Texto que o
padre Tolentino Mendonça leu na Sé do Funchal, a propósito do jubileu de Bodas
de Ouro do Sr. Bispo D. António Carrilho e vários sacerdotes que durante este
ano de 2015 também celebram o seu jubileu de 25 e 50 anos de vida
sacerdotal.
Permita-me
Senhor D. António que, saudando muito cordialmente os senhores bispos
presentes, os reverendos colegas, as distintas autoridades, convidados e todos
e cada um dos cristãos que enchem, nesta celebração, a nossa Catedral, dirija a
Vossa Excelência Reverendíssima a primeira palavra.
Foi-me pedido que, em nome dos jubilados, expressasse
os nossos sentimentos que só podem ser, antes de tudo, de congratulação e
reconhecimento à Vossa pessoa, Senhor D. António. Como recorda a Presbyterorum
Ordinis, a Ordem do presbiterado torna-nos “cooperadores da Ordem do episcopado
para o desempenho perfeito da missão apostólica confiada por Cristo” (P.O. 2).
É, portanto, na estreita comunhão consigo e com o múnus eclesial que Vossa
Excelência Reverendíssima representa, que o nosso ministério encontra a sua
razão e o seu sentido. Em nome de todos, queria dizer-lhe o quanto nos
congratulamos pelas suas bodas de ouro sacerdotais, o quanto damos graças a
Deus pelo modo como Ele tem frutificado em si e através de si, e o quanto
agradecemos a generosidade fraterna de nos reunir a todos numa única
celebração, onde a beleza da comunhão eclesial pôde exemplarmente brilhar.
Estão aqui, presentes ou evocados, o Senhor D. Maurílio de Gouveia, que celebra
os sessenta anos sacerdotais, os colegas religiosos e diocesanos que celebram
setenta, cinquenta e vinte e cinco anos de ordenação, tanto os naturais da
Madeira, como o conjunto de jubilados que pertence ao grupo de companheiros de
curso de V. Ex.cia Reverendíssima.
Vários nomes são usados para descrever a vocação e a
missão do padre no interior da comunidade eclesial. Nós que fomos ordenados há
70, 60, 50 ou 25 anos quem é que somos? Somos os presbíteros, nome que vem já
referido no Novo Testamento, e que liga a nossa missão ao serviço das
comunidades como “o mais velho” (o presbítero) e com especial enfoque na
pregação do Evangelho de Deus, nosso “primeiro dever” (P.O. n.4). Mas a
teologia católica adoptou também o termo sacerdote, e isso também somos. O que
une e associa todos os baptizados é o sacerdócio de Jesus Cristo, o único
sacerdote. Pelo sacerdócio ministerial ordenado o sacrifício espiritual dos
fiéis consuma-se em união com o sacrifício de Cristo, em nome de toda a Igreja,
até que o próprio Senhor venha.
Popularmente na Madeira chamam-se aos padres vigários
e curas, termos muito expressivos em relação ao que o ministério ordenado
significa. Porque Cristo é o único mediador, o único vigário, o padre é chamado
a cultivar na sua vida “os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus” (Fl
2,3), a centrar-se existencialmente nele, para testemunhar um amor no qual
todos podem esperar. E, por isso, ele também é o cura, o cuidador, o agente
comprometido da pastoral que se faz serviço às feridas e às esperanças dos
homens e das mulheres de cada tempo.
Mas o nome por que somos mais chamados, o nome mais
quotidiano, é também, porventura, o mais simples e o mais belo. É o nome
“padre”, que quer dizer “pai”. Como acontece com os filhos, quando pensam ou se
dirigem ao seu pai não são precisos mais nomes. Pai é uma palavra maior que
qualquer nome próprio e que lhe traz uma iluminação funda, plena e inapagável.
Basta dizer pai e está tudo dito. O afecto, a relação, o dom, e até aquilo que,
tantas vezes, as palavras não conseguem dizer fica dito na palavra pai, ou na
palavra padre.
Ordenados há 70, 50 ou 25 anos quem é que somos? Somos
o António, o Maurílio, o Ângelo, o Damasceno, o Gil, o Bernardino, o Domingos,
o Janela, o Armindo, o Manuel Augusto, o Manuel Vitorino, o Adérito, o Manuel
Armando, o Manuel Couto, o Anastácio, o Paulo, o Bonifácio, o João Manuel, o
Bernardino, o Zeferino, o Manuel, o Tolentino. Somos esses, mas somos apenas
padres, apenas pais na fé que ajudam a crescer e crescem com o povo de Deus,
procurando em tudo ser, como recorda a bela expressão de Carta de Paulo,
“colaboradores da vossa alegria” (2 Cor 1,24). Rezem por nós. Muito obrigado.
José Tolentino Mendonça, Sé do Funchal, 28/07/2015
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