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domingo, 31 de julho de 2016

A eficácia do poder do silêncio

A força e o poder do silêncio. Foi que o que demonstrou o Papa Francisco ao caminhar de braços caídos e rosto carregado nos campos de concentração nazis na Polónia (Auschwitz). Um momento brilhante e uma grande lição para o mundo e para a nossa vida. 
Andei a pensar à medida que contemplava o vídeo, para quê tanto ruído, tanta ganância e tanto egoísmo na nossa vida, se a morte e sofrimento nos rodeiam e estão tão quotidianamente presentes como o pão para a boca? Para que que serve enjaularmos a vida em tanta coisa de fútil como se fossemos eternos neste mundo? Para que serve tanto barulho por causa de coisas nenhumas que não garantem futuro e eternidade? 
O mundo anda perdido com tanta desigualdade e injustiça, cabe a todos nós pensarmos que a vida pode ser diferente e que se quisermos podemos fazer sempre o melhor possível para nós e para os outros. 
Que o "discurso silencioso" do PapaFrancisco nos seduza e nos anime a fazer o melhor que há em nós para a paz e a fraternidade universal. Espero, sinceramente, que todos os jovens que participaram na jornada mundial da juventude em Cracóvia tragam estes nobres sentimentos no seu coração para o porem em prática nos seus respectivos países. A humanidade precisa, nós precisamente todos desta segurança.

sábado, 30 de julho de 2016

A impossibilidade

Para o nosso fim de semana. Sejam felizes sempre sem nunca prejudica ninguém.
Há uma quietude estranha
no corte cerce de uma laranja
a fazer gomo a gomo
o prazer de um ponto.

Quando me concentro
nesse sangrar impiedoso
choro por vezes
todas as maldades do mundo
porque devia com a alma
encantar a noite.

Mas foi assim que inseguramente
beijei a pedra fria
na calçada nua
nos canais do ser em cada momento. 
José Luís Rodrigues

quinta-feira, 28 de julho de 2016

A minha leitura da queda do Papa Francisco

O Papa Francisco tropeçou e caiu durante a missa solene no santuário polaco de Czestochowa, foi a imagem da queda das mais comentadas deste 28 de julho de 2016.
As pessoas importantes e notáveis também caiem. O Papa caiu. Nós também caímos todos os dias. Nós caímos, levantamo-nos, sacudimos o pó, esfregamos as mazelas, curamos as feridas se existirem e seguimos com a vida. É assim que deve ser sempre. O Papa também fez isso e seguiu com a cerimónia, porque a vida continua. Também connosco tem que ser e deve ser sempre assim. Somos todos humanos, o Papa também é humano como nós. Ainda bem que o Papa não sofreu nada de grave e está bem.
É uma imagem impressionante, porque cheia de simbolismo e com uma mensagem que vale por mil palavras. Por isso, o Padre António Vieira disse isto de forma magnífica: «Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos quando fazemos. Nos dias que não fazemos, apenas duramos». Nesses dias que duramos podem não existir quedas (ou o «apenas durar» por si é uma enorme queda), mas, seguramente, se fazemos caímos sempre, não importa que assim seja, importante, é que nos levantemos e que, se for o caso, sejamos sempre mãos amigas que ajudam a levantar para que a vida continue com determinação.
A lição do Papa Francisco, valeu como sinal e símbolo da vida que se faz todos os dias no meio de tantas quedas, que requerem coragem para nos levarmos sempre para que a vida continue bonita e solene, como seguiu bonita e solene, a missa do Papa Francisco no dia 28 de julho de 2016. É isto que fica para a história e é mais que suficiente.

Deixar a cobiça do mundo para dar lugar à vida partilhada

Pequena reflexão para o domingo XVIII tempo comum. Pode servir a quem habitualmente vai à missa, mas não só...
Ser rico aos olhos de Deus não dá prestígio, não faz ser famoso, não passa na televisão, no fundo, não dá resultado nenhum ser rico aos olhos de Deus, porque não vemos que a sociedade dê muita atenção às pessoas que procuram a fortuna que agrada a Deus.
Os bens deste mundo só servem para a realidade de Deus, quando nos humanizam e nos tornam cada vez mais conscientes da ética dos valores que devem preencher todas as nossas acções. Por isso, Jesus remata com o seguinte apelo: "...guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens". Estas palavras são muito interessantes porque pervertem toda a lógica humana, mais empenhada na posse de muitos bens.
As riquezas deste mundo servem para muita coisa desta vida terrena, é verdade. Mas para o lugar de Deus não servem absolutamente para nada se não forem colocadas ao serviço da justiça e do bem comum. Pior ainda se servem para tomar uma vida desregrada, carregada de vaidade e no gastar desmedido sendo um insulto para quem tem pouco ou nada tem para saciar a sua fome. Não podem os bens que temos serem insultuosos em relação a tantas pessoas que contam as míseras receitas mensais para terem as suas contas em dia e pouco resta para a comida e educação dos filhos. Esta vaidade brada aos céus quando acontece por causa dos bens.
O importante da vida, segundo a lógica de Jesus, não é ter muitos bens materiais, mas acumular muitos tesouros de bens espirituais com uma vida digna em favor da felicidade para todos os que nos rodeiam.
A riqueza material, nada diz a Jesus. Porque manifestamente não se quer comprometer com as partilhas dos bens humanos. Reparemos na pergunta que Jesus coloca perante a pessoa que lhe pede ajuda na partilha dos bens: "Amigo, quem me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?"
Muitas vezes conhecemos amigos e familiares, que trabalharam muito durante a sua vida e lutaram o mais que puderam para terem a sua pensão ou a sua fortuna. Gastaram a vida toda a perder a saúde para ganhar dinheiro e bens, no fim sem qualquer gozo da vida ou morrem ou passam o que resta de tempo neste mundo a gastar o dinheiro para ter saúde. Nesse estado, o seu corpo está limitado e até por vezes Deus chama-os para si. Nós pensamos, este homem ou esta mulher agora estava bem, tinha boas condições para viver uma vida boa, mas morreu justo agora que a vida lhe corria de vento em poupa.
A vida é uma surpresa constante que não depende de nós. O reino de Deus é a melhor fortuna que cada um pode e deve ter no seu coração.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

O mundo está em guerra

É disto que se trata…

No avião que transportou à Polónia o Papa Francisco, ao comentar a actualidade mundial disse com poucas palavras o essencial do estado do mundo em que vivemos hoje:
- «Repete-se hoje muito a palavra insegurança mas a verdadeira palavra é guerra. O mundo está em guerra, aos bocados, mas em guerra como dissemos há tempos. Houve uma guerra em 1914 com métodos próprios. Depois a guerra de 1939 até 1945, e agora esta. Não é tão orgânica mas é guerra». 

