. Quando recebeis uma criança, é a Mim que recebeis. Se em Meu nomeoferecerdes um copo de água, é a Mim que o fazeis» (Mc 9,37; Mt 10,42). E, para ter a certeza de que tínhamos entendido bem o que Ele disse, afirmouque é assim que seremos julgados na hora de nossa morte: «Tive fome edestes-me de comer, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-meque vestir».
Não se trata apenas de uma fome de pão; é uma fome de amor. A nudez não diz respeito apenas ao vestuário; a nudez é também a falta de dignidade humanae desta magnifica virtude que é a pureza, tal como a falta de respeito dunspelos outros. Estar sem abrigo não é só não ter casa; estar sem abrigo étambém ser rejeitado, excluído, mal amado.
Imagem google...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

ARREPENDEI-VOS E ACREDITAI NA BOA NOVA

Arrependei-vos de viver à margem
da Palavra de Vida que vos salva
- e acreditai que Deus está convosco
por caminhos de luz fazendo a Páscoa.
..
Arrependei-vos de sonhar futuros
escudados no tempo já vivido
- e acreditai que só como crianças
podereis ser futuro cada hoje.
..
Arrependei-vos de sorrir do alto
aos mais pobres de bens e de influência
- e acreditai que só vos despojando
sabereis de mais vida com os simples.
..
Arrependei-vos de fechar em torres
de marfim o valor da identidade
- e acreditai que só sereis vós mesmos
comungando a Verdade repartida.
..
Arrependei-vos de querer salvar-vos
indiferentes à sorte dos famintos
- e acreditai que só no crescimento
dos irmãos mais pequenos sois benditos.
..
Arrependei-vos de fazer tratados
Só pensando em conquistas e direitos
- e acreditai que um grão morto na terra
dá mais pão que o guardado numa arca.
..
Arrependei-vos de pagar ofensas
com ofensas, no encalço da justiça
- e acreditai que amando e perdoando
destruís o arsenal de novas guerras.
..
Arrependei-vos de amar só aqueles
que vos amam, ou vão retribuir-vos
- e acreditai que é dando e recebendo
que se cresce em amor e fraterniza.
..
Arrependei-vos de pensar que o mundo
ou a gente se muda com discursos
- e acreditai que só no acolhimento
abrireis corações à vida nova.
..
Lopes Morgado

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Oração de Dom Hélder Câmara

Nota: Esta oração dedico a todas as pessoas - cuidado, que são imensas e de dia para dia cada vez mais - que todas noites após as 22 horas se empinam nas paredes do Mercado dos Lavradores para apanharem a refeição que alguns voluntários bondosamente recolhem em algum hotel da nossa cidade. Uma imagem deveras inquietante e que nos devia envergonhar. Quem puder que passe por aquela zona a esta hora da noite e pode ver in loco uma imagem que se pensava longe, muito longe de nós. Um bom exercício para a Quaresma.
..........
“Pai Celeste!
Como escutas o pedido
do pão de cada dia
da parte dos que temos
pão garantido
para o ano todo
e até para toda
a vida?
Como escutas o pedido
do pão de cada dia
da parte dos que, tantas vezes,
veem o dia acabar,
sem que chegue o pão!?...
O grave é que
se temos pão
para o mês inteiro,
para o ano todo,
ou para toda a vida,
é porque direta
ou indiretamente
tiramos o pão de cada dia
da boca de muita gente!
Pai, que a ninguém falte
o pão de cada dia!
Amém!”
..........
Imagem Google

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Baptismo que salva

Comentário à Missa do Próximo Domingo
Domingo I da Quaresma, 26 de Fevereiro de 2012
Dom Hélder Câmara, antigo bispo de Recife, Brasil, dizia: «É necessário viver a religião, não só representá-la.» Nesta conclusão, descobrimos o sentido do ser baptizado e mergulhamos na água viva que salva cada um no horizonte último da vida, a salvação. Não basta representar a religião, mas viver a religião em todos os seus aspectos que conduzem à prática da justiça, da paz, da fraternidade e acreditar que é possível um mundo novo onde todos de verdade se sentem à mesa do bem comum.
O Baptismo é um dos vários requisitos indispensáveis para a salvação. São Pedro, compara o baptismo ao dilúvio dos dias de Noé. O dilúvio salvou Noé da corrupção e da perversidade do velho mundo. O Baptismo salva-nos da corrupção e do pecado da nossa velha vida. Uma vez que o texto afirma que o baptismo nos salva, a questão é indiscutível. Por isso, vejamos o que diz o texto: "Ser baptizado não é tirar a imundície corporal, mas alcançar de Deus uma boa consciência…", isto é, pelo baptismo alcançamos a salvação de Deus.
Depois de recebermos o Baptismo a nossa vida não entra num caminho tipo "mar de rosas", sem problemas, sem sofrimentos e sem as peculiaridades de qualquer história pessoal. Todos estamos sujeitos às contingências desta vida. Não devemos temê-las, mas antes devemos robustecer-nos com os ensinamentos de Jesus para as vencermos sempre. O Baptismo é o primeiro requisito desta força interior que Deus nos quer oferecer. O deserto pode ser toda a nossa propensão para a esterilidade do amor. Uma vida toda carregada de egoísmo, de violência e de ódio contra os outros é uma vida no deserto árido sem sombra de existência verdadeira.
As tentações, fazem parte da vida e podem ser uma constante no nosso pensamento e no nosso coração. Porém, se, sob a condição de baptizados, à maneira de Jesus, acreditamos de verdade na mediação fiel do Espírito Santo, nada nos pode demover daquilo que é o mais importante. O espírito de Deus, guiar-nos-á sempre para o bem. Assim, o Baptismo não é o único requisito para a salvação hoje, mas não podemos ser salvos sem ele. "Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus" (Jo 3, 5).
Neste sentido, conta-se que certo dia, Dom Hélder enviou um homem pobre, desempregado e maltrapilho, a um pequeno empresário amigo, pedindo que o contratasse, apresentando-o como seu irmão de sangue. Diante da sua incredulidade e estupefacção, Dom Hélder responde:
– Desculpe meu amigo, mas João é verdadeiramente meu irmão...
– Mas o senhor disse: irmão de sangue...
– Sim, ele é verdadeiramente meu irmão de sangue. Pois Cristo deu o seu sangue por ele como por mim, por você e por todos os homens. Nós somos todos verdadeiramente irmãos de sangue, pelo sangue do Senhor...
É verdadeiramente este o significado do Baptismo que todos nós recebemos em Jesus Cristo. Deixemo-nos nesta Quaresma transformar por este realidade divina que nos eleva para o dom maior da nossa religião, o dom da fraternidade universal...
José Luís Rodrigues
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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A Quaresma vem ao nosso encontro

