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quinta-feira, 30 de julho de 2015

SOMOS PADRES

Texto que o padre Tolentino Mendonça leu na Sé do Funchal, a propósito do jubileu de Bodas de Ouro do Sr. Bispo D. António Carrilho e vários sacerdotes que durante este ano de 2015 também celebram o seu jubileu de 25 e 50 anos de vida sacerdotal.  
Permita-me Senhor D. António que, saudando muito cordialmente os senhores bispos presentes, os reverendos colegas, as distintas autoridades, convidados e todos e cada um dos cristãos que enchem, nesta celebração, a nossa Catedral, dirija a Vossa Excelência Reverendíssima a primeira palavra.
Foi-me pedido que, em nome dos jubilados, expressasse os nossos sentimentos que só podem ser, antes de tudo, de congratulação e reconhecimento à Vossa pessoa, Senhor D. António. Como recorda a Presbyterorum Ordinis, a Ordem do presbiterado torna-nos “cooperadores da Ordem do episcopado para o desempenho perfeito da missão apostólica confiada por Cristo” (P.O. 2). É, portanto, na estreita comunhão consigo e com o múnus eclesial que Vossa Excelência Reverendíssima representa, que o nosso ministério encontra a sua razão e o seu sentido. Em nome de todos, queria dizer-lhe o quanto nos congratulamos pelas suas bodas de ouro sacerdotais, o quanto damos graças a Deus pelo modo como Ele tem frutificado em si e através de si, e o quanto agradecemos a generosidade fraterna de nos reunir a todos numa única celebração, onde a beleza da comunhão eclesial pôde exemplarmente brilhar. Estão aqui, presentes ou evocados, o Senhor D. Maurílio de Gouveia, que celebra os sessenta anos sacerdotais, os colegas religiosos e diocesanos que celebram setenta, cinquenta e vinte e cinco anos de ordenação, tanto os naturais da Madeira, como o conjunto de jubilados que pertence ao grupo de companheiros de curso de V. Ex.cia Reverendíssima.
Vários nomes são usados para descrever a vocação e a missão do padre no interior da comunidade eclesial. Nós que fomos ordenados há 70, 60, 50 ou 25 anos quem é que somos? Somos os presbíteros, nome que vem já referido no Novo Testamento, e que liga a nossa missão ao serviço das comunidades como “o mais velho” (o presbítero) e com especial enfoque na pregação do Evangelho de Deus, nosso “primeiro dever” (P.O. n.4). Mas a teologia católica adoptou também o termo sacerdote, e isso também somos. O que une e associa todos os baptizados é o sacerdócio de Jesus Cristo, o único sacerdote. Pelo sacerdócio ministerial ordenado o sacrifício espiritual dos fiéis consuma-se em união com o sacrifício de Cristo, em nome de toda a Igreja, até que o próprio Senhor venha.
Popularmente na Madeira chamam-se aos padres vigários e curas, termos muito expressivos em relação ao que o ministério ordenado significa. Porque Cristo é o único mediador, o único vigário, o padre é chamado a cultivar na sua vida “os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus” (Fl 2,3), a centrar-se existencialmente nele, para testemunhar um amor no qual todos podem esperar. E, por isso, ele também é o cura, o cuidador, o agente comprometido da pastoral que se faz serviço às feridas e às esperanças dos homens e das mulheres de cada tempo.
Mas o nome por que somos mais chamados, o nome mais quotidiano, é também, porventura, o mais simples e o mais belo. É o nome “padre”, que quer dizer “pai”. Como acontece com os filhos, quando pensam ou se dirigem ao seu pai não são precisos mais nomes. Pai é uma palavra maior que qualquer nome próprio e que lhe traz uma iluminação funda, plena e inapagável. Basta dizer pai e está tudo dito. O afecto, a relação, o dom, e até aquilo que, tantas vezes, as palavras não conseguem dizer fica dito na palavra pai, ou na palavra padre.
Ordenados há 70, 50 ou 25 anos quem é que somos? Somos o António, o Maurílio, o Ângelo, o Damasceno, o Gil, o Bernardino, o Domingos, o Janela, o Armindo, o Manuel Augusto, o Manuel Vitorino, o Adérito, o Manuel Armando, o Manuel Couto, o Anastácio, o Paulo, o Bonifácio, o João Manuel, o Bernardino, o Zeferino, o Manuel, o Tolentino. Somos esses, mas somos apenas padres, apenas pais na fé que ajudam a crescer e crescem com o povo de Deus, procurando em tudo ser, como recorda a bela expressão de Carta de Paulo, “colaboradores da vossa alegria” (2 Cor 1,24). Rezem por nós. Muito obrigado.
José Tolentino Mendonça, Sé do Funchal, 28/07/2015

Humanidade nova faz um mundo novo

Comentário à missa deste domingo XVIII tempo comum, 2 agosto de 2015
A missa deste domingo segue a mesma temática do domingo passado. A abundância de Deus, que se manifesta sempre com um desejo enorme que cada pessoa encontre sempre o necessário para estar bem de saúde, alimentada convenientemente e acima de tudo que seja muito feliz. São estes os desejos de Deus para todos nós. Quando eles ainda não existem, devemos sentir que nos falta trabalhar mais intensamente para que a ninguém falta estas qualidades para a vida ser verdadeira vida.
A primeira leitura da missa deste domingo, recorda que Deus dá o necessário a cada um e "proíbe" juntar mais do que esse necessário, porque, efectivamente, ir além do necessário resulta sofrimento. Por um lado, emerge a tentação do "ter" em detrimento do "ser", a ganância marca o passo, a ambição desmedida torna-se regra de vida. Por outro, a sofreguidão do "ter" produz mais famintos e faz empobrecer populações inteiras. Os desequilíbrios do mundo a este nível são dramáticos e um escândalo que nos envergonha sobremaneira.
Por isso, não admira nada que a meia dúzia de ricos, fica cada vez mais rica à conta de uma enorme maioria cada vez mais pobre, esfomeada e mergulhada na pobreza, com alguns já no limiar da miséria. É grave que as políticas não estejam contra este estado de coisas.
Deus convida-nos a não nos deixarmos dominar pelo desejo descontrolado da posse dos bens, a libertarmos o nosso coração da ganância que nos torna escravos das coisas materiais, a não vivermos obcecados e angustiados com o futuro, a não colocarmos na conta bancária a nossa segurança e a nossa esperança. Só Deus e os valores que Ele nos apresenta, são a nossa segurança, só n'Ele devemos confiar, pois só Ele (e não os bens materiais) nos libertam e nos leva ao encontro da vida definitiva.
São Paulo apresenta-nos um apelo à vida nova. Isto é, cria um parâmetro sobre a nossa condição, "o homem novo". Este faz parte do ideal de Deus. O homem novo será todo aquele que integra a família de Deus, que não se conforma com a maldade, a injustiça, a exploração, a opressão, porque procura a verdade, o amor, a justiça, a partilha, o serviço. A humanidade nova pratica obras que se coadunam com a beleza, a bondade e a estética de Deus.
O homem novo, não está de forma nenhuma longe da misericórdia, da humildade, empenhado no bem para todos, com a maior das alegrias e simplicidade. O homem novo, sabe quais são e vive seriamente os valores de Deus. No Evangelho, Jesus recusa ser um simples mago, um prestidigitador, que faz coisas espectaculares (por exemplo, fazer cair do céu o maná).
O desejo de Deus para nós todos é manifestar a abundância da paz e da felicidade, por isso, estejamos atentos ao que a vida nos vai oferecendo e propondo para que possamos acolher o que nos faz falta para nos tornarmos em cada dia "humanidade nova" aptos a construirmos um mundo novo para todos.

