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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A solidão do poder e as suas nuances

Cinema
O filme que está em cena sobre o antigo presidente dos Estados Unidos da América Abraham Lincoln (16º presidente Estados Unidos de março de 1861 até ao seu assassinato em abril de 1865), começa num campo enlameado de batalha em que o norte e o sul dos Estados Unidos se enfrentavam em plena Guerra da Secessão. A sequência é dura e crua, mostrando a brutalidade do conflito. Porém, a preocupação não é esta guerra, embora esteja sempre presente ao longo do filme como contexto e pano de fundo, o foco do filme está no diálogo e no lado político, cortando rapidamente para uma cena em que Lincoln conversa com dois soldados negros. Este momento é magistral e belíssimo, porque nos dá o mote e a chave de leitura do filme. No final temos a cena do discurso, já depois de sabermos que o presidente foi baleado e está morto, tomamos conta do mais marcante discurso do 16º presidente americano, aquele que ficou conhecido como o Discurso de Gettysburg, em que fala «o governo do povo, pelo povo e para o povo», o acento da unidade e da liberdade salta à vista de forma tão atual e como algo que marca até hoje a política nos EUA.
Entre esta duas cenas a atenção do filme centra-se na luta de Abraham Lincoln pelo fim da escravidão, mostrando todo um jogo político para tentar passar no congresso o projeto de emenda (a famosa 13ª emenda) à constituição que defende que todos os homens são iguais perante a lei. 
Spielberg, ousou mexer no nome mais importante da história da política norte-americana e coloca-o oferecendo cargos em prol de votos a favor da emenda, algumas vezes salta-nos a ideia de que parece haver corrupção e manipulação de consciências, mas ao mesmo tempo ilumina-nos o quanto é nobre o fim em causa, acabar com a injustiça da opressão e dar lugar à liberdade de que todos os seres humanos são iguais perante a lei. 
É difícil não pensarmos nos casos actuais de manipulação de votos e de imensos casos de corrupção que sujam o mundo da política atual. Mas, a meu ver há uma nuance significativa. Esta distribuição de cargos e a profundidade dos diálogos levados a cabo pelo presidente para conseguir votos a favor da emenda, têm em vista o interesse de um povo, de uma sociedade, um fim nobre, coisa que está muito longe dos interesses pessoas de grupos e de famílias instaladas nas mordomias do poder político. O jogo político de hoje não é favor do povo, mas sujo em benefício de meia dúzia contra a maior do povo. Com Lincoln o povo conta, com a maioria dos políticos atuais o povo são números ou matéria prima para levar adiante as maiores injustiças em seu benefício.
Outro dado deste presidente é a sua convicção de que «um povo unido pode fazer os maiores sacrifícios». Penso que sim, mas quando esse povo tem à cabeça gente série, verdadeiros líderes que não atuam unicamente em proveito próprio e em proveito dos seus apenas. Líderes que têm valores nobres como os da igualdade, da liberdade, da justiça e da paz. Os diálogos onde participa o presidente estão cheios destas palavras.
Um filme importante e que se reveste de uma actualidade deveras impressionante.  Porque, o que estamos a viver hoje tem muito que ver com estas inquietações. Está em causa a liberdade, a justiça foi mais que violentada, a igualmente também sofre imenso e a paz não pode ser possível perante tudo isto que nos conduz a sacrifícios soberbos que passamos, que são bons para uns, mas para outros continua a irresponsabilidade e as mordomias que as leis desiguais lhes conferem.
A solidão do poder em Lincoln, tem que ver com uma luta séria contra a injustiça. Hoje, a solidão do poder tem que ver com o autismo e com a luta a todo o custo para manter o poder com unhas e dentes, mesmo que isso vote ao pior do sofrimento a maioria de um povo.   

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