Os tempos andam à estalada e são mesmo tempos estalantes.
Não sei muito bem o que pensar e o que dizer perante
as multidões enfurecidas que este mundo tem. Onde impera no senso comum a legitimidade a favor de quem recorre à agressividade para resolver os problemas.
Nenhuma razão justifica a violência. É tão fácil de
fazer e tão difícil de ser consequente com este princípio. Mas, é este o
caminho, mesmo que nos custe e que seja difícil de concretizar.
No próximo Domingo dia 2 de Abril será lido nas
igrejas o Evangelho da Mulher Adúltera. É das histórias bíblicas mais
comoventes que nos são dadas.
A mulher pecadora é acusada de um crime grave, «foi
surpreendida em adultério», no tempo de Jesus, tais mulheres eram apedrejadas
até à morte, em obediência a uma má interpretação da lei do Antigo Testamento.
Para Jesus, esta condenação era bárbara demais. Mas outra vez, Jesus Cristo, demonstra que a barbaridade justiceira está imbuída de hipocrisia, isso não é aceitável. Por isso, Ele veio para
estabelecer a compreensão e a misericórdia diante de todos os males cometidos pela
humanidade, que é naturalmente frágil e facilmente propensa a cair na miséria.
Por isso, mesmo que seja uma ofensa grave contra Deus
e contra a dignidade humana, a resposta de Jesus revela claramente que o perdão
é possível e demove por completo todos os inquisidores e juízes que pretendem fazer
justiça pelas suas próprias mãos.
A hipocrisia é flagrante neste episódio, os
moralistas que agora querem purificar a sociedade através da morte da mulher
impura, foram também eles beneficiados com os seus serviços sexuais. Onde será
que já vimos isto? - Os mesmos que gritam morte à mulher também se serviram
dela.
A sociedade humana é assim mesmo. É escrupulosa no
cumprimento das regras, mas, serve-se da miséria quando dá jeito pessoal e quando se trata de salvar a pele, mesmo
que para tal sejam violados os valores e os princípios da dignidade humana de
forma descarada.
Ninguém é perfeito, todos têm as suas manchas
pecaminosas que provocam distância em relação a Deus e desencontros entre as
pessoas.
Jesus ensina que quem não tiver pecado que de
imediato atire a primeira pedra. A condenação não tem lugar em Deus, revelado
plenamente em Jesus como o Pai/Mãe do reencontro e da reconciliação plena com todos
os homens.
Toda a ofensa e agressão, por mais graves que sejam e
toda a piada de mau gosto, são inaceitáveis, mas não podem ser pretexto para criar razões que justifiquem o recurso
à violência. Violência gera violência. E todo aquele que recorre à violência, por mais límpidas razões que apresente, perde-as imediatamente.
No entanto, que estes clichés não nos autorizem a nos sentirmos reis e senhores para fazer tudo o que apeteça, porque depois se pode remediar com a banalidade de um singelo balbuciar de «peço perdão» ou «peço desculpa».
Devem continuar dentro do prazo de validade a serenidade e o bom senso, porque são regras seguras para nos entendermos e
sermos felizes uns contra os outros.
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