O Pátio das Cantigas de ontem e o dia hoje

Boa já não gasto dinheiro e vou esperar que passe na televisão…
Além de ser a expressão cinematográfica genuína da vida tal como se vivia nos bairros populares da Lisboa da altura, ela mesma então ainda uma enorme aldeia, e de uma identidade e um modo de ser simultaneamente alfacinha e nacional, “O Pátio das Cantigas” de 1942 é joalharia de comédia, ou não tivesse sido criado por três talentos superiores, qualquer que fosse o meio em que trabalhassem, do teatro ao cinema, da rádio à televisão, e que se moviam sem esforço entre a cultura popular e a cultura erudita, entre a rua e os salões artísticos.
O filme cintila de diálogos, trocadilhos e segundos sentidos espirituosos e hilariantes, de achados cómicos, de partes gagas irresistíveis e de momentos visuais inspirados, está povoado por primeiras figuras de génio (António Silva, Vasco Santana, Ribeirinho, etc.), por actores secundários e por “característicos” inesquecíveis, personificando figuras que existiam mesmo ali ao virar da esquina, e exibe uma homogeneidade narrativa intocável, de fazer inveja a muito filme português de hoje.
Já “O Pátio das Cantigas” versão 2015 é um calhau de comédia, pesado de graçolas chineleiras, de bocas “tás-a-ver-ó-meu?”, de humor de tasca, de situações apalhaçadas, de palha de riso, de glosas menores do filme original, sem uma ideia cómica, um rasgo visual, um “gag” que fique de recordação, uma piada que perdure nos ouvidos e seja citável para a posteridade. Interpretado por uma mistura de bons e respeitáveis actores metidos em bonecos toscos (Miguel Guilherme a fazer uma imitação de uma caricatura de António Silva, Anabela Moreira na irmã pãozinho-sem-sal da estridente Amália, Manuel Cavaco sem nada para fazer), de carinhas larocas das telenovelas, de engraçados televisivos e de contadores de anedotas profissionais, o filme tem ar de televisão maquilhada para se assemelhar a cinema. E ainda acaba por se desfazer num final mal atamancado, em que tudo é resolvido a trouxe-mouxe, e rematado com um número de musical de Bollywood, não se percebendo se é por ser moda, se é para fazer profissão de fé multicultural, ou se foi mesmo “dessincronização”.
Eurico de Barros, in Observador. Para quem desejar ler o texto na íntegra, pode ir AQUI

quarta-feira, 29 de julho de 2015

O efeito boomerang do ódio e da falta de humildade

Seria tão importante para o mundo que esta luz brilhasse no interior das comunidades… Mas infelizmente, nestes aspectos do ódio e da falta de humildade, os maus exemplos vêm a maior parte das vezes do interior das igrejas.
Papa Francisco, duas citações brilhantes:
Primeira:
«Dê tempo ao tempo. Isto é útil para nós, quando temos pensamentos negativos sobre os outros, sentimentos ruins. Quando temos antipatia, ódio, não deixem que cresçam, parem, dêem tempo ao tempo. O tempo coloca as coisas em harmonia e nos faz ver o lado justo das coisas. Mas se reagirmos no momento da fúria, é certo que seremos injustos. Injustos. E faremos mal a nós mesmos. Este é um conselho: o tempo, o tempo, no momento da tentação». 
Segunda:
«E esta é a santidade da Igreja, esta alegria que dá a humilhação, não porque a humilhação é bela, não, isso seria masoquismo, não: porque com aquela humilhação se imita Jesus. Duas atitudes: a do fechamento que leva ao ódio, à ira, a querer matar os outros; e a da abertura a Deus no caminho de Jesus, que faz receber as humilhações, inclusive as mais fortes, com esta felicidade interior porque estamos certos de caminhar na estrada de Jesus».

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Parece que estamos a perder a paciência

O advogado e jurista, José Miguel Júdice, Já nos fez ver que a mentira «faz parte do ADN do político» e «votamos nos políticos que nos mentem e não nos que nos dizem a verdade». No mesmo sentido, o politólogo António Costa Pinto entende que a «sociedade portuguesa já dá o desconto» e já se habituou a que «as promessas não sejam cumpridas».
Mas, nestes tempos de pré campanha eleitoral, a propaganda tornou-se mais viva e com ela a banalidade da afirmação e o seu contrário à mesma medida e no mesmo instante.
Se por um lado damos o devido «desconto» e já estamos mais que habituados a que «as promessas não sejam cumpridas», começamos a ficar enojados e fartos de tão elevado descaramento. Se a sociedade é complacente com este estado de coisas, não podemos nós cidadãos responsáveis tolerar tamanha desfaçatez perante o que se diz e perante o que se faz contra o que se disse. A consequência honesta não parece estar em voga nos tempos que correm.
Há crimes hediondos, cometidos no nosso país, milhares de pessoas pedem esmola para que os seus filhos não morram de fome. Outros tantos milhares sem emprego. A violência doméstica está a níveis de barbaridade indescritível e manifesta o quanto regredimos quanto à educação, ao respeito pela vida do outro e quanto à sã convivência na família. O direito de ser criança com escola com todas as condições necessárias para aprender vai faltando e falta também boas condições dentro do seu espaço familiar para que possam brincar com alegria e em paz.
Mas, os cofres do Estado estão cheios, a dívidas e os deficits estão controlados e dizer-se o contrário disto, é «mito urbano» inventado por gente maldosa que passa a vida a dizer mal de tudo e de todos. Tudo isto vai anestesiando a sociedade e remetendo a um comodismo fatal, porque tudo se vai sabendo conjugar com aparente mestria para fazer passar a ideia de que não há outra alternativa senão cortar salários, aumentar impostos e sangrar as pensões dos idosos. O que importa é que «eu estou salvo», o mundo que pereça.
Os autores desta violência contra as famílias portuguesas e madeirenses, não se importam de viver e governar na maior hipocrisia apontando para o passado e para outros responsáveis pelos seus delitos, como fazem as crianças e os adolescentes quando fazem maleitas e apontam o dedo ao irmão, ao amigo ou ao vizinho. Nesse contexto, continuam acenando com mais mentiras convencidos que o nosso povo é imbecil e que pode engolir mentiras 24 horas por dia e que por fim ainda lhes vai agradecer.
Cícero, à face do criminoso Catilina, inimigo da Pátria, perguntava: «Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?» - Ah, pois… É latim, antes aprendíamos latim (oi como sinto saudades das aulas de latim com o Padre Eleutério e o professor Mata). Como muitos hoje não aprendem latim, traduzo a pergunta: «Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?»
Assim sendo, queremos dizer categoricamente, até quando vamos andar com estas maroscas, esta safadeza de prometer e não cumprir… Até quando vamos andar a tolerar que alguns singrem na vida à conta de mentiras… Até quando vamos permitir políticas geradoras de pobres, marginais e excluídos sociais a perder vista… Até quando vamos deixar que tantos políticos venham e vençam deixando passar a ideia que não erram, que fazem e dizem tudo certo, quando afinal, têm pés de barro como todos os mortais e erram todos os dias como nós… Até quando vamos permitir que os insucessos da governação sejam atribuídos não aos directos responsáveis por ela, mas a outros que já estejam foram há muito tempo… Até quando vamos tolerar ser enganados todos os dias como se fossemos uns palermas que não vêm, não ouvem nem falam…
Até quando hipócritas abusareis da nossa paciência? 

