Nota: Como esta semana foi prazenteira no confronto com a morte de pessoas que me eram muito chegadas, aqui deixo um texto de Victor Hugo para que essa sombra não me tolhe a esperança e a convicção que a vida, mesmo até na morte, é sempre mais forte.
Por isso, não é da vontade de Deus que ninguém morra, mas é da vontade de Deus que exista um mistério que nos conduz à morte. A isto de estar e ser aí, chamamos de vida e à última ruptura física, chamamos de morte. O abraço entre a vida e a morte, chamamos de eternidade.
Pensei nisto estes dias depois de me ver confrontado com a morte daqueles que o convívio deste mundo convencionou como relação de amizade.
Deixo de Immanuel Kant a convicção: «Se vale a pena viver e se a morte faz parte da vida, então, morrer também vale a pena...» e Goethe é menos incisivo, mas convincente: «A Morte é uma impossibilidade que, de repente, se torna realidade». E agora escutemos Victor Hugo:
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A morte não é o fim de tudo.
Ela não é senão o fim de uma coisa e o começo de outra.
Na morte o homem acaba, e a alma começa.
Que digam esses que atravessam a hora fúnebre, a última alegria, a primeira do luto.
Digam se não é verdade que ainda há ali alguém, e que não acabou tudo?
Eu sou uma alma.
Bem sinto que o que darei ao túmulo não é o meu eu, o meu ser.
O que constitui o meu eu, irá além.
O homem é um prisioneiro.
O prisioneiro escala penosamente os muros da sua masmorra.
Coloca o pé em todas as saliências e sobe até o respiradouro.
Aí, olha, distingue ao longe a campina, aspirar o ar livre, vê a luz.
Assim é o homem.
O prisioneiro não duvida que encontrará a claridade do dia, a liberdade.
Como pode o homem duvidar se vai encontrar a eternidade à sua saída?
Por que não possuirá ele um corpo subtil, etéreo.
De que o nosso corpo humano não pode ser senão um esboço grosseiro?
A morte é uma mudança de vestimenta.
A alma que estava vestida de sombra, vai ser vestida de luz.
O mundo luminoso é o mundo invisível.
O mundo do luminoso é o que não vemos.
Os nossos olhos carnais só vêem a noite.
A alma tem sede do absoluto e o absoluto não é deste mundo.
É por demais pesado para esta terra.
Na morte o homem fica sendo imortal.
A vida é o poder que tem o corpo de manter a alma sobre a Terra, pelo peso que faz nela.
A morte é uma continuação.
Para além das sombras, estende-se o brilho da eternidade.
As almas passam de uma esfera para outra, tornam-se cada vez mais luz.
Aproximam-se cada vez mais de Deus.
O ponto de reunião é no infinito.
Aquele que dorme e desperta, desperta e vê que é homem.
Aquele que é vivo e morre, desperta e vê que é Espírito.
*In Victor Hugo, «A Morte, Aos que Sofrem»
(Victor Hugo - poeta, escritor e dramaturgo francês – viveu no século XIX)
Imagem de uma pintura de Cecília Margot: "O anúncio da luz" (Isaías). Pintora da nossa terra que ontem (3 de Fevereiro 2012) Deus fez entrar na luz da sua plenitude. Até um dia grande amiga...
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