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domingo, 30 de setembro de 2012

Fidelidade e lealdade

Nunca se falou tanto nestes termos como agora. Vem a propósito da campanha para eleger o futuro líder do PPD-PSD da Madeira.
Neste contexto estão na praça estes termos como nunca se viu. Pelo meio, consequentemente, vemos e ouvimos outros termos como «traição» e «gratidão», entre outros… Que manifestam o quanto somos pequeninos e como estamos muito longe do que é viver numa democracia a sério.
Gosto das palavras que fazem o título deste texto e que andam de boca em boca. Um pede apoios em nome da «fidelidade e lealdade», outros declaram-se apoiantes também sob a auréola destes dois termos não se importando em trair alguma coisa ou alguém. A sacrossanta «fidelidade e lealdade», pode muito bem com este sacrifício. Que as urtigas recebam companheiros, alguma memória, alguma rebeldia do passado, entre outras coisas que nem precisamos de referir neste espaço. E lá vamos todos ao som desta dança que deram o nome de «fidelidade e lealdade».
Mas, salta-me ao pensamento que poderia ser mais útil, que ao invés de haver tanta fidelidade e lealdade a uma pessoa ou a um projecto pessoal, poderia ser interessante esta bendita jaculatória ser invocada em relação ao povo. Seria tão bonito que a fidelidade e a lealdade fossem propaladas em para o bem comum, para a justiça e para todos os valores que viessem resolver as desgraças que algumas famílias estão a passar. Que tal ser fiel e leal a projectos que nos façam sair da fatalidade da crise? Que tal ser fiel e leal a projectos que ponham fim ao compadrio e à corrupção onde estão mergulhados os poderes que nos governam ou desgovernam para se fiel e leal à realidade? Que tal ser fiel e leal a planos que venham a por fim ao drama do desemprego que está a condenar imensas famílias à fome e à desestruturação porque têm que deixar a sua pátria – voltou em força a emigração?
O suicídio, que resulta do desespero, a que está votada uma grande parte das nossas gentes, está a tornar-se insuportável e ninguém neste momento sabe qual o número exacto de suicídios que estão acontecer entre nós. Um drama horrível…
Esta mania que nos assiste de que devemos ser uns privilegiados ou agraciados com todo o tipo de mordomias depois de ter sido feito o que devíamos fazer e ainda para mais, quem se pagou e bem com os nossos impostos, revela terceiro mundismo e roça a infantilidade patética. Neste sentido, isto que estamos a assistir é uma vergonha. Por um lado, uns que acham que devem ganhar porque deram muito. Então chegou o momento de receberem a devida recompensa ao abrigo da fidelidade e da lealdade. Por outro, outros, embarcam infantilmente neste esquema de uma forma tão passiva e tão cândida que nos faz sorrir com elevada pena. O tacho e a segurança da carreira antes de tudo. Uma dor de alma, esta forma tão interesseira de fazer «vida pública», sobretudo, vindo de gente que nos habituou a uns certos laivos de independência, pensamento próprio e vontade própria. Essa pseudo-irreverência, afinal, redundou num flop. Fogo-de-vista como gosta a Madeira.
No fim, está como sempre o povo, que só precisa de fidelidade e lealdade nas campanhas eleitorais para pedir-se o voto, longe de qualquer esclarecimento e consciência, porque o voto também se deve converter em instrumento de fidelidade e lealdade (quem não se lembra do «ajudei, ajudem-se…» e daquela outra horrível que era dita nas igrejas nos períodos de campanha: «é preciso votar naquele quem tem as setinhas voltadas para o céu»?). As próximas eleições poderão ser, quem sabe, «estou no fim, por isso, dêem-me o prémio», o trofeu da lealdade e da fidelidade. A tudo isto chamo de terceiro mundismo e democracia primária, manipulada emocionalmente. O que choca não é tanto existir esta forma de estar na sociedade, na vida e na política, parvoíces deste género sempre existiram, pior e chocante é existir pessoas, um povo que embarca nesta cantiga absurda.
Face a esta luta de galos, chegou o momento de percebermos como funcionam as coisas, como andam uns senhores agarrados ao poder como uma lapa agarrada à rocha. Chegou o tempo de não ter medo de mudar e de se fazer opções conscientes que sejam benéfica para todos. Não devemos nada a ninguém nem muito menos temos nada que se fiéis e leais a quem foi eleito para cumprir o seu dever e que se pagou a peso de ouro para fazer o que fez. A democracia é cara, por isso, o nosso trabalho convertido em impostos manifesta a gratidão que todos aqueles que se propõem governar recebem em salários e todas as mordomias que o poder lhes confere. Não se acheguem com essa treta da fidelidade e da lealdade, porque, está mais que agraciado o vosso trabalho. Já vos pagamos com impostos e todos estes apertos financeiros para que vossas excelências se pavoneiem nos corredores do poder com toda a pompa e circunstância
Por isso, está a tornar-se insuportável a linguagem que a luta de galos está a utilizar neste momento, só esperamos que ela depois não seja transposta para as eleições gerais. Mas, tememos seriamente que este seja apenas um ensaio para o que virá depois. Oxalá nos enganemos! 

