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sábado, 26 de março de 2011

Geração à rasca...

Vale a pena ler… Aí está… Uma parte do verdadeiro retrato.
- Então, foste à manifestação da geração à rasca?
- Sim, claro.
- Quais foram os teus motivos?
- Acabei o curso e não arranjo emprego.
- E tens respondido a anúncios?
- Na realidade, não. Até porque de verão não dá jeito: um gajo vai à praia, às esplanadas, as miúdas são giras e usam pouca roupa. Mas de inverno é uma chatice. Vê lá que ainda me sobra dinheiro da mesada que os meus pais me dão. Estou aborrecido.
- Bom, mas então por que não respondes a anúncios de emprego?
- Err...
- Certo. Mudando a agulha: felizmente não houve incidentes.
- É verdade, mas houve chatices.
- Então?
- Quando cheguei ao viaduto Duarte Pacheco já havia fila.
- Seguramente gente que ia para as Amoreiras.
- Nada disso. Jovens à rasca como eu. E gente menos jovem. Mas todos à rasca.
- Hum... E estacionaste onde? No parque Eduardo VII?
- Tás doido?! Não, tentei arranjar lugar no parque do Marquês. Mas estavacheio.
- Cheio de...?
- De carros de jovens à rasca como eu, claro. Que pergunta!
- E...?
- Estacionei no parque do El Corte Inglês. Pensei que se medespachasse cedo podia ir comprar umas coisinhas à loja Gourmet.
- E apanhaste o metro.
- Nada disso. Estava em cima da hora e eu gosto de ser pontual. Apanhei um táxi. Não sem alguma dificuldade, porque havia mais jovens à rasca atrasados.
- Ok. E chegaste à manif.
- Sim, e nem vais acreditar.
- Diz.
- Entrevistaram-me em directo para a televisão.
- Muito bom. O que disseste?
- Que era licenciado e estava no desemprego. Que estava farto de pagar para as reformas dos outros.
- Mas, se nunca trabalhaste, também não descontaste para a segurança social.
- Não? Pois... não sei.
- ….. E então, gritaste muito?
- Nada. Estive o tempo todo ao telemóvel com um amigo que estava namanif do Porto. E enquanto isso ia enviando mensagens para o Facebooke o Twitter pelo iPhone e o Blackberry.
- Mas isso não são aparelhinhos caros para quem está à rasca?- São as armas da luta. A idade da pedra já lá vai.
- Bem visto.
- Quiriquiri-quiriquiri-qui! Quiriquiri-quiriquiri-qui!
- Calma, rapaz. Portanto despachaste-te cedo e ainda foste à loja Gourmet.
- Uma merda! A luta é alegria, de forma que continuámos a lutar Chiado acima, direitos ao Bairro Alto. Felizmente uma amiga, que é muito previdente, tinha reservado mesa.
- Agora os tascos do Bairro aceitam reservas?
- Chamas tasco ao Pap'Açorda?
- Errr... E comeram bem?
- Sim, sim. A luta é cansativa, requer energia. Mas o pior foi o vinho. Aquele cabernet sauvignon escorregava...
- Não me digas que foste conduzir nesse estado.
- Não. Ainda era cedo. Nunca ouviste dizer que a luta continua? Econtinuou em direcção ao Lux. Fomos de táxi. Quatro em cada um, porque é preciso poupar guito para o verão. Ah... a praia, as esplanadas, as miúdas giras e com pouca roupa...
- Já não vou ao Lux há algum tempo, mas com a crise deve estar meio morto, não?
- Qual quê! Estava à pinha. Muita malta à rasca.- E daí foste para casa.
- Não. Apanhei um táxi para um hotel. Quatro estrelas, que a vida nãoestá para luxos.
- Bom, és um jovem consciente. Como tinhas bebido e...
- Hã?! Tu passas-te! A verdade é que conheci uma camarada de luta e...bem... sabes como é.
- Resolveram fazer um plenário?
- Quê? Às vezes não te percebo.
- Costuma acontecer. E ficaram de ver-se?
- Ha! Ha! Ha! De ver-se, diz ele. Não estás a ver a cena. De manhãchegámos à conclusão que ela era bloquista e eu voto no Portas. Saiuporta fora. Acho que foi tomar o pequeno-almoço à Versailles.
- Tu tomaste o teu no hotel.
- Sim, mas mandei vir o room service, porque ainda estava meio ressacado.
- Depois pagaste e...
- A crédito, atenção. Com o cartão gold do Barclays.
- ... rumaste a casa.
- Sim, àquela hora já não havia malta à rasca a entupir o tráfego.
Nota da redação: Recebido por mail, muito bem observado. Agradeço muito ao amigo que teve o cuidado de me enviar. Muitas das enrasquices tem coisas destas. E estas descredebilizam os verdadeiros enrascados....

4 comentários:

M Teresa Góis disse...

Pois, esta será a geração que não está à rasca. À rasca está a geração que não tem caro, tem um telemóvel, normal, que sente o esforço que os Pais fizeram para lhes custear estudos e aos irmãos, que estudou sem perder nenhum ano e obtendo médias boas, que quer ter filhos mas que precisa primeiro de um emprego qualquer que seja mesmo se nada tiver a ver com a sua formação académica e que sente a tristeza de ainda depender dos pais aos 30 anos, quando eles deviam estar a desfrutar de uma vida mais à vontade, com direito a férias e a uma reforma despreocupada.Lembro-me de uma das minhas filhas referir que tinha colegas com bolsa de estudo, que iam de carro p/faculdade, filhas de médicos.Noutro caso era o carro do gov. regional que ia por o menino....Nunca tive, no caso pessoal, qualquer direito a bolsas tendo 3 filhos fora de casa, estudando, pagando quartos, alimentação e transportes.A geração referida no texto não está à rasca não, pertence ao tal nº que enche as nossas universidades, que levam 6, 7 anos para fazer cursos de 3 (os meus filhos são antes de Bolonha) e EXPLORAM os Pais, sem objectivos nem horizontes.Mas, também destes, tenho pena, ainda que por outros motivos.

José Luís Rodrigues disse...

Tem razão cara amiga Tukakubana. Será necessário fazer a destrinça. Não está tudo no mesmo saco. Mas, que alguma desta geração teve tudo, lá isso é verdade. E os mais enrascados a meu ver ainda são os pais que têm em mãos a responsabilidade da educação dos filhos e do seu futuro. Nesses penso muito...

Espaço do João disse...

Eu compreendo os comentáios quer de um lado quer de outro.
E o nosso presidente da região autónoma não pertence a uma geração RASCA? Sabem por acaso quantos anos ele levou de folia para tirar um curso de marranço e, má educação? Eu bem sei e conheci-o bem.
Vejam só quantos indivíduos estão à "rasca" enquanto sua exª. anda agora a lamentar a atitude do presidente do PSD sobre as novas medidas que quer impor se por acaso não cair numa caçarola como coelho à caçador. Já anda a fazer campanha política, mesmo dentro do próprio partido.
Pobre geração à rasca, que somos todos nós.
Um abraço dum daqueles que nasceu durante a guerra 39/45 que sim !!! Nasceu e viveu sempre à rasca.

José Luís Rodrigues disse...

É caso para dizer-se, bem-aventurados os que andam à rasca, porque, se procuram desenrascar-se com sabedoria, luta e trabalho alcançarão a felicidade... Não há maior riqueza do que essa.