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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dia dos Fiéis Defuntos

Acerca da esperança
“Se você me ama, não chore por mim
Se você conhecesse o mistério insondável do céu onde me encontro...
Se você pudesse ver e sentir o que eu sinto e vejo nesses horizontes sem fim e nesta luz que tudo
alcança e penetra, você jamais choraria por mim.
Eu estou agora absorvido pelo encanto de Deus, pelas suas expressões de infinita beleza.
Em confronto com esta nova vida, as coisas do passado são pequenas e insignificantes.
Conservo todo o meu afecto por você, com aquela ternura que sempre nos devotamos.
O amor que lhe dediquei permanecerá na eternidade, íntegra e forte...
Pense em mim em plena alegria da vida, pois nesta maravilhosa morada não existe a morte.
Se você verdadeiramente me ama, não chore por mim.
Eu estou em paz.”
Santo Agostinho, séc. IV; in blogue: Tukakubana
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Algumas notas sobre o Dia de Finados: Por estes dias de santos e de almas são elevadas as peregrinações aos nossos cemitérios para rezar aos defuntos ali sepultados e colocar-lhes junto das suas campas as apetecidas flores. Naturalmente, que falta pensar e estudar quais as razões profundas de tais peregrinações. Nunca sabemos se são feitas em nome da saudade, da estima e do amor que se nutria pelos entes queridos. Ou se esse peregrinar às sepulturas não é a inquietação da morte que cada um transporta em si, necessitada de mediações que façam esquecer e contornar o sobressalto que é saber que se vai morrer.
Se não tivermos apenas em conta a terrível perplexidade perante a morte, mas o que nos ensina a psicóloga francesa, a vida talvez ganhe outro sabor: «não é a duração da vida que interessa, mas a sua qualidade» (Marie Hennezel, psicóloga francesa). Aqui está a grande questão sobre a vida. Viver bem não é igual a viver muito tempo. Esta ideia está sempre muito presente no coração de muita gente. A sociedade não procura viver com qualidade, mas antes procura mecanismos e todas as formas que façam perdurar a vida o quanto mais possível. Por causa desta mentalidade, encontramos muita gente sem qualidade de vida nenhuma, mas profundamente inquieta e perturbada com o problema da morte. E mais não fazem senão procurar receitas químicas ou supersticiosas para prolongar a vida.
A morte gera muita hipocrisia, muita dor/sofrimento, muita vaidade e até muita fantasia. Porém, é um caminho destinado a todos, ninguém, felizmente, está livre desta caminhada. O maior tesouro da vida é este. Nós cristãos ao olharmos os santos encontramos um manancial de liberdade perante a morte. Os verdadeiros santos souberam acolher a morte como uma graça e como um dom. São Paulo foi tão elucidativo sobre o seu desejo profundo de se libertar deste mundo para entrar na comunhão plena com Deus, quando já sentia a sua vida plenamente fundida em Cristo: «já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim». Deste modo, a morte é o horizonte mais certo que a vida contém no que diz respeito à libertação da miséria toda desta vida. Por isso, ninguém devia fazer da vida deste mundo uma preparação para a morte, porque a morte deve ser encarada como mais um momento da existência entre os infindos momentos que a vida deste mundo contém. A morada eterna não está no cemitério, porque este lugar é o depósito dos restos mortais (não é assim que dizemos em relação aos defuntos?), por isso, o verdadeiro culto em relação à multidão dos santos de Deus não se deve fazer aí nos depósitos dos restos mortais, mas antes e provavelmente na memória que cada pessoa guarda no seu interior, o verdadeiro lugar de Deus. No belo livro de poesia de Pedro Tamen podemos ler: «Ela não existe – nós existimos nela. / E faço este discurso envergonhado / (mas algo hei-de dizer enquanto sinto / que não é o meu fim que ali se encontra / mas o princípio) como quem senta / o rabo na borda da cadeira e escorregando / se afunda lentamente pelo chão: a viagem / é essa, esse é o rio – ou ela». Mas também José Gomes Ferreira soube definir muito bem a fórmula que nos permite olhar a morte com o seu verdadeiro sentido: «os pássaros quando morrem caem no céu». Como aprenderam facilmente os santos a pensar assim sobre a morte.
JLR

2 comentários:

Marilu disse...

Querido amigo, esse é um dia muito triste, mas para quem perde um ser querido, todos os dias são de Finados, porque a saudade é sempre muito grande. Beijocas

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...

Padre José Luís que grande texto que contém um Grande Hino de Santo Agostinho. Todavia, deveríamos cantá-lo nas nossas ultimas romagens . As homilias são desastrosas.Os sacerdotes presidentes tratam os cadáveres não como pessoas que tiveram Vida com todos os bocados bons ou maus, que ela nos impõe, mas,sim, como autênticos cadáveres a apodrecer mesmo ainda na superficie. Só quando são figuras de referência social é que têm palavras laudatórias etc. Já fui a funerais em o padre nem uma palavra dedicou ao defunto quando foi pai/mãe, filho/filha, marido/ou mulher, trabalhador ou patrão. Nada.Absolutamente, nada. Apenas o ritual dos funerais. É triste ser sepultado sem uma palavra de gratidão , de relevo , de saudação pela Vida Futura (isto pq estou num cerimonial religioso) . A minha santa Mãe foi assim.No entanto, so fez o bem em vida.Aos familiares e aos outros. E o padre que presidiu era novo do grupo dos 12. Estive para pegar no microfone e fazer a homilia em honra da minha querida Mãe -e do meu Pai. Só eu sabia dizer coisas bonitas acerca deles e não um desconhecido que apenas estava lá como funcionário da igreja. Sem afectos, sem alma.Tudo rápido.Consigo,Pe.José Luis , isto não acontece pq fala do irmão ou irmã que nos anteciparam nessa linda Estrada para o Infinito.Para Deus.Vê-lo "face a face" como dizia S.Paulo. E não ficaram na sepultura.Tal como Jesus ressuscitam. E a razão da minha fé está em acreditar no Além. Mais nada!"E se Cristo não ressuscitou tudo foi um desastre" S.Paulo