sábado, 29 de setembro de 2012

O jardim


Ante este oásis de verde na esplanada da cidade
Sei das árvores que abrigam os pássaros
Em volta de ramo em ramo na festa do som
Que se mistura com o ruído de carros e gente
No rodopio frenético de ser cidade
Onde se fazem casas e jardins desta paz.

Vamos em cada passo no calcorrear dos caminhos
Na procura do chilrear que se ouve nos canteiros
Ah! E as folhas que este Outono adivinha
São pisadas sob estes pés ávidos de conhecimento
Que a brisa suave desvela no suave espírito do tempo
Até aos píncaros da lua que as noites de sempre
Se passeiam ornamentando todos os cantos do mundo.

Neste universo intemporal redescubro a plenitude
Que sei ser minha e de todos os imensos seres vivos
Desta criação do Génesis e de hoje também.
José Luís Rodrigues 
Nota do Banquete: Serve este singelo poema para retemperar o nosso/vosso fim de semana. Um abraço fraterno.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Padres confessam-se

Nota do Banquete: Uma interessante reportagem na revista Sábado desta semana, que poderá servir para compreender alguns comportamentos dos clérigos... Ao menos tem já o mérito de humanizar o mundo clerical. Destaco o seguinte para se perceber o que está verdadeiramente em causa: «Hoje, a escolha sacerdotal é uma opção de grande anti-conformismo e de ruptura completa, porque implica o afastamento total daquilo que são os objectivos actuais do mundo, isto é, sexo, sucesso e dinheiro», dito por uma historiadora e jornalista italiana num fabuloso encontro que se realizou em Roma com o seguinte tema: «Padres no divã. Conforto e Desconforto no Trabalho Pastoral». Entre nós merecíamos uma reflexão profunda sobre estas questões. Mas, pouco ou nada se reflecte sobre coisas sérias sobre a vida do padre. Tudo parece bem, até ver! Uma reportagem a não perder...
 



 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Quem não é contra nós é por nós


