A
Madeira, refere o Ministério das Finanças em comunicado, «realizou um esforço
notável no sentido de alcançar as metas definidas, estando o Ministério das
Finanças em condições de revelar que foram cumpridos os limites do Programa
para 2012».
Por
sua vez, por parte dos governantes da Madeira, o melhor que lhes apraz dizerem também
nesta hora, é que a Madeira cumpriu o Governo da República não.
Estas
declarações são magníficas e revelam uma insensibilidade impressionante em
relação ao nosso povo espremido. Para estas entidades excelentíssimas há um
desplante impressionante para dizerem semelhante coisa e por elas nós
percebermos como estão felizes. Será que não há tempo e lugar para pensar um pouco
à custa de quem, do quê e do como chegamos a estes resultados?
Então
eu lembro algumas coisas. Não vou entrar com números de deficits, dívidas e
outros números de caris económico e financeiro. Isso pouco me interessa e nessa
área devo reconhecer que sou um completo ignorante e quando assim é devemos
deixar tudo isso para quem estudou e sabe dessas matérias, por isso, tem
autoridade para falar nesses dados.
Apresento
o que sinto e vejo por todo o lado. Eis então. Este «esforço notável» e a alegria
porque se cumpriu resultam, porque tínhamos alguém que entrou nos cuidados
intensivos de qualquer hospital. Este doente foi um maroto, andou a viver acima
das suas possibilidades e não cumpriu com todas as obrigações que a lei prevê. Adoece
gravemente, mas os responsáveis do hospital confrontados com a obrigação da
contenção, tirarem a ficha da tomada elétrica que o mantinha vivo, obviamente,
que o doente coitado morreu, resulta que todas as partes interessadas no doente
vieram a público e disseram todos, conseguimos, os valores da poupança estão
todos abaixo do previsto. Porém, esqueceram-se que deviam ter salvo uma pessoa,
mas pouco importa que essa poupança tenha resultado também no afogamento de
alguém que acaba na morte.
Outra
comparação. Alguém mais que farto com o mau cheiro e com o barulho dos galos no
galinheiro do seu vizinho, um dia perde a cabeça vai ao galinheiro e torce o
pescoço às inocentes aves. O dono das galinhas fica feliz porque deixou de
gastar dinheiro com as malditas das galinhas que estavam habituadas a comer
muito. Ainda agradece ao vizinho assassino pela feliz iniciativa.
Bom,
fora a brincadeira, se tivéssemos governantes a sério amigos do povo, diziam
logo e sem pestanejar este «esforço notável» resulta do estrangulamento das
pessoas, mais e mais desemprego, uma baixa horrível de salários, cortes terríveis
na educação e na saúde. E todos os cortes que sabemos ao nível das ajudas da Segurança
Social às famílias. Neste sentido, podemos dizer que tudo isto resulta de mais
pobreza, mais fome e da vergonha de vermos filhos a pedirem ajuda porque os
pais estão desempregados e não têm dinheiro para dar de comer aos filhos. Mais
ainda resulta de imensas famílias a entregarem as suas casas ao banco e vergonha
das vergonhas, um brutal rol de reformas penhoradas.
Ao lado disto continuam as despesas habituais, algumas obras desnecessárias, as festas de Natal, Carnaval e outras por essa Madeira dentro, apoios incríveis para alimentar e manter o que todos sabem, os salários e pensões para alguns e todas as mordomias que a maioria dos governantes não abdica descaradamente só porque a lei prevê, mesmo que a ética seja violentada severamente. Uma série de coisas que nos escandalizam e uma insensibilidade geral que põe em causa a justiça e acentua o fosso entre ricos e pobres entre nós.
Estes
são alguns aspetos de caris humano e social. E os custos psicológicos e da
qualidade de vida? – Disso quase ninguém fala. Numa palavra «o esforço notável»
e alegria porque «a Madeira cumpriu e a República não» resultam de uma tragédia
horrível que deixa a população da região à beira de um ataque de nervos que
ameaça consequência imprevisíveis.
Se tivéssemos governantes
responsáveis nunca fariam pronunciamentos deste calibre e ao menos teriam uma palavra
de simpatia e de consolo em relação ao povo que eles espremem com a mais fria insensibilidade
com pesados sacrifícios.
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