sábado, 25 de julho de 2015

A liturgia da contemplação

Para o nosso fim de semana. Sejam felizes sempre sem prejudicar ninguém.
Uma pequena e solitária visão despontou
como morta da cor da cera sobre o chão
inerte de uma derrota sentida vinda de longe
e mesmo que se tenha buscado um sentido
alguém proclama a evidência da morte
porque os dias findaram o som para sempre.

O caminho que parecia eterno
foi agora desbravado pelo corte
pois cala fundo um silêncio cerce
que pelo amor que veio nas asas do olhar
no fim da tarde quando disserem todos
pela ganância não temos nada para dar.

Obviamente que tinham a feliz contemplação
mesmo que escondida no fundo do esquecimento
porque na penumbra medieval da liturgia de uma fé
sempre se descobre o valor espiritual da solidariedade
que os povos in illo tempore recitavam como piedosa oração.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 24 de julho de 2015

A Igreja e o ter

Um texto interessante sobre «a Igreja e o ter» de Fernando Calado Rodrigues no Correio da Manhã. Imperdível. Pode ser lido AQUI
Destaco o seguinte: «O que o Papa tem criticado é o sistema económico em que "o capital se torna um ídolo" e em que "a avidez do dinheiro domina todo o sistema socioeco-nómico", como disse na Bolívia.
Tem apelado a dizer não "a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir". Mas daí não se pode concluir que defenda um sistema, que, como a história demonstrou, para além de não garantir o acesso à propriedade privada, acaba por aniquilar as liberdades individuais.
Apesar de tudo, parafraseando Churchill, a economia de mercado é o pior sistema, excetuando todos os outros que foram experimentados. Sobretudo se, como propõe o Papa, for colocada ao serviço dos povos e não funcionar só em função do lucro».

quinta-feira, 23 de julho de 2015

A abundância se estamos com Deus no coração

Comentário à missa do próximo domingo XVII tempo comum, 26 de julho de 2015
Já ouvi por muitas vezes pessoas interpretarem de forma errada esta passagem bíblica em Efésios 4, 2 "suportai-vos uns aos outros". Muitos interpretam a palavra "suportar" como "tolerar" e chegam ao cúmulo de dizer: " Não gosto de fulano mas suporto-o porque Deus manda!"Suportar é algo que está muito além desta concepção. Significa sustentar, estar debaixo de..., sofrer, etc. Creio que o exemplo de Cristo com a cruz às costas ilustra bem e melhor define o que verdadeiramente significa, suportai-vos uns aos outros... Se nos remetemos ao Evangelho de Mateus, vamos encontrar uma alusão parecida com a de São Paulo, feita por Jesus. "Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes" (Mt 5.42). Nos tempos que correm este ensinamento tem muito que se lhe diga. E pela quantidade de gente que encontramos que não é capaz de ser fiel à palavra dada nem muito menos cumprir o que promete, estamos bem arrumados com este ensinamento…
Num tempo de tantos aldrabões e aldrabices, como viver isto? - Perguntamos. Ora vejamos, tantas vezes, ao sermos solicitados a ajudar certas pessoas necessitadas, inclinamo-nos a perguntar: "São cristãos? São sérios? O que fazem no dia-a-dia? Fumam cigarros? Passam os dias nos cafés? Vivem correctamente? Se não, por que os haveríamos de ajudar"? Obviamente, que se descobre cada vez mais a consciência de que se deve ajudar quem precisa e não quem merece. Senão…
Há uma velha alegoria judaica, mais ou menos neste teor. Um dia Abraão estava sentado à porta da tenda, como tinha por costume, esperando hospedar estranhos, quando viu, caminhando na sua direcção, um homem de cem anos, todo curvado e amparado no seu bordão, fatigado pelos anos e pela viagem. Abraão recebeu-o bondosamente, lavou-lhe os pés, fê-lo sentar-se e serviu-lhe a ceia. O ancião comeu, entretanto, sem pedir a bênção de Deus nem lhe dar graças. Ao ser-lhe perguntado por que não adorava o Deus do céu, o velho disse a Abraão que adorava unicamente o fogo, e não conhecia outro deus. Diante desta resposta, Abraão no seu zelo, ficou indignado a ponto de mandar embora o velho da sua tenda, expondo-o às trevas, aos males e perigos da noite, sem protecção. Deus chamou Abraão e perguntou-lhe onde estava o estrangeiro. Ao que o patriarca respondeu: "Atirei-o para fora, pois não Te adora". Deus então respondeu: "Eu tenho-o suportado por mais de cem anos, se bem que ele me desonre, e tu não o pudeste suportar por uma noite, sendo que ele não te causou nenhuma perturbação?" Tendo em conta isto, diz a história, Abraão chamou o homem de volta, foi hospitaleiro com ele, e proporcionou-lhe sábias instruções.
Nos nossos dias onde a fome assola algumas das famílias da nossa terra, porque o desemprego e a sobrecarga de impostos fazem-se sentir de forma cruel, torna-se imperioso que a nossa reflexão se centre na dimensão da partilha como único valor para criar e recriar a felicidade para todos. É esse o desejo, o sonho de Deus, deve essa a razão de ser da nossa vontade de lutar por um mundo mais inclusivo, mais igualitário, mais justo e mais feliz.