Domingo 26º Tempo Comum
30 de Setembro de 2012
O tema geral da liturgia da Missa do próximo domingo é muito importante e serve para pensarmos que Deus, pela acção do Espírito Santo, está em todos os lugares, porque o perigo de nos fecharmos no «nosso» mundo e considerarmos que Deus só está em nós e que fora de nós é o caos, é sempre uma tendência reincidente. Pode esta forma de pensar levar-nos ao desprezo, intolerância e fundamentalismo. Disto o mundo parece estar cheio.
Assim, somos levados a pensar e celebrar neste domingo a universalidade de Deus, a respeitar todas as formas de expressão da fé e até mesmo respeitar todos aqueles que eventualmente acolham a sua opção pelo não acreditar. No fundo, o que se pensa é que Deus está em todos e que todos foram criados para o bem. Daí que Jesus afirme no Evangelho de forma categórica: «Quem não é contra nós é por nós». Basta isto para vermos como Jesus se apresenta totalmente entregue à salvação de toda a humanidade.
A imensa multidão de gente que não pertence à instituição Igreja ou igrejas, que faz o bem e tem gestos enormes de fraternidade são sinais vivos do amor de Deus no meio do mundo. Não será o currículo imenso do rol das missas e dos terços, que faz uma pessoa ser melhor do que ninguém. São formas distintas que Deus utiliza para o mesmo fim, que a humanidade seja capaz do bem e que depois todos comunguem da felicidade do Reino. É isto que importa verdadeiramente para Deus.
A primeira leitura confirma claramente esta ideia da salvação universal de Deus. O autor do texto recorrendo à errância do Povo de Deus no deserto, ensina-nos que o Espírito de Deus realiza uma norma teológica importante: «O Espírito de Deus sopra onde quer, quando quer e em quem quer», sem que nenhuma regra ou norma, interesse pessoal, privilégio ou manias de qualquer grupo, estejam aí para limitar ou condicionar a acção de Deus na vida e no mundo. Neste sentido acreditar em Deus é reconhecer os sinais de Deus em tudo o que é expressão e gesto com mais ou menos conotação religiosa, que as pessoas são capazes de realizar para a felicidade e bem-estar daqueles que estão à sua volta.
Seguindo esta reflexão o Evangelho é uma catequese interessante que põe as coisas bem a claro. A instrução de Jesus centra o discipulado no caminho do Reino de Deus. O desafio é este, vamos edificar uma comunidade que, sem arrogâncias, sem ciúmes, sem qualquer resquício de vontade de poder nem muito menos num sentido único, sem a presunção do exclusivismo do bem e da verdade absoluta.
A doutrina exclusivista - «fora da Igreja não há salvação» - que antes do Concílio Vaticano II a Igreja Católica defendia conduziu a um oceano imenso de injustiças, de sofrimentos. O caminho da comunidade de Jesus radica no acolhimento e na estimulação das diferenças. Daí que o seu cuidado com os mais fracos e os pobres tenha que ser uma dimensão essencial das comunidades de Jesus, porque estes são os marginais da sociedade, que sempre faz acepção de pessoas, especialmente, se forem pequenos e pobres. Tudo que seja sinal de exclusão nas comunidades de Jesus deve ser banido e a vocação da inclusão deve ser a espinha dorsal do ser cristão.
A segunda leitura, Epístola de São Tiago, que deve ser lida e relida nas missas, dispensa qualquer comentário. Porque, se falarmos muito sobre o que aqui está dito corremos o risco de estragar. Uma actualidade impressionante. Reparem: «Agora, vós, ó ricos, chorai e lamentai-vos, por causa das desgraças que vão cair sobre vós. As vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se, e a sua ferrugem vai dar testemunho contra vós e devorar a vossa carne como fogo. Acumulastes tesouros no fim dos tempos. Privastes do salário os trabalhadores que ceifaram as vossas terras. O seu salário clama; e os brados dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo. Levastes na terra uma vida regalada e libertina, cevastes os vossos corações para o dia da matança. Condenastes e matastes o justo e ele não vos resiste (Tg 5,1-6). Está dito!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A diferença em duas fotos


