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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Precisamos de outro Plano de Resgate

Igreja da Madeira: Faz muta impressão que nos pareça conviver bem com este descalabro social (Destaque Dnoticias...)
A leitura que se faz da realidade da nossa terra não é nada famosa. As dificuldades que estamos a passar são imensas. As famílias estão sujeitas a uma ginástica financeira sem precedentes. Foram seduzidas a se endividarem para comprar casa, carro e todos os bens que entendessem. O crédito bancário fazia milagres. Diz-se isto das famílias, mas dizemos também dos Estados e, particularmente, da Madeira.
Mas, eis cambalhota. As dívidas descontroladas. As que se sabia, as que se calculava e as que se escondia. E pior do que isto, destapa-se o clima conflituoso em que está mergulhada a sociedade madeirense. É bem verdade que, «em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão». Precisamos de um ar mais sereno, de unidade e de paz social. Sem uma mudança de protagonistas, penso, que não chegaremos lá…
Esta conflitualidade, resulta em certa medida, das tentativas para relativizar ao máximo os sacrifícios que vamos assumir. Pouca é a compaixão, pelo facto de termos que pagar a preços exorbitantes os combustíveis, os alimentos, os medicamentos e toda a carga de impostos directos e indirectos. Deste engano não precisamos e ninguém que se atreva a atirar-nos areia para os olhos, porque vemos e sentimos quotidianamente como os magros rendimentos familiares não chegam para suportar este custo de vida terrível que nos impuseram.
As explicações são bem-vindas. Mas que sejam dadas nos locais próprios, não em ambientes que à partida geram ainda mais confusão e mal-estar nas pessoas. É bom que se preparem para reacções menos próprias e até alguma afronta. O pulsar em geral está num misto de resignação, depressão, tristeza e quem sabe senão de revolta. Preparem-se…
Pedimos às nossas autoridades políticas que deixem os adros das igrejas em paz. Os adros na sua maioria são espaços privados ou semi-públicos, pertencentes às comunidades religiosas e tudo o que seja utilizar esses espaços para fins políticos causa irritação. As pessoas só não se manifestaram até agora com mais veemência porque as nossas comunidades viveram totalmente submissas ao providencialismo que nos governou. Isso acabou. Hoje, passamos por dificuldades graves. O desemprego é uma calamidade. Os medos vão-se esbatendo, fala-se abertamente e se os dentes estão cerrados, não é com medo de ser escutado, mas com raiva.
Precisamos de um «Plano de Resgate», que restaure a bondade das pessoas, a verdade dê lugar a todos os enganos, a paz retempere a conflitualidade social, a política seja um verdadeiro serviço ao povo e ao bem comum, a seriedade na administração dos bens de todos seja palavra de ordem e a confiança nas figuras que nos governam seja para todos um valor. Se este «Plano» vigorar, muitos dos nossos problemas terão meio caminho andado até à solução.Uma palavra sobre a «nossa» Instituição Igreja da Madeira. Faz muita impressão que nos pareça conviver bem com este descalabro social, sem uma palavra a dizer, sem um pensamento, sem uma crítica e sem qualquer dimensão profética.
Aqui seria preciso ler e dar a ler uma nota do Vaticano emitida em 24 de Outubro de 2011, intitulada «Para uma reforma do sistema financeiro e monetário internacional na perspectiva de uma autoridade pública de competência universal». Nesta mensagem pode ler-se que, a crise não é apenas económica e financeira mas sobretudo moral. Significa que não pode nem deve haver economia sem ética e que a ética está sempre acima da economia. A dignidade da pessoa e a solidariedade na comunidade humana deverá ser integrado na vida pública para regular os mercados económicos, tendo em vista a visão cristã do bem comum. Digam isto, todos os políticos da nossa terra, alto e bom som, nos locais próprios da democracia, a fim de esclarecerem de verdade o povo todo.
José Luís Rodrigues, Dnotícias, 12/02/2012, Secção «Sinais dos Tempos».

1 comentário:

José Leite disse...

A ética na economia é como a virtude no diabo...Andamos anos a fio a pedir democracia económica mas o status quo actual espelha bem o terrorismo financeiro, o despudorado agiotismo que campeia, infrene, qual fogo dantesco a que é preciso pôr cobro sem delongas.