Nem eixo do bem nem do mal

É de sermos mais e melhor humanidade que precisamos...
«Eixo do mal» foi uma expressão retomado pelo então presidente dos Estados Unidos da América, por causa da guerra do Iraque. Se tivermos em conta que muita da desgraça em que está mergulhado o mundo, deriva dessa guerra, alimentada por mentiras descaradas dos políticos, achamos por bem trazer à liça esta expressão para pensar um pouco sobre o bem e o mal. Ou seja, para pensarmos o quanto estamos a entrar num tempo onde a banalidade do mal entrou nas nossas vidas. Ele é quotidiano. Ele é um «eixo» tão frequente que parece não passar hora ou minuto que não se oiça falar de tragédias levadas a cabo por esse propensão para o mal que a humanidade carrega.
O bem identifica-se com a ideia de progresso e com a harmonia, que o desenvolvimento económico e democracia proporcionam. Esta motivação é suficiente para lutar contra o «eixo do mal», que é sinónimo de monstruosidade e atraso social e económico. Esta ideia absurda que reduz o mundo e a vida a dois eixos ao lado de motivações religiosas resultam em barbaridades. As cruzadas - europeus armados com armas potentes e com a força da verdadeira fé entraram pelo Oriente dentro e desbarataram tudo - foram um exemplo claro de que as motivações religiosas resultam em barbaridades contra os valores da tolerância e do respeito pela diferença.
Porém, resta salvaguardar que nada disto é bíblico. Nem o «eixo do bem» nem o «eixo do mal» encontram sentido na Palavra bíblica. Cristo é um adepto da não violência e está sempre, pacificamente, embora de forma radical, contra tudo o que seja diabólico, aquilo que separa da verdade e da vida. Deste modo, percebe-se que Deus é o criador de tudo e que não faz sentido a doutrina dos «eixos». Tudo é criado por Deus, o bem e o mal coexistem lado a lado. O criador combate o mal para o salvar e redimir não para o suprimir ou sanear.
A posição da Igreja Católica face a todo o género de violência é categórica, considera ser imoral e ilegítima. Mais se repara que alguma doutrina católica que defende a «guerra justa» ou de «legítima defesa» não entra nas palavras de nenhum Papa dos últimos anos. No fundo, a visão religiosa radica hoje na ideia, depois da experiência milenar, de que a guerra não deve ser opção, por causa da destruição, morte, pobreza e sofrimento que provoca, fazendo tantas vítimas inocentes. Violência gera violência. Guerra gera mais guerra.
Hoje em qualquer lugar do mundo – defendem os verdadeiros judeus, os verdadeiros muçulmanos, os verdadeiros budistas e os verdadeiros cristãos – que a morte de um só homem é a morte da humanidade. E, obviamente, que o verdadeiro Deus repudia todas as formas de morte.  

terça-feira, 26 de julho de 2016

Ser avó e avô dos tempos de hoje

26 julho, Dia dos Avós... Uma feliz lembrança.
Os meus avós Maternos
Ponto prévio, já não tenho nenhum... É assim a vida!
Os meus avós paternos
Esse tempo em que a vida permitiu que os tivesse durante alguns anos, sei que os avós eram muito diferentes dos de hoje. A casa dos avós era o lugar onde se ia e se estava sempre, era a casa mais falada na nossa casa, porque eram a referência, os velhinhos queridos e aqueles «grandes» pais dos nossos pais e nossos segundos pais.
Hoje o ser avó, deve ter ainda mais valor para os netos, penso! O tempo das famílias desestruturadas, casadas e recasadas ou monoparentais, onde há tantos filhos com mais do que um pai e mais do que uma mãe, outros com um só pai ou uma só mãe e outros ainda sem nenhum, os avós devem ser referência segura, onde reside serenidade, paz e vida espiritual. Não quero com isto generalizar, obviamente. Apenas e só ler alguma realidade que nos assiste.
Por isso, os avós hoje são a mão amiga, os segundos pais imprescindíveis, porque perante a azáfama dos pais ou ausência deles em muitas horas na vida dos filhos, os avós são a palavra amiga, as pessoas lembram que é preciso levar à Igreja, à catequese, à escola, ao clube de futebol, à dança, ao conservatório e às muitas actividades que as crianças e os jovens hoje encontram para se ocuparem na escola e fora dela. Há avós que me fazem imensa impressão, deviam estar no merecido descanso, mas andam num corrupio cotidiano que lhes dá vida e recompensam-se com o que fazem aos netos com aquilo que não fizeram aos seus filhos. São uns valentes.
Os avós hoje devem ser lembrados como um valor muito importante para o futuro da humanidade e para a estabilidade da sociedade. Quem os tem não se esqueça deles nunca e que valorizem o que recebem deles, mesmo que seja às vezes fora da moda ou saia dos parâmetros da vida social que em cada tempo o poder da comunicação dita ser ultrapassado. Os avós hoje são uma luz que não se deve apagar, mas antes valorizarmos porque iluminam as famílias, a sociedade e mundo. 

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Avisos paroquiais para rir com vontade

Pode acontecer a qualquer um... Em tempo de descanso e de férias sabe bem coisas que desopilem e façam rir.
Segue a lista das nove pérolas!
Divirtam-se!
1- Para todos os que têm filhos e não sabem, temos na paróquia uma área especial para crianças.
2- O torneio de basquete das paróquias vai continuar com o jogo da próxima quarta-feira. Venham nos aplaudir, vamos tentar derrotar o Cristo Rei!
3- Na sexta-feira às sete, os meninos do Oratório farão uma representação da obra Hamlet, de Shakespeare, no salão da igreja. Toda a comunidade está convidada para tomar parte nesta tragédia.
4- Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda para beneficência. É uma boa ocasião para se livrar das coisas inúteis que há na sua casa. Tragam os vossos maridos!
5- Assunto da catequese de hoje: Jesus caminha sobre as águas.
Assunto da catequese de amanhã: Em busca de Jesus.
6- O coro dos maiores de sessenta anos vai ser suspenso durante o verão, com o agradecimento de toda a paróquia.
7- O mês de novembro finalizará com uma missa cantada por todos os defuntos da paróquia.
8- O preço do curso sobre Oração e Jejum não inclui as refeições.
9- Por favor, coloquem suas esmolas no envelope, junto com os defuntos que desejem que sejam lembrados.
In ChurchPop

sexta-feira, 22 de julho de 2016

O terror faz doer os pés

Para o nosso fim de semana. Sejam felizes sempre sem prejudicar ninguém. 
A luz cintilou
devotadamente
- Já somos tantos cravados de balas
que já não sei contar!
Mas mesmo assim,
continuo crendo que as lágrimas
podem tudo contra o ódio.
Outra vez o terror faz doer os pés
porque a flor da vida murchou.
José Luís Rodrigues

O silêncio de Deus

Reflexão sobre a Palavra de Deus deste domingo XVII do Tempo Comum. Pode servir a quem vai à missa, mas não só...
O que verdadeiramente não serve para nada, é viver no egoísmo desenfreado e na loucura do conflito com os outros para conseguir muitos bens e muita riqueza. O importante é procurar para si e para os outros o «pão de cada dia». A sobrevivência não depende da procura louca, mediante o egoísmo e a inveja para ter muita fortuna, mas depende da vivência dos valores do reino de Deus, isto é, na procura diária pela subsistência sem prejudicar ninguém. E mesmo assim, com tudo o que fazemos, deve estar presente a principal preocupação, estamos edificar o mundo e a vida para o bem dos nossos semelhantes. É a preocupação com a justiça e o bem comum
De que vale ter muita riqueza se isso muitas vezes custou a perda da saúde, a exploração dos outros, a falta de escrúpulos em relação à aptidão para o roubo, a mentira foi o outro «pão» de cada dia, a luta agressiva contra os outros foi o caminho mais assumido, a irresponsabilidade tornou-se a lógica mais vivida, a destruição crua dos bens da natureza que pertencem a todos tornam-se um hábito irremediável, o viver sem pensar em valores e centrado apenas na dimensão material da existência comanda a vida de muita gente... A humanidade anda desarranjada, doente, violenta e semeia o sofrimento e a morte por todo o lado.
A oração, segundo Jesus, pode libertar-nos de tudo isto com a ajuda de Deus e faz-nos ter consciência que afinal o que precisamos para ser felizes basta «o pão nosso de cada dia». Nisto consiste se revê o pensamento de Platão: «O que o homem pode fazer de melhor para a sua felicidade é pôr-se em harmonia constante com Deus por meio de súplicas e orações». Ainda há tantos que têm vergonha de parar para rezar ou simplesmente procurar no silêncio as melhores palavras e atitudes para urdir a vida no essencial. Deve ter sido isso que fez pensar Leonardo da Vinci com esta ideia: «as mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar». Deve ser por isso que na oração sincera o olhar de Deus fala tanta!