Carga sobre os manifestantes em Espanha ontem, dia 25 de Fevereiro. Fez-me muita impressão as bastonadas da polícia espanhola sobre os manifestantes em frente do congresso. A minha consciência democrática e a simpatia pelos valores que este sistema de governo da sociedade preconiza, não podia ter outra expressão em mim senão profunda tristeza.
Nisto, pensei no abraço de Adriana ao polícia Sérgio nas últimas manifestações que se realizaram em Portugal a 15 de Setembro. As duas fotos que acompanham este texto são bem reveladoras das diferenças. Uma, manifesta que em tempos de cólera a paz que o abraço revela pode ser possível se predominarem o respeito e a serenidade. O abraço da Adriana ao Sérgio comprova isso. Outra, a foto da manifestação espanhola ontem, dia 25 de Setembro, dá-nos conta da violência, o desrespeito e o perigo que é a livre expressão de reclamar manifestando-se na rua. Uma tristeza.
Porque, estamos perante o fim de valores alcançados com muito sofrimento, derramamento de sangue, suor e lágrimas. Esta ditadura da austeridade está a provocar uma hecatombe que não sabemos onde nos vai levar. Pelos sinais que se avizinham pode ser a uma tragédia bem terrível para a humanidade e para as nossas sociedades em particular.
Estes governos, governados pelas troicas ou pelo poder do dinheiro (os chamados mercados), perderam a dignidade. São um bando de inúteis que não sabem nada de nada quanto a princípios e valores, foram formatados para serem figuras apenas, que se deixam manipular, tipo robôs, para fazerem o trabalho sujo das troicas e desses malditos mercados que não sabem o que são pessoas.
É importante que as sociedades reflitam sobre tudo isto que se está a passar. A carga da polícia espanhola sobre os manifestantes de ontem, é uma carga de porrada sobre as sociedades todas da União Europeia. Senti as vergastadas como se fossem sobre todos nós. São os valores que se vão e impera as ditaduras do poderio económico desprovidas de pessoas. Não podemos tolerar estes males horríveis provocados por alguns privilegiados ignorantes que se instalaram nos nossos governos, que se vergam as forças estrangeiras contra a dignidade e respeito pelo seu povo.
A austeridade tem que ser justa. Deve chegar a todos e mesmo assim deve ser benévola com os mais fracos, os pobres. E, sobretudo, sabermos que os governos podiam enveredar por caminhos menos severos para as populações… Ainda ontem li, que o Estado podia colocar dívida no mercado interno sob a forma de «títulos de aforro», que podiam ser comprados pelos cidadãos a 3%, coisa que beneficiava a economia e as poupanças dos cidadãos, mas antes prefere pedir dinheiro e vender a dívida ao estrangeiro pagando juros a 5%. Um verdeiro negócio, que beneficia quem?
Estamos perante uma tristeza que nos remete a um silêncio, porque nos vemos boquiabertos perante tanta asneira e tanta irresponsabilidade cheia de insensibilidade que nos vai conduzir a um beco sem saída.
Quanto ao que se passa na Madeira, já falta força e pachorra para ouvir tanta barbaridade. Alguns têm o que merecem. Mas vai ser preciso despertar e acordar para tomarmos a pulso o futuro senão a coisa vai ficar preta e o «sarrilhe» já não suporta tanta vergastada do bastão da ignorância, da mentira e do jogo do empurra quanto aos culpados do buraco em que estamos atolados.    

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A Porta

Não estou 100% certo que seja do Mia Couto, mas não deixa de ser actual e que se pode aplicar ao nosso país e à nossa região... E quiçá a todos os lugares onde domina o poder, o dinheiro, o prestígio, a intolerância, a soberba e todas as diferenças horríveis que comandam os povos, sempre propensos a fazerem acepção de pessoas...

O PAÍS DO QUEIXA-ANDAR. QUAL SERÁ ESSE PAÍS?

Era uma vez uma porta que, em Moçambique, abria para Moçambique. Junto da porta havia um porteiro.
Chegou um indiano moçambicano e pediu para passar.
O porteiro escutou vozes dizendo: 
- Não abras! Essa gente tem mania que passa à frente!
E a porta não foi aberta. Chegou um mulato moçambicano, querendo entrar. 
De novo, se escutaram protestos: 
- Não deixa entrar, esses não são a maioria.
Apareceu um moçambicano branco e o porteiro foi assaltado por protestos:
-Não abre! Esses não são originais!
E a porta não se abriu. Apareceu um negro moçambicano solicitando passagem. E logo surgiram protestos:
- Esse aí é do Sul! Estamos cansados dessas preferências...
E o porteiro negou a passagem. Apareceu outro moçambicano de raça negra, reclamando a passagem:
- Se tu deixares passar esse, nós vamos-te acusar de tribalismo!
O porteiro voltou a guardar a chave, negando aceder o pedido.
Foi então que surgiu um estrangeiro, falando e mandando em inglês, com a carteira cheia de dinheiro. Comprou a porta, comprou o porteiro e meteu a chave no bolso. Depois, nunca mais nenhum moçambicano passou por aquela porta que, em tempos, se abria de Moçambique para Moçambique.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O meu agradecimento público à pública falta de vergonha