Espiritualidade
Um dos mais espantosos apelos de Quaresma que conheço não foi assinado por um eclesiástico, nem por um teólogo, mas sim por um poeta. Escreveu-o T.S.Eliot em 1930, três anos após a sua conversão, e deu-lhe um nome austero, sem o cómodo encosto que por vezes é o dos adjetivos: chamou-lhe simplesmente “Quarta-feira de Cinzas”.
Nesse poema, dizem-se três coisas fundamentais. Se as soubermos ouvir, percebemos que elas correspondem a caminhos muito objetivos (a mapas pessoais e comunitários) de conversão. E não é esse o desafio da Quaresma, e desta Quaresma em particular?
1. A Quaresma vem ao nosso encontro para que nos reencontremos. Os traços que o poeta desenha coincidem dramaticamente com os do nosso rosto: damos por nós a viver uma vida que não é vida, acantonada entre lamentos e amoques, sem saber aproveitar verdadeiramente a oportunidade que cada tempo constitui, como se tivéssemos capitulado no essencial, e passássemos a olhar para as nossas asas (e para as dos outros) sem entender já o papel delas. “Esmorecendo, esmorecendo”.
2. A Quaresma vem ao nosso encontro para nos devolver ao caminho pascal. O que é que nos dá o sentido de redenção no tempo? – pergunta o poema. E o poema evangelicamente responde: o sentido de transformação é-nos dado quando aceitamos trilhar um caminho. O que nos permite passar do cerco das coisas triviais à revigoração da fonte, o que do sono nos dá acesso à vigília iluminada da vida é aceitarmos o desafio de nos fazermos de novo à estrada, e à estrada menos óbvia e mais adiada que é aquela interior. A Páscoa é a grande possibilidade de revitalização. Mas é preciso consentir naquela imagem brutalmente verdadeira do profeta Ezequiel: por agora somos mais uma sucata de restos, do que uma primavera do Espírito.
3. A Quaresma vem ao nosso encontro para que a tensão criadora do Espírito de Jesus redesenhe em nós a vida. Interessantes são os verbos que o poeta usa como prece: “que sejamos instigados”, “que sejamos sacudidos”. A Quaresma faz-nos passar do “deixa andar”, e do viver espiritualmente entorpecido ao estado da corda tensa. Aquela que é capaz de avizinhar da nossa humanidade reencontrada a música de Deus.
José Tolentino Mendonça
In © SNPC 13.02.12
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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O som do silêncio

Devagar, como se tivesse todo o tempo do dia,
descasco a laranja que o sol me pôs pela frente. É
o tempo do silêncio, digo, e ouço as palavras
que saem de dentro dele, e me dizem que
o poema é feito de muitos silêncios,
colados como os gomos da laranja que
descasco. E quando levanto o fruto à altura
dos olhos, e o ponho contra o céu, ouço
os versos soltos de todos os silêncios
entrarem no poema, como se os versos
fossem como os gomos que tirei de dentro
da laranja, deixando-a pronta para o poema
que nasce quando o silêncio sai de dentro dela.
Nuno Júdice

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Réquiem

Nota: Só porque já muitos disseram sobre a trágica memória do 20 de Fevereiro. Então, digo eu uma palavra contrabalançada entre a memória triste e a possibilidade da esperança que a impotência da morte sempre suscita em quem acredita...
..
“Tudo é possível a quem crê” (Marcos 9,23)
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Creio no silêncio da lama que suja as paredes
Em águas revoltosas na encosta da morte
E no entulho da visão do caos quando disseram todos resquest in pace.
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Creio nas pedras que se despegam dos poios
Na terra que se solta no abraço das sementes pujantes de vida
E nos rebentes da esperança que fazem as mãos da misericórdia.
..
Creio nas ruas que se encheram de morte no dia do aluvião
Na chuva que impiedosa e no seu poder imenso em água tumultuosa
E nas casas que ante o grito calam a mais sombria tristeza.
..
Creio que não tem nome o desespero de quem se desampara na solidão
Nas lágrimas que testemunham o adeus na tumba da lama
E no limiar dessa linha fica a certeza da reconstrução.
..
Creio no dia a seguir ao esplendor das cinzas
Nas imensas escarpas agora ainda mais sofridas pelas quebradas
E nas árvores arrancadas à força da água e do vento.
..
Creio nos sentimentos que se vergaram à incredulidade
Nas serras altas do tempo tocando o azul do céu imenso na hora da bonança
E nos vales que se recompõe outra vez na fecundidade da natureza.
..
Creio na impossibilidade do que os olhos vêem
E mais não digo da alma inquieta que descansa nos ombros de uma fé
E no amor na alegria da festa que tudo pode e diz em chama.
..
- EIS O DIA DA TEMPESTADE
SINAL DO QUE VIRÁ
PARA SEMPRE
NO CORAÇÃO DE QUEM CRÊ
NA CRUZ E NA LUZ.
José Luís Rodrigues

Será que existe velhice?

Alguns de nós envelhecemos de vez, porque não amadurecemos.
Envelhecemos quando nos fechamos a novas idéias e nos tornamos radicais.
Envelhecemos quando o novo nos assusta.
Envelhecemos também quando pensamos demasiado em nós mesmos e nos esquecemos dos demais.
Envelhecemos se deixamos de lutar.
Todos nós estamos matriculados na escola da vida, onde o Mestre é o Tempo. A vida só pode ser compreendida se olharmos para trás. Mas só pode ser vivida se olharmos para frente. Na juventude aprendemos; com a idade compreendemos. Os homens são como os vinhos: A idade estraga os ruins, mas aprimora os bons.
Envelhecer não é preocupante. Ser visto como um velho sim, é que é.
Envelhecer com sabedoria não é envelhecer.
Nos olhos do jovem arde a chama, nos do velho brilha a luz.
Sendo assim, não existe idade, somos nós que a criamos. Se não crês na idade, não envelhecerás até o dia de tua morte. Pessoalmente, eu não tenho idade: tenho vida!
Não deixe que a tristeza do passado e o medo do futuro te estraguem a alegria do presente. A vida não é curta; são as pessoas que permanecem mortas tempo demasiado. Faça da passagem do tempo uma conquista e não uma perda.
Enviado por: José Maria Barbosa
Ricardo e Marta / Comunidade São Paulo Apóstolo www.catolicoscomjesus.com
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sábado, 18 de fevereiro de 2012

O pregador segundo o Padre António Vieira

«Para ensinar é preciso
amar e saber,
porque quem não ama
não quer e quem não sabe
não pode»
...
«(...) O sermão há de ser duma só cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só matéria. Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar, há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloqüência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria, e continuar e acabar nela».
(Sermão da Sexagésima. In: VIEIRA. Os Sermões. São Paulo, Difel, 1968, V I, p. 99)
...
«A definição do pregador é a vida e o exemplo. Por isso Cristo no Evangelho não o comparou ao semeador, senão ao que semeia. Reparai. Não diz Cristo: Saiu a semear o semeador, senão, saiu a semear o que semeia. Entre o semeador e o que semeia há muita diferença: uma cousa é o soldado, e outra cousa o que peleja; uma cousa é o governador, e outra o que governa. Da mesma maneira, uma cousa é o semeador, e outra o que semeia; uma cousa é o pregador, e outra o que prega. O semeador e o pregador é nome; o que semeia e o que prega é ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras são as que convertem o mundo. O melhor conceito que o pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? É o conceito que de sua vida têm os ouvintes. Antigamente convertia-se o mundo, hoje por que se não converte ninguém? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras sem obras são tiro sem bala; atroam, mas não ferem. Diz o Evangelho que a palavra de Deus frutificou cento por um. Que quer isto dizer? Quer dizer que de uma palavra nasceram cem palavras? Não. Quer dizer que de poucas palavras nasceram muitas obras. Pois palavras que frutificam obras, vede se podem ser só palavras!».
(Sermão da Sexagésima. In: ___. Os sermões. São Paulo. Difel, 1968. VI, p. 91)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Contemplação Marinha

