Anjo enlouquecido pelo tempo
.
Esmaga-Te um grande círculo que eram
as ruas. Vi-Te ao longe tactear
e correr. Despedi-me a olhar o Teu pânico.
Da varanda vi as ruas que eram sórdidas.
..
Naquela luz de verão Tu estavas nítido.
Os despojos das flores roxas emaranhados
nos Teus pés no alcatrão escuro
esvoaçavam. Automóveis esbatiam-Te
...
a figura. Qualquer eco ao partires
havia de morrer. Pedras tornavam
as ruas uma paisagem onde cabeceavas.
Tu partias arrastado pelo Tempo.
....
Assim como eu ficava a ver-Te ao longe
entre as folhas. Grandes copas verdes
todas de flores minúsculas escondem
o rosto dos Teus movimentos. Dócil ante
.....
o destino eu imagino-Te. Tu eras frágil
como as minhas sílabas vagarosas.
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Natureza morta com louvadeus
no topo da mesa, já depois do martírio.
As asas magníficas haviam-lhe sido quebradas
por algum vento. Perdera o rumo
sobre a película cintilante de água
no riacho parado. Tal como poisou
junto de nós, como o belo corpo magro
arquejante, lembrava, ainda segundo o seu nome,
um santo mártir. Enquanto meditávamos,
a morte sobreveio, e a pequena criatura,
que viera partilhar a nossa mesa,
depois de ter sido banida das águas
foi banida da terra. Alguém pegou
no volúvel alado corpo morto
abandonado sem nexo na brancura da toalha
- que maculava –
e o atirou para qualquer arbusto raro
que o poeta ainda pôde fotografar.
Imgem Google
1 comentário:
Querido amigo, lindos poemas. Tenha uma linda semana. Beijocas
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