Comentário à
missa do próximo domingo XVII tempo comum, 26 de julho de 2015
Já ouvi por
muitas vezes pessoas interpretarem de forma errada esta passagem bíblica em
Efésios 4, 2 "suportai-vos uns aos outros". Muitos interpretam a
palavra "suportar" como "tolerar" e chegam ao cúmulo de
dizer: " Não gosto de fulano mas suporto-o porque Deus
manda!"Suportar é algo que está muito além desta concepção. Significa
sustentar, estar debaixo de..., sofrer, etc. Creio que o exemplo de Cristo com
a cruz às costas ilustra bem e melhor define o que verdadeiramente significa,
suportai-vos uns aos outros... Se nos remetemos ao Evangelho de Mateus, vamos
encontrar uma alusão parecida com a de São Paulo, feita por Jesus. "Dá a
quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes" (Mt
5.42). Nos tempos que correm este ensinamento tem muito que se lhe diga. E pela
quantidade de gente que encontramos que não é capaz de ser fiel à palavra dada
nem muito menos cumprir o que promete, estamos bem arrumados com este ensinamento…
Num tempo de
tantos aldrabões e aldrabices, como viver isto? - Perguntamos. Ora vejamos,
tantas vezes, ao sermos solicitados a ajudar certas pessoas necessitadas,
inclinamo-nos a perguntar: "São cristãos? São sérios? O que fazem no
dia-a-dia? Fumam cigarros? Passam os dias nos cafés? Vivem correctamente? Se
não, por que os haveríamos de ajudar"? Obviamente, que se descobre cada
vez mais a consciência de que se deve ajudar quem precisa e não quem merece.
Senão…
Há uma velha
alegoria judaica, mais ou menos neste teor. Um dia Abraão estava sentado à
porta da tenda, como tinha por costume, esperando hospedar estranhos, quando
viu, caminhando na sua direcção, um homem de cem anos, todo curvado e amparado
no seu bordão, fatigado pelos anos e pela viagem. Abraão recebeu-o
bondosamente, lavou-lhe os pés, fê-lo sentar-se e serviu-lhe a ceia. O ancião
comeu, entretanto, sem pedir a bênção de Deus nem lhe dar graças. Ao ser-lhe
perguntado por que não adorava o Deus do céu, o velho disse a Abraão que
adorava unicamente o fogo, e não conhecia outro deus. Diante desta resposta,
Abraão no seu zelo, ficou indignado a ponto de mandar embora o velho da sua
tenda, expondo-o às trevas, aos males e perigos da noite, sem protecção. Deus
chamou Abraão e perguntou-lhe onde estava o estrangeiro. Ao que o patriarca
respondeu: "Atirei-o para fora, pois não Te adora". Deus então
respondeu: "Eu tenho-o suportado por mais de cem anos, se bem que ele me
desonre, e tu não o pudeste suportar por uma noite, sendo que ele não te causou
nenhuma perturbação?" Tendo em conta isto, diz a história, Abraão chamou o
homem de volta, foi hospitaleiro com ele, e proporcionou-lhe sábias instruções.
Nos nossos dias
onde a fome assola algumas das famílias da nossa terra, porque o desemprego e a
sobrecarga de impostos fazem-se sentir de forma cruel, torna-se imperioso que a
nossa reflexão se centre na dimensão da partilha como único valor para criar e
recriar a felicidade para todos. É esse o desejo, o sonho de Deus, deve essa a
razão de ser da nossa vontade de lutar por um mundo mais inclusivo, mais
igualitário, mais justo e mais feliz.
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