Canta, canta a menina
Nas águas fundas do tempo
Onde te vejo no jardim
Das algas marinhas
Movediças na corrente
Dos corais brilhantes
Como pomares de silêncio
Que se pescam na vertigem
Do sabor do sentido
Que se dá na bondade
Desta dádiva do amor.
...
José Luís Rodrigues
....
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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Deus está nos outros

Comentário à Missa do próximo Domingo
VII Domingo Tempo Comum, 19 de Fevereiro de 2012
A disponibilidade para em todos os momentos da nossa vida dizermos "sim" a Deus. Balduíno de Ford (?-c.1190), abade cisterciense na Homilia 10, sobre Ct 8, 6; PL 204, 513 ss. (trad. breviário) dirá sobre o amor a Cristo: "Grava-me como selo em teu coração [...], porque forte como a morte é o amor" (Ct 8,6). "Forte como a morte é o amor" porque o amor de Cristo é a morte da morte. [...] Da mesma forma, o amor com que amamos a Cristo é, também ele, forte como a morte, porque constitui, à sua maneira, uma morte: uma morte que põe fim à vida velha, em que os vícios são abolidos e as obras mortas são abandonadas. De facto, o amor que temos a Cristo [...] - mesmo estando longe de igualar aquele que Cristo tem por nós - é à imagem e semelhança do Seu. Cristo, de facto, "amou-nos primeiro" (1Jo 4,19) e, através do exemplo que nos deu, tornou-Se para nós um selo, a fim de que nos tornemos conformes à Sua imagem [...]".
O Cristianismo que nós professamos não é uma religião de simples seguidores de um plano ou projecto político ou social. É antes uma forma de vida que nos toca por dentro, porque nos convoca para o seguimento de uma pessoa concreta que nos fala e desafia para atitudes de amor, isto é, os outros deixam de ser apenas semelhantes, mas irmãos que devemos acolher e amar. José Gomes Ferreira diz algo de essencial: “Para além do “ser ou não ser” dos problemas ocos / o que importa é isto: / - Penso nos outros. / Logo existo.”
Não vale estar à espreita das falhas ou pecados dos ou-tros para censurar, julgar e sobranceiramente murmurar contra os outros. Pede-nos Jesus que sejamos misericordiosos e que não nos deixemos levar pelos instintos primários das emoções mais fortes, condenando e desprezando logo à partida tudo o que venha daqueles que estão à nossa volta, como se cada um de nós fosse o mais perfeito do mundo.
O exemplo de Jesus Cristo é muito evidente. Procura sempre dignificar cada pessoa, mesmo que se apresente com o pior dos defeitos. Mais vale para Deus gestos de compaixão e de abertura para os irmãos do que tudo o resto que não tenha que ver com a libertação da condição de lixo, a que se vêm votados tantos irmãos nossos, vítimas do desleixo e da injustiça que a nossa sociedade teima em levar adiante.
Porque a regra do Reino de Deus está bem delineada diante do nosso coração: "que é mais fácil?..." perdoar os pecados ou pôr o paralítico a andar? Perante as dúvidas censórias, Jesus não se perde nos "mas" ou nos "talvez", mas perdoa os pecados e cura o paralítico, porque a sua opção é sempre um "sim" radical à vida em abundância para aqueles que a desejam acolher com verdade.
José Luís Rodrigues
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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Salve Regina

Bombeiros retiraram uma imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Menino Jesus do interior do paquete Costa Concordia, que adornou junto à ilha de Giglio, Itália, a 21 de janeiro.
Imagens: Reuters Pictures, Getty Images Poema:
..
«Isto já não tem melhoras» – acabou
por nos dizer Zulmira, referindo-se
à sua perna atropelada, à vida,
ao filho que há três anos lhe mataram,
embora se chamasse Epifânio.
..
E ficou assim, completamente sozinha,
deusa rude e resignada que veio
dos campos servir vinhos e cervejas
a uma «freguesia» que foi, em tempos,
tão imensa como é agora a sua solidão.
..
Uma quase mansa solidão, se virmos bem,
uma tristeza sem lágrimas, uma sabedoria
que se volta a confundir com o azul forte das paredes,
com o seu nome último e inquebrantável,
a «passar o tempo» entre os muros deste reino.
..
Tem agora a mesma idade que Maria,
abre só para ti uma garrafa de ginja
e assiste calmamente ao fim do mundo.
..
Manuel de Freitas

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Dia dos Namorados: sentimentos, olhares e afetos

Verdade, verdade é que os sentimentos são um atraso de vida.
Paralisam ou põem tudo em rodopio.
Estremecem.
Tiram de órbita.
Afundam e ressuscitam.
Fazem rodar as quatro estações.
Na mesma tarde.
Acreditam?
...
Verdade, verdade é que os sentimentos atrasam. Deixam o trabalho para depois.
Despistam.
Aproximam o pó das estrelas e distanciam o pó das sebentas.
Que fazer?
Suspiros. Olhares. Olhinhos.
A linguagem passa perigosamente ao estado diminutivo sempre que os sentimentos perigosamente se expandem.
O pior é que nem pela ironia se dá.
...
Mas a verdade, a grande verdade é que os sentimentos interessam.
Tornam-nos gente.
Ensinam-nos a ser.
Pedem de nós o que trazemos de único e de irrepetível.
E preparam-nos para querer, para desejar receber o mesmo.
Do outro. Da outra.
Um comércio puro, gratuito.
Tão diferente, tão distante
dos rotineiros comércios. (...)
...
A qualidade do nosso estar, aqui ou noutro lado, as coisas que temos ou que gostamos mesmo de aprender, os outros com que vamos tecendo o quotidiano, o sentido mais profundo que buscamos emprestar à nossa vida dão-nos estofo.
Firmeza interior.
Capacidade de construir.
...
Não aconteça sermos nós
uns atrasos de vida que fazem emperrar
os essenciais sentimentos.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Dois Testamentos uma só Bíblia

