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quinta-feira, 28 de abril de 2022

Salgueiro Maia

Filme

Este ano comemorei o 25 de Abril assistindo ao filme, «Salgueiro Maio - O implicado» do realizador Sérgio Graciano, que está a ser rodado nos cinemas do nosso país. 

É a história do capitão da Revolução de Abril de 1974. É uma história que implica o futuro do nosso país, mas que também se cruza com a vida pessoal de Salgueiro Maia. Na história entram eventos históricos, relatos pessoais, revelações íntimas, emoções que acompanharam o capitão Salgueiro Maia ao longo de toda a sua vida.

Um dos maiores símbolos do 25 de Abril, Fernando Salgueiro Maia nasceu a 1 de Julho de 1944, em Castelo de Vide (Portalegre). Fez campanhas militares em Moçambique e na Guiné-Bissau, tendo ascendido ao posto de capitão em 1971. Como delegado da Arma de Cavalaria, fez parte da Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas (MFA). Um dos seus feitos mais famosos foi quando, no dia 25 de Abril de 1974, comandou a coluna militar que partiu da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, ocupou a Praça do Comércio e cercou o Quartel do Carmo, em Lisboa, levando à rendição de Marcello Caetano, então presidente do Conselho, e à queda definitiva da ditadura do Estado Novo. Salgueiro Maia faleceu a 3 de Abril de 1992, devido a um cancro. Tinha 47 anos.

Não podia ser melhor a minha comemoração dos 48 anos da Revolução dos Cravos. Pois, permitiu que eu fugisse dos discursos circunstanciais dos líderes da turba, que rebuscam todos os anos nesta altura o verbo fácil, os estereótipos habitués, as palavras de ordem e a iconografia convencionada de Abril para parecer bem à «manada» adormecida da democracia incompleta que vivemos.

Tantos falam, muitos postam imagens e dizem coisas sem saberem do que falam. Tudo sem consequências, porque logo no dia 26, voltamos a ter o medo à porta, todo o rebanho a correr sem saber para onde, a falar de guerra e, simplesmente, a tentar sobreviver adormecidos sobre a almofada do esquecimento dos valores que a Revolução de Abril reclamou.

Se já nutria grande empatia por Salgueiro Maia, revigorei-a com este filme e como se vulga dizer, tornei-me verdadeiramente seu fã. Um homem de atitudes elevadas. Bem ciente das suas responsabilidades. Muito injustiçado pelos poderes que no tempo democrático se alaparam na gamela governativa. Sofreu com isso. Apesar dos apesares, morreu vencido pelos limites da lei natural que nos assiste, mas deve ter seguramente ter morrido a pensar que valeu pena quando nenhuma alma diante do Adamastor da incerteza se faz pequena.

Estamos diante de um homem sem medo. Ou melhor, um homem que ousou quebrar a bruma densa do medo que assolava o país de alto abaixo pelas mentes sombrias que dirigiam um povo acabrunhado, perdido no tempo e sem ideia nenhuma sobre o futuro.

Eis um homem de coluna que vencendo o marasmo do «sempre foi assim» ou a ideia da vida «gemendo e chorando no vale de lágrimas», pegou na coluna militar desde Santarém até Lisboa pelos caminhos do sonho e do desejo da mudança. Veio tal como um Moisés pelo deserto adentro com um povo inteiro às costas em busca dos alvores da libertação de todas as formas de opressão.

Nada disto pode ser esquecido por nenhum palavreado hipócrita daqueles que cuspiram sobre o 25 de Abril, mas agora se arvoram em paladinos de uma Revolução que não gostaram e não respeitaram quando tinham o palco certo para o fazerem. Cuidado com os cantos de sereia que andam a nos venderem ao preço da banha da cobra.

terça-feira, 26 de abril de 2022

O espanto como caminho de salvação

 

O Cristianismo, marcado por tantos momentos trágicos, onde descobrimos também o quanto foi prejudicial à humanidade, contrariando o que preconizava na sua essência, o amor ao próximo como a única possibilidade de entendimento e salvação humana. Mas, se foram muitos os algozes dessa fatalidade infeliz, como pioneiros do horrendo e da maldade contra as pessoas, também há os que foram mártires e pioneiros do amor, ao jeito de Jesus Cristo, a favor da libertação humana.

Porém, apercebemo-nos hoje que o amor não parece ser o caminho. O ódio e a intolerância marcam os dias. Por isso, não sendo possível o caminho do amor, seja o espanto ou o assombro do mistério que abraça a todos sem distinção. Jorge Luis Borges confirma isso mesmo: «Não é o amor que nos une, mas o espanto».