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Para quê ir à catequese?

Está na altura de serem confrontados os pais católicos com a pergunta sacramental sobre a catequese para o ano que vem para os seus filhos. Alguns são os avós a se preocuparem com isso. Outros a escola católica onde eles são matriculados para seguirem na escola. Outros a comunidade/paróquia onde se inserem…
Só faltou o autor do texto referir que é importante matricular as crianças, adolescentes e jovens nas paróquias, para que cresçam com uma dimensão de família alargada, que pode ser a paróquia onde residem ou outra. Compreendo que seja mais fácil aos pais que os seus filhos tenham a catequese dentro da escola durante a semana, como mais uma hora no já preenchidíssimo horário escolar, para que no fim de semana tenham mais tempo para as atividades desportivas ou para passearem juntos. Nada disto é de somenos e é importante também. Porém, essa opção pode ser cómoda, mas não permite que os filhos se deem conta da família comunitária, da dimensão espiritual nossa vida e muito menos se darão conta da dimensão litúrgica/ritual que nos abre ao transcendente. Só a prática dos sacramentos, pode despertar para o seu sentido e importância para vencer na vida todos os obstáculos que ela sempre vai apresentar. Encontrei o seguinte texto de um catequista que reflete perfeitamente sobre as razões para que as crianças e os jovens participem na catequese. É importante que quem tem filhos tenha atenção a este texto e pense um pouco no assunto…

Muitas pessoas podem perguntar: “Qual a importância de ir à catequese? É sempre a mesma coisa! O importante é a escola…”
Encontramos muita gente que já nem faz a pergunta, nem espera a resposta. Toma logo a decisão de se afastar da catequese, ou de não levar os filhos. A preocupação é puramente social: primeira comunhão, crisma para ser padrinho.  Há quem diga que é sacramental. Eu digo social, porque se fosse sacramental exigia uma fé comprometida, o que não parece ser o caso.
Então para que serve afinal a catequese? Para aprender a doutrina. E o que é isso? Leis? A cumprir um regulamento, que muitos, sem conhecer e entender a fundo, consideram desactualizado?
Tenho algum receio da educação que hoje se transmite. Não porque ela esteja de todo errada. Era bom que na vida só pudéssemos fazer o que nos apetece, e que se procure satisfazer as vontades todas das crianças, sem as fazer pensar. O meu receio fundamenta-se nesta inquietação: os pais/sociedade preparam as crianças como se tudo corresse bem e não fossem encontrar nunca dificuldades na vida. Mas quem as prepara para as dificuldades? Quem as prepara para não se deixarem traumatizar pelos obstáculos e sofrimentos? “Quem as ensina a interiorizar, a usar as dores para crescer em sabedoria, a trabalhar as perdas e frustrações com dignidade, a agregar ideias, a pensar com liberdade e consciência crítica, a romper as ditaduras intelectuais, a gerir com maturidade os pensamentos e emoções nos focos de tensão, a expandir a arte da contemplação do belo, a dar sem contrapartida do retorno, a colocarmo-nos no lugar do outro e a considerar as suas dores e necessidades psicossociais”?
Na catequese, pretendemos revelar a pessoa que nos ensinou isso de uma maneira extraordinária e inovadora: JESUS. E isso faz-se em diversos anos, para acompanhar a evolução intelectual e afectiva das crianças. Quando se descobre este Jesus, ficamos apaixonados e libertos. Crescemos interiormente. Encontramos força, energia, para vencer, aprender, crescer. Que nós, catequistas, nunca nos esqueçamos de mostrar a beleza de Deus. Não a ofusquemos com doutrinas frias. Elas serão melhor aceites e interiorizadas, depois de nos termos apaixonado por este AMIGO. E então, a doutrina não será uma prisão, mas apenas orientações para crescermos de forma equilibrada e feliz, com saúde mental e espiritual.
In: https://partilhar.wordpress.com/2009/10/02/porque-ir-a-catequese/

Peço-lhe que deixe César ocupar-se do que de César

Finalmente surgira uma questão de contas com um caseiro e o Abade de Varzim tomara a defesa do caseiro.
— Padre — dissera o Dono da Casa —, eu pensava que o seu ofício era ocupar-se de rezas e não de contas. Os problemas morais pertencem-lhe. Os problemas práticos são comigo. Peço-lhe que deixe César ocupar-se do que é de César. Eu na sua igreja não mando: só assisto e apoio. O problema que estamos a discutir é meu, é do mundo, é um problema material e prático.
— Da nossa própria fome — respondeu o Padre de Varzim — podemos dizer que é um problema material e prático. A fome dos outros é um problema moral.
Porque ele costumava dizer: «Todo o poder vem de Deus». E pensava que um padre devia por isso respeitar todo o poder estabelecido e respeitar o dinheiro e a importância social, expressões do poder. E considerava também inadmissível que um homem rejeitasse a herança dos seus para alinhar ao lado dos miseráveis. Um homem de boas famílias se vai para padre deve ser Bispo, Núncio ou até Papa. Mas pelo menos Monsenhor. Nunca pároco de aldeia numa serra.
A atitude do padre novo chocava-o como uma traição.
Mas o pior de tudo era a missa de domingo. Sempre o Dono da Casa ouvira distraído em Varzim os sermões de domingo. Eram sermões que falavam de paciência, resignação e esperança num mundo melhor. Sermões que não lhe diziam respeito. De certa forma, para ele nenhum mundo podia ser melhor, e desejava por isso ir para o Céu o mais tarde possível. De maneira que, enquanto os pregadores falavam, tudo o distraía. Distraía-o a pintura do tecto, distraía-o a criança que chorava. Daí passava para a lembrança do sulfato ou da vindima ou da venda do vinho. Pensava nos seus negócios.
Mas agora já não se podia distrair. Agora o padre novo falava da caridade. E a caridade de que ele falava não era a conhecida e pacífica praxe das comedidas esmolas regulamentares. Era um mandamento de Deus solene e rigoroso, uma palavra nua de Deus atravessando o espírito do homem.
- Nada lhe agradava mais do que dar de comer a quem não tem fome. Sentia-se reinar sobre as loiças e sobre os convidados. 
Sophia de Mello Breyner, in o Jantar do Bispo

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Pelo sonho é que vamos sempre

O célebre discurso, "I Have a Dream", que Martin Luther King proferiu há mais de 50 anos, a 28 de agosto de 1963, no Lincoln Memorial, em Washington, ficou para a historia porque não era um slogan nem muito menos ruído ensurdecer de uma campanha política eleitoral. Era o ecoar de uma vontade ou de um desejo comunitário contra a não violência e pelo amor ao próximo de uma sociedade inteira que queria a abolição do racismo, mas o sistema, estava de tal forma montado sobre a cruel injustiça, que não permitia que fosse levada à prática essa abolição. Exactamente como vivemos hoje. 
Estamos amarrados às forças obscuras, provavelmente, secretas, mas que dominam tudo e todos. Repare-se o quanto são belos os discursos, os slogans e as promessas dos políticos candidatos às eleições, porém, logo depois de eleitos lá se foram os sonhos, as promessas e todo o bem em favor do povo que se proponham levar a cabo. Agora outros valores se levantam - e não são os do bem comum por sinal, mas os da máquina dos poderosos que sem piedade sangram os pobres e os indefesos. Tudo ao contrário do sonho bem consistente numa prática concreta do bem para todos do pastor Martin Luther King. 
Só mesmo a vontade de Deus com a nossa vontade para transformarmos os sonhos em realidade contra o idealismo inconsistente e lutando muito para que a fé no futuro não seja o ópio que faz exorcizar a realidade de hoje. Que todos juntos sonhemos com uma sociedade mais justa, mais fraterna e amiga onde todos têm lugar e vez, porque ninguém é perseguido por causa da cor da pele que tem, da religião que professa, das opções sociais, culturais e políticas que realiza... 
No fundo, sonhamos e desejamos uma sociedade onde todos passam e estão, porque se sentem úteis e que sem cada um individualmente, todos seremos mais pobres e menos humanidade. Pelo sonho é que vamos, como dizia o poeta Sebastião da Gama, pois, então, que comece já, todos somos humanidade e se este sonho não nos comanda a vida, muito de nós anda mal, muito mal.

domingo, 17 de julho de 2016

A lucidez de um bêbado

Divirtam-se. Um domingo feliz.