Não encontro melhor «alimento» do que este para iniciar a semana:
O Dr. Alberto João Jardim, «o nosso distinto e adorado» presidente, depois de ter participado na sexta-feira no mais longo Conselho de Estado da era Cavaco Silva, elogiou as conclusões desse encontro. E disse. «Foi um sinal de esperança a atitude que tomou o Conselho de Estado»; «o povo não pode ser mais sacrificado"; e por isso foi a decisão mais acertada «parar com coisas que estavam mal e ainda por cima iam explorar mais os trabalhadores». Mais ainda disse numa tirada tipo marxismo puro e duro: «a culpa da desgraça é do grande capital».
Assim, como cidadão preocupado e empenhado na construção da vida deste «nosso» país e a «nossa» região, venho por este meio agradecer àqueles privilegiados cidadãos que compõem o Conselho de Estado, não sei o que seria de mim e do nosso país e do mundo, quanto ao presente e futuro de tudo isto, se não fossem aquelas figuras, cambaleantes que foram Sexta-feira a Belém «adorar o menino», ao som das milhares de vozes que cantavam não o «Excelso, Glória a Deus nas alturas…», mas, «gatunos, «chulos»; «ladrões»; «parasitas» … Entre tantos outros mimos que o povo sabe pronunciar quando lhe chega a mostarda ao nariz. Gostei de ver toda aquela cambada do reumático a subir a ladeira de Belém, que conduz não a uma gruta mas a um palácio…
Nem imaginam como estaríamos hoje se não fosse aquela «esperança» que nós tomamos a partir de Sexta-feira passada, o dia D da nossa salvação…
Vamos a uma coisa mais séria.
Mas estes senhores não se lembram que foram todos responsáveis pelo descalabro, não vivem com reformas luxuosas e duplicadas? Não têm à sua volta uma imensa panóplia de regalias com tudo pago à conta dos elevadíssimos impostos que nos são cobrados? Não se lembram que para eles andaram no bem bom há gente a passar fome? - Um bando de reumáticos drogados com as dosagem de pastilhas para o coração e tensão arterial, coisa que eles podem muito bem comprar, enquanto o povo simples, estende a mão a ver se aparece uma alma caridosa que lhes pague alguma caixinha de medicamentos. A reportagem périplo que a TSF está a fazer hoje por algumas farmácias vai dando-nos conta dos dramas terríveis que os farmacêuticos revelam.
O Conselho de Estado foi a nossa salvação e o dia D de Portugal foi Sexta-feira passada. Estamos agradecidos por isso… Se tudo isto não fosse uma grandessíssima pública falta de vergonha e uma dose elevadíssima de «indecoro institucional», não estaria aqui a manifestar o meu sentido e profundo agradecimento. Bendita o dia e a hora daquele Conselho de Estado.

domingo, 23 de setembro de 2012

Para que serve a escola?

Texto de opinião publicado no Dnotícias deste domingo 23 de Setembro de 2012, na secção «Sinais dos Tempos»...

«O respeito pelos outros, o saber estar em cada contexto ou se aprende em casa ou nunca mais se aprende» (destaque do Dnotícias).