A Bíblia não são dois blocos estanques, Antigo Testamento e Novo Testamento. Não há um Deus do Antigo e outro Deus do Novo Testamento. Por isso, o Papa Bento XVI chama a atenção para dois aspectos muito importantes para a compreensão da Bíblia. Primeiro, é «fundamental para a compreensão teológica dos livros sagrados, a unidade das Escrituras». Segundo, é preciso dar «atenção aos géneros literários, o estudo do contexto histórico e o exame do que habitualmente se designa por Sitz im Leben (contexto vital)». O documento do Concílio Vaticano II sobre a Palavra de Deus a «Constituição Dogmática sobre a revelação divina» (Dei Verbum), confirma esta necessidade. Todos os estudos sobre a Bíblia também o atestam como caminho elementar para compreender a Revelação de Deus. Ainda cito, como prova disso, o teólogo católico talvez o mais importante do século 20, a saber Karl Rahner que, de modo único, escreveu em 1957 o artigo importante «Antigo Testamento como período da história da salvação».
É perigoso defender e ficarmos com a ideia de que o Deus do Antigo Testamento é o Deus tirânico e sádico, o Deus do Novo Testamento é o Deus «bonzinho» de Jesus Cristo, o Deus amor. Esta visão está errada e não serve para ninguém. Toda a Bíblia na sua diversidade é um todo e manifesta uma unidade convergente para a Pessoa e projecto de Jesus Cristo. Assim, encontrar a Palavra de Deus é encontrar a Cristo, dizia São Jerónimo. Sem ela, o Cristianismo torna-se vago, insustentável, insuficiente.
Nos dois Testamentos, descobre-se um Deus amor, compassivo e justo para todos e, especialmente, para as vítimas. Toda a história de Israel é, numa face, uma história idêntica a todos os povos, cheia de sangue e de morte. Na outra, está um Deus bondoso, compassivo e justo que acompanha o seu povo e o conduz para a Terra Prometida – lembremo-nos da travessia do deserto, os Profetas e o Cântico dos Cânticos a título de exemplo.
O Antigo Testamento conduz para o Novo e este encontra as suas raízes históricas no Antigo. Jesus Cristo é o ponto de encontro dos dois Testamentos. Na verdade, em Jesus Cristo realizam-se as grandes aspirações do Antigo Testamento, do mesmo modo, que ele é o alicerce dos conteúdos do Novo. O Novo Testamento dá testemunho da ressurreição de Jesus Cristo e do dom do Espírito Santo que faz de nós membros da Família de Deus (cf. Rm 8, 14-16; Ga 4, 4-7). Mas este dom realizado em Cristo e proclamado pelo Novo Testamento tinha sido profetizado pelo Antigo Testamento (cf Jer 31, 31-33; Ez 36, 26-27). Assim, temos a Revelação de Deus em dois testamentos, com 73 livros, mas numa só Bíblia.
José Luís Rodrigues
Imagem Google

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Precisamos de outro Plano de Resgate

Igreja da Madeira: Faz muta impressão que nos pareça conviver bem com este descalabro social (Destaque Dnoticias...)
A leitura que se faz da realidade da nossa terra não é nada famosa. As dificuldades que estamos a passar são imensas. As famílias estão sujeitas a uma ginástica financeira sem precedentes. Foram seduzidas a se endividarem para comprar casa, carro e todos os bens que entendessem. O crédito bancário fazia milagres. Diz-se isto das famílias, mas dizemos também dos Estados e, particularmente, da Madeira.
Mas, eis cambalhota. As dívidas descontroladas. As que se sabia, as que se calculava e as que se escondia. E pior do que isto, destapa-se o clima conflituoso em que está mergulhada a sociedade madeirense. É bem verdade que, «em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão». Precisamos de um ar mais sereno, de unidade e de paz social. Sem uma mudança de protagonistas, penso, que não chegaremos lá…
Esta conflitualidade, resulta em certa medida, das tentativas para relativizar ao máximo os sacrifícios que vamos assumir. Pouca é a compaixão, pelo facto de termos que pagar a preços exorbitantes os combustíveis, os alimentos, os medicamentos e toda a carga de impostos directos e indirectos. Deste engano não precisamos e ninguém que se atreva a atirar-nos areia para os olhos, porque vemos e sentimos quotidianamente como os magros rendimentos familiares não chegam para suportar este custo de vida terrível que nos impuseram.
As explicações são bem-vindas. Mas que sejam dadas nos locais próprios, não em ambientes que à partida geram ainda mais confusão e mal-estar nas pessoas. É bom que se preparem para reacções menos próprias e até alguma afronta. O pulsar em geral está num misto de resignação, depressão, tristeza e quem sabe senão de revolta. Preparem-se…
Pedimos às nossas autoridades políticas que deixem os adros das igrejas em paz. Os adros na sua maioria são espaços privados ou semi-públicos, pertencentes às comunidades religiosas e tudo o que seja utilizar esses espaços para fins políticos causa irritação. As pessoas só não se manifestaram até agora com mais veemência porque as nossas comunidades viveram totalmente submissas ao providencialismo que nos governou. Isso acabou. Hoje, passamos por dificuldades graves. O desemprego é uma calamidade. Os medos vão-se esbatendo, fala-se abertamente e se os dentes estão cerrados, não é com medo de ser escutado, mas com raiva.
Precisamos de um «Plano de Resgate», que restaure a bondade das pessoas, a verdade dê lugar a todos os enganos, a paz retempere a conflitualidade social, a política seja um verdadeiro serviço ao povo e ao bem comum, a seriedade na administração dos bens de todos seja palavra de ordem e a confiança nas figuras que nos governam seja para todos um valor. Se este «Plano» vigorar, muitos dos nossos problemas terão meio caminho andado até à solução.Uma palavra sobre a «nossa» Instituição Igreja da Madeira. Faz muita impressão que nos pareça conviver bem com este descalabro social, sem uma palavra a dizer, sem um pensamento, sem uma crítica e sem qualquer dimensão profética.
Aqui seria preciso ler e dar a ler uma nota do Vaticano emitida em 24 de Outubro de 2011, intitulada «Para uma reforma do sistema financeiro e monetário internacional na perspectiva de uma autoridade pública de competência universal». Nesta mensagem pode ler-se que, a crise não é apenas económica e financeira mas sobretudo moral. Significa que não pode nem deve haver economia sem ética e que a ética está sempre acima da economia. A dignidade da pessoa e a solidariedade na comunidade humana deverá ser integrado na vida pública para regular os mercados económicos, tendo em vista a visão cristã do bem comum. Digam isto, todos os políticos da nossa terra, alto e bom som, nos locais próprios da democracia, a fim de esclarecerem de verdade o povo todo.
José Luís Rodrigues, Dnotícias, 12/02/2012, Secção «Sinais dos Tempos».