Faleceu o Cónego João Gouveia da Conceição

Morre um padre da Diocese do Funchal. Procuramos por todo o lado e não há uma foto. Uma palavra curricular. Uma nota que seja e o que anuncia a página da Diocese do Funchal é pobremente. (Quem não fala Deus não ouve, Diocese já publicou uma nota sobre o Cónego Conceição). Pode ser lido AQUI...
- Funeral amanhã na Igreja paroquial do Imaculado Coração de Maria. Sexta-feira, 24 de Julho, às 12h30. Seguindo depois para o jazigo da Diocese no cemitério de São Martinho.

(Anda algo muito mal por aqui)... Mas, quem sou eu? 
Em todo o caso paz à sua alma e que lá no lugar do Deus cheio de misericórdia interceda por todos nós e pela Diocese do Funchal para que os seus caminhos estejam mais de acordo com a força da fraternidade. Então, nos não dá pena que uma Diocese esteja reduzida à organização de festas e grandes comemorações... 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Férias

Uma reflexão sobre as férias que nos deve fazer pensar na graça e na dádiva que nos é dada quando podemos saborear as nossas merecidas férias...
Muitos dos nossos leitores amigos têm possibilidade de gozar alguns dias de merecidas férias.
O cansaço gerado pelo trabalho, pela corrida diária, pelo desgaste intelectual e físico, exige algum tempo de pausa, de recuperação de energias para melhor cumprir.
Uns deixam o ambiente poluído das cidades e vão até à verdura suave dos campos ou da montanha; outros bronzeiam-se cautelosamente nas praias; outros fazem férias andando, viajando, conhecendo terras do país ou do estrangeiro, enriquecendo os seus conhecimentos em monumentos e museus: "quem quiser saber, passear ou ler" - diz um adágio popular.
Se as férias, mesmo curtas, forem aproveitadas com serenidade, com mudança de actividade, a pessoa regressa rejuvenescida, tonificada, mais acolhedora, mais paciente, mais simpática e mais eficaz.
Mas há um mundo enorme de gente que não tem férias: ou porque trabalha por conta própria ou porque não tem dinheiro para usufruí-las.
Trabalhava num grande hotel um simpático carregador de malas: descia malas, transportava malas, subia malas, de manhã à noite. Dura vida...
Quando alguns turistas lhe perguntavam: - quando vai de férias?
Ele respondia, sorrindo resignadamente: - Eu vou todos os dias nas malas que carrego dos nossos clientes...
Tanta gente que, como este homem, apenas faz férias vendo partir autocarros, comboios ou aviões, continuando o seu trabalho desgastante sem parança para a sua família sobreviver.A felicidade das nossas férias não pode deixar-nos esquecer diante de Deus que nos acompanha todos aqueles que, por uma razão ou por outra, não têm possibilidade de refazer as suas forças para a sua caminhada difícil de todo o ano.                              
Mário Salgueirinho

Presidente do Governo internado de urgência

A Antena 1 Madeira acaba de informar que o Dr. Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira, foi internado de urgência no Hospital do Funchal. Vou à procura de notícias sobre a notícia. Na plataforma do Diário de Notícias nada, no Notícias Funchal também nada, no rápido amigo Luís Calisto na Fénix do Atlântico muito menos ainda, porque o seus Ks estarão ainda a dormir.
Mas, curiosamente, o Jornal I já tem online a informação que podem ler AQUI; jornal Público também já está AQUI e Diário de Notícias d eLisboa também AQUI...
Cada um que tire as suas conclusões. Em todo o caso, desejamos ao Dr. Miguel Albuquerque rápidas melhoras. 

terça-feira, 21 de julho de 2015

A bruxaria

Provavelmente, é dos capítulos mais curiosos e interessantes da história da Madeira...
A bruxaria ou feitiçaria na Madeira tem sido uma realidade transversal a toda a sociedade em todas as épocas históricas desde o seu povoamento. A figura mais marcante deste elemento acentuadamente característico da sociedade madeirense foi o famoso «Feiticeiro do Norte». Quem era o «Feiticeiro do Norte»? - Foi Manuel Gonçalves, que nasceu na freguesia do Arco de São George na década de 60 do ano de 1800, ficou mais conhecido com a alcunha de «Feiticeiro do Norte», é uma camponês analfabeto e sem qualquer grau cultural significativo, que aos 40 anos de idade, começou a revelar uma magnífica aptidão para a improvisação de trovas e cantigas populares, que alcançaram grande fama entre as gentes populares da ilha da Madeira.
Ao som de um rajão, numa melodia monótona e melancólica, cantava o Feiticeiro as suas composições em verso, que, pela sua originalidade e caráter pitoresco, sobretudo, quando o assunto se tratava com algum humor e apimentado quanto baste, despertava grande interesse e era avidamente escutado por grande número de populares. Este atrativo animava sobremaneira diversos arraiais na Madeira.
Porém, basta-nos salientar a feitiçaria e a bruxaria está impregnada na mentalidade do povo madeirense e comanda a vida quotidiana mais do que tudo aquilo que possamos imaginar.
A bruxaria e/ou feitiçaria, prende-se com tudo o que sejam artes mágicas que impliquem atitudes esotéricas, rezas a Deus, aos Santos, Nossa Senhora e no caso da magia negra ao diabo, para espantar todas as formas onde o mal esteja presente ou que possa vir a ser uma realidade, provocado pelos maus olhados e pela inveja.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Antes de falar é preciso ver todos os pontos da questão

