Oferta
de Evo Morales, Presidente da Bolívia: «Isto não está bem» - disse o Papa Francisco perante o «crucifixo comunista»...
A oferta de Evo Morales, causa alguma
indignação pelo mundo fora, sobretudo nos meios mais arreigados catolicamente.
Mas, esta cruz de Jesus sobre a foice e o martelo é uma réplica da cruz que utilizava, o jesuíta
Luis Espinal, que o papa Francisco já rendeu homenagem nesta viagem à América
Latina, junto do lugar onde foi encontrado o seu corpo a 21 de março de 1980.
Apenas três dias depois do assassinato de Monsenhor Óscar Romero. São duas
vítimas da violência da extrema direita, acusados de comunistas perigosos.
Romero como todos sabem já foi beatificado e depois da homenagem prestada pelo
Papa a Luis Espinal, pode ser que seja também em breve reconhecida a
beatificação.
Mas, afinal do que se trata realmente? –
Trata-se de reconhecer categoricamente, que os extremismos resultam sempre na barbárie,
mesmo que ostentem à mais requintada e pura cruz com Jesus pregado.
Muitos se mostraram indignados com o
Presidente Morales, face a tão provocatória oferta, que representa um regime
totalitário que causou milhões de mortos em todo o mundo e que perseguiu os
cristãos durante largas décadas. Tudo isto é bem verdade, porém, os indignados,
nada dizem, porque não sabiam provavelmente como nós também não sabíamos, que estes
símbolos tinha sido idealizados por um jesuíta, Luis Espinal.
Os mesmos indignados também não se
lembram que durante séculos a cruz foi utilizada para a conquista, o massacre e
a imposição de ideologias totalitária que foram a infelicidade de tantos povos
neste mundo, a América Latina é um exemplo bem flagrante desta realidade.
Não será este o momento para pesar o que
quer que seja, porque os pratos não chegarão para colocar sobre a balança as desgraças
que em nome da cruz se foram praticando. Mais, teremos que manter a lucidez e
reconhecer honestamente que Cristo esteve sempre acima de qualquer medida e
nenhuma medida venceu o poder do amor que Jesus Cristo representa.
Neste sentido, ficamos com a ideia já expressa
por Francisco, é preciso tirar a cruz do jogo político e de qualquer ideologia.
O Papa acrescentou ainda que o Cristianismo não é uma ideologia, é uma forma de
vida, é um modo de construir uma sociedade mais justa e mais solidária.
Os que estão indignados com a oferta de Evo Morales e que não são capazes de ver mais longe, deviam ver também que tantas
vezes a cruz serviu para ser sinal de divisão, de desencontro, de morte e não
de vida. Por isso, não precisamos agora de continuar concentrados num
acessório, aliás uma repulsa que ficou bem evidente na expressão do rosto do
Papa Francisco. A meu ver o regalo de Morales serve para que mais uma vez nos
ponhamos a refletir sobre o quanto nos perdemos fora do essencial e muitas
guerras tantas vezes rebentam precisamente porque a humanidade sempre dá mais
valor à banalidade. Tudo contra todos os totalitarismos, mesmo que aparentem a vestimenta religiosa como capa para fazer valer a honestidade e das boas intenções. É disso que se trata.
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