É preciso escolher um caminho entre os vários caminhos que estão aí presentes diante dos olhos de todos. O que queremos mesmo para nos salvarmos, é o espanto, é a vida ou são as bombas, a guerra... 

O espanto, até pode ser no lugar do amor, como já dissemos. A vida é a maior riqueza e não temos alternativa a esta. A guerra, arrasta destruição e morte. Tudo são evidências incontornáveis. 

Seguro é que no caminho da guerra sofrem e morrem os povos, e ficam feridas com agudo sofrimento insanável para sucessivas gerações. O Papa Francisco disse-o sem tibieza: «A guerra é feita pelos governos e é padecida pelos pobres e pela gente comum». Não nos faltam provas cabazes que confirmam a acutilância deste pensamento.

sábado, 16 de abril de 2022

A festa da vida nova

 Celebrações Pascais de Sábado Santo e Domingo de Páscoa:

Aqui chegados na última etapa da Semana Santa, somos convidados à alegria, à festa da «vida nova».

Podemos dizer que a alegria hoje não é barata, tudo o que é bom e essencial nos nossos tempos, anda muito caro. O otimismo muito mais caro ainda. As notícias que nos chegam de todo o lado não ajudam nada. Pelo contrário fazem subir o preço da alegria e do otimismo para níveis quase inatingíveis para a nossas capacidades.

Há muito sofrimento no nosso mundo e a linguagem cheira a pólvora. Porém, Santa Teresa de Ávila aconselhava a termos sempre nada de espanto e nada de derrota. Não seguimos um morto, mas um Deus vivo em cada um de nós. Ele passou pela morte, mas está vivo, sempre vivo, todas as vezes em que nós fazemos por sair dos túmulos em que nos metemos ou que teimam em nos meterem constantemente.

Há um conjunto de sintomas depressivos, que vão sendo alimentados pelo pessimismo e por tanta coisa negativa que nos rodeia. Não se resolvem tais sintomas com simples literatura e métodos tão abundantes de busca da auto estima e que fomentam sentimentos positivos, que centram a atenção numa espécie de «eu gosto de mim, logo existo». Esta modalidade conduziu a uma multidão de gente refinada de narcisismo barato. Os resultados estão à vista de todos nós no que diz respeito ao individualismo, ao egoísmo e ao «salve-se quem puder» contra tudo e todos.  

Vamos o «remédio» que nos liberta de todas as formas de morte e para sairmos dos túmulos. O Evangelho conta-nos que as mulheres foram ao sepulcro buscar um morto, mas encontraram uma pergunta que lhes mudou a vida para sempre: «Porque buscam entre os mortos, Aquele que está vivo?»

Tantas vezes nós que em vez de procurarmos o Deus da vida, procuramos dentro dos nossos sepulcros despojos de matéria morta que nos deprimem e desviam a nossa atenção do essencial. Por isso, o Evangelho recorda-nos: «Não está aqui; ressuscitou! Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galileia, dizendo que o Filho do Homem havia de ser entregue às mãos dos pecadores, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia» (Lc 24, 5).

Uma Páscoa Feliz.

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Sexta Feira da Paixão de Jesus

 

O mundo está nublado, os rios de pessimismo descem os montes, querendo irrigar de desesperança, as terras onde nós vivemos e sonhamos. As flagelações de hoje de Jesus são as várias crises; a escalada dos preços que prejudica as famílias seriamente, a falta de confiança na política e nos políticos, o desprestígio da nossa Igreja Católica… É caso para gritarmos: Senhor, para onde vamos? Como gritou Jesus no alto da sua cruz: «Pai porque me abandonaste!»

Olhando a para a cruz de Jesus, rezo que faz falta um atendado de bondade e que precisamos de «kamikazes» do amor dispostos a dar a vida para abrir as portas de emergência deste mundo encurralado pelas suas próprias ameaças e agressões.

Faz falta, muita falta acreditar no Homem. Embora seja tão difícil ser homem neste mundo.

A cruz de Jesus diz-nos que fazem falta valentes descargas de esperança, transfusões de ideais e valores, que construam sempre mais e mais ao ponto de suplantarmos a capacidade destrutiva desta humanidade que somos capazes do melhor e do pior simultaneamente.

