A família precisa de tornar-se
o laboratório onde se aprende/ensaia a lutar contra o egoísmo, a indiferença
diante das situações dolorosas dos outros.
Aos cristãos compete serem
sempre pelo lado do bem, a liberdade, a fraternidade. Há bons e maus em todo o
lado. Por isso, também deve haver possibilidade de salvação, de redenção e de
fraternidade em todo o lado.
O padre Gratry, um sacerdote
francês que dedicou a sua vida à causa dos pobres, diz no seu livro «As
origens» este pensamento em forma de pedido ao mundo inteiro: «Uma só coisa
peço ao mundo dos nossos dias: uma vontade decidida de abolir a miséria.» O fim
da miséria do mundo, seria logo meio caminho feito, para se ter descoberto imediatamente
o bem-estar dos povos.
Facilmente andamos
esquecidos da miséria dos outros, é uma defesa que alimentamos, uns para não
fazerem nada, outros para não sofrerem e cada um usa o seu intelecto como
melhor lhe dá jeito. Mas, lembro-me sempre de uma palavra que uma vez me disse
uma moradora da rua, «hoje sou eu, amanhã pode ser qualquer um».
Esta palavra tem-me servido
de alerta, perante todas as situações de pobreza, de doença, de velhice, dos
deslocados da guerra, do tráfico humano e diante de todas as misérias que este
mundo nos oferece, infelizmente, com muita abundância todos os dias. Hoje são
eles, amanhã pode ser eu. É duro pensar isto e mais ainda dizê-lo, mas pode ser
um antídoto que ajude a combater a facilidade com que caímos na indiferença e o
esquecimento perante a dor dos outros.
Somos os braços de Deus no
mundo. Mas sempre esquecemos isso e tantas vezes utilizamos esses braços para
censurar, criticar ou para cada um se vangloriar das inúteis mediocridades que dão
algum prazer momentâneo. As vaidades são um veneno corrosivo nas nossas
instituições atais. E há tanta gente com poder, meios suficientes e
oportunidades fabulosas para serem a voz dos injustiçados, miseráveis que não
têm voz, dos mesmos que são explorados a todos níveis todos os dias. Enfim,
esquecem que o poder que lhes foi dado seria para esse fim, mas preferiram
trair Deus, optando por mordomias, benesses e comodismos frívolos.
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