Verdade, verdade é que os sentimentos são um atraso de vida.
Paralisam ou põem tudo em rodopio.
Estremecem.
Tiram de órbita.
Afundam e ressuscitam.
Fazem rodar as quatro estações.
Na mesma tarde.
Acreditam?
...
Verdade, verdade é que os sentimentos atrasam. Deixam o trabalho para depois.
Despistam.
Aproximam o pó das estrelas e distanciam o pó das sebentas.
Que fazer?
Suspiros. Olhares. Olhinhos.
A linguagem passa perigosamente ao estado diminutivo sempre que os sentimentos perigosamente se expandem.
O pior é que nem pela ironia se dá.
...
Mas a verdade, a grande verdade é que os sentimentos interessam.
Tornam-nos gente.
Ensinam-nos a ser.
Pedem de nós o que trazemos de único e de irrepetível.
E preparam-nos para querer, para desejar receber o mesmo.
Do outro. Da outra.
Um comércio puro, gratuito.
Tão diferente, tão distante
dos rotineiros comércios. (...)
...
A qualidade do nosso estar, aqui ou noutro lado, as coisas que temos ou que gostamos mesmo de aprender, os outros com que vamos tecendo o quotidiano, o sentido mais profundo que buscamos emprestar à nossa vida dão-nos estofo.
Firmeza interior.
Capacidade de construir.
...
Não aconteça sermos nós
uns atrasos de vida que fazem emperrar
os essenciais sentimentos.
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