 Um bêbado estava sentado no jardim quando de repente vê um funeral lá ao fundo da rua e pensou "já agora vou ver o que é aquilo", quando chegou ao pé do funeral gritava a viúva:
- Ai mê crido, vais para onde não há televisão, vais para onde não há camas, vais para onde não há luz, vais para onde não há feijão nem arroz, vais para onde não há vinho... E tu que gostavas tanto, vais para onde não há nada. Vira-se o bêbado e diz:
- Oh, Oh, queres ver que vão levar o homem para a minha casa?

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Incursão divina

Singelo tributo a todas as vítimas do horror que comanda o mundo nestes dias que são os nossos... Serve para o nosso fim de semana. Sejam felizes sempre sem prejudicar ninguém!

A clareza no pensamento faltava
como falta o azul na hora do céu encoberto
quando morrem as palavras no horror
que este poema chora 
na sombra das árvores frondosas
que os homens plantaram 
nas tardes do amor incandescente
se formos iguais como Deus
na glória da amizade. 
José Luís Rodrigues

quinta-feira, 14 de julho de 2016

O silêncio do universo tem a sua voz no ser humano

Nas errâncias desta vida, encontramos segredos, que se desvelam em palavras orquestradas em frases magníficas que dizem tudo sobre o tudo. Aqui este tudo é Deus. Esse, de quem nada pode ser dito, pensado, sonhado... É sempre o Outro, o inominável, a Alteridade por excelência. O Presente e o Ausente. O Próximo e o Transcendente... Numa curta, mas muito humana expressão: "o fiel amigo invisível".
Nesse caso, fico-me na sublime frase de José Saramago, que define o máximo sobre Deus e o que nós somos diante Dessa realidade que Deus é... Diz assim o autor de o "Ensaio sobre a cegueira":  "Deus é o silêncio do universo e o ser humano é a voz que dá sentido a esse silêncio". Sublime, se tivermos em conta que Saramago se considerava ateu. Disse-o em altas parangonas imensas vezes. Para nós nada nos perturba e aprendemos pouco ou muito com todos, se tivermos um coração do tamanho do universo ou tendo em caso desta reflexão, do tamanho de Deus...
Pois então somos levamos a constatar que os ídolos, hoje, parecem desfrutar de uma saúde excelente, enquanto Deus parece suscitar menos fascínio no homem moderno. No entanto, são "ídolos mudos", que não podem salvar o coração da humanidade na sua mais recôndita necessidade de amar e ser amado. 
Quantas imitações, quantas distorções do verdadeiro rosto de Deus! Dizem-nós que a crise moderna, é a crise de Deus, o eclipse de Deus, a ignorância de Deus, a aversão a Deus... Entre muitos outros dizeres acerca do vazio em que nos deixamos enredar.
Muita da esperança puramente humana está a encontrar decepção quando busca respostas fora de Deus. Porque a humanidade subordina a sua vida e toda a sua beleza. A vida deve ser livre, solta de ditames mercantis, não alimentada e subjugada a poderes deste mundo, sejam objectiváveis ou a poderes que interessam a grupos e pessoas individualmente. A idolatria em todas as vertentes é um veneno tóxico, tão ao mais corrosivo que todas as forças da natureza. Se o proceder anda assim, idolatrado ou envenenado, estamos longe da felicidade. 
Fica o alerta para que fiquemos conscientes desta tragédia, para procurarmos encetar caminhos que nos humanizem de verdade, nos façam perder a vergonha de ter Deus no coração e sermos a voz do silêncio do amor deste Deus que nunca falha na Sua justiça.

Marta e Maria: a inquietação e a melhor parte

Comentário ao domingo XVI tempo comum. Pode servir a quem vai habitualmente à missa, mas não só...
Os textos da missa deste fim de semana têm como figuras principais duas mulheres. Duas irmãs amigas chegadas de Jesus. Duas discípulas e apostolas de Jesus, não tenho dúvidas nenhumas. Vamos pensar nas duas atitudes que ambas revelam, diferentes em cada uma. 
Antes de mais permitam-me relembrar previamente que o discípulo é aquele que se senta aos pés do Mestre para o escutar e contemplar. Obviamente, que alguns considerarão logo que esse papel foi realizado logo por Maria. Porém, os tempos ensinaram que o discípulo também é aquele que é enviado e que se empenha atarefadamente em todas as lides pastorais que o discipulado implica. Obviamente, que alguns considerarão que Marta reúne todas estas condições. Conclusão, ambas são discípulas. Ambas são apostolas. 
Marta
Marta é o apóstolo, encarregado da comunidade a quem Jesus aplica estas palavras: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas». É ela inquieta com muitas coisas, a trabalhar incansavelmente pelo bem dos outros, para que não lhes falte o pão, a roupa e as condições necessárias para estarem bem e em paz. Marta, a irmã de Lázaro, personifica todos aqueles e aquelas que lutam diariamente por um mundo mais justo, casas condignas e todos os ambientes onde nós precisamos de passar e de estar na construção da existência neste mundo.
Marta, a mulher discípula ou apostola de Jesus, é aquela que recebe Jesus em casa, confiando-lhe do melhor que tem, por isso, o ministério de Marta reflecte o que todos deviam fazer, inquietar-se e atarefar-se para que nas suas ações acolham a Cristo e O sirvam, e que O assistam nos seus membros, os doentes, os pobres, os viajantes e os peregrinos. Não gosto de ler Marta como aquela que escolhe a pior parte e que tantos defendem ter levado uma repreensão de Jesus.
Maria
Maria, é a discípula ou apostola, que se sentou aos pés do Mestre, que escuta e contempla. Nada igualmente de somenos. Mas também importante e cheio de valor para a vida e para mundo. 
Enquanto uns realizam as atividades indispensáveis, Maria permanece em repouso, conhece «como é bom o Senhor» (Sl 33,9). Imagino esta mulher sentada aos pés de Jesus, com um coração maior que o mundo, apaixonada por Jesus, cheia de paz, sem Dele desviar os olhos, e como brilham os seus olhos, atenta às suas palavras, maravilhada com o Seu belo rosto e com as suas divinas palavras: «És o mais belo entre os filhos do homem; nos teus lábios se derramou a graça» (Sl 44,3). Um momento onde se pode considerar, como é tão belo Deus entre os seus anjos na sua glória. 
Maria vestida de alegria, maravilha-se, dando graças, escolheu a melhor parte. São felizes as mãos que trabalham, mas igualmente, são felizes os olhos que contemplam e os ouvidos que ouvem as palavras doces do amor que animam a vida para a felicidade. Podemos todos sermos felizes igualmente se ouvirmos o bater do coração de Deus, nesse lugar do silêncio onde convém estarmos presentes em jubilosa esperança. A vida faz-se no trabalho, mas também se faz no silêncio contemplativo.
Marta e Maria, são a nossa vida e mais ainda, são as duas faces da nossa existência se assumimos a condição de cristãos discípulos e apóstolos do Mestre Jesus de Nazaré.

