Domingo II Quaresma
20 de Março de 2011
A Transfiguração
Domingo da transfiguração. Vamos ao encontro de alguns aspectos particulares que o texto de S. Lucas nos apresenta sobre este assunto. Primeiro, «Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago...», do grupo dos Apóstolos, estes eram os principais amigos de Jesus e destacam-se na sua intimidade. Hoje, à maneira desta ocasião Jesus, toma consigo cada um dos seus irmãos e mostra como o silêncio e a oração, continuam a ser os principais caminhos eficazes de intimidade com Deus Pai. E aí revela-nos plenamente qual a vontade do Pai. Parece irreal, mas também é possível escutar hoje nesse lugar da oração e do silêncio a voz do Pai, que nos mostra o rosto «refulgente» do Seu Filho muito amado, que veio ao nosso encontro para nos salvar da morte ou do sem sentido da vida.
Segundo, «subiu ao monte, para orar...», na Bíblia, subir o monte significa ir para mais próximo de Deus, estar mais intimamente ligado à transcendência. O Caminho da oração e do silêncio, requer espaços vazios de barulho, movimentos e azáfamas absurdas. Precisam de um monte, um lugar de paz, onde nos encontremos de verdade connosco próprios e com Deus Pai, que se aproxima sempre de todos, porque ama a todos com amor desmedido e não deixa de ser amor total derramado sobre os nossos corações aflitos.
Terceiro, «Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente...», a brancura significa que o lugar de onde é Jesus, é puro e santo. Tudo o que se refere à transcendência, à divindade de Jesus, apresenta-se com uma brancura refulgente.
Quarto, «Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias...», duas personagens do Antigo Testamento, que nos atestam claramente que tudo o que se está a passar com Jesus enquadra-se com o conjunto de toda a História da Salvação. São eles que falam da morte de Jesus em Jerusalém. Os personagens do Antigo Testamento, mostraram e viveram a expectativa do Messias, está Ele agora presente na humanidade para salvar a todos com a sua acção redentora que passa pela experiência da morte em Jerusalém.
Quinto, «o sono» de Pedro e dos companheiros. Este aspecto mostra-nos como todos nós facilmente nos deixamos levar pela sonolência e nos desligamos daquilo que Deus tem para nos mostrar.
No entanto, repare-se, que quando os discípulos despertaram, maravilharam-se com o poder e a glória manifestada em Jesus, que levou Pedro a pronunciar o seguinte: «Mestre, como é bom estarmos aqui!...», estar na presença de Deus é bom. Pedro revela-nos que esse calor de amor que emana da presença amorosa do lugar de Deus é sempre uma experiência que dá prazer e realiza plenamente as pessoas na felicidade.
Sexto, «veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra...», a nuvem simboliza a presença divina, que abraça todo o mistério da transfiguração que acaba de se dar neste lugar. A nuvem na cultura Bíblica tem a força da presença de Deus que envolve com o Seu amor a realidade onde deseja manifestar-se.
Sétimo e último ponto, «Eles (os Apóstolos) ficaram cheios de medo...», a presença de Deus, por vezes, provoca medo, porque o nosso coração se ocupa de coisas desnecessárias em relação à fé, isto é, em vez de acreditarmos de verdade no Seu amor e na Sua misericórdia, concebemos no nosso coração um Deus todo-poderoso que castiga e se vinga contra nós. Esta visão de Deus é totalmente destorcida e não tem sentido diante das palavras e gestos amorosos de Jesus. Repare-se na expressão que pronuncia a voz de Deus: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». Deus apresenta-nos o seu Filho muito amado e pede a cada um de nós que se deixe envolver pelas suas palavras, isto é, que seja capaz de o escutar porque a Boa Nova que Ele nos trás, é uma notícia que nos salva do sofrimento e da morte. Saibamos, pois, ser bons ouvintes de Jesus porque a Sua vinda para junto de nós é sempre para nos transfigurar daquilo que é limitação deste mundo para a vida eterna.
JLR
1 comentário:
Este relato, para mim, marca a distância que havia entre Deus e o Homem, distância vencida por Jesus que nos diz, transmite vivendo, coabitando e dando as soluções, que Deus vive no meio do Homem, dentro do Homem, se o Homem quiser.Mostra-lhe o que é bom, ficar aqui, mas não deixa de apresentar o contrário...Depois, tão simplesmente, dá-lhe a Liberdade de escolha com a garantia de que o acolhimento acontecerá sempre. São palavras que custam a encaixar nos tempos de hoje.Difícil, não impossível.
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