Semana Santa - reacender a esperança
«A Paixão não terminou no Calvário» D.
António Carrilho, bispo do Funchal.
Eis então o Calvário do mundo de hoje
onde soa tão alto a Paixão. Então, por falta de coragem por cá um bispo de lá,
concretizou, dizendo a voz de Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga. Porque embora a
Madeira tenha os seus Calvários com Paixões terríveis, escasseia, infelizmente,
militância apaixonada pelo nosso povo, para colocar-se radicalmente ao seu lado
e dizer com coragem o que deve ser dito.
Bom tendo em conta que o Calvário
Continental não deve divergir muito do nosso, embora seja só lá que há gente
agarrada ao poder, só lá é que é preciso mudança e só lá é que há forças obscuras
que fazem sofrer o povo com o crivo desumano da austeridade… O bispo de Braga
não teve medo de colocar o dedo na ferida, fazendo jus à trama terrível que resulta
na morte de um inocente, concretizando, hoje como antes as mesmas tramas em
nome da cegueira do poder que fazem vítimas sem culpa nenhuma.
Então não poupou o arcebispo de Braga
que a «corrupção judicial» e as «mentiras dos astrólogos» são uma praga que
conduzem à desgraça uma porção enorme do nosso povo. Estes continentais com o
que se entretêm… Reparem na seguinte questão: «Por que é que nós consentimos
que tantos seres humanos continuem a ser vítimas da miséria social, da
violência doméstica, da escravatura laboral, do abandono familiar, do legalismo
da morte, da corrupção judicial, das mortes inocentes na estrada, das mentiras
dos astrólogos, do desemprego, de uma classe política incompetente e do
monopólio dos bancos?» Pois, pois… sr. arcebispo Jorge Ortiga.
O prelado Jorge Ortiga manifestou-se
preocupado com o número de suicídios «que aumentam diariamente» em Espanha, por
causa da penhora de casas, e advertiu que, «em breve, este drama poderá chegar»
também a Portugal: Mas, à Madeira estou mais que convencido que nada disto
acontecerá… Lol. Estamos com quase com pleno emprego, com os idosos todos muito
bem servidos com o melhor sistema de saúde do país, reformas com os devidos suplementos
para que a ninguém falte nada para ter uma vida condigna, temos a melhor educação,
os melhores quadros em todos os serviços da administração pública… O eldorado
madeirense não tem Calvários nem muito menos Paixões, Srs. bispos.
Uma preocupação extensiva às depressões
dos jovens portugueses, «que se fecham nos seus quartos por causa do
desemprego», e às famílias «cujo frigorífico se vai esvaziando». Também por cá
deste Calvário e Paixão não nos queixamos.
A seguir denunciou as más ações daqueles
que têm a responsabilidade de salvar o país e o seu povo. Afirma o prelado: «Os
políticos, por seu turno, refugiam-se em questões sem sentido do verdadeiro bem
comum e o sistema bancário, depois de ter imposto a tirania de consumos
desnecessários para atingir metas lucrativas, hoje condiciona o crédito justo
às jovens famílias portuguesas, com taxas abusivas que dificultam o acesso a
uma qualidade de vida com dignidade» criticou veementemente o arcebispo de
Braga.
Eis então o quadro da Paixão dos
Calvários deste nosso país. É pena que entre nós não tenhamos uma autoridade
religiosa que dissesse alto e bom som que esta é também a nossa crua e dura
realidade. De qualquer forma, Deus continua a nos revelar, mesmo que distantes
de nós, vozes vibrantes que vêm, ouvem, leem e gritam profeticamente contra as
injustiças deste nosso país que há muito se esqueceu que a razão de ser mais importante
da sua existência como nação é o seu povo. São poucos os que pensam nisso e se
pensam é para fazem do povo matéria-prima para os seus intentos puramente
materialistas.
Mas, em todo o caso, que o Calvário e a Paixão de antes nos ilumine com
a luz da Páscoa que celebramos com esperança e que o novo céu e a nova terra aconteça
no coração de todos como sentido para a vida e que não faltem oportunidades
para que as pessoas se tomem e sejam tomadas como gente para sermos todos
melhores pessoas uns com os outros.
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