A participação das auditoras, no guião da maioria dos padres conciliares, deveria revestir-se apenas de um carácter simbólico. Mas, na verdade, elas foram muito além disso, participando com competência e vivacidade nos trabalhos das comissões, deixando sinais importantes nos próprios documentos conciliares. Alguns exemplos: a constituição “Lumen Gentium” vem a sublinhar a recusa de qualquer descriminação sexual; a “Gaudium et Spes” defende a visão unitária do homem e da mulher como «pessoa humana» e a igualdade fundamental de ambos. O contributo de Luz Maria Alvarez Icaza e do seu marido na subcomissão da “Gaudium et Spes” terá sido determinante para alterar a visão da sexualidade conjugal como «remédio para a concupiscência» e descrevê-la como ato e expressão de amor. E ficou célebre a resposta que a franzina Rosemary Goldie deu ao grande teólogo Yves Congar. No âmbito do debate sobre o esquema do apostolado dos leigos, ele estava pronto para inserir no documento uma elegante (mas condescendente) comparação das mulheres à delicadeza das flores. A australiana reagiu assim: «Padre, deixe lá as flores. O que as mulheres querem da Igreja é ser reconhecidas como pessoas plenamente humanas».
José Tolentino Mendonça, In Expresso, 2.3.2013
Para quem desejar aprofundar o assunto há um livro recentemente editado em Portugal, “As 23 Mulheres do Concílio. A Presença Feminina no Vaticano II” (ed. Paulinas, 2012). A autora é Adriana Valerio.
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