A
viagem do Papa Francisco à Terra Santa foi anunciada como uma viagem
estritamente religiosa, porém, tornou-se numa viagem mais relevante
politicamente do que religiosamente, se é que se pode dissociar uma realidade
da outra. Cada vez mais me convenço que não. A viagem do Papa Francisco demonstrou
isso mesmo e revelou que este Papa é o maior político da actualidade. Um verdadeiro
líder mundial. Nem Obamas, nem Merkels, nem, Putins, nenhum líder político de
hoje consegue suplantar a presença e a capacidade política que o Papa Francisco
apresenta com os seus inesperados gestos.
Tudo
é simbólico no Papa Francisco. Recordo a sua oração diante do muro da vergonha
com a testa encostada à parede, que revelou claramente uma denúncia contra
todas as formas de divisão e de desordem que este mundo continua a levantar
diante de si para se afastarem uns dos outros, suscitando ódios e vinganças desnecessárias.
Este gesto deve ter incomodado profundamente as autoridades israelita que
promovem e legitimam este muro betuminoso para fomentar a divisão entre povos.
Lembro
o encontro interessante do Papa Francisco que
se reuniu no domingo passado com o patriarca ortodoxo de Constantinopla,
Bartolomeu, na Basílica do Santo Sepulcro, em Jeruslém, para um encontro
ecumênico histórico pela união entre os cristãos do Ocidente e do Oriente. Aqui
o Papa explicou o significado deste encontro: «Nessa basílica, para a qual todo
cristão olha com profunda veneração, chega a seu ápice a peregrinação que estou
fazendo junto com meu amado irmão em Cristo, Sua Santidade Bartolomeu», disse o
papa.
Logo depois também
afirmou Papa que «Peregrinamos seguindo
as pegadas de nossos predecessores, o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras,
que, com audácia e docilidade ao Espírito Santo, tornaram possível, há 50 anos,
na Cidade Santa de Jerusalém, o encontro histórico entre o Bispo de Roma e o
Patriarca de Constantinopla».
À celebração «ecumênica»,
marcada por cânticos e solenidade, assistiram representantes das diversas
confissões cristãs, entre elas greco-ortodoxos, armênios ortodoxos e
franciscanos, os quais oraram juntos e publicamente pela primeira vez nesse
lugar sagrado para o Cristianismo.
Na declaração, de dez
pontos, Francisco e Bartolomeu se comprometeram a respeitar «as legítimas
diferenças, pelo bem de toda a Humanidade». Também concordaram em trabalhar
para que «todas as partes, independentemente de suas convicções religiosas,
favoreçam a reconciliação dos povos». Um momento de relevada importância para
reconciliação e par ao entendimento entre os cristãos.
Mas a cereja em cima do bolo
está no convite que é feito aos dois líderes dos países desavindos, Palestina e
Israel. O Papa Francisco convidou em Belém, o presidente de Israel Shimon Peres,
e o presidente palestineano, Mahmud Abbas, a orar pela paz no Vaticano. O
convite foi feito assim: «Quero convidar o presidente Abbas e o presidente
Peres para que, junto comigo, elevemos a Deus uma oração pela paz. Ofereço
minha casa, o Vaticano, para esse encontro de oração», disse, de maneira
inesperada, no fim da missa. Brilhante gesto. Não o faz no sentido de virem à
casa do Papa para negociações, mas a rezarem pela paz. Melhor é impossível.
Mas, há mais gestos
densamente políticos que saliento só para nos fazer pensar e aprendermos o
quanto a nossa vida perecisa de ser vivida com gestos simbólico, mas carregados
de mensagem que reconciliem e convoquem para o caminho da paz.
1.Papa Francisco beija a mão de um
sobrevivente dos campos de extermínio nazistas
2.
Jerusalém, Cidade de Paz: Papa Francisco e o presidente de Israel, Shimon
Peres, plantam uma oliveira no jardim do palácio presidencial.
3.
Papa reza pela paz junto ao Muro da Lamentações
4. O Papa Francisco
abraçou-se com o seu amigo o rabino judeu Abraham Skorka e o muçulmano Ombar
Abboud em frente ao Muro das Lamentações em Jerusalém, numa cena que já foi
denominada como o «abraço das três religiões»: Judaísmo, Cristianismo e
Islamismo.
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