«Os meios de comunicação preferem o grande espectáculo a esses exercícios de pensamento. O que encheu jornais e telejornais foi a resposta de Bento XVI à seguinte pergunta: Quer isso dizer que, em princípio, a Igreja Católica não é contra a utilização de preservativos? “É evidente que ela não a considera uma solução verdadeira e moral. Num ou noutro caso, embora seja utilizado para diminuir o risco de contágio, o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana”.
Já vários Bispos e Cardeais tinham dito isso e muito mais como, por exemplo, o Cardeal Martini: “devo confessar que a encíclica Humanae Vitae engendrou, infelizmente, uma evolução negativa. Muitas pessoas afastaram-se da Igreja e a Igreja afastou-se delas. Causou muitos estragos. Um período de 40 anos, como aquele que acabamos de viver – tão longo como a travessia do deserto por Israel – poderia permitir-nos um olhar novo sobre estas questões”. Não se referia só ao preservativo. Perguntar-se-á: porquê, agora e só agora – tendo Ratzinger responsabilidades nesse deserto –, Bento XVI decidiu falar?
Têm sido dadas várias explicações. A última é cronológica. A declaração sobre o preservativo, na sua viagem a África, provocou muita indignação. A pedofilia dos eclesiásticos deixou o pontificado deste Papa numa aflição martelada, durante anos, pelos grandes meios de comunicação. O Vaticano estava prisioneiro dos seus próprios erros. Esta declaração, para já, fez de Bento XVI o Papa da coragem.
Seja como for, este acontecimento revelou-se uma grande operação de markting e talvez dê, por algum tempo, sossego a um homem muito cansado. Dará, também, que pensar? Como foi possível, durante tanto tempo, eclipsar a investigação teológica sobre a Humanae Vitae, de Paulo VI (1968)? Como se deixou considerar definitiva uma decisão provisória? Qual foi a liberdade de debate deste tema, nos espaços eclesiais? Deverá ser excluído da ética sexual o diálogo activo entre fé e razão?»
(Bento Domingues, Público)
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«Não foi por acaso que a revelação sobre o uso do preservativo apareceu no mesmo dia em que o Papa impôs o barrete a mais 24 cardeais. No dia seguinte, lembrou-lhes que devem estar sempre junto de Cristo na cruz. Mas cá está! No meio de todo aquele aparato do Vaticano, há aqui uma contradição entre a pompa e a cruz. Há aquele texto do filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard, que diz mais ou menos assim: vai Sua Excelência Reverendíssima o Bispo de Copenhaga, revestido de paramentos com filamentos de ouro e um báculo e uma mitra debruados de pedras preciosas, com todo o seu séquito em esplendor, senta-se num cadeirão de prata e dá início à sua homilia sobre a pobreza. E ninguém se ri !...
A alguém que se sentisse irritado com estas perguntas lembro um texto de Joseph Ratzinger, no qual escreveu que, se hoje se critica menos a Igreja do que na Idade Média, não é porque se tem mais amor à Igreja, mas a si e à carreira».
(Anselmo Borges, DN)
3 comentários:
Meu caro amigo.
Se me permite, a minha pergunta é a seguinte:-
Qual o motivo que o levou a seguir-me no meu "Espaço do João"?
Mera curiosidade?
Gosto pelas postagens que faço? Gosto pela natureza e afins?
Pode crer que também o sequirei , pese embora seja agnóstico. Os homens não deixam de falar uns com os outros só porque não teem as mesmas crenças. Certo?
Eu gosto de trocar impressões com toda a gente, todos os credos, todas as políticas e, todas as cores. Espero bem que me compreenda. Respeitosamente, um grande abraço e, boa semana.
Obrigado amigo.
Tive e, tenho amigos padres. A compreensão é a melhor das compensações. Volte sempre.
Um abraço
A "polémica" (para uns) alusão ao uso da borachinha, há-de cair no esquecimento, vai-se ouvir dizer que não foi intenção torna-la como lei, etc, etc. Nada mudou.Se fosse para mudar teria aparecido como NORMA directamente do Vaticano não como ténue referência numa entrevista.
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