Tenho pena. Muita pena por estar a escrever estas letras. Porque choro e rezo com as famílias da nossa terra que perderam os seus entes queridos por causa da fúria da intempérie que se abateu sobre a nossa querida Madeira. Sinto muito não poder escrever como escreveu o Ruy Belo «A Margem da Alegria». Esta hora em que entre nós se contam os mortos, feridos e desalojados, a mim, só me apetece dizer que a margem da nossa bela Madeira transformou-se na «Margem da tristeza».
O Fernando Alves na TSF no seu programa «Sinais», «Do Golden Gate» apetecia-lhe dizer os nomes da nossa cidade e disse-os de forma tão bela que me correram as lágrimas pelo rosto abaixo. Ele dizia: «Rua dos Ferreiros, Rua do Til, Rua das Hortas, Rua da Infância, Rua das Maravilhas; Caminho das Virtudes, Rua Nova da Alegria, Avenida Arriaga... – Para que seja possível de novo encontrar Deus nos Baldios».
A Água Viva que Deus é, está sempre no mundo para dar vida em abundância, porém, uma água vinda do céu como chuva, transformou-se nesse dia 20 de Fevereiro em água mortífera e destrutiva. Face esta fúria incontrolável, estamos nós aí sob a maior das fragilidades e nunca, nunca haverá nenhuma inteligência humana que faça travar um poder sempre maior do que este mundo. Mais um aviso terrível, mortífero veio ao nosso encontro para nos lembrar da nossa pequenez e fragilidade. Não somos nada perante a fúria da natureza ou o poder de Deus como quotidianamente dizemos.
Será que esta catástrofe não chega para que as nossas autoridades governamentais percebam que não se pode continuar com esta política de saque à natureza e que o ordenamento do território deve ser feito com o maior dos cuidados para que ninguém roube os espaços das ribeiras e das margens que são de todos nós e não apenas de alguns? E como é possível se permitir construções de casas debaixo do perigo evidente para toda a gente menos para as autoridades que têm a responsabilidade de decidir tais situações? – Não podem os lucros do saque da natureza encher os bolsos de meia dúzia da clientela partidária e logo depois a maioria pagar a factura elevada do sofrimento e da morte.
É tempo de pensarmos sobre tudo isto e retomarmos o caminho da humildade e procurar salvar os que mais necessitam de apoio material e espiritual. Também penso que é tempo de pensar mais na salvação interior e reavivar o temor de Deus para nos remetermos à nossa condição. Talvez devamos deixar sobressair em nós os valores humanos e espirituais que estão no coração de todos. E aprender o princípio evangélico essencial para esta hora: «Para que te serve Homem ganhar o mundo inteiro se vieres a perder a alma» e nesta linha de pensamento canta o poeta José Agostinho Baptista: «mais de acordo com as leis do sangue e da terra, / sem escutar o eco que nas regiões de eterna penumbra / nos convoca para o sepulcro, / vamos cumprindo a tua vontade, a tua / dádiva cruel, / Senhor».
E para esta hora fica-nos a som presente desse mar imenso de Deus cheio de amor e misericórdia que morreu em cada um dos nossos irmãos arrastados pelo turbilhão das águas e derrama-se nas lágrimas das famílias onde tais mortes se deram e sofrem as dores dos feridos. Em cada pessoa desolada pelas consequências desta terrível catástrofe está Deus presente com o Seu amor de Pai cheio de Bondade. Aí está «O Rosto de Deus», como nos ensina a Ana Teresa Pereira. Pois então fiquemos com a oração antiga do maravilhoso livrinho «O Dom das Lágrimas»: «Derrama sobre a nossa cabeça o turbilhão de água / Ó eterno Deus omnipotente / nossos olhos rebentem em fonte de lágrimas / que lavacro tornem inocente a mácula/ assim vençamos vingança das penas / e do pranto as altas chamas». Pois, então, que Deus nos proteja e nos abençoe.
3 comentários:
Padre José Luis palavras para quê? Ninguém pode prever certos fenómenos da Natureza, mas a incúria tb contribui para tornar o desastre maior. Mas,enfim...Vamos reconstruir e dar alento às pessoas que perderam os seus familiares e os seus bens.
Senhor Padre,
Venho prestar-lhe a minha solidariedade e por si ao martizado povo da bela ILHA da MADEIRA Que o Senhor conforte os vivos e dê o eterno descanso aos que pereceram. Lembro-vos nas minhas pobres orações.
Maria
que, para além da Natureza, prevaleça a mensagem da incúria, da irresponsabilidade de alguns homens. Acredito na Humanidade e, nela, na solidariedade. Deus há-de abrir a janela celeste para minorar, para confortar, para acarinhar e proteger.
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