Por José Luís Rodrigues
Não sou professor. Mas neste início de ano lectivo tento colocar-me no papel de professor e imagino o quanto deve ser deprimente enfrentar a escola nos tempos que correm. Sim, porque uma escola sem o mínimo de condições para funcionar, pode tornar-se num verdadeiro inferno. Porque, muito mau será trabalhar num ambiente onde falta o essencial. Alunos esfomeados. Há ausência generalizada de material para que as aulas funcionem com o mínimo de dignidade. A escola está na miséria, basta dizer que nem dinheiro tem para papel higiénico, quanto mais o outro papel e todo o material de papelaria. 
Outro aspecto bastante relevante prende-se com a indisciplina ou falta de educação básica dos alunos que cresce de forma acentuada - que não se pense que esta educação deve ser dada pela escola, mas pela família, pelos pais... O respeito pelos outros, o saber estar em cada contexto ou se aprende em casa ou nunca mais se aprende. Por isto tudo, que imagino existir hoje nas nossas escolas, derivado dos apertos e cortes financeiros do Estado e da Região em relação à educação, fazem-nos prever um ano de sérias dificuldades para todos os agentes do processo educativo.
A mentalidade dos nossos tempos perdeu totalmente a educação como processo de desenvolvimento humano, como meio de transmissão de cultura, como forma de chegarmos a ter uma sociedade mais livre, agindo de acordo com a sua própria vontade. Numa palavra uma sociedade crescida, com famílias saudáveis e pessoas cultas, equilibradas. A educação com vista ao emprego e a ser um instrumento para ganhar dinheiro, muito dinheiro, redundou neste descalabro educativo. O que temos? - Um bando enorme de desempregados ou desocupados a viver à conta dos salários e reformas dos pais, uma imensa multidão de jovens que passa a vida em noitadas, a se encharcarem de álcool e consumindo drogas. Alguns perdem a saúde para sempre e outros já estão ou vão a caminho dos cemitérios. A educação assente puramente em valores materiais sem ter em conta as pessoas conduz à destruição da humanidade.
Não fazem sentido os apertos financeiros indiscriminados, sem critério. Os professores merecem serem bem pagos e que lhes seja colocado à disposição todas as condições. Sem isso, faltará uma verdadeira relação entre alunos e professores, a escola não tem alegria, não é uma festa… A amizade, nada. A solidariedade, zero. A paz, inatingível. A vida e a preparação para ela não acontecerão. Por isso, aos governantes deste país e da nossa região, responsáveis pela escola, pedimos que sejam verdadeiros quanto à aplicação dos impostos. À escola o necessário, para que a educação cumpra o seu dever e prepare verdadeiros homens e mulheres, cidadãos empenhados na construção de um futuro saudável para todos.
Um dos maiores pedagogos do século XX, o padre Manuel Antunes (1918-1985) dizia o seguinte sobre a educação: «Que princípios deverão orientar a nova educação do nosso Povo? (...) Ousamos esquematizar: os princípios que tenham em conta a aliança do cérebro, da mão e do coração; os princípios da liberdade, da igualdade e da dignidade de todos os homens; os princípios que possam unir o sentido científico, o sentido tecnológico e o sentido comunitário desde a célula familiar à Sociedade Mundial». 
Bom, apesar de tudo, desejo um feliz ano lectivo para todos os agentes das nossas escolas.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Manifesto de Jesus contra o poder domínio


Nada melhor para retomar as funções senão com «os ossos do ofício». Aqui vos deixo o comentário à Missa do Próximo  domingo. Abraço fraterno.