O que acontece à Grécia é grave de mais para não estarmos bem cientes...
Após a leitura do fim de semana dos jornais, retenho e destaco aqui esta crónica de José Pacheco Pereira. Dada a sua relevância e importância, convém que estejamos bem cientes de quais são os mecanismos de pensamento que orientam hoje os líderes europeus e como os interesses partidários, pessoais e de grupo estão a comandar os destinos da Europa, contra as mais elementares regras democráticas e contra a vontade dos povos.
Ontem visualizei na RTP1 o belíssimo filme «Na terra de sangue e mel», filme escrito e realizado por Angelina Jolie, retrata uma história de amor destroçado pelo peso terrível que a guerra representa para as pessoas comuns, cujas vidas são profundamente abaladas por circunstâncias que não puderam prever e sobre as quais pouco ou nada podem fazer.
É desta guerra que se conta às portas da Europa uma brutalidade impressionante gerada pelo ódio entre povos, que se revela na mortandade indiscriminada, na violência sexual contra as mulheres e em toda a barbárie que o filme magistralmente descreve, mas que, obviamente, na realidade ainda deve ter sido mais brutal e cruel. 
A Guerra da Bósnia que arrasou e dividiu a Região dos Bálcãs nos anos 90, “In the Land of Blood and Honey” conta a estória de Danijel (Goran Kostic) e Ajla (Zana Marjanovic), duas pessoas em lados opostos de um brutal conflito étnico. Danijel, um militar Sérvio, e Ajla, uma prisioneira Bósnia presa em um campo de prisioneiros, se conheciam antes do conflito. Poderiam até ter sido felizes juntos, porém o conflito armado tomou conta de suas vidas, fez seu relacionamento ficar sombrio, tornou sua ligação ambígua e suas lealdades incertas. “In the Land of Blood and Honey” retrata o dano físico, moral e emocional que a guerra exerce sobre os indivíduos, e as terríveis consequencias que a falta de vontade política pode gerar em uma sociedade paralisada por um conflito. À medida que via o filme, pensava, com preocupação, não estamos livres de ver tudo isto outra vez na Europa ou às portas dela.
Para além do texto na íntegra, que pode ser lido AQUI, destaco o seguinte: 
«Muitas das propostas gregas logo de início eram bastante moderadas (recordam-se de como os fans de Dijsselbloem disseram que os gregos tinham vergado como Hollande…), mas a perigosidade evidente de um governo como o do Syriza obter qualquer ganho de causa era inaceitável para governos como o português e o espanhol, e era uma bofetada para os socialistas colaboracionistas. A questão nunca foi conduzir bem ou mal as negociações, mas o facto de, por imposição da Alemanha, se ter sempre decidido que não havia acordo com os esquerdistas do Syriza» (...).
«Os alemães e os seus acólitos tinham um programa de humilhação, com um acordo que foi afinal escrito pelo Syriza a branco, para eles o reescreverem a preto. O acordo com a Grécia, na realidade um diktat, só tem uma lógica: obrigar os gregos a engolir tudo o disseram que não desejavam. Não tem lógica económica, nem financeira, tem apenas uma lógica política de humilhação. Querias isto? Pois levas com um não-isto. Foi assim que foi feito o chamado acordo.
É uma exibição brutal de poder, que coloca a Grécia a ser governada de Bruxelas e Berlim, por gente que vai decidir os horários das lojas ao domingo, quem pode ter uma farmácia, como funcionam as leitarias e as padarias, e quem pode conduzir ferrys para as ilhas. Mas há mais: são revertidas decisões constitucionais de tribunais gregos e, como em Portugal se fez, mudanças legais para acelerar despejos, expropriações, falências e para retirar aos trabalhadores direitos sindicais e de negociação».
Tudo isto é seriamente grave...

sábado, 18 de julho de 2015

Quando o Verão aquece a esperança

Poema para o nosso fim de semana. Sejam felizes sempre sem prejudicar ninguém.
Um certo fogo parecia incandescer as pedras
na praia onde passeava calmamente os sentidos
que ao ritmo de cada passo
como que se revelava numa visão antiga
o desejo ardente da esperança segura
que na dureza dos calhaus redondos e lisos
aqueciam os pés da humanidade inteira.

Logo mesmo próximo dos amigos dormiam
todos os bichos do Verão sobre as folhas secas
que em cada passagem rastejante estalam
humildes a morte dentro de momentos
sobre o pó impiedoso da decomposição
deste ciclo vertiginoso do esquecimento.

Nisto o marulhar teimosamente
desde o momento inicial da criação
até agora ininterrupta audição e visão
vem e vai enrolado nas mãos dos anjos
que em nome do mistério fazem fecundo
o mar de cada instante se alguém diz não
ao medo antes do mergulho do corpo
que pela cabeça
emerge para dentro do mistério da água.
José Luís Rodrigues

quinta-feira, 16 de julho de 2015

A paz que precisamos para a construção do mundo

Comentário à missa deste domingo XVI tempo comum, 19 de julho de 2015 
Cristo é a nossa paz, proclama solenemente São Paulo. Não a paz podre do comodismo da vida ou a paz das pequenas orações que não libertam, mas oprimem ainda mais ou simplesmente aconchegam a consciência na quietude doo deixa andar porque para «mim vai dando», os outros que que façam pela vida, não estou para me aborrecer com o que não me diz respeito.
Jesus Cristo é a paz que provoca para o amor, para a solidariedade ou caridade. Uma paz que nos desinstala para o encontro dos outros como irmãos. Uma paz que nos faz mais sérios no nosso trabalho. Uma paz que se inquieta porque há fome no mundo. Uma paz que não tolera a mentira. Uma paz que não se deixa vergar à intolerância seja de que ordem for, de raças ou de religiões. Uma paz que sofre, porque as famílias estão divididas, o esposo não fala com a esposa e vice-versa, os filhos não falam com os pais e vice-versa. A paz de Jesus liberta o nosso coração para a alegria da festa e para a luta diária por um mundo melhor, onde todos possam ter o necessário para sobreviver, tanto os bens materiais, mas também os bens espirituais.
Neste encontro com Jesus Cristo, cada pessoa descobre uma dignidade mais elevada, isto é, "podemos aproximar-nos do Pai", por isso, deve depois agir segundo a sua condição, isto é, de acordo com a descoberta de um Deus que é Mãe e Pai, que se abeira de cada pessoa com o abraço maternal e paternal para fazer feliz cada homem e cada mulher que se deixa envolver pelo amor. Assim, estes filhos de Deus, não se deixam conduzir pelo egoísmo, pela violência e pela vingança.
Este encontro com Jesus é um encontro de salvação, uma glória maior que faz cada um ser feliz e não descansa enquanto todos os outros também não sejam verdadeiramente felizes.
Esta Boa Nova que Jesus Cristo no oferece não se coaduna com a violência das palavras e das atitudes que se tornam muitas vezes o pão-nosso de cada dia na vida de tanta gente.
Encontrar Jesus deve fazer com que a delicadeza seja um valor elementar no falar e no proceder. Jesus Cristo é um apelo para que o respeito seja alimento de cada dia nas nossas famílias, nas nossas escolas, nas empresas, na política e na sociedade em geral. Todas as perversidades deste mundo acontecem por uma única razão, a ausência de Paz no coração de cada mulher e cada homem, falta de respeito por Deus e amor ao próximo. A paz verdadeira só tem um nome para nós, tem o nome de uma pessoa, Jesus Cristo, o filho do Deus Vivo, que se fez carne, dimensão corporal em cada pessoa.
Esta Paz não se adquire com dinheiro, porque ela não está à venda nas prateleiras dos supermercados, mas virá pela humildade, bondade, fé, esperança, confiança que colocamos no nosso coração a partir dos ensinamentos que Jesus nos oferece. Esta oferta está ao alcance de todos, basta que cada um e cada qual sintam predisposição para o valor da vida e o sentido da vida a partir de Jesus Cristo. Ele é a paz do amor e da certeza de que a vida não se reduz à imperfeição deste mundo.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Era uma vez um velhinho que se chamava Jesus

