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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

«A revelação do mistério mantido em silêncio»

21 Dezembro 2008 Domingo IV do Tempo Advento – Ano B
Rom 16,25-27
A palavra grega «mysterion» (Mistério) é uma palavra significativa na teologia de Paulo, ocorre vinte e uma vezes ao longo dos seus escritos. Ela refere-se ao conhecimento que vai além da compreensão de pecadores, mas, que agora tem sido graciosamente revelado por meio do Evangelho. A ênfase do conceito está no facto que esta informação agora pode ser conhecida, que explica a sua associação em comum com palavras como apokalypsis, ‘revelação’ (Rom 16, 25; Ef 3, 3), apokalyptein, ‘revelar’ (1 Cor 2, 10; Ef 3, 5), gnorizo ‘dar a conhecer’ (Rom 16, 26; Ef 1, 9; 3, 3, 5; Col 1, 27), e phaneroo, ‘manifestar’ (Rom 16, 26; Col 1, 26) … Com a excepção de uma ocorrência do termo, o mysterion é o Evangelho (1Cor 14, 2 refere-se aos mistérios). A equação de Mistério com o Evangelho é algo implícito (1Cor 2, 1; 2, 7; 4, 1) e às vezes explícito (Rom 16, 25-26; Ef 6, 19; Col 1, 25-27). Às vezes mysterion refere-se a um aspecto específico do plano de redenção de Deus como o endurecimento dos judeus (Rom 11, 25), a inclusão dos gentios na igreja igualmente como os judeus (Ef 3, 3, 4, 9; Col 1, 26-27), a mudança a ser experimentada pelos crentes na parousia (o fim dos tempos) (1Cor 15, 51), a união de todas as coisas em Cristo (Ef 1, 9), e o Mistério da iniquidade que será revelada na parousia (2Tess 2, 7-8). Este mistério que Paulo proclama é a revelação do plano de Deus, e no entanto, sem amor, este conhecimento de nada valerá (1Cor 13, 2). Não há dúvidas de que existem coisas encobertas e pontos difíceis a serem entendidos na Bíblia (Deut 29, 29; 2Ped 3, 16). Dependendo na maneira pela qual os pontos estão aplicados ou entendidos podem colaborar para o nosso aperfeiçoamento (Ef 4, 12; 2Tim 3, 16s) ou levar-nos à perdição (2Ped 2, 1; 3, 16). Deus não pode ser completamente entendido, pois Ele é um ser infinito e nós finitos (Is 55, 8,9; Rom 11, 33s). As Escrituras são revelações de Deus, todavia, para o nosso entendimento (Deut 29, 29). A Bíblia não deve ser deixada de lado por Ela tratar de assuntos divinos e sublimes. Devemos procurá-la para termos o ensino de Deus. Só assim teremos esperança (Rom 15:4) e gozo completo (Jer 15, 16; 1João 1, 4). Somente vivendo adequadamente a Palavra de Deus podemos ser encaminhados a realizar boas obras (2Tim 3, 16). Se não tivermos uma Bíblia ou se fizermos da Bíblia um objecto de ornamento não procurando o Seu ensino seremos «crianças inconstantes, levados para todo o lado pelo vento de qualquer doutrina» (Efés 4, 11-14). As verdades que conhecemos hoje, nem sempre foram reveladas. Há assuntos que entendemos hoje, que por anos, muitos profetas e reis desejaram entender (Luc 10, 24; I Ped 1, 10). Os segredos que não foram entendidos no Antigo Testamento mas agora explicados no Novo Testamento são os que a Bíblia chama «mistérios». A própria palavra traduzida «mistério» ou «mistérios» no Novo Testamento (e estas palavras só se encontram no Novo Testamento) significa «segredo». E diante do Mistério, resta-nos o silêncio e uma verdade elementar, é mais o que não sabemos sobre a essência de Deus, do que aquilo que sabemos. Por isso, deixemos o nosso olhar interior contemplar essa realidade e isso é suficiente, para que a nossa fé encontre todo o sentido para ser útil à vida.

O poder da oração

A oração está para a vida do cristão, como a respiração está para a existência biológica. A vida não é possível sem a respiração. A vida espiritual não é possível sem a oração.
Mas, afinal o que é a oração? - logo de imediato podemos dizer que rezar é viver. A oração é vida e a vida é oração. Muitas vezes somos tentados a compartimentar os momentos de oração, torná-los momentos estanques do viver. Mas está errado fazer isto. Os momentos ditos de oração, que são aquelas ocasiões de encontro íntimo com a realidade que se acredita, devem ser um ponto de chegada da vida e depois também um ponto de partida para a vida. A vida é oração e a oração é vida. Jesus Cristo é o modelo por excelência desta formulação sobre a oração.
Os tais momentos ditos de oração, não devem reduzir-se a um rol de petições ou a um monólogo, mas devem ser antes momentos de entrega apaixonada à verdade do Reino que Jesus nos propõe. Caso não seja essa entrega a Deus e ao seu projecto, então entramos no domínio da oração puramente mercantilista, o autor Saint-Exupéry chamou a atentção para essa tentação: «A grandeza da oração reside principalmente no facto de não ter resposta, do que resulta que essa troca não inclui qualquer espécie de comércio».
Face a esta realidade, muita da oração está contaminada logo à partida, porque se reduz a uma procura de interesses pessoais, egoístas. O Apóstolo São Paulo vai ser muito claro ao coloacar a oração no domínio do «exame», para que seja uma forma de discernimento espiritual sobre a vida, para que as verdadeiras escolhas sejam feitas com verdade: «Examinai tudo, guardai o que é bom» (1Ts 5, 17). Neste domínio e de acordo com esta ideia Friedrich Novalis dirá «Rezar é para a religião o mesmo que pensar para a filosofia. Rezar é criar religião».
Por fim, resta-nos o seguinte ensinamento sobre a oração: «Como o corpo se não for lavado fica sujo, assim a alma sem oração se torna impura» (M. Gandhi). Mas, não haverá melhor mestre do que Jesus Cristo, Ele que na prática movimenta a oração e na oração movimenta a prática para Deus Seu Pai.
Tudo está no como cada um se encontra com Deus e consigo mesmo. A oração, os tais ditos momentos de intimidade, de silêncio e de diálogo interior, são uma forma sublime de se descobrir a si mesmo para logo depois se doar para a vida através do trabalho ou das tarefas do dia a dia. E «A melhor oração é a mais clandestina» (Edmund Rostand), exactamente como ensinou Jesus, a melhor oração seria aquela que se faria na «intimidade do quarto». E mais não ensinou sobre a oração senão o magnífico «Pai-Nosso», porque para a oração quis dar-nos a maior das liberdades. Boas orações para este mês da festa, onde cada um é chamado a desocbrir-se mais cheio de espiritualidade e menos de materilidade vã.