O advogado e jurista, José Miguel Júdice,
Já nos fez ver que a mentira «faz parte do ADN do político» e «votamos nos
políticos que nos mentem e não nos que nos dizem a verdade». No mesmo sentido, o
politólogo António Costa Pinto entende que a «sociedade portuguesa já dá o
desconto» e já se habituou a que «as promessas não sejam cumpridas».
Mas, nestes tempos de pré campanha
eleitoral, a propaganda tornou-se mais viva e com ela a banalidade da afirmação
e o seu contrário à mesma medida e no mesmo instante.
Se por um lado damos o devido «desconto»
e já estamos mais que habituados a que «as promessas não sejam cumpridas»,
começamos a ficar enojados e fartos de tão elevado descaramento. Se a sociedade
é complacente com este estado de coisas, não podemos nós cidadãos responsáveis
tolerar tamanha desfaçatez perante o que se diz e perante o que se faz contra o
que se disse. A consequência honesta não parece estar em voga nos tempos que
correm.
Há crimes hediondos, cometidos no nosso
país, milhares de pessoas pedem esmola para que os seus filhos não morram de
fome. Outros tantos milhares sem emprego. A violência doméstica está a níveis
de barbaridade indescritível e manifesta o quanto regredimos quanto à educação,
ao respeito pela vida do outro e quanto à sã convivência na família. O direito
de ser criança com escola com todas as condições necessárias para aprender vai
faltando e falta também boas condições dentro do seu espaço familiar para que
possam brincar com alegria e em paz.
Mas, os cofres do Estado estão cheios, a
dívidas e os deficits estão controlados e dizer-se o contrário disto, é «mito
urbano» inventado por gente maldosa que passa a vida a dizer mal de tudo e de
todos. Tudo isto vai anestesiando a sociedade e remetendo a um comodismo fatal,
porque tudo se vai sabendo conjugar com aparente mestria para fazer passar a
ideia de que não há outra alternativa senão cortar salários, aumentar impostos
e sangrar as pensões dos idosos. O que importa é que «eu estou salvo», o mundo
que pereça.
Os autores desta violência contra as
famílias portuguesas e madeirenses, não se importam de viver e governar na
maior hipocrisia apontando para o passado e para outros responsáveis pelos seus
delitos, como fazem as crianças e os adolescentes quando fazem maleitas e
apontam o dedo ao irmão, ao amigo ou ao vizinho. Nesse contexto, continuam acenando
com mais mentiras convencidos que o nosso povo é imbecil e que pode engolir
mentiras 24 horas por dia e que por fim ainda lhes vai agradecer.
Cícero, à face do criminoso Catilina,
inimigo da Pátria, perguntava: «Quousque tandem abutere, Catilina, patientia
nostra?» - Ah, pois… É latim, antes aprendíamos latim (oi como sinto saudades
das aulas de latim com o Padre Eleutério e o professor Mata). Como muitos hoje
não aprendem latim, traduzo a pergunta: «Até quando, ó Catilina, abusarás da
nossa paciência?»
Assim sendo, queremos dizer
categoricamente, até quando vamos andar com estas maroscas, esta safadeza de
prometer e não cumprir… Até quando vamos andar a tolerar que alguns singrem na
vida à conta de mentiras… Até quando vamos permitir políticas geradoras de
pobres, marginais e excluídos sociais a perder vista… Até quando vamos deixar
que tantos políticos venham e vençam deixando passar a ideia que não erram, que
fazem e dizem tudo certo, quando afinal, têm pés de barro como todos os mortais
e erram todos os dias como nós… Até quando vamos permitir que os insucessos da
governação sejam atribuídos não aos directos responsáveis por ela, mas a outros
que já estejam foram há muito tempo… Até quando vamos tolerar ser enganados
todos os dias como se fossemos uns palermas que não vêm, não ouvem nem falam…
Até quando hipócritas
abusareis da nossa paciência?
1 comentário:
Boa tarde Senhor Padre José Luís, muito pertinente esta reflexão, como todas aquelas que faz. O espírito crítico anda ausente em quase todos os estratos da sociedade. Já diz o ditado popular: «Os povos têm os governantes que merecem». É preciso parar para pensar... e agir em conformidade. Saudações
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