terça-feira, 12 de julho de 2016

O momento de saber falar e de saber calar

Frequentemente encontramos pessoas que fazem questão de apregoar aos quatro ventos que não têm medo de dizer olhos nos olhos, cara a cara tudo aquilo que deve ser dito. Obviamente, que é preferível encontrar pessoas assim do que outras que se desenrascam com a sonsice ou com as curvas contorcionistas da cobra ou com a manha sorrateira da raposa. 
Porém, é preciso que alguma atenção e frieza nos assista, porque nem tudo se deve dizer sempre assim de qualquer modo e nem tudo devemos calar só porque não queremos ficar mal ou porque morremos de medo. Sobre o falar demais a Bíblia diz: "No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os seus lábios é prudente." (Provérbios 10, 19) ; "Porque da muita ocupação vem os sonhos, e a voz do tolo da multidão das palavras." (Eclesiastes 5, 3). Lembremos as palavras de Jesus: "Porque a boca fala do que está cheio o coração." Uma língua tagarela revela um coração inquieto. 
Na realidade as situações podem complicar ainda mais a nossa posição. Não é fácil discernir cada uma das situações.  Certo é que uma pessoa que não pode ficar calada não está tranquila, por mais que fale sobre paz e de harmonia com a natureza. O conteúdo, que e como derrama pela boca revela como está o coração. Porém, o Papa Francisco deixou bem claro: “Se tens alguma coisa contra o irmão, di-lo cara a cara. Algumas vezes vão acabar ao soco, não há problema: é melhor isso do que o terrorismo da bisbilhotice".
O apelo radica no seguinte, fazer a devida ponderação para não calarmos quando devemos falar e se falamos que procuremos as melhores palavras para que a honestidade prevaleça como luz da sinceridade. Mas que nunca nos calemos por causa do medo ou em nome dos interesses pessoais e do comodismo. Por fim, com esta me fico em profundo silêncio: "Cala-te ou então diz coisas que valham mais que o silêncio" (Pitágoras). 

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Um David e um Golias dos nossos tempos

Após um período longo em que as nossas atenções estavam todas concentradas na crise, na austeridade, nos impostos, em falências, ajudas aos bancos, a troika, as sanções, o desemprego e a pobreza, veio uma festa grande, uma grande vitória da nossa seleção de futebol sobre a poderosa França. O músculo foi vencido. Mais uma vez se prova que não é a dureza prepotente e convencida que vence. Mas a tenacidade, a persistência, a coragem, a humildade e, acima de tudo, o silêncio face às provocações e à maledicência. Mais uma vez nos tempos modernos, um David venceu um Golias. Portugal venceu o Euro 2016 enfrentando a mais que convencida França na final.
Obviamente que vibrei, emocionei-me com a alegria da vitória e com as lágrimas de raiva do Ronaldo. Mas emocionei-me ainda mais com o entusiasmo e a festa que fizeram lá longe os nossos irmãos de Timor Leste. É bom que nos sensibilizemos com este facto tão curioso e tão interessante. 
Está feita a festa e agraciados os jogadores campeões, com o grau de comendadores pelo Presidente da República. Pois merecem e mau seria se o país não lhes concedesse esse gesto tão importante para eles e para nós como povo ou nação. 
Necessitávamos muito de um acontecimento que nos reencontrasse como nação, como povo. Veio pelo desporto, pelo futebol. Não tem nada de mal, é o que move os povos dos tempos de hoje, antes isso que a guerra ou os conflitos que conduzem ainda a mais pobreza, sofrimento e morte. 
Porém, depois de tudo isto, é preciso também que a pátria se concentre em outras causas. E como são tantas a solicitar a união de todos, a começando pelas instituições políticas, religiosas e civis! Todos somos convocados a acreditar lutando militantemente contra o desemprego, a pobreza, as desigualdades e tudo o que nos faz perder a dignidade vivendo subjugados aos interesses obscuros dos poderosos que comandam este mundo. As causas são tantas e nãos podemos esquecê-las.
Chegou a hora de considerar que juntos só não vencemos as batalhas se não quisermos. Chegou a hora de quebrar os desprezíveis sentimentos da inveja e daquela terrível intriga que se alimenta quotidianamente uns contra os outros, que empurra o país para traz. Chegou a hora de não termos vergonha do nosso passado e dos valores humanos, cristãos-católicos que fazem a nossa história como demonstrou destemidamente o treinador Fernando Santos. Chegou a hora de dizermos basta às irresponsabilidade políticas que sem ética têm conduzido o nosso país para a pobreza e a desigualdade. Chegou a hora de sermos um povo simples, humilde, mas unido na luta por uma nação onde o seu povo é feliz porque não deixa ninguém jogado na berma do caminho...
Assim terá de ser, para que o desporto não seja também mais uma alienação, como em tantos momentos foi a religião. Se alguém adormeceu para já, é bom que desperte, porque a festa está passando, mas, os problemas e as dificuldades, logo tocarão estridentes na crueza do quotidiano. 

"Quero agradecer a Deus Pai..."

Mais palavras para quê... Permitam-me apenas isto, obrigado Mister Fernando Santos pela grande vitória da nossa seleção perante a França, obrigado por ter enchido muito o nosso ego que andava tão violentado nos últimos anos e pelo enorme, solto, sem vergonha, assumido e sem medos o seu testemunho de fé... São assim os grandes líderes. 
Eis o texto do nosso timoneiro:
"Em primeiro lugar e acima de tudo, quero agradecer a Deus Pai por este momento e tudo aquilo da minha vida. Deixar uma palavra especial ao presidente, dr. Fernando Gomes, pela confiança que sempre depositou em mim. Não esqueço que comecei com um castigo de oito jogos pendentes.
A toda a direção e a todos os que viveram comigo estes meses. Aos jogadores, dizer mais uma vez que tenho um enorme orgulho em ter sido o seu treinador. A estes e aqueles que aqui não puderam estar presentes. Também é deles esta vitória. O meu desejo pessoal é ir para casa. Poder dar um beijo do tamanho do mundo à minha mãe, à minha mulher, aos meus filhos, ao meu neto, ao meu genro e à minha nora e ao meu pai, que junto de Deus está certamente a celebrar.
A todos os amigos, muitos deles meus irmãos, um abraço muito apertado pelo apoio mas principalmente pela amizade. Por último, mas em primeiro, ir falar com o meu maior amigo e sua mãe. Dedicar-Lhe esta conquista e agradecer-Lhe por ter sido convocado e por me conceder o dom da sabedoria, perseverança e humildade para guiar esta equipa e Ele a ter iluminado e guiado. Espero e desejo que seja para glória do Seu nome."

sábado, 9 de julho de 2016

Jardim da Serra

Para o nosso fim de semana. Sejam felizes sempre sempre prejudicar ninguém.
É profunda a lembrança
na crista da encosta
que se sobe a passos largos
pelo cansaço do sonho
que o olhar alcança glorioso
na ceia última do Senhor.