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Não Tenho Pressa

Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
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Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" Heterónimo de Fernando Pessoa
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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Os Dez Mandamentos do Matrimónio

1. Amarás nas suas quatro dimensões
- Dimensão afectiva
- Dimensão espiritual
- Dimensão da amizade
- Dimensão sexual
2. Respeitarás o teu conjugue
O respeito perde-se:
- Pela palavra
- Pelo silêncio (silêncios que matam)
- Pelos gestos: (quando se chega a gestos violentos, acaba-se o matrimónio)
3. Conversarás com o teu conjugue
Saber escutar e falar
Não é mera tagarelice, mas partilha de tudo o que há no interior
4. Gastar-te-ás em detalhes para com o teu conjugue (essa flor, esse gesto, essa palavra que sabes que lhe agrada)
5. Cultivarás o sentido do humor. A vida não é uma comédia, mas também não uma tragédia. É um drama, com coisas boas e más.
6. Oferecerás ao teu conjugue um dia de passeio por mês, a sós, sem os filhos.
7. Viverás o matrimónio não como uma meta, mas como um caminho. Se o consideras uma meta, é como dizer “já cheguei”, então já tudo terminou, canso-me, aborreço-me, apoltrono-me e termino com outra.
8. Não falarás das ofensas, defeitos e falhas a cada momento. O que passou, passou.
9. Saberás perdoar, inclusivé a infidelidade.
10. Confiarás no teu conjugue. Os ciúmes matam o matrimónio.
Estes Dez Mandamentos devem sustentar-se em Deus, caso contrário são muito difíceis de cumprir.
Decálogo para ser fiel:
1) Reflectir sobre o sagrado do matrimónio aos olhos de Deus. É um caminho de realização pessoal e é sagrado porque vem de Deus, e o que Deus quer é sempre bom. É sagrado porque Cristo o elevou à dignidade de sacramento. É o símbolo do amor de Deus à humanidade. É muito proveitoso ler a carta dos Efésios.
2) Estar disposto a dar e a receber. Cada um tem um tesouro que deve estar disposto a compartilhar com o outro, cada um tem características próprias que deve por ao serviço do outro. A mulher é mais intuitiva, generosa, delicada, terna, com mais tacto. O homem é mais pragmático, racional, firme. Mutuamente devem compenetrar-se e complementar-se nas carências de cada um. Há que dar e receber. Se só damos, esvaziamo-nos, se só recebemos, somos egoístas. O amor é dar e receber.
3) Gastar-te-ás nos detalhes para com o outro. O detalhe é a essência, o extracto do amor. “Diz-me que detalhes tens com o teu esposo/a e dir-te-ei como é o teu amor”.
Detalhes que uma mulher pediria ao seu esposo:
· Não te queixes por estares esgotado pelo trabalho
· Não me interrompas quando estou a falar
· Depois de uma discussão, não passes três dias sem me falar, zangado
· Não me lembres continuamente as minhas faltas passadas
· De vez em quando diz-me que estou bonita e atraente
· Durante as refeições, presta-me atenção porque não sou uma parede
· Fala-me um pouco do que vais fazer, ainda que seja trivial
· Preocupa-te com os teus filhos quando chegas a casa
· Colabora nas tarefas domésticas
· Nalgum dia especial, leva-me a jantar fora
· Dá-me um beijo ao despedir-te.
Detalhes que um esposo pediria à sua mulher:
· Enche os meus tempos de descanso com paz e sossego e fala-me dos gastos no momento oportuno
· Gasta menos, sê mais económica
· De vez em quando elogia-me, elogia a minha carreira pois “o meu triunfo é também teu”
· Nunca compares o nosso matrimónio com outros
· Sê oportuna quando tiveres de me corrigir e nunca diante dos nossos filhos e amigos
· Não te queixes por tudo nem discutas por insignificâncias
· Não rejeites sistematicamente os meus programas de televisão, os meus gostos
4) Respeitar as características do outro. Não podemos mudar as características do outro, pelo contrário, devemos enriquecermo-nos com elas. O outro é diferente de ti, por isso respeita-o. O respeito significa capacidade de perdoar, abertura, não reparar nos defeitos do outro, compreensão. O respeito pode quebrar-se de três maneiras: com a palavra (dura, grosseira, ordinária), por actos (agressão física) ou com gestos (caras largas, desprezos, silêncios eloquentes). Há que saber ver as virtudes do outro e lisonjeá-las.
5) Evitar discussões desnecessárias. As discussões desnecessárias desunem e destroem a harmonia familiar. Não se deve discutir, deve-se analisar. Com as discussões ganham-se aborrecimentos, nervos, maus exemplos para os filhos, idas ao psicólogo ou ao psiquiatra.
6) Superar o passado para não voltar a antigos episódios de ofensas. ”Fugiste, disseste-me, deixaste de fazer, dizia-te”, são frases de censura. O passado há que perdoá-lo com magnanimidade. Sobre o passado deve-se construir um futuro de amor e perdão. Se se fala continuamente das ofensas, a ferida não cura, não cicatriza, continua a supurar e termina com lesões.
7) Dominar a tendência para controlar, vigiar o conjugue. “Que fizeste, com quem estiveste?”. O matrimónio tem de ter como base a confiança no outro. Se continuamente se desconfia do conjugue, se se tem medo da infidelidade, se se vive com zelos, esse matrimónio é um tormento. O conjugue não deve ser nunca polícia do outro conjugue, mas companheiro e amigo.
8) Cultivar o sentido do humor O bom humor oxigena o matrimónio. A vida não é uma tragédia nem uma comédia, é um drama com coisas boas e más. O humor alcança um bom nível de higiene mental. A pessoa sem humor torna-se desconfiada, mal-humorada, susceptível. O bom humor faz crescer o matrimónio em harmonia e paz.
9) Gratifica o teu esposo/a com um dia azul e cada ano com um bom presente. Há que romper com a monotonia, a rotina. Há que sair para passear com a esposa e filhos, levá-los a almoçar fora, oferecer-lhes algo de surpresa, sem ter de esperar por comemorações, aniversários, etc.
10) Integrar todos os aspectos do amor (afectivo, amistoso, sexual, espiritual). Afectivo: o amor afectivo comunica ternura. O que é a ternura? É esse meter-se no estado de ânimo do outro, partilhar esse ânimo. Como é possível que o esposo/a não se dê conta que o outro conjugue está doente, triste? Porquê? A ternura acerca-se da alma para dar compreensão ao outro, é altruísta, é desejo de compreensão, de aceitação do outro. Pelo contrário a sensualidade é egoísta, busca o seu próprio prazer, o seu próprio interesse de gozo. O amor efectivo no matrimónio manifesta-se através de uma carícia nobre, um sorriso. É desinteressado.
Sexual: O sexo é um instrumento que Deus criou com duas finalidades: procriar (comunicar a vida) e para crescer no amor, na entrega dentro do matrimónio. Deste modo o sexo converte-se numa linguagem interior profunda com a ânsia de transmitir ao outro o que somos. É a entrega de toda a pessoa, se não se dá isto, é pura satisfação. A pornografia distorce o sentido do sexo.
O corpo não é um bem de consumo, é instrumento de diálogo profundo de duas pessoas. Freud disse: “todos os males que nos acontecem, vêm-nos por reprimir o sexo” e aconselha dar-se o prazer. É evidente que esta afirmação é errada.
Mas por sua vez a Igreja tem a sua regra sobre a vida sexual a qual deve ser: serena, equilibrada, sã e dentro dos limites da dignidade humana. O sexo dentro do casal, não deve ser o mais importante, o único. Se estas relações começam assim vão por mal caminho já que divinizam, entronizam o sexo. O sexo é um meio para o fim que já explicámos antes. Converter o sexo num fim em si mesmo é um erro.
Amistoso: amar o outro como pessoa, respeitá-lo como tal. Encontrar no outro um outro eu com o qual partilhar alegrias, tristezas, consolos, dúvidas. É o amor que se dá ao outro na intimidade da pessoa. Revelamo-nos à pessoa a quem nos damos. Amar o outro buscando, querendo, protegendo, defendendo o bem do outro. O amor de amizade diz: eu quero-te porque és tu, faço-te feliz porque te quero, enquanto que o egoísta diz: fazes-me feliz porque me satisfazes. O egoísmo é o verme do amor. Ter um amigo é ter um tesouro, quem o encontre que não o perca. É um amor firme quando estamos débeis, alegre quando estamos tristes. Cristo é o nosso melhor amigo, logo deve seguir o conjugue com o qual vamos partilhar a nossa existência.
Espiritual: Amar o outro porque é filho de Deus, é irmão em Cristo e temos que o amar com as mesmas características do amor divino: com amor de perdão, aberto, que anima, que reparte tudo o que tem, que sabe ver detrás não só o esposo/a mas um filho de Deus. Deus ama a todos com amor espiritual e transmitiu-o à humanidade através de Cristo para que assim possamos amá-lo melhor e amar os Homens por amor a Deus. Este amor aumenta-se com oração e sacramentos. Quem mais ora, mais amor espiritual terá. Se não se dá esta dimensão espiritual, as outras dimensões caem.
P. Antonio Rivero