Fazemos eco desta crónica de Marta Arrais publicada em IMISSIO, porque revela-se de uma ternura impressionante. Mais ainda nos dá conta do mistério da vida que se revelou no Papa Francisco e que levou para o céu esta mulher. É arrepiante e faz verter as lágrimas de comoção.
Descia a rua entre gritos de crianças, de jovens, de homens de barba por fazer, de mulheres de pele macilenta. Descia a rua apertada, sem medo de colocar um dos pés numa poça de lama. Descia a rua sem medo de nada. Os velhos ancoravam-se nas suas bengalas tristes e sorriam à possibilidade da sua visita. Vem lá Jesus. Diziam os mais pequenos entre risos que têm fome de pão e de outras coisas tão importantes como essa. Na favela ninguém tem casa porque a casa de um é a casa de todos. São esqueletos de casas. Prestes a ruir como a vida de quem espreita o caminho para ver se Jesus já lá vem. A avó da favela é velha o suficiente para ter visto nascer cada um dos que já são velhos. Empoleira-se em cada pé como um passarinho cansado da vida e de voar e apoia-se nas pernas que já não sente como suas. Se ao menos tivesse a alegria de ver Jesus. Só Jesus podia salvar aquela gente de uma vida tão sem saídas. Se ao menos Ele viesse e aterrasse naquele lugar. Se ao menos Ele viesse sorrir-lhe. Nem era preciso milagre nenhum. Nem pães aos milhares, nem talhas com vinho. Bastava o sorriso. Se Jesus viesse e lhe sorrisse teria o seu milagre. E Jesus vinha mesmo. Tinha ouvido as orações da avó da favela. Não te peço nada meu Jesus. Só que me venhas ver a mim e a todos estes filhos que não tenho mas que são meus. Talvez assim pudesses mudar a nossa vida. Se agarrasses na cara como quem me conhece de outras eras e me beijasses a testa como quem beija o Céu. Se ao menos viesses aqui ver-me! E veio. Vinha vestido de branco. Fazia lembrar um anjo daqueles que andam a ajudar no Céu. Tinha umas abas de lado, aquele vestido. Não estava engelhado. Ao peito uma cruz bonita, prateada. O cabelo branco adivinhava-se por baixo de algo que não era um chapéu. Era a promessa de um chapéu mas não era nenhum chapéu. Estava à espera de ver um Jesus barbudo, alto e moreno. De sandálias nos pés e de milagres nos braços. De traje empoeirado e de cabelo comprido e escuro. Mas não. Tinha andado enganada toda a vida. Jesus era um velhinho e chamava-se Francisco. Era esse o nome d’Ele. Chamava-se Francisco e tinha vindo vê-la a ela e aos filhos que, não sendo seus, sempre o tinham sido. Implorou aos pés que a levassem até mais perto. Eles obedeceram, esquecendo o cansaço de uma vida. Jesus segurou-lhe a mão velha e carcomida pela miséria e beijou-a como quem se ajoelha. Segurou-lhe a cara com as mãos e olhou para dentro dela, como se a conhecesse desde sempre. Deixou-se olhar, deixou-se ver. Deixou deslizar a mão direita pelo seu rosto engelhado e continuou o seu caminho. A avó da favela respirou fundo, cerrou os olhos e agradeceu com uma oração que fez chorar o Céu.
Obrigada Jesus por teres vindo ver-me. Olhaste para mim como quem olha para uma criança e, de uma vez só, amaste-me mais do que a vida alguma vez me amou.

Nota: A avó da favela morreu no dia seguinte, enquanto dormia. Antes de Jesus a levar para o Céu deixou-a sonhar o mais bonito de todos os sonhos. Que Jesus a tinha vindo visitar, que era um velhinho e que se chamava Francisco. 
Por Marta Arrais (15-07-2015)

segunda-feira, 13 de julho de 2015

A Europa chegou acordo com a Grécia

Acordo para a Grécia
Tomara que esta notícia suscitasse em nós uma profunda alegria. Mas, não é assim. Um acordo que tem um preço muito elevado para os povos. É um acordo contra a democracia, contra a vontade do povo manifestada claramente em eleições e a favor de um ainda maior empobrecimento do povo.
A notícia que fazemos eco AQUI tem frases horríveis de Angela Merkel. Por exemplo: «Temos de estar preparados para aceitar que a Europa tem a palavra final em certas áreas. Caso contrário, não seremos capazes de continuar a construir a Europa» ou ainda: «Não precisamos de abdicar de práticas nacionais, mas devemos ser compatíveis».
Esta «louca à solta» e os seus correligionários não percebem que a Europa unidade nasceu para permitir a prosperidade dos povos, viverem na solidariedade e construírem a paz? Há palavras que se ouviam antes que deixaram de fazer parte do vocabulário dos dirigentes europeus: solidariedade e subsidiariedade. É pena. 
Esta loucura do dinheiro centrado na vida dos povos vai levar a Europa para o fim. Não há volta a dar, porque os seus líderes não percebem que precisamos de uma Europa para os povos contra a loucura da finança. Por isso, neste acordo perdeu a Grécia que foi encosta à parede, perdeu a Europa e perdemos todos nós, porque voltaremos aos tempos da desunião europeia e quiçá às lutas fratricidas entre os povos europeus.   

sábado, 11 de julho de 2015

Alma amachucada

Para o nosso fim de semana... Sejam felizes sempre sem nunca prejudicar ninguém.
Está sentindo o momento
cada som e cada vibração
incandescente na mão
que o fogo consome em alguém
quando se ateia astuto
no tempo que não sabe de onde vem.

Somos sempre serenidade
se com os amigos
cantamos hinos e salmos
sobre as águas que emudecem nua  
a profundidade dos alicerces da vida
eternamente sobre a paisagem crua
como uma pedra.