Domingo XXV Tempo Comum
23 Setembro de 2012

Os textos da missa deste domingo revestem-se de uma actualidade deveras desconcertante. A primeira leitura dá-nos conta de que a construção da vida de uma pessoa que neste mundo tome o melhor que a sua história pessoal pode oferecer não terá as coisas facilitadas. O que quer isto dizer? - Quem no seu dia-a-dia pretenda ser justo; ser coerente com os seus valores, princípios e a sua fé; assuma a honestidade como a melhor conduta; a verticalidade como alimento da alma; a fidelidade a tudo o que enobrece a condição humana... Não terá vida fácil. Esta forma de ver e viver a vida neste mundo acarreta muitos dissabores e reveste-se, tristemente, de provocação face à lógica perversa que domina a generalidade das pessoas.
Ser honesto, verdadeiro, justo, sincero, vertical, destemido, entre outras atitudes essenciais dignas e importantes para construir o mundo, não dão imediatamente prazer, não surte reconhecimento nenhum, antes atrai contrariedades, desprezo e incompreensão da lógica do mundo que se rege mais por contravalores que conduzem ao domínio sobre os outros.
Mesmo assim deve ser grande em nós a interpelação para sermos “justos”, porque assumimos os valores de Deus e que, mesmo no meio da hostilidade geral, procuremos preservar os seus valores e viver de forma coerente com a nossa fé, o que vai constituir um incómodo e uma dura interpelação para quem quer ser corrupto. O procurar fazer parte do grupo dos “justos" constitui um permanente espinho que fere quem é «mau» e que não os deixa em paz com a sua consciência. Este caminho, será uma alegria para Deus, para nós e, afinal, para o mundo que infligiu nalgum momento um combate contra quem procurou ser «justo». Não haverá melhor recompensa do que esta.
O texto de São Tiago, é uma exortação aos cristãos, que em vez de fazerem da sua vida, como Cristo, um dom de amor aos irmãos, e de traduzirem esse amor em gestos concretos de partilha, de serviço, de solidariedade, de fraternidade, estes crentes vivem fechados no seu egoísmo e no seu orgulho. O seu coração está dominado pela cobiça, pela inveja, pela vontade de se sobrepor aos outros… Assim, enquanto a mudança não acontecer de verdade nas nossas comunidades cristãs a partir de cada um dos seus membros, a celebração e acolhimento da vida com dignidade para todos, olhada no horizonte da plenitude, nunca vai acontecer. 
No Evangelho a preocupação de Marcos é essencialmente agora apresentar Jesus como o "Filho de Deus"... Ao longo da “caminhada para Jerusalém”, Jesus vai ensinando aos discípulos os valores do Reino e mostrando-lhes, com gestos concretos, que o projecto do Pai não passa por esquemas de poder e de domínio. Mas de serviço desinteressado ao bem para todos.
As incompreensões dos discípulos mantêm-se. Marcos explica que eles não entendem a linguagem de Jesus. Pois acham que o caminho da cruz é um caminho de fracasso.
Jesus ataca o problema de frente e com toda a clareza. Na comunidade de Jesus não há uma cadeia de grandeza, com uns no cimo e outros na base… Com Jesus, só é grande aquele que é capaz de servir e de oferecer a vida aos seus irmãos. Desta forma, Jesus deita por terra qualquer pretensão de poder, de domínio, de grandeza, na comunidade que Ele deseja edificar. O discípulo que raciocinar em termos de poder e de grandeza (isto é, segundo a lógica do mundo) está a ir contra a vontade de Deus e contra lógica do Reino.
O Evangelho convida-nos a repensar a nossa forma de nos situarmos, quer na sociedade, quer na comunidade cristã, na Igreja. A instrução de Jesus aos discípulos que o Evangelho deste domingo nos apresenta é uma denúncia dos jogos de poder, das tentativas de domínio sobre os irmãos, dos sonhos de grandeza, das manobras para conquistar honras e privilégios, da busca desenfreada de títulos, da caça às posições de prestígio… Esses comportamentos são ainda mais graves quando acontecem dentro da Igreja Católica, que se diz herdeira ou imagem e semelhança do Reino desejado por Jesus. 
Os comportamentos traduzidos em vontade de domínio e com base nos jogos claros ou obscuros de poder são comportamentos incompatíveis com o seguimento de Jesus. A imagem da criança tomada por Jesus no Evangelho é sintomática: «Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe; e quem Me receber não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou». Nós, os seguidores de Jesus, não podemos, de forma alguma, pactuar com a “lógica do mundo”, e uma Igreja que se organiza e estrutura tendo em conta os esquemas do mundo não é a Igreja de Jesus.