O filme que está em cena sobre o antigo presidente dos Estados Unidos da América Abraham
Lincoln (16º presidente Estados Unidos de março de 1861 até ao seu assassinato em abril de 1865), começa num campo enlameado de batalha em que o norte e o sul dos
Estados Unidos se enfrentavam em plena Guerra da Secessão. A sequência é dura e
crua, mostrando a brutalidade do conflito. Porém, a preocupação não é esta guerra,
embora esteja sempre presente ao longo do filme como contexto e pano de fundo,
o foco do filme está no diálogo e no lado político, cortando rapidamente para
uma cena em que Lincoln conversa com dois soldados negros. Este momento é magistral
e belíssimo, porque nos dá o mote e a chave de leitura do filme. No final temos
a cena do discurso, já depois de sabermos que o presidente foi baleado e está
morto, tomamos conta do mais marcante discurso do 16º presidente americano, aquele
que ficou conhecido como o Discurso de Gettysburg, em que fala «o governo do
povo, pelo povo e para o povo», o acento da unidade e da liberdade
salta à vista de forma tão atual e como algo que marca até hoje a política nos
EUA.
Entre esta duas
cenas a atenção do filme centra-se na luta de Abraham Lincoln pelo
fim da escravidão, mostrando todo um jogo político para tentar passar no
congresso o projeto de emenda (a famosa 13ª emenda) à constituição que defende que todos os homens
são iguais perante a lei.
Spielberg, ousou mexer no nome mais importante da
história da política norte-americana e coloca-o oferecendo cargos em prol de
votos a favor da emenda, algumas vezes salta-nos a ideia de que parece haver corrupção
e manipulação de consciências, mas ao mesmo tempo ilumina-nos o quanto é nobre
o fim em causa, acabar com a injustiça da opressão e dar lugar à liberdade de
que todos os seres humanos são iguais perante a lei.
É difícil não pensarmos
nos casos actuais de manipulação de votos e de imensos casos de corrupção que
sujam o mundo da política atual. Mas, a meu ver há uma nuance significativa. Esta
distribuição de cargos e a profundidade dos diálogos levados a cabo pelo
presidente para conseguir votos a favor da emenda, têm em vista o interesse de um povo,
de uma sociedade, um fim nobre, coisa que está muito longe dos interesses
pessoas de grupos e de famílias instaladas nas mordomias do poder político. O jogo político de hoje não é favor do povo, mas sujo em benefício de meia dúzia contra a maior do povo. Com Lincoln o povo conta, com a maioria dos políticos atuais o povo são números ou matéria prima para levar adiante as maiores injustiças em seu benefício.
Outro dado deste
presidente é a sua convicção de que «um povo unido pode fazer os maiores sacrifícios». Penso que sim, mas quando esse povo tem à cabeça gente série,
verdadeiros líderes que não atuam unicamente em proveito próprio e em proveito
dos seus apenas. Líderes que têm valores nobres como os da igualdade, da liberdade, da justiça e da paz. Os diálogos onde participa o presidente estão cheios destas palavras.
Um filme
importante e que se reveste de uma actualidade deveras impressionante. Porque, o
que estamos a viver hoje tem muito que ver com estas inquietações. Está em
causa a liberdade, a justiça foi mais que violentada, a igualmente também sofre
imenso e a paz não pode ser possível perante tudo isto que nos conduz a sacrifícios soberbos que passamos, que são bons para uns, mas para outros
continua a irresponsabilidade e as mordomias que as leis desiguais lhes
conferem.
A solidão do poder
em Lincoln, tem que ver com uma luta séria contra a injustiça. Hoje, a solidão
do poder tem que ver com o autismo e com a luta a todo o custo para manter o poder com unhas e dentes, mesmo que isso vote ao pior do sofrimento a maioria de um
povo.
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