No outro lado da barricada à medida que o nosso
espanto aumenta, vamos reparando que crescem os bloqueios ao país invasor da
Ucrânia, a Rússia, a onda de voluntários, a partilha de bens, a amizade e
compaixão pelas vítimas inocentes desta guerra sem sentido nenhum. Eis a
humanidade como sempre no seu melhor e no seu pior.
Noutro âmbito não podemos pensar que tudo isto está
longe do nosso terreiro. Não está. É enganoso pensar assim. Não esqueçamos a
pandemia. Também estava longe, não era plausível que chegasse até nós. E como
chegou com toda a força.
Tudo isto está à nossa porta, tudo isto tem que ver
connosco e mais tarde ou mais cedo vamos começar a sentir os efeitos nocivos
desta guerra. Os preços das coisas essenciais que precisamos para arranjo das
nossas vidas já se fazem sentir no nosso bolso.
Não podemos fazer muito para travar a escalada da
guerra, mas podemos ao menos sensibilizar e fazer pensar as nossas crianças e
jovens o quanto é absurda qualquer guerra ou qualquer forma de violência. A dor
e o sofrimento que semeia não cabem dentro das nossas categorias mentais, na
nossa condição humana e cristã. Por isso, ensinemos a lutar contra o ódio, a
intolerância e as ações violentas. Só a compaixão, o perdão, o entendimento é
que nos fazem felizes.
Para este tempo deixo estes versos deste poema: «viagem
no deserto» de José Augusto Mourão (In “O Nome e a Forma”, ed. Pedra Angular):
abre-nos,
Deus, a porta
através
das águas
para
a grande viagem no deserto:
o
combate com a morte no campo da vida,
a
travessia dos limites, a nebulosa dos olhos
não
se ensurdeça o nosso coração
porque
a luta noturna com o teu Nome
nos
deixou no corpo marcas
dá-nos
a graça de atravessar o riacho da vida
mesmo
coxeando;
que
caminhemos com a ligeireza
e
a elegância do animal
que
busca o esplendor do verdadeiro
nas
coisas provisórias
e
que desse combate com as imagens
nos
aproximemos do horizonte da tua casa
donde
vejamos as sementes do amor cobrindo a eira,
Deus
que ligas o céu e a terra no teu Filho Jesus
e
no Espírito
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