Só assim posso pensar
que os pinheiros daquela serra
que me viu nascer
estavam plantados dentro de mim.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Portugal na final do Euro 2016

Não será pera doce enfrentar a França. 
Vença quem for mais eficaz, desejando que seja a nossa seleção. É isso que nos importa como portugueses.
Porém, que vença a determinação, a convicção e a garra. Para que depois transpareça a ideia da fraternidade que o nosso mundo tanto precisa. Destes momentos não almejamos sorte ou azar, fé ou a falta dela. Sonhamos que a festa, o convívio, a fraternidade e a alegria aconteçam como sinal daquilo que a humanidade deve construir todos os dias. Por isso, não gosto da expressão que se utiliza por aqui e por ali, vamos a eles, é a hora da "vingança"... O desporto tem que ser necessariamente festa, convívio. É aqui que Deus entra no desporto. Quando ele (o desporto, particularmente, o futebol) é corrupção e nele todas as expressões de um mercantilismo exagerado, como vendas e salários milionários, então, estamos perante o pior que a humanidade é capaz. Aqui Deus não entra. 
Para domingo na final do Euro 2016 desejamos que seja uma grande festa e que vença Portugal. Maus começos bons acabamentos. Precisamos deste alento. 

quinta-feira, 7 de julho de 2016

O fogo estalou nas mãos do mais fraco

Diz o povo que "a corda quando rebenta, é sempre para o lado mais fraco". Os brasileiros dizem que "pão de pobre quando cai, cai sempre com a manteiga virada para baixo". Aqui onde se escreve "corda" ou "manteiga", neste caso, seja escrito "fogo".
Há imensos anos que o procedimento quanto aos foguetes para os arraiais era este. Nunca nenhuma autoridade se incomodou que assim fosse. Devia ter agido há muito, se considerarmos as graves razões que justificaram este aparato todo. Também não deixo de reconhecer que era um risco e um perigo sério guardar fogo na sacristia. Porém, se fosse por isso as autoridades há muito tempo que deviam ter posto cobro à situação. Acho grave que nunca o tivesse feito.
Mas foi preciso que as "chatices" surgissem entre a paróquia do Arco da Calheta e a empresa que beneficiou com o negócio e que em vários anos procedeu da mesma forma como se procedeu este ano. Mas este ano é outro a fazer o negócio, toca denunciar, em nome da segurança e do crivo da legalidade. É bonito e comovente o serviço que se a presta ao bem comum. Mais uma vez se prova que as formalidades legais são boas quando se referem aos outros se a sua violação nos beneficia, bico calado. Típico do manhoso que habita este "cantinho do céu". Sempre pronto a sacrificar o pastor quando se tresmalha do rebanho.
Assim, não sendo esse tal a beneficiar do negócio, toca a denunciar, por vingança, sublinho por vingança e não por qualquer desejo de que sejam cumpridas as normas legais e os princípios elementares da segurança. 
Neste âmbito, é bonito que lá viessem as zelosas autoridades actuar, inquirir, ouvir e constituir como arguidos os "perigosos" criminosos, entre eles um padre, que por esse facto é um bom rastilho para fazer rebentar a girândola e as autoridades competentes fazerem o seu número. Não admira por isso o estardalhaço e o empolamento na comunicação social, porque, mais uma vez, há um "criminoso" à solta que é um padre. Admiro-me muito com as políticas seguidas pelas autoridades que fiscalizam o fogo. 
É preciso não esquecer a enorme quantidade de foguetes ilegais guardados nas casas de família desta terra e que ninguém se importa que rebentem por qualquer um quando ganham as equipas maiores do futebol nacional. As leis são para todos e que nenhuma autoridade a aplique com dois pesos e duas medidas nem muito menos para fazer números em benefício deste ou daquele. 

Os próximos são todos os que passam

Palavra amassada
Reflexão para este domingo XV Tempo Comum. Pode servir para quem vai à missa habitualmente e não só...
O meu próximo não tem nome, pode ser qualquer pessoa que necessite do meu apoio, da minha amizade e da minha solidariedade ou amor compassivo. Todos são nossos próximos.
O maior mandamento, segundo Jesus, consiste em amar a Deus com tudo aquilo que nos constitui como mulheres e homens e ao próximo como a nós mesmos. Este reforço que Jesus nos pede, confirma de novo toda a Sua vida e todas as palavras que pronuncia sobre o Reino de Deus, que se revela uma realidade bem represente no nosso coração e que se testemunha nas palavras, nos gestos e atitudes que expressamos.
A parábola que Jesus conta sobre o homem roubado e maltratado pelos salteadores, que depois é socorrido por um samaritano é sintomática e mostra claramente que não podem existir fronteiras ou condições para viver o principal mandamento de Deus. Esta história não teria nada de especial se o homem caído ao chão fosse ajudado por um judeu. Os samaritanos e os judeus não se entendiam de forma nenhuma. Um e outro povo viviam de costas voltadas, eram inimigos. Mas não é por isso, que Jesus não deixa de descobrir atitudes extraordinárias vindas de samaritanos, esses outros que o narcisismo racial às vezes alimenta.
A história do bom samaritano é já muito famosa e está bem presente no nosso coração. Será que falta a cada um de nós descortinar verdadeiramente o que está por detrás desta mensagem que Jesus nos quer transmitir? - Penso que faltará um pouco de entendimento, para acolhermos esta mensagem como uma luz que orienta a nossa acção no quotidiano da vida. Afinal, quem será o nosso próximo? - Os nossos próximos são todos os irmãos que se cruzam connosco na vida do dia-a-dia.
Hoje, os apelos ao acolhimento são imensos. Os nossos próximos estão dentro da nossa casa, no lugar do nosso trabalho, na sociedade em geral que se vê cada vez mais confrontada com uma enorme variedade de pessoas vindas de todas as partes do mundo. Outras vezes somos nós que nos deslocamos e desejamos o acolhimento, o respeito. Neste sentido, o Papa Francisco tem denunciado a violência contra as pessoas que atravessam o mar Mediterrâneo à procura de melhores condições de vida na Europa, morrem muitos deles nessa travessia, porque as condições de navegação são miseráveis, os exploradores deste tráfico humano também existem e são causadores da morte e do sofrimento. Não podemos ser indiferentes com isto e devemos chorar por tantos mortos anónimos e solitários embora amontoados sobre montanhas de carne humana, façamos o que pediu o Papa,  tomemos consciência da crueldade que ceifa a vida à mão de toda a injustiça em que está montado este mundo.
Este apelo ao respeito pelo outro, que é o nosso próximo, sem olhar a nacionalidade, família ou outra condição, não deve existir quando se trata de rebentar com todas as forma de egoísmo xenófobo e assim dar largas ao acolhimento e amor aos que se cruzam connosco.
O «nosso» amor a Deus expressa-se sempre na medida em que somos capazes de um amor que se concretiza naqueles que passam na nossa vida, mesmo que não fiquem por muito tempo no nosso coração. Não fazer acepção de pessoas é a medida do amor. Um desafio grande, claro! Mas, não há outra forma de ser cristão, segundo a medida de Jesus de Nazaré.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

A crueza das palavras denunciam a violência

"As primeiras são trapos, as segundas são guardanapos". - Frase proferida por uma extraordinária mulher, mãe e esposa. 
Saiu assim em contexto de violência doméstica. Para designar que muitos homens normalmente tratam assim as mulheres, a primeira é um trapo a segunda um guardanapo. Nunca tinha ouvido semelhante coisa, sempre pensei que as pessoas não se consideram assim de forma tão redutora e ainda mais longe de mim o pensamento que a loucura do amor num casal não esteja pautada pelo enamoramento constante, pela admiração quotidiana e pela busca diária do bem do outro. Melhor será sempre escutar: "não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti". Na vida matrimonial e na família este ditado popular encaixa que nem uma luva e deve ser sempre lembrado no diálogo do casal e na educação dos filhos.
Mas vamos ainda aos trapos e aos guardanapos. As situações de sofrimento fazem com que muitas mulheres nunca experimentem a felicidade, o prazer na comunhão dos corpos convenientemente e tudo o que faz parte da vida em casal. O matrimónio para muitas mulheres foi e é um verdadeiro calvário. Foram predestinadas, educadas, formatadas - como se diz hoje- para serem trapos à mão de quem não percebe que o valor da própria existência completa-se na promoção e respeito pela vida do outro, ainda mais se for esposa ou esposo. 
Felizmente, os nossos dias vão revelando uma maior consciência de que ninguém deve ser trapo ou guardanapo na mão de ninguém. As pessoas libertam-se, procuram outros caminhos e outras pessoas, porque acreditam serem melhores para edificarem a sua felicidade. Merecem e estão no seu direito inalienável. Por isso, quem sabe, talvez, uns depois de perceberem o quanto é a amarga a perda e o grande tesouro que não souberam valorizar, reencontram outra relação, que tratam melhor ou são forçados a tratarem melhor do que a anterior. Daqui veio o contexto para que fosse proferida esta expressão: "as primeiras são trapos, as segundas são guardanapos".
Porém, não deixo de considerar que a meu ver, tanto o trapo como o guardanapo, são violentos e rebaixam as pessoas. Em nenhuma situação da vida ninguém é mais do que ninguém e todos são pessoas que merecem tratamento igual e respeito igual quando à assunção dos seus deveres e direitos. Por isso, nem trapos nem guardanapos quando falamos de pessoas, ainda mais se estamos perante um ambiente de vida em casal ou familiar. 