Eu olho para Jesus na cruz e volto a acreditar na humanidade que é mãe que amamenta; pai que protege; filho que não esquece e cuida; jovem solidário e sempre pronto para partilhar; adulta em geral que trabalha e sonha um mundo melhor; envelhecida que ensina e testemunha que a vida valeu a pena… E creio também na humanidade paradoxal: no anjo e no taliban, no fanático e no terno, no terrorista e no missionário, no homem que sou e no que tu és também.

Não estamos órfãos. Deus está no meio de nós. Nós estamos uns com os outros, somos humanidade que vale sempre uma aposta, uma oportunidade.

Daí que seja sempre assustador o homem solitário, encurralado no seu ego arrogante, nas suas manias fixistas, cercado pelo fanatismo de si mesmo. Nada é mais perigoso que ser órfão de amor e indiferente a Deus, tornando-se auto suficiente, e assim dominador da vida dos outros. Uma humanidade amordaçada pelas leis torna-se exclusivista, sem consciência da igualdade e da fraternidade.

Nada mais assustador que uma humanidade encerrada na torre do orgulho, do egoísmo, ameaçada pelos talibãs do materialismo puro e duro sem asas para voar na direção da transcendência e no sentido da eternidade.

A pessoa humana enjaulada de qualquer forma e a pretexto do que quer que seja é um desastre. É um tremendo perigo o Homem enjaulado, escravo de si mesmo e levado pelas maquinações da lógica do mundo totalmente
voltadas para o lucro e a ganância. Um Homem encurralado deixa de existir. Um Homem assim procura as sombras para se esconder.

Não seja em vão este dia nem apenas um intervalo da rotina. Mas, memória do que somos e lembrança da grave responsabilidade que sobre nós pesa de fazermos um mundo livre de violência, porque sabemos sempre fazer sobressair de nós o melhor que temos e somos.

sábado, 9 de abril de 2022

Ramos de oliveira


Não vás para longe!

vem aconchegar o meu peito

aqui junto à fonte da água viva em mim...

Tenho uma vontade doida de contar-te

que adiar a paz é loucura sem fim.

 

Não vás para longe;

porque eu apenas vejo é aqui.

mas se o olhar não cintila como antes,

e se as tuas palavras são picantes,

volta para o teu teatro onde não sentes.

 

Não vás para longe!

Tenho receio de uma queda fatal,

o silêncio deste momento é pesado…

É o uivar do vento nas folhas,

há morte sem amor e ninguém que as recolha.

 

Não vás para longe!

vive como antigamente,

nunca era demais o sentido abraço,

que havia entre Deus e os Homens…

Agora um grilhão de ferro,

é cravo para um embaraço,

onde é hesitante e depois,

que nos perde é o cansaço e a inquietação.

Deves pensar que é inglório,

em vez de matar ceder o coração.

 

Não vás para longe!

Fica entre nós. O tempo é tão cedo!

Os canhões continuam a ribombar,

são as nuvens quando lhes dá para trovejar,

cai a tempestade sobre os ramos sofredores

por isso estou eu a pensar,

que tenho medo

de um mundo que não lavra,

a simbiose do silêncio e a palavra.   

 

Não vás para longe!

Pela sombra negra da solidão,

como que sem pés e sem ideais,

volta para junto das águas que eu conjugo,

levado pela corrente nos beirais,

onde eu andei livre nos tempos estivais.

 

Não vás para longe!

Eis que além se avista o sossego,

uma alma em ti contra o cansaço,

é um chão fértil que a lâmina cava…

 

O céu rasgado em duas metades

Como uma paixão,

é sempre o mais alto da luz que brilha

dentro de ti como uma explosão.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

A fonte límpida no meio do bosque

Um homem foi recolher água a uma fonte, límpida e transparente, no centro de um pequeno bosque densamente arborizado, tão cheio de árvores e arbustos que ele quase sentia dificuldade em ver o chão onde colocava os pés na vereda por onde caminhava, porque a sombra das plantas era tão densa que parecia escurecer a claridade do dia.

Quando chegava ao local da fonte, antes de mergulhar a bilha na pequena lagoa que ali se formava, ponha-se a contemplar o maravilhoso espelho que a água formava. Os seus pensamentos vagavam pelo mundo inteiro e pela sua vida toda. Pensava na sua mulher e nos filhos, nos pais e em todos os seus familiares. A paz que este momento lhe proporcionava era de tal forma indescritível, que ele perdia-se no tempo e sentia que cada vinda à fonte se renovava como os seus devaneios. Pois esta terapia revigorante da água proporciona-lhe contemplar naquele maravilhoso espelho oferecido pela água, o que tinha sido e o que podia vir a ser a sua vida.