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A busca da dignidade

Comentário à Missa do Próximo Domingo
12 de Fevereiro de 2012
Ao tomar conta dos textos deste domingo para a missa, saltou-me ao pensamento o tema do racismo e da xenofobia.
Por isso, lá vão duas situações que se passaram em qualquer cidade desta vida. Uma mulher de cor negra grávida entrou no autocarro a caminho da sua casa. Ao chegar ao interior do autocarro, duas ou três pessoas já de alguma idade, estavam sentadas junto das janelas, quando se aperceberam da chegada desta senhora saltaram repentinamente para os bancos da coxia para que a grávida não se sentasse ao seu pé. Mas, Alguém de cor branca noutra zona do autocarro presencia a "cena de terror", fazendo prevalecer o bom senso e que repudia qualquer sombra de xenofobia, levantou-se de imediato e ofereceu o seu lugar para a senhora mais necessitada de assento, tendo em conta o seu estado de gravidez. A seguir não faltaram ofertas de assento para esta outra senhora que se prontificou amavelmente a oferecer o seu lugar. Obviamente que esta mulher recusou com um misto de prazer as prontas ofertas carregadas de racismo doentio.
Outra situação passou-se num lar de terceira idade, onde trabalha uma jovem de cor negra. Uma senhora de cor branca, cheia de salamaleques e muito dona do seu nariz, para não dizer de nariz empinado, outro dia caiu ao chão, sem conseguir levantar-se, foi de imediato socorrida por esta funcionária. Repare-se nas manifestações de racismo primário e doentio. Diz a idosa o seguinte: "tira essas mãos pretas de cima de mim". Na mesma ocasião alguém de bom senso, ao presenciar a cena triste, dirige-se à idosa do seguinte modo: "oh dona tal… não diga semelhante barbaridade, esta jovem tem as mãos mais brancas do que a vossa alma, que está preta de rancor e de ingratidão". O rosto da jovem ficou lavado em lágrimas. A idosa parece ter aprendido a lição. Desculpem-me os qualificativos de «cor branca» e «cor preta» aplicados neste texto às pessoas, mas para vermos o quanto ainda existe de racismo motivado pela cor da pele. Triste que ainda assim seja…
São Paulo, aponta o caminho, Cristo a todos quer salvar, tenham a cor que tiverem. Não importa. Basta que cada coração esteja cheio de amor e aberto ao acolhimento do outro de forma desinteressada. Esta é a religião dos irmãos, porque todos filhos de um Pai comum. Por isso, dói saber-se que estas manifestações de racismo e xenofobia ainda fazem parte da nossa sociedade. É a lepra dos nossos tempos. Não pensemos que o racismo é só coisa de África ou da América, está muito bem implantado no nosso quotidiano. Silenciosamente provoca muitas injustiças e sofrimentos.
O apelo do Apóstolo dos gentios deve calar fundo no coração de cada um de nós: "não sejais ocasião de pecado…". Não podia vir mais a propósito este apelo, para que cada um deixe de pensar que se salva sozinho e que ser cristão não implica uma abertura aos outros incondicionalmente. A salvação de Deus, nunca acontece individualmente, mas vem ao encontro de todos. E Deus quer que nos olhemos como irmãos.
José Luís Rodrigues
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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Charles Dickens - contra todo o desencorajamento que existe

Nota: ontem, 7/2/2012, passaram 200 anos do nacimento desta grande figura. Devido a uma avaria geral na internet não consegui publicara esta pequena nota para homenagear Charles Dickens, faço-o hoje mais que convencido que vamos sempre a tempo de divulgar e falar de pessoas que marcaram a literatura de forma tão indelével...
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Nascido em 7 de fevereiro de 1812, Charles Dickens foi um romancista Inglês, considerado um dos maiores, ou até mesmo o maior escritor do período vitoriano. Dickens teve e continua tanto uma grande popularidade e fama, maior do que teve qualquer outro escritor anterior a ele.
Charles Dickens continua a ser popular nos dias de hoje por ter sido responsável por alguns dos mais emblemáticos romances da literatura Inglesa. Um dos principais trabalhos de Charles Dickens foi escrito em 1860 e publicado em capítulos em jornais londrinos, o romance “Great Expectations” (“Grandes Esperanças”) é considerado o mais perfeito de Dickens por atingir o difícil equilíbrio entre a realidade e a fantasia, a crítica social e o melodrama – tudo temperado com uma bem-humorada reflexão sobre o destino humano.
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Revelador este pequeno trecho...
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" Eu amei contra a razão,
contra a promessa,
contra a paz,
contra a esperança,
contra a felicidade,
contra todo o desencorajamento que existe."

Outra vez a Cáritas Diocesana do Funchal

A Cáritas Diocesana do Funchal, é extraordinária a fazer caridade. Repare-se, numa página do Dnotícias de hoje 8/2/2012 a toda a largura propagandeia a sua «acção caritativa» (uma página inteira no valor de 1570,80 €).
A propaganda caritativa é publicada precisamente no dia em que a Isabel Jonet (Presidente do Banco Alimentar contra a Fome de Lisboa e representante da Federação dos Bancos Alimentares contra a Fome) vem à Madeira, oscultar alguma sociedade madeirense, a ver da possíbilidade da federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome, autorizarem a abertura de um Banco deste género na Madeira. Muito reveladora esta propaganda, ainda mais saindo no órgão de informação mais temido e combatido pela Igreja Católica da Madeira.
Esta gente nomeada pela Diocese para serem a visibilidade Sócio Cartitava da Igreja em nome de um Evangelho que conheço, dá-me voltas ao estômago e repugno-me profundamente. Esta gente que tem o desplante de estorquir um valor destinado aos pobres acima dos mil euros para fazer campanha das suas acções, revela insensibilidade e vive em função do seu ego. Ou esta Cáritas dá uma volta ou então a nossa Igreja acumula mais uma mancha negra para se penitenciar no futuro quando uma réstia de bom senso passar pelo coração daqueles que farão a nossa Igreja com verdade e em nome do verdadeiro Evangelho de Jesus de Nazaré.
Este vale tudo em nome não se sabe do quê, é deveras preocupante. E, muita pena que nesta publicidade se tenham esquecido de apresentarem as contas da Cáritas muito bem descriminadas segundo os parâmetros legais.
Será que isto é Evangelho e será imagem da Igreja de Jesus de Nazaré? - A meu ver parece-me mais uma organização empresarial cujos pobres são matéria prima.
Por fim, já vai faltando a pachorra para aturar isto...
José Luís Rodrigues