Cada dobra que se faz bonito
alguma coisa insensível permite
uma visão por momentos encantada
porque não sabe nem sente que cada vinco
chora a alma sem sentido amachucada.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Catolicismo e Comunismo

Oferta de Evo Morales, Presidente da Bolívia: «Isto não está bem» - disse o Papa Francisco perante o «crucifixo comunista»...
A oferta de Evo Morales, causa alguma indignação pelo mundo fora, sobretudo nos meios mais arreigados catolicamente. Mas, esta cruz de Jesus sobre a foice e o martelo é uma réplica da cruz que utilizava, o jesuíta Luis Espinal, que o papa Francisco já rendeu homenagem nesta viagem à América Latina, junto do lugar onde foi encontrado o seu corpo a 21 de março de 1980. Apenas três dias depois do assassinato de Monsenhor Óscar Romero. São duas vítimas da violência da extrema direita, acusados de comunistas perigosos. Romero como todos sabem já foi beatificado e depois da homenagem prestada pelo Papa a Luis Espinal, pode ser que seja também em breve reconhecida a beatificação.
Mas, afinal do que se trata realmente? – Trata-se de reconhecer categoricamente, que os extremismos resultam sempre na barbárie, mesmo que ostentem à mais requintada e pura cruz com Jesus pregado.
Muitos se mostraram indignados com o Presidente Morales, face a tão provocatória oferta, que representa um regime totalitário que causou milhões de mortos em todo o mundo e que perseguiu os cristãos durante largas décadas. Tudo isto é bem verdade, porém, os indignados, nada dizem, porque não sabiam provavelmente como nós também não sabíamos, que estes símbolos tinha sido idealizados por um jesuíta, Luis Espinal.
Os mesmos indignados também não se lembram que durante séculos a cruz foi utilizada para a conquista, o massacre e a imposição de ideologias totalitária que foram a infelicidade de tantos povos neste mundo, a América Latina é um exemplo bem flagrante desta realidade.
Não será este o momento para pesar o que quer que seja, porque os pratos não chegarão para colocar sobre a balança as desgraças que em nome da cruz se foram praticando. Mais, teremos que manter a lucidez e reconhecer honestamente que Cristo esteve sempre acima de qualquer medida e nenhuma medida venceu o poder do amor que Jesus Cristo representa.
Neste sentido, ficamos com a ideia já expressa por Francisco, é preciso tirar a cruz do jogo político e de qualquer ideologia. O Papa acrescentou ainda que o Cristianismo não é uma ideologia, é uma forma de vida, é um modo de construir uma sociedade mais justa e mais solidária.
Os que estão indignados com a oferta de Evo Morales e que não são capazes de ver mais longe, deviam ver também que tantas vezes a cruz serviu para ser sinal de divisão, de desencontro, de morte e não de vida. Por isso, não precisamos agora de continuar concentrados num acessório, aliás uma repulsa que ficou bem evidente na expressão do rosto do Papa Francisco. A meu ver o regalo de Morales serve para que mais uma vez nos ponhamos a refletir sobre o quanto nos perdemos fora do essencial e muitas guerras tantas vezes rebentam precisamente porque a humanidade sempre dá mais valor à banalidade. Tudo contra todos os totalitarismos, mesmo que aparentem a vestimenta religiosa como capa para fazer valer a honestidade e das boas intenções. É disso que se trata. 

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Somos enviados para construir a vida

Comentário à missa deste domingo XV tempo comum, 12 de julho de 2015
A forma verbal da palavra "abençoar", significa, bendizer, louvor, exaltar e este emprego desta palavra é natural pelo que Deus realizou em favor da mulher e do homem através de Cristo. Lembre-se, a humanidade jamais deve ser louvada ou, exaltada. A verdade é esta, os salvos terão parte, desfrutarão da condição de exaltação de Deus por meio de Cristo.
Ser santo é o principal objectivo da eleição de nós por Deus. Somos eleitos de Deus individualmente e colectivamente, como povo ou nação. Porque o nosso Deus é comunitário (Santíssima Trindade: Deus Pai/Mãe; Deus Filho e Deus Espírito Santo), por isso, só pode salvar comunitariamente e desafia-nos constantemente para a comunidade, mas, quanto é difícil viver a comunidade, porque o egoísmo sempre toma conta de todos nós. A comunidade é o desafio maior que Deus nos oferece. O nosso mundo, precisa desta consciência cada vez mais, a crise de que todos falam, mas que só alguns sentem verdadeiramente, é fruto da perda do sentido da comunidade. Pensar nos outros devia ser a regra que comanda a vida da humanidade.
Mas, dada a nossa incapacidade para nos abrirmos ao bem comum, então, Deus no Seu plano, decidiu que nós seríamos seus filhos por intermédio do de Jesus Cristo. Por adopção somos filhos de Deus e com direito à sua herança inclusive. Que dom maravilhoso, Deus nos oferece, falta-nos tomar a sério esta nossa condição e fazer da nossa vida um dom para todos.
Nisto consiste "o mistério da Sua vontade": a doação da Graça de Deus para nós foi feita sem nenhuma ligação com qualquer mérito humano. É a oferta do grande amor que Deus tem por nós. Através do derramamento do Sangue de Jesus, alcançamos a redenção, o perdão dos pecados. A ira de Deus acabou, está sem efeito, porque sempre perdoada, a pessoa passa a viver uma nova vida, e este perdão é o início para que mais bênçãos venham a fluir na vida do cristão.
Assim, "Segundo a riqueza da sua graça, que Ele nos concedeu em abundância", ela foi mais do que suficiente para que recebamos o perdão dos pecados, a redenção e até a glorificação.
Deus revelou em Cristo, o Seu plano para connosco, para que por meio da Sua Vontade sejamos como Cristo e possamos partilhar com Ele todas estas bênçãos. O Papa Francisco convida-nos a lutarmos contra o individualismo para que a bênção de Deus nos abra aos outros e ao bem comum para travarmos o «generalizado individualismo» que nos separa e coloca uns contra os outros (cf. Evangelii gaudium, 99): «É precisamente a este mundo desafiador, com seus egoísmos, que Jesus nos envia, e a nossa resposta não é fazer-nos de distraídos, argumentar que não temos meios ou que a realidade nos supera. A nossa resposta repete o clamor de Jesus e aceita a graça e a tarefa da unidade» (de uma Homilia em Quito, Equador).
Por fim, fica-nos mais uma vez a certeza, Cristo é o centro de toda a criação (Cf. Rom. 8, 21; 1Cor 15, 28 e Col 1,16). Cristo é o Alfa e o Ómega (Cf. Pierre Teilhard de Chardin, Teólogo, que com esta visão melhor pensou o destino da pessoa). Em tudo isto está a nossa vida. Por Ele fomos criados, Nele vivemos e para Ele caminhamos.
Como vemos, tudo nesta vida ocorre com a vontade permissiva de Deus, quer sejam lutas que temos que enfrentar, sejam lágrimas de dor que temos de aguentar e sejam sorrisos de alegria que muitos momentos da vida nos trazem. Tudo ocorre com a permissão de Deus e isto tudo de acordo com o que ele já havia prefixado, decidido no início de tudo. 