Por fim, quando chegava a ocasião mergulhava a bilha completamente dentro da água até que se enchesse totalmente. Após isso levantava a sua bilha até a assentar nos ombros e assim regressava para casa, revigorado e animado para perseguir os seus sonhos com alegria e suprir com esperança os seus desejos.

Num determinado dia, ao chegar à fonte, a água estava suja e cheirava muito mal à volta da lagoa de onde tirava a água. Ao deitar os olhos sobre o fio de água que escorre das pedras de onde vinha o pequeno fio de água para alimentar a sua pequena lagoa, estava morto um animal em estado avançado de putrefação e quando se aproximou dele, reparou que o bicho tinha sido morto cravejado de balas.

Sentiu uma dor enorme e chorou com amargura.

Porém, mais recomposto pelo desagradável achado, meditou deste modo, a natureza foi feita para conviver harmoniosamente na sua diversidade e oferecer saúde e paz aos homens. Mas, no meio da humanidade persistem uns que preferem a desordem e o desequilíbrio ambiental. Estão contaminados pela loucura e pela cegueira. A sabedoria e a felicidade caminham juntas, não é destruindo e matando que se chega lá. E se ao menos não formos capazes de construir, que sejamos imperiosamente capazes de respeitar o que existe à nossa volta, particularmente, os bens da natureza.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Tempos de guerra tempos de paz


É a hora de pensar na paz. Hora de renunciar ao acessório que tanto nos consome por dentro e por fora. Vejo tanta coisa supérflua a arruinar as vidas dos povos, das nações, dos grupos, das instituições, das famílias e a vida de cada pessoa individualmente. É a hora de pensar nas vítimas de um mundo desestruturado, que além de terramotos violentos, inventa guerras fratricidas que destroem e interrompem a dignidade da existência, destroem o equilíbrio do Planeta e votam à miséria milhões de vidas humanas.

A família precisa de tornar-se o laboratório onde se aprende/ensaia a lutar contra o egoísmo, a indiferença diante das situações dolorosas dos outros.

Aos cristãos compete serem sempre pelo lado do bem, a liberdade, a fraternidade. Há bons e maus em todo o lado. Por isso, também deve haver possibilidade de salvação, de redenção e de fraternidade em todo o lado.

O padre Gratry, um sacerdote francês que dedicou a sua vida à causa dos pobres, diz no seu livro «As origens» este pensamento em forma de pedido ao mundo inteiro: «Uma só coisa peço ao mundo dos nossos dias: uma vontade decidida de abolir a miséria.» O fim da miséria do mundo, seria logo meio caminho feito, para se ter descoberto imediatamente o bem-estar dos povos.

Facilmente andamos esquecidos da miséria dos outros, é uma defesa que alimentamos, uns para não fazerem nada, outros para não sofrerem e cada um usa o seu intelecto como melhor lhe dá jeito. Mas, lembro-me sempre de uma palavra que uma vez me disse uma moradora da rua, «hoje sou eu, amanhã pode ser qualquer um».

Esta palavra tem-me servido de alerta, perante todas as situações de pobreza, de doença, de velhice, dos deslocados da guerra, do tráfico humano e diante de todas as misérias que este mundo nos oferece, infelizmente, com muita abundância todos os dias. Hoje são eles, amanhã pode ser eu. É duro pensar isto e mais ainda dizê-lo, mas pode ser um antídoto que ajude a combater a facilidade com que caímos na indiferença e o esquecimento perante a dor dos outros.

Somos os braços de Deus no mundo. Mas sempre esquecemos isso e tantas vezes utilizamos esses braços para censurar, criticar ou para cada um se vangloriar das inúteis mediocridades que dão algum prazer momentâneo. As vaidades são um veneno corrosivo nas nossas instituições atais. E há tanta gente com poder, meios suficientes e oportunidades fabulosas para serem a voz dos injustiçados, miseráveis que não têm voz, dos mesmos que são explorados a todos níveis todos os dias. Enfim, esquecem que o poder que lhes foi dado seria para esse fim, mas preferiram trair Deus, optando por mordomias, benesses e comodismos frívolos.

Tempos de guerra chamam por tempos de paz. Que este horizonte, mesmo que pareça uma utopia, não nos esmoreça, mas nos desperte cada dia para a luz do que importa mesmo, para que em nenhum momento tenhamos que responder por termos sido autênticos traidores.