terça-feira, 5 de julho de 2016

Os números do horror nos nossos dias

Rol do horror dos últimos tempos. É caso para dizermos: "ponhamos as barbas de molho", perante alguma humanidade a regressar à barbárie dos tempos da pedra lascada nunca se sabe...
Tudo se precipitou com a chamada, feita em 21 de maio, por um porta-voz do EI, Mohammed al-Adani, para um Ramadão de sangue. Ele chamou os seus seguidoresà matança de civis, proclamando que "ninguém está inocente". Desde então os ataques sucedem-se com alta intensidade. Basta percorrer o diário das notícias que já quase nem aparecem como notícia: explosão de carros-bomba em Bagdad, Falluja, Kerbala e Bassora, no Iraque; massacre de civis e militares em Deir ez-Zour, na Síria, e em Sirte, na Líbia. E mais, muito mais: 11 mortos em ataques, em 6 e em 21 de junho, na Jordânia; 20 civis mortos no ataque que em 24 de junho destruiu pelo fogo uma aldeia de Kot, no Afeganistão; 43 militares massacrados na caserna de Mukalla, no Iraque; sete civis mortos no ataque, em 27 de junho, à aldeia cristã de Al-Qaa, no Líbano. Depois houve, na passada terça-feira, o massacre no aeroporto Ataturk de Istambul e, neste fim de semana, as matanças em Dacca e em Bagdad.
Fixemo-nos no último ano e meio: primeiro foi a matança no Charlie Hebdo, em Paris. Depois passaram ao Magrebe: massacres no Museu do Bardo e na praia de Sousse, na Tunísia. Veio o ataque múltiplo de novembro, em Paris. E o terror nos aeroportos de Bruxelas e de Istambul. Pelo meio, muito mais chacinas cruéis, na Síria, no Iraque, no Paquistão, na Líbia, no Iémene, no Egito, no Líbano, na Jordânia, na Nigéria, no Mali e nas Filipinas. Houve o ataque a um café em Sydney. Também a matança, é certo que ainda por esclarecer, na Pulse, uma discoteca de Orlando, nos EUA.
Por Francisco Sena Santos

segunda-feira, 4 de julho de 2016

O Papa Francisco face aos ultraconservdores

A frase que marca o Pontificado do Papa Francisco. É desconcertante o desprendimento e liberdade do Papa face às investidas dos ultraconservadores que não descansavam perante a mensagem e acção do Papa Francisco. Diz ao jeito de Jesus na passagem do Evangelho de S. Marcos que nos relata o seguinte: «João contou a Jesus: “Mestre, vimos um homem que, em teu nome, estava expulsando demónios e procuramos impedi-lo; pois, afinal, ele não era um dos nossos”. “Não o impeçais!”- ponderou Jesus» (Mc 9, 38-39). Para diante é o caminho...
O Papa Francisco respondeu a una pregunta del periodista sobre su relación con los «ultraconservadores de la Iglesia».
«Ellos hacen su trabajo y yo hago el mío. Yo quiero una Iglesia abierta, comprensiva, que acompañe a las familias heridas. Ellos le dicen que no a todo. Yo sigo mi camino sin mirar al costado. No corto cabezas. Nunca me gustó hacerlo. Se lo repito: rechazo el conflicto. Y concluye con una sonrisa amplia: los clavos se sacan haciendo presión hacia arriba».

Tradução: «Eles fazem seu trabalho e eu, o meu. Eu desejo uma Igreja aberta, compreensiva, que acompanhe as famílias feridas. Eles dizem não a tudo. Eu continuo firme pela minha estrada, sem olhar para os lados. Não corto cabeças. Nunca gostei de fazer isso. Reitero: rejeito o conflito. E conclui com um grande sorriso: os pregos arrancam-se fazendo pressão para cima».

Padre irrita presidente

O Dr. Albuquerque passou-se com o Pe Ricardo, Pároco da Santa do Porto Moniz, o lugar onde se realiza a feira agropecuária da Madeira, é o que diz o Diário de Notícias de hoje com o seguinte título na notícia que nos dá conta do facto: "Padre irrita Albuquerque: 'o Salvador está no céu'". A seguir refugiou-se na propaganda para contrariar as palavras do Pe Ricardo, que se limitou  a ser eco das reais preocupações dos agricultores e das dificuldades que este sector atravessa. Nada que fira o Evangelho ou que não esteja dentro da missão do ser padre/pastor. 
O Dr. Albuquerque não negou nada do que o padre disse, mas revelou ter mau estado de alma quando algo escapa à propaganda oficial. 
"O Salvador está no céu", é meia verdade, mas na terra estão homens e mulheres, uns que passam mais necessidades do que outros e outros bem instalados na vida porque a sorte nunca lhes falta. E mais ainda, na terra está quem assume responsabilidades sobre os demais e que deve estar sempre pronto para corresponder ao seu dever. Quem não quer ser lobo não lhe vista a pele, mas também não deseje que os cordeiros sejam sempre todos cegos, surdos e mudos. 