quarta-feira, 8 de julho de 2015

O vendaval chamado Francisco

Boa... Muita mentalidade inquisitorial que ainda reina neste mundo e nesta Igreja terá que alterar-se para o dom da misericórdia.
Primeira Missa Campal em Guayaquil, no Equador (Video e leitura AQUI)
"Maria (Nossa Senhora) não é uma mãe reclamadora, e tampouco uma sogra que vigia para se regozijar com as nossas imperícias, erros e momentos de desatenção. Maria é simplesmente uma mãe. Ela está aí, atenta e solícita"

"O vinho é sinal de alegria, de amor, de abundância. Quantos dos nossos adolescentes e jovens percebem que em suas casas faz tempo isso falta. Quantos idosos se sentem deixados de fora da festa de suas famílias, em um canto", clamou o Papa. 
Vamos um pouco à nossa reflexão...
Francisco saiu de Roma, onde está o Vaticano encravado na velha Europa que briga entre si neste momento por causa de finanças, de dinheiro, não se importando nada com o bem dos povos, com os valores da solidariedade ou da subsidiariedade, os tais valores que foram a luz para fundar a união europeia.
O principal habitante da velha Roma, o Papa, foi para a periferia, esse lugar de excelência, eleito no início do seu pontificado para a concretização da missão. Aí está despido do luxo milenar dos vetustos corredores e das faustosas salas vaticanas. Está onde gosta de estar, junto dos pobres, acolhendo-os e abraçando-os, para dizer a toda a Igreja que os tempos do poder religioso que gerava privilegiados semi-deuses terminou. 
Não admira que muita Igreja Católica, a começar pelo Vaticano até à mais recôndita Diocese anseie pelo fim deste drama provocador chamado Francisco. Muitos querem-no longe, desejam ver o seu cadáver, para que tudo volte à normalidade dos dogmas anacrónicos desencarnados e aos títulos honoríficos que privilegiam amigos iluminados, sedentos de se passearem com as vestimentas ricas e luxuosas que impõem veneração e pretensa autoridade. 
Neste ambiente, é inquietante o silêncio estudado à volta de Francisco, mas esquecem os ávidos do poder religioso vertical que nada será como dantes e que esta «revolução» do Evangelho ao jeito de Francisco vai ser imparável e que nenhum vento contrário será mais forte que o vendaval do Espírito Santo, que tem o seu epicentro no Papa Francisco.
A força deste Papa está no povo, nos seus gestos simples cheios de carinho com os mais pobres e nas suas palavras que são mais vibrantes que o tom quase apagado da sua voz. 
As duas fotos que se publicam neste banquete são bem reveladoras daquilo que dizemos e da mensagem que tomamos de Francisco. Elas revelam onde está o seu alimento.
A primeira imagem cala e enfurece ainda mais os instalados nos principados dos serviços do Vaticano e nos palácios diocesanos de todo mundo.
A segunda foto mostra-nos Francisco para quem é que veio. O homem do fim do mundo, frágil em quase tudo o que é deste mundo, mas forte como o tempo, que nos revelou a senda dos grandes profetas em tantos momentos da história... Não fora o chronos e o que saberíamos de tantos gigantes como o profeta Isaías, Jeremias, Amós,  São Paulo, São Pedro e todos os outros que em cada tempo ou momento da vida deste mundo se deram por inteiros à transformação do mundo, movidos pela ação do Espírito misterioso da existência? - Francisco inscreve-se nesta estirpe.
Porém, do que sabemos deste mundo e da vida, já percebemos que Francisco convive com corvos e lobos, ávidos pelo seu fim, porque a sua palavra fere os seus ouvidos e a sua tradução do Evangelho desacomoda e condiciona sobremaneira o bem bom de muita vidinha eclesiástica refastelada no luxo dos palácios.
Mesmo sem o saber que conte o Papa Francisco com a nossa oração e com todo o apoio, para que se mais nada o proteger, que não lhe falta os braços amorosos da «misericórdia de Deus», que tanto gosta de proclamar para ser vivida por todos os que estão investidos de responsabilidade na «sua/nossa» Igreja. 

terça-feira, 7 de julho de 2015

Morreu a eterna primeira dama de Portugal

Um poema de Sophia lido por Maria Barroso...

Já parou para pensar nisto!?

«Ser forte...» não consiste de forma nenhuma na ideia que o mundo mais gosta, que é estarmos sempre na mó de cima e vencer sempre. Afinal, ser forte tem outra lógica que precisamos de entranhar com convicção e com a certeza que por aí teremos saborosas recompensas. Pensemos nisso...
Ser forte é amar alguém em silêncio
Ser forte é deixar-se amar por alguém que não amamos
Se forte é mostrar alegria quando não se sente
Ser forte é sorrir quando se deseja chorar
Ser forte é consolar quando se precisa de consolo
Ser forte é calar quando o ideal seria gritar a todos a nossa angústia
Ser forte é irradiar felicidade quando se é infeliz
Ser forte é esperar quando não se acredita no retorno
Ser forte é manter-se calmo no desespero
Ser forte é fazer alguém feliz quando se tem o coração em pedaços
Ser forte é ter fé naquilo que não se acredita
Ser forte é acreditar que em nossa fraqueza Deus opera o seu poder
Seja forte em qualquer situação!!!
SHALON (PAZ).
Autor desconhecido

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Obrigado, gregos

«Obrigado, gregos», escreve Pedro Marques Lopes no Dn. E continua: «Um povo que arrisca viver uma crise que fará parecer o que passou nos últimos anos, e mesmo na última semana, uma quase brincadeira não o faz de ânimo leve. Só pode haver uma razão: percebeu que o caminho que lhe estava a ser imposto não passava dum suicídio mais lento». Podem ler o texto na íntegra AQUI. E  nós, quando é que despertamos para a coragem...
Ao lado disto relembro a Encíclica do Papa Francisco, Laudato Si (Louvado Sejas): «A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Pensando no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da vida, especialmente da vida humana. A salvação dos bancos a todo o custo, fazendo pagar o preço à população, sem a firme decisão de rever e reformar o sistema inteiro, reafirma um domínio absoluto da finança que não tem futuro e só poderá gerar novas crises depois duma longa, custosa e aparente cura» (nº 189). Mas também aqui deve ser imperioso relembrar o Discurso do Papa Francisco no Parlamento Europeu, a 25 de novembro de 2014: «Manter viva a realidade das democracias é um desafio deste momento histórico, evitando que a sua força real – força política expressiva dos povos – seja removida face à pressão de interesses multinacionais não universais, que as enfraquecem e transformam em sistemas uniformizadores de poder financeiro ao serviço de impérios desconhecidos. Este é um desafio que hoje vos coloca a história». Tomem e deixem-se de coisas, porque o tempo para salvar os povos e a Democracia urge...