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Esplendor

I. Ânimo. Um sol em visão
Que dizem numa manhã
Na vertigem da solidão
E toco a indiferença do ódio.
Não digo mais dessa sabedoria.
..
II. Calo na inimizade dos dias
Maiores de uma vida que se vai
Sem passar em ti na penumbra do tempo
Quando vimos o olhar
No horizonte de uma paz firme.
..
III. Agora fico-me numa certeza
Sublime que vivo na verdade
Que sei em mim e em ti
No marulhar ritmado da amizade
Desvelada no esplender da tarde daquele dia.
..
IV. Para onde vamos? - Ao som perene.
Na errância deste aqui que se perde
Mas se reveste em mistério
Do que virá no descanso do amanhã.
..
José Luís Rodrigues
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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Pintar a crise cor de rosa *

Dizia-me aqui há tempos uma jovem minha conhecida que a mãe dela não permitia que se falasse da crise em casa: “enquanto tivermos de comer e ninguém na família estiver desempregado, não se fala de crise cá em casa!” Compreendo a afirmação e respeito-a: sei que é uma família que luta com dificuldades, na qual a filha tem de trabalhar para conseguir estudar. E, no entanto, consideram falta de respeito pelos desempregados chorar-se por causa da crise. O que eu tenho muita dificuldade em aceitar é o discurso de desvalorização da crise por parte de pessoas que, provavelmente, não serão atingidas por ela. Ultimamente, tem havido até cristãos católicos a fazerem discursos de elogio do valor espiritual das crises. É sabido que, bíblica e filosoficamente, “crise” significa encruzilhada, momento de viragem, possibilidade de conversão. Mas, no país que temos atualmente, no qual há tanta gente no limiar da sobrevivência, fazer o discurso de elogio cristão da crise a partir de lugares bem instalados poderá contribuir para dar razão a Marx, quando ele dizia que “a religião é o ópio do povo”. Pior ainda poderá ser aliar este discurso de “elogio da crise” a um silêncio ingénuo ou calculado face às múltiplas razões da mesma. É que não me parece que estejamos apenas perante uma crise de valores individuais, embora me pareça bastante que estamos perante uma crise de valores estruturais, sociais, em suma, perante uma crise que clama por justiça. Também não me parece que possamos dizer apenas alegremente que “a Igreja está sempre em tempo de austeridade”. Há causas estruturais, repito, e não só responsabilidades individuais que levam à situação em que nos encontramos. E nem sempre será fácil convencer o comum dos mortais de que a Igreja está sempre em tempo de austeridade... Sobretudo, este tipo de afirmações um tanto light pode constituir uma bofetada na cara de quem, realmente, não fez na vida senão uma experiência de austeridade forçada ou de quem se encontra, agora, por motivos para os quais não contribuiu, numa situação de inesperada precariedade. Louvo, obviamente, todas as iniciativas de solidariedade social por parte dos cristãos (e não só). Mas a pergunta de D. Hélder da Câmara continua a ser um desafio para todos nós: “porque será que, quando ajudo um pobre, me dizem que sou um santo, mas, quando pergunto por que há pobres, me dizem que sou comunista?” O elogio da “pobreza evangélica” sem um clamor contra a injustiça não reduzirá a religião a mais um instrumento nas mãos das estruturas geradoras de pobreza?
Teresa Toldy, in blogue Nós Somos Igreja...
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* Título do autor do blogue...

sábado, 4 de fevereiro de 2012

A vida após a morte

Nota: Como esta semana foi prazenteira no confronto com a morte de pessoas que me eram muito chegadas, aqui deixo um texto de Victor Hugo para que essa sombra não me tolhe a esperança e a convicção que a vida, mesmo até na morte, é sempre mais forte.
Por isso, não é da vontade de Deus que ninguém morra, mas é da vontade de Deus que exista um mistério que nos conduz à morte. A isto de estar e ser aí, chamamos de vida e à última ruptura física, chamamos de morte. O abraço entre a vida e a morte, chamamos de eternidade.
Pensei nisto estes dias depois de me ver confrontado com a morte daqueles que o convívio deste mundo convencionou como relação de amizade.
Deixo de Immanuel Kant a convicção: «Se vale a pena viver e se a morte faz parte da vida, então, morrer também vale a pena...» e Goethe é menos incisivo, mas convincente: «A Morte é uma impossibilidade que, de repente, se torna realidade». E agora escutemos Victor Hugo:
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A morte não é o fim de tudo.
Ela não é senão o fim de uma coisa e o começo de outra.
Na morte o homem acaba, e a alma começa.
Que digam esses que atravessam a hora fúnebre, a última alegria, a primeira do luto.
Digam se não é verdade que ainda há ali alguém, e que não acabou tudo?
Eu sou uma alma.
Bem sinto que o que darei ao túmulo não é o meu eu, o meu ser.
O que constitui o meu eu, irá além.
O homem é um prisioneiro.
O prisioneiro escala penosamente os muros da sua masmorra.
Coloca o pé em todas as saliências e sobe até o respiradouro.
Aí, olha, distingue ao longe a campina, aspirar o ar livre, vê a luz.
Assim é o homem.
O prisioneiro não duvida que encontrará a claridade do dia, a liberdade.
Como pode o homem duvidar se vai encontrar a eternidade à sua saída?
Por que não possuirá ele um corpo subtil, etéreo.
De que o nosso corpo humano não pode ser senão um esboço grosseiro?
A morte é uma mudança de vestimenta.
A alma que estava vestida de sombra, vai ser vestida de luz.
O mundo luminoso é o mundo invisível.
O mundo do luminoso é o que não vemos.
Os nossos olhos carnais só vêem a noite.
A alma tem sede do absoluto e o absoluto não é deste mundo.
É por demais pesado para esta terra.
Na morte o homem fica sendo imortal.
A vida é o poder que tem o corpo de manter a alma sobre a Terra, pelo peso que faz nela.
A morte é uma continuação.
Para além das sombras, estende-se o brilho da eternidade.
As almas passam de uma esfera para outra, tornam-se cada vez mais luz.
Aproximam-se cada vez mais de Deus.
O ponto de reunião é no infinito.
Aquele que dorme e desperta, desperta e vê que é homem.
Aquele que é vivo e morre, desperta e vê que é Espírito.
*In Victor Hugo, «A Morte, Aos que Sofrem»
(Victor Hugo - poeta, escritor e dramaturgo francês – viveu no século XIX)
Imagem de uma pintura de Cecília Margot: "O anúncio da luz" (Isaías). Pintora da nossa terra que ontem (3 de Fevereiro 2012) Deus fez entrar na luz da sua plenitude. Até um dia grande amiga...

