Filme
Este ano comemorei o 25 de Abril assistindo ao
filme, «Salgueiro Maio - O implicado» do realizador Sérgio Graciano, que está a
ser rodado nos cinemas do nosso país.
É a história do capitão da Revolução de Abril de
1974. É uma história que implica o futuro do nosso país, mas que também se cruza
com a vida pessoal de Salgueiro Maia. Na história entram eventos históricos,
relatos pessoais, revelações íntimas, emoções que acompanharam o capitão
Salgueiro Maia ao longo de toda a sua vida.
Um dos maiores símbolos do 25 de Abril, Fernando
Salgueiro Maia nasceu a 1 de Julho de 1944, em Castelo de Vide (Portalegre).
Fez campanhas militares em Moçambique e na Guiné-Bissau, tendo ascendido ao
posto de capitão em 1971. Como delegado da Arma de Cavalaria, fez parte da
Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas (MFA). Um dos seus feitos
mais famosos foi quando, no dia 25 de Abril de 1974, comandou a coluna militar
que partiu da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, ocupou a Praça do
Comércio e cercou o Quartel do Carmo, em Lisboa, levando à rendição de Marcello
Caetano, então presidente do Conselho, e à queda definitiva da ditadura do
Estado Novo. Salgueiro Maia faleceu a 3 de Abril de 1992, devido a um cancro.
Tinha 47 anos.
Não podia ser melhor a minha comemoração dos 48 anos
da Revolução dos Cravos. Pois, permitiu que eu fugisse dos discursos circunstanciais
dos líderes da turba, que rebuscam todos os anos nesta altura o verbo fácil, os
estereótipos habitués, as palavras de
ordem e a iconografia convencionada de Abril para parecer bem à «manada»
adormecida da democracia incompleta que vivemos.
Tantos falam, muitos postam imagens e dizem coisas
sem saberem do que falam. Tudo sem consequências, porque logo no dia 26, voltamos
a ter o medo à porta, todo o rebanho a correr sem saber para onde, a falar de
guerra e, simplesmente, a tentar sobreviver adormecidos sobre a almofada do
esquecimento dos valores que a Revolução de Abril reclamou.
Se já nutria grande empatia por Salgueiro Maia, revigorei-a
com este filme e como se vulga dizer, tornei-me verdadeiramente seu fã. Um
homem de atitudes elevadas. Bem ciente das suas responsabilidades. Muito
injustiçado pelos poderes que no tempo democrático se alaparam na gamela
governativa. Sofreu com isso. Apesar dos apesares, morreu vencido pelos limites
da lei natural que nos assiste, mas deve ter seguramente ter morrido a pensar
que valeu pena quando nenhuma alma diante do Adamastor da incerteza se faz
pequena.
Estamos diante de um homem sem medo. Ou melhor, um
homem que ousou quebrar a bruma densa do medo que assolava o país de alto
abaixo pelas mentes sombrias que dirigiam um povo acabrunhado, perdido no tempo
e sem ideia nenhuma sobre o futuro.
Eis um homem de coluna que vencendo o marasmo do
«sempre foi assim» ou a ideia da vida «gemendo e chorando no vale de lágrimas»,
pegou na coluna militar desde Santarém até Lisboa pelos caminhos do sonho e do
desejo da mudança. Veio tal como um Moisés pelo deserto adentro com um povo
inteiro às costas em busca dos alvores da libertação de todas as formas de
opressão.
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