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domingo, 28 de novembro de 2010

Palavras certas

«Os meios de comunicação preferem o grande espectáculo a esses exercícios de pensamento. O que encheu jornais e telejornais foi a resposta de Bento XVI à seguinte pergunta: Quer isso dizer que, em princípio, a Igreja Católica não é contra a utilização de preservativos? “É evidente que ela não a considera uma solução verdadeira e moral. Num ou noutro caso, embora seja utilizado para diminuir o risco de contágio, o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana”.
Já vários Bispos e Cardeais tinham dito isso e muito mais como, por exemplo, o Cardeal Martini: “devo confessar que a encíclica Humanae Vitae engendrou, infelizmente, uma evolução negativa. Muitas pessoas afastaram-se da Igreja e a Igreja afastou-se delas. Causou muitos estragos. Um período de 40 anos, como aquele que acabamos de viver – tão longo como a travessia do deserto por Israel – poderia permitir-nos um olhar novo sobre estas questões”. Não se referia só ao preservativo. Perguntar-se-á: porquê, agora e só agora – tendo Ratzinger responsabilidades nesse deserto –, Bento XVI decidiu falar?
Têm sido dadas várias explicações. A última é cronológica. A declaração sobre o preservativo, na sua viagem a África, provocou muita indignação. A pedofilia dos eclesiásticos deixou o pontificado deste Papa numa aflição martelada, durante anos, pelos grandes meios de comunicação. O Vaticano estava prisioneiro dos seus próprios erros. Esta declaração, para já, fez de Bento XVI o Papa da coragem.
Seja como for, este acontecimento revelou-se uma grande operação de markting e talvez dê, por algum tempo, sossego a um homem muito cansado. Dará, também, que pensar? Como foi possível, durante tanto tempo, eclipsar a investigação teológica sobre a Humanae Vitae, de Paulo VI (1968)? Como se deixou considerar definitiva uma decisão provisória? Qual foi a liberdade de debate deste tema, nos espaços eclesiais? Deverá ser excluído da ética sexual o diálogo activo entre fé e razão?»
(Bento Domingues, Público)
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«Não foi por acaso que a revelação sobre o uso do preservativo apareceu no mesmo dia em que o Papa impôs o barrete a mais 24 cardeais. No dia seguinte, lembrou-lhes que devem estar sempre junto de Cristo na cruz. Mas cá está! No meio de todo aquele aparato do Vaticano, há aqui uma contradição entre a pompa e a cruz. Há aquele texto do filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard, que diz mais ou menos assim: vai Sua Excelência Reverendíssima o Bispo de Copenhaga, revestido de paramentos com filamentos de ouro e um báculo e uma mitra debruados de pedras preciosas, com todo o seu séquito em esplendor, senta-se num cadeirão de prata e dá início à sua homilia sobre a pobreza. E ninguém se ri !...
A alguém que se sentisse irritado com estas perguntas lembro um texto de Joseph Ratzinger, no qual escreveu que, se hoje se critica menos a Igreja do que na Idade Média, não é porque se tem mais amor à Igreja, mas a si e à carreira».
(Anselmo Borges, DN)

3 comentários:

Espaço do João disse...

Meu caro amigo.
Se me permite, a minha pergunta é a seguinte:-
Qual o motivo que o levou a seguir-me no meu "Espaço do João"?
Mera curiosidade?
Gosto pelas postagens que faço? Gosto pela natureza e afins?

Pode crer que também o sequirei , pese embora seja agnóstico. Os homens não deixam de falar uns com os outros só porque não teem as mesmas crenças. Certo?
Eu gosto de trocar impressões com toda a gente, todos os credos, todas as políticas e, todas as cores. Espero bem que me compreenda. Respeitosamente, um grande abraço e, boa semana.

Espaço do João disse...

Obrigado amigo.
Tive e, tenho amigos padres. A compreensão é a melhor das compensações. Volte sempre.
Um abraço

M Teresa Góis disse...

A "polémica" (para uns) alusão ao uso da borachinha, há-de cair no esquecimento, vai-se ouvir dizer que não foi intenção torna-la como lei, etc, etc. Nada mudou.Se fosse para mudar teria aparecido como NORMA directamente do Vaticano não como ténue referência numa entrevista.