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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Para reflectir - Caridade Hipócrita

«Nos últimos tempos, preocupava-o sobretudo as misérias das classes - por sentir que nestas democracias industriais e materialistas, furiosamente empenhadas na luta pelo pão egoísta, as almas cada dia se tornavam mais secas e menos capazes de piedade. «A Fraternidade (dizia ele numa carta de 1886, que conservo) vai-se sumindo, principalmente nestas vastas colmeias de cal e pedra onde os homens teimam em se amontoar e lutar; e, através do constante desaparecimento dos costumes e das simplicidades rurais, o Mundo vai rolando a um egoísmo feroz. A primeira evidência deste egoísmo é o desenvolvimento ruidoso da filantropia. Desde que a caridade se organiza e se consolida em instituição, com regulamentos, relatórios, comités, sessões, um presidente e uma campainha, e do sentimento natural passa a função oficial - é porque o homem, não contando já com os impulsos do seu coração, necessita obrigar-se publicamente ao bem pelas prescrições dum estatuto. Com os corações assim duros e os Invernos tão longos, que vai ser dos pobres?...»
Eça de Queirós, in "A Correspondência de Fradique Mendes"
Nota: Uma reflexão importante para os nossos tempos que se preocupa tanto com tudo muito bem organizadinho e regulamentado preto no branco... Já o Evangelho de Jesus Cristo apela para o extraordinário valor que é dar discretamente e espontâneamente.

3 comentários:

Manuela Branco disse...

Boa Noite´Padre José Luis

Obrigada pelo seu banquete da palavra, deu-nos oportunidade de meditarmos e reflectir esta noite. Que o Senhor lhe conceda sempre esta sabedoria e que os outros lêm e ponham em prática.

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...

Ah grande Eça! Tanta falta faz ao Portugal e ao mundo actuais. Que linda prosa crítica, politica. Ele que que andou nos meandros do poder sem nunca se apoderar dele. A mulher que era aristocrata queria-o como frequentador dos chás da realeza. Ele sempre fugiu deles e, finalmente, foi a um, no qual estava a rainha. A mulher (esposa do Eça) toda satisfeita pergunta-lhe se ele tinha gostado de lá estar. Resposta -pronta- finalmente "beijei a pata régia". Hoje nos tempos actuais todos querem estar ao lado dos grandes e do poder para o pão ser comido por meia dúzia. Estão todos na mesma gamela. É uma vergonha. "Isto não é um país, é uma choldra"

M Teresa Góis disse...

Século XXI...Finalmente temos entre nós, à distância de um click, um Padre que cita Eça!Pelo muito que li de um e pelo que já conversei do outro, estais de ponto assente em muitos casos.De qualquer modo, o P.José Luís é um erudito, sabe citar ad hoc! Falta à Igreja madeirense sacerdotes que leiam Eças, Agustinas e Agostinhos, alguns teólogos, também. Uns parecem que só lêem "infalíveis", infelizmente para nós!...