Tempos estapafúrdios ideias esquisitas

Imagem Google
A notícia surgiu assim por estes dias: «ONU afirma que levar crianças à igreja é “violação dos direitos humanos”». Acha estranho? Pasmou com tamanha esquisitice? - Pois é, segundo a avaliação do grupo de observadores da ONU que visitou o Reino Unido, há preocupação com o facto de crianças serem obrigadas a participar nos serviços religiosos e de cultos. O relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, considera que frequentar a igreja poderia ser uma «violação dos direitos humanos». Portanto, recomendaram que o governo «revogue as disposições legais sobre a frequência obrigatória nos encontros de adoração colectiva».
Estamos perante diante de algo deveras preocupante e exagerado. Um tempo dominado pelo barulho constante, a abundância de apetrechos técnicos que contribuem demais para a não reflexão, tudo gira à volta da ideia do tudo feito é que é bom, a perda da dimensão do transcendente dominou as sociedades que hoje vivem apenas o presente intensamente, o esvaziamento do mistério é um dos sinais dos tempos bem concreto e com isso advêm tantos contra valores que conduzem a humanidade para o desrespeito da dignidade humana, a morte é o fim de tudo, o sofrimento não tem sentido, é uma derrota injusta, a vida ou é fácil ou então não serve para nada… Matar-se ou matar está banalizado.
Não querendo ser exaustivo com a caraterização dos tempos hodiernos, aqui deixo estes elementos, mas poderíamos continuar a elencando muitos mais bem reveladores da pobreza espiritual que vivemos hoje. Por isso, consideramos que o organismo da ONU, se quisesse ser sério na sua análise devia ter em conta quais os problemas e desafios que assistem as sociedades do Reino Unido neste momento, que devem ser idênticos aos que existem em todo o lado, e ao lado deles revelar que a educação familiar, escolar, cultural e religiosa são muito importantes para fazer cidadãos livres, honestos e justos. Aliás, esqueceram um dos princípios essenciais da ONU, que está no artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, que garante a todo ser humano a «liberdade de manifestar a sua religião ou crença», em público ou em privado.
Ao repararmos na falha que nos pasmou, somos levamos a considerar que podia ser mais útil a ONU e, particularmente, este Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, não esquecer qual o seu fim principal, trabalhar e lutar pela paz, prevenir as guerras e os genocídios, que grassam por esse mundo fora, onde os Direitos Humanos nunca são falados ou não existem. Aí sim, há crianças violentadas que anseiam por este organismo da ONU para as defender, com medidas razoáveis e eficazes. A pobreza é maior de todas as violações contra os Direitos humanos nas crianças. Essa desgraça requer da ONU um empenho firme para que desaparece a fatalidade da pobreza do mundo para que o sorriso das crianças aconteça universalmente.
Imagem Google
Em todo o caso não hesitamos perguntar, o que move um organismo tão distinto e de alta importância mundial a meter o bedelho na sala de catequese e no corriqueiro grupo de crianças ou jovens que se reúnem para orar ou refletir? – Obviamente, que hoje alimenta-se a ideia doentia dos tempos das bruxas que andavam por todo o lado. Quanta injustiça cometida nesses tempos obscuros. Por isso, hoje também surge frequentemente a defesa que o combate contra a loucura da pedofilia também se faz com medidas loucas, porque se considera que em todo o lado pode estar um pedófilo e que todos são suspeitos logo à partida. 

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Viagem interior

Para o nosso fim de semana. Sejam felizes sempre sem prejudicar ninguém.  
Estava vazio dentro e fora
aquela visão da morte
que ninguém ousava
prenunciar durante a noite
por isso vivi calado
em segredo sem saber
ao certo se era real ou sonho.

Porém um assombro místico
veio suave poisar sobre o sorriso
quando vi palpitante
uma luz ao longe nas penedias
- essa mesma luz que a tantos
anima nas tempestades sombrias.

Foi nesse momento que serenei
para sempre a minha esperança
sem desistir de nada do mundo
porque nenhuma perturbação
nunca será mais forte
que o silêncio onde moro.

É assim que entendo alguma solidão
mas melhor ainda o quanto é seguro
viver com os pés bem assentes no chão.
José Luís Rodrigues

As prioridades e o essencial continuam doentes na nossa terra

A tarde estava airosa embora a humidade estivesse presente como acontece com muita frequência nestas alturas do ano no Funchal. É precisamente nessa última tarde de junho que subo o monte até ao hospital do Marmeleiros.
Primeiro embate negativo, não pode entrar com o carro. Onde deixo o carro, fora, responde com funcionário porteiro com voz seca e grossa. Procuro estacionamento fora, há carros parados por todo o lado, há um caos vergonhoso que atrapalha a circulação dos outros carros com outros destinos que não o hospital. Repentinamente, uma boa alma vai sair, apresso-me e tomo o lugar deixado vago, mesmo ali junto à entrada do hospital. É melhor era impossível face ao dramático caos. Metade do meu carro em cima do passeio a outra metade na estrada. Um obstáculo que acabo de deixar perigosamente num canto que devia estar livre para a circulação de peões e para os outros veículos. Obedeci e fiz o que me mandaram.
Lá vou eu preocupado, visitar uma pessoa doente. Antes de entrar deparo-me com um descampado logo na parte frontal do hospital que seguramente chegaria para estacionar uma boa porção de carros que estavam estacionados caoticamente fora do hospital.
É hora de vislumbrar a paisagem que a localização do hospital dos Marmeleiros nos proporciona sobre o Funchal. Há um navio de cruzeiro encostado no Porto, as casas brancas anunciam uma paz sem fingimento que nos retempera a alma e faz sorrir com tamanha beleza.
Depois da hora do assombro divino que os olhos contemplaram, temos que entrar e vamos nós à procura de quem desejamos ver e quem almeja uma palavra de saudação, de esperança e de consolo. Nada é mais importante para que passa pela experiência da convalescença.  
Entramos logo até ao hall onde está alguém cheio de simpatia, que logo que se apercebe da nossa condição, dá-nos livre trânsito ao contrário do impacto inicial negativo que a voz grossa e seca revelou.
Depois de termos sido alimentados pelo deslumbrante abraço da paisagem, vamos percebo que a visão agora revela outra coisa menos simpática, os cheiros agora também são outros, as paredes estão carregadas de humidade, há homens e mulheres com batas brancas e outro pessoal, que suponho ser auxiliar imprescindível para os doentes, na limpeza e na alimentação. Porém, vê-se outros, penso, serem visitantes que circulam pelas escadas e corredores. O caos de carros à volta do hospital dos Marmeleiros é bem revelador do ambiente que vamos encontrando dentro. Obviamente, que há várias pessoas aparentando serem doentes, com elas os apetrechos dos hospitais e um ambiente geral de tristeza e sofrimento.
Eis que chego ao andar e à sala onde jaz doente a pessoa que venho visitar. Não gosto do cheio, não gosto de quase nada que vou vendo. Mesmo que reconheça o esforço que deve estar ali estampado para que esteja limpo e as pessoas tenham alguma dignidade. Por isso, nunca se afasta de mim o pensamento, aqui estão os nossos espelhos.
Hoje dia 1 de julho dia da Autonomia, que há muito anda perdida, seria bom pensar o essencial para os madeirenses. A saúde e o bom ambiente nos nossos hospitais deviam ser essenciais para todos os madeirenses. Mas, não está sendo, só será para cada um, provavelmente, quando seja tomado pela fatalidade da doença. Essencial para os madeirenses, ainda continua a ser as festas, as marchas populares, a animação musical dos arraiais (este ano com uma abundância de cantores famosos como nunca se viu e a fortuna que isto não deve implicar!), os foguetes, as barracas com comes e bebes e toda a parafernália que vai fazendo cegar o pensamento, que inebria por alguns momentos, mas passado o efeito levamos com a paisagem desoladora do sistema de saúde que temos. É triste que baste ao madeirense apenas circo.
É grave que assim seja. É grave que o mau ambiente nos lugares onde se trata da saúde, não encontre mais militância empenhada na sua transformação. Por isso, as prioridades andam sempre invertidas. É melhor betão armado para a festa e música no circo constante. O hospital ter bom ambiente fora e dentro, nos corredores, nas salas onde estão os doentes e paredes frescas e cuidadas pouco ou nada importa… É intolerável, as paredes estarem sujas, cheias de humidade, portas e cantos dos corredores escabeçados e riscados pelo uso sem que ninguém procure manutenção frequente. Já cansa termos que lembrar o que não lembra ao diabo, haver máquinas necessárias para o tratamento dos doentes que não funcionam, pessoal desavindo uns contra os outros dentro do sistema de saúde, listas de espera que duram anos e anos, perigos de transmissão de doenças porque falta material, a medicação adequada e detergentes desinfetantes... Tantas vezes penso, porquê tanta gritaria por um novo hospital, se não sabemos cuidar e gerir convenientemente aqueles que temos agora?
Faz falta responsabilidade quanto às prioridades da parte de quem tem responsabilidade, mas faz falta também a consciência a um povo que devia há muito ter aprendido o que é o essencial. Neste domínio falta-nos ainda muito para crescermos e sermos um povo verdadeiramente militante na luta pelos seus direitos e menos embriagado pelas festas e festanças. Também muito menos iremos a onde se deseja com propaganda, muita propaganda.