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quinta-feira, 5 de março de 2015

A loucura de Deus diante do mundo

Comentário à missa deste domingo III Tempo da Quaresma, 8 março de 2015
Quem é Jesus? - São Paulo responde assim: "pregamos Cristo crucificado, escândalo para os Judeus e loucura para os Gentios, mas, para aqueles que são chamados, tanto Judeus como Gregos, força de Deus e sabedoria de Deus" (1Cor. 1, 23-24). Extraordinária esta formulação do Apóstolo dos Gentios. Jesus como "escândalo" e como "loucura". Como encarar estes atributos aplicados a Jesus, quando todos nós a maior parte das vezes acreditamos e pregamos um Jesus longe da vida, muito das orações intimistas e do comodismo da consciência?
A história da Igreja está muito marcada por uma catequese acerca de Jesus totalmente desencarnado, apenas divino, sem história e sem este mundo, onde nós habitamos. A catequese forjou um Jesus pacato, muitas vezes somente tristonho e afeminado como se pode constatar nalgumas pagelas e na iconografia que a história das confissões religiosas cristãs edificou.
São Paulo com a sua acutilância e a seu apurado zelo missionário, destrona essa realidade e mostra que Jesus é o Cristo do alto da Cruz, que acolheu esse destino para ser escândalo e loucura. Não esteve com ponderáveis tolos, quanto às suas opções e destrona todo o pietismo patético para se apresentar radicalmente a favor da transformação da vida e do mundo.
O Evangelho deste domingo, mostra que, afinal, este Jesus, está bem dentro da história do mundo e da vida. A purificação do Templo de Jerusalém é prova de que estamos diante de um Cristo activo e bem empenhado na construção do mundo e da História. Jesus não é apenas o reformador do Templo mas Aquele que o substitui. Jesus é o Templo novo. A nova religião que convida à libertação e à eternidade, é a religião Cristã. Desta feita não temos um Jesus inativo, pacato ou submisso, mas um Jesus que intervém na História, para a transformar em realidade libertadora para todos.
Para nós seria mais fácil um Jesus apenas remetido à sua divindade, lá das alturas, que legitimasse os poderes deste mundo e que autorizasse alguma igreja ser patética com as excomunhões anacrónicas e com as condenações de alguns dos seus membros, porque ousaram pensar de modo diferente do institucional.
Somos levados a procurar diariamente a verdade sobre a nossa vida espiritual. Porque, também diariamente somos confrontados com as raivas absurdas que nos descontrolam o pensamento e as palavras. As teimosias nas nossas ideias fixas e manias pessoais são frequentemente uma propensão que nos ataca e que requerem uma dose elevada de limpeza ou de arrependimento. Diante das brigas inúteis entre vizinhos, colegas e companheiros de trabalho, o arrependimento deve estar sempre presente para que a reconciliação da amizade seja também uma constante na vida de cada pessoa e, sobretudo, se são pessoas que acreditam na pessoa de Jesus.
Com tudo isto, Jesus Cristo em nós será "escândalo e loucura" para muitos. Porque a lógica de Jesus nada tem a ver com a lógica guerreira e concorrencial que este nosso mundo apresenta, onde predomina a força dos poderosos, a «economia assassina» e a produção de pobreza em massa. Por isso, deixemos que o verdadeiro sinal da libertação se faça realidade no nosso coração, para que a vida toda se torne o verdadeiro sacrário onde o amor de Deus habita eternamente.

terça-feira, 3 de março de 2015

A ética do cuidado

Quaresma 2015
Baseando-se na mensagem do Papa Francisco, a Comissão Nacional Justiça e Paz, publica um texto de reflexão sobre a realidade de hoje na sociedade do nosso país. Seguem basicamente esta ideia central:  “A Globalização da indiferença”, que é a formulação usada na Mensagem do Papa Francisco enviada a todos nós, católicos, para a Quaresma de 2015.
Gosto muito que neste documento tenha sido invocada a memória de Maria de Lurdes Pintasilgo com esta citação, para nos proporem o caminho da «ética do cuidado» para que toda e qualquer indiferença seja esbatida. Reparemos: «O cuidado, afirma Maria de Lurdes Pintasilgo, trata das atitudes e das ações que testemunham que os humanos, as suas comunidades e nações, não estão isolados mas são interdependentes, conscientes da existência do outro e prontos a comprometerem-se com os outros (...). A ética do “cuidar” ultrapassa a um nível muito mais elevado a meta macro-económica de uma melhoria de qualidade de vida “algures” no futuro distante. (...) Uma ética do cuidado reside mais numa prática e menos num conjunto de princípios prédefinidos. (...) Implica um ‘hábito geral da mente’ centrado no cuidar (...)» (Maria de Lurdes Pintasilgo. 1998, Relatório da Comissão Independente População e Qualidade de Vida (Nações Unidas), pp. 343-344). Brilhante... Quem deseje ler o documento completo pode ir por AQUI.
Continuemos imbuídos pelo espírito da Quaresma que nos convida à conversão. Precisamos aprender e reaprender sempre a fazer com sabedoria todas as curvas do caminho da vida.