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Banco Alimentar na Madeira - começou a luta de galos

Notícia Dnotícias desta tarde (3/2/2012): «Deputados regionais do PSD querem presença de Banco Alimentar Contra a Fome na Região».
Tanta ignorância.
O Banco Alimentar Contra a Fome nunca vai para nenhum sítio atrelado a nenhuma força partidária, nem a nenhuma entidade de cariz religioso. É sempre por iniciativa dos cidadãos.
Há mais de 6 meses que estão a trabalhar nesta iniciativa um grupo de cidadãos madeirenses de gema para que tal se concretize.
Mas, é sim. Na nossa terra os chicos espertos sempre descobrem a pólvora. Só é pena que não descubram soluções para a calamidade colossal das dívidas onde estamos mergulhados, não inventem formas e meios para serem levadas adiante políticas que promovam a justiça social sem ser necessário existirem Bancos Alimentares e outras entidades de caris assistencialista.
É pena toda esta guerra com base na mais cruel ignorância. A nossa terra enterra-se na mediocridade e esta é a mais triste das pobrezas que nos afecta. Haverá forma de pensar num plano de resgate da mediocridade e da espertalhice saloia? Haverá um banco qualquer que nos empreste uma réstia de bom senso? Não é possível, nós madeirenses, sermos amantes da verdade? Não é possível nos entendermos quanto ao essencial e quanto a estratégias seguras que salvem todo o nosso povo? - Mas, afinal, o que somos e quem somos?... Acho que tudo isto vai cansando e será tempo de nos organizarmos para a revolta!
Se tivesse sido eu a fazer a notícia em primeira mão levava logo com este título, porque é disso que se trata, «Banco Alimentar na Madeira - começou a luta de galos»... Melhor não encontro para aferir a pobreza em que estamos mergulhados.
Na Madeira, tudo se estranha se forem os cidadãos a terem iniciativa. Até isto nos tiraram e cercearam. É proibido pensar, reflectir, ser criativo e ter iniciativa. Partidos, partidos e mais partidos. É ver o que nos fizeram os partidos. Levaram-nos à bancarrota. E porque não é possível concertar a banca que eles destruiram, então, apropriam-se da inciativa dos cidadãos, comem-na e tomam-nos a todos por pacóvios estúpidos incapazes de nada, porque somos uns ergúmenos que não merecem ter palco, tribuna. Estes têm dono, são dos partidos. Óh vida partida a nossa em que estamos mergulhados. Desculpem-me a redundância, raios me parta esta terrinha medíocre de gente medíocre...
Ainda bem, feliz eu fico, porque sei muito claramente que o Banco Alimentar nunca vai para nenhuma cidade sem ser por iniciativa dos cidadãos. Óptimo... Que se irritem e que passem muito bem todos aqueles que não sabem conviver com estes valores e princípios. Por mim só me faz muito feliz.
Deixo aqui o meu forte abraço e gratidão ao grupo de cidadãos madeirenses de todos os quandrantes que abraçaram esta causa, trabalharam durante este tempo todo para que fosse possível concretizar entre nós esta instituição. Um segredo bem guardado, só por isso, valeu a pena. E ainda mais manifesta que é possível realizarmos coisas entre nós sem ser a reboque de nada nem de ninguém...
Também se releva que o grupo está perfeitamente aberto a que mais pessoas de todos os quadrantes políticos e sociais, religiosos e ateus que desejem abraçar este projecto podem fazê-lo. Precisamos de mãos, muitas mãos para o trabalho e menos línguas afiadas para a charlatanice e poluição sonora.
José Luís Rodrigues

A religião de Jesus

“ (…) Jesus foi um homem profundamente religioso. Mas a sua religião não tinha nada a ver com a religião do Templo, nem com a dos sacerdotes. À religião do Templo e dos sacerdotes interessava três coisas: as cerimónias sagradas, a submissão dos fiéis, o dinheiro das pessoas. A Jesus interessava outras três coisas: que as pessoas tivessem saúde, que tivessem o que comer, e que tivessem boas relações humanas.
Quando a religião se entende assim, desaparecem as fronteiras, as diferenças culturais, as distâncias religiosas. (…) A religião que responde a estas coisas, acaba com a religião dos ritos, das normas e do dinheiro. E abre caminho para religião que revela, e que não oculta, o verdadeiro rosto de Jesus no qual vemos Deus (…).”
Teólogo espanhol José María Castillo
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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Anunciar sempre o positivo da vida

Comentário à Missa do Próximo Domingo
5 de Fevereiro de 2012
Tristezas não pagam dívidas. É o que resulta da mensagem da Palavra de Deus para este domingo. O impulso de Jesus no Evangelho é sintomático: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim». Temos de redescobrir a urgência da missão, a qual não se identifica com o proselitismo, constrangendo os outros a adoptar o nosso modo de pensar e de ver, nem se reduz a uma mera inculturação do Evangelho, mas que antes é uma encarnação da Palavra de Deus na multiplicidade de condições humanas, línguas e costumes das pessoas que se vão encontrando. Sempre com muita alegria e entusiasmo.
A exclamação Paulina «Ai de mim se eu não anunciar o evangelho», é igualmente válida para todo aquele que, sendo leigo, presbítero ou bispo, recebeu das mãos da Igreja o Evangelho, esse mesmo Evangelho que deve propagar como se difunde «o perfume de Cristo» (2Cor 2, 15) entre aqueles que estão perto e os que estão longe.
Jesus não quer que acabemos por desvalorizar o Evangelho que foi depositado em nós como «um tesouro, em vasos de barro» (2Cor 4, 7), mas quer antes que arrisquemos tudo para o fazer atractivo e útil ao sentido da vida da humanidade inteira. Jesus Cristo em pessoa é o tesouro, achado no meio do campo, pelo qual vale a pena vender quanto possuímos e somos, a fim de o adquirir. Por ele somos chamados a considerar tudo como «lixo, a fim de ganhar Cristo e nele encontrados» (Fl 3, 8-9). O Evangelho completa a sua carreira com os pés cansados, cobertos de pó e não raro feridos, com os pés de quem, como Paulo, «nada mais quis saber, a não ser Jesus Cristo e este crucificado» (1Cor2, 2).
Neste suspiro de São Paulo, todo o cristão se revê. O Evangelho, é a grande Palavra para o cristão - qual terreno, onde se mostra o tesouro Jesus Cristo - para ser depois apresentado por cada um de nós que já alimentamos o sentido da vida com as pérolas do seu ensinamento.
A descoberta deste tesouro de alegria, de paz, de amor e de plenitude, deve fazer de todos os cristãos, pessoas inquietas enquanto a mensagem do Evangelho não chegar a todos os corações. Por isso, façamos do desabafo de Paulo a nossa respiração e que todos possam dizer, não sei viver neste mundo se não dou aos outros tudo o que Jesus já me deu. Esta oferta pode, se nós quisermos, embelezar o nosso mundo e a vida toda.
José Luís Rodrigues
Imagem Google