Os nossos dias estão marcados por um afastamento grande das pessoas em relação à Igreja. Nada ou quase nada mobiliza as pessoas para os diversos serviços que a Igreja oferece. Um conserto de música com um cantor qualquer mobiliza milhares de pessoas, as iniciativas da Igreja estão reduzidas aos mesmos fiéis. Algo está mal. A Igreja perdeu a capacidade de atracção. E se não fosse a realidade trágica da morte, há muito que a Igreja tinha passado à história.
Não deve ser este simplismo rasteiro que nos deve centrar na análise das coisas. É preciso procurar mais fundo. Até dúvido muito, que as grandes enchentes que Nossa Senhora de Fátima consegue se não são mais um claro sinal da decadência em que tudo isto está mergulhado.
A Igreja tal como está não pode evoluir nem pode adaptar-se à realidade sempre nova que os tempos nos apresentam. Antes de mais não pode evoluir uma Igreja centralista e que perante as provocações ou apelos à mudança se fecha em copas e agarra-se ao poder com todas as suas forças. Não pode evoluir uma Igreja que se agarra a títulos e mordomias principescas, mais grave do que tudo isso, teimosamente, chama a esses anacronismos absurdos de serviços.
Não parece, mas o governo da Igreja tem muita importância. Ora, vejamos, A Igreja Católica funciona quase exclusivamente sob um poder vincadamente centralista, a autoridade central (entendida como sendo de direito divino). A Igreja Católica é a sociedade mais centralista do mundo. O seu chefe tem uma autoridade e um poder incomparável com qualquer outro governo. Assim sendo, só mesmo a doença, a velhice, o poder de comunicação e a atracção misteriosa é que nalguns momentos podem seduzir algumas pessoas. Mas a Igreja não vive disso. Precisa de muito mais e de outra forma de ser, para que seja uma verdadeira comunidade ou comunidades de irmãos solidários. Embora se saiba cada vez mais que a mentalidade actual, comandada pelo egoísmo, a concorrência, a intriga, a violência (...), não facilita em nada este sonho evangélico.
A perda de influência da Igreja em relação a tudo o que diz respeito às mulheres e aos homens, não se deve a querelas de ordem dogmática ou doutrinária, mas, simplesmente, a questões relacionadas com o seu funcionamento, maneira de governar e de falar à humanidade dos tempos de hoje. Assim sendo, descobrimos uma Igreja profundamente vulnerável à desconfiança que em relação a ela se manifesta, mostra-se angustiada pela perda de influência e está sempre certa de ter razão face aos ataques e nada procura aprender com as envistidas do mundo.
Por isso, há uma enorme discrepância face àquilo que o mundo pensa face a Igreja e aquilo que a Igreja entende de si mesma. Esta dissonância perturba a lucidez da Igreja, por isso, não admiram os frequentes tiros no pé que algumas destacadas eminências da Igreja aplicam.
A Igreja tem elementos suficientes para recuperar a capacidade de atracção que teve durante muito tempo. A Igreja precisa de se libertar de tudo o que é mundano e deixar de tomar a sua pastoral como se fosse um departamento dos governos. A Igreja precisa de ser o "Corpo de Cristo" e agir de forma livre e totalmente desinteressada das coisas deste mundo. A Igreja precisa de ser Mistério e anunciadora do Mistério da Salvação para todos os homens.
Para dar início a este anúncio seria importante começar pela linguagem e fazer ver em linguagem actual que o tesouro do Evangelho que a Igreja transporta, é o melhor caminho para felicidade.
14 comentários:
P. José Luís a igreja que acredito é de leigos. Papa, bispos, presbíteros (conservadores ou progressistas) são todos iguais. Jeus era um leigo. S. Francisco de Assis tb leigo. Por conseguinte, qual o motivo para falar sobre Jesus Cristo(mesmo com altar voltado para a frente, pós Vaticano II) quem faz o comentário,quem preside é alguém que foi benzindo por um igual a ele (Bento XVI). Para mim Bento XVI ou outro qualquer é-me indiferente. O que me interessa é Jesus e o seu Evangelho. Quando há tempos quis filiar-me na Associação João XXIII (Papa que abriu a janelas ao mundo)foi-me interdita essa filiação porquanto não tinha a licenciatura em teologia.
Pensava que o mundo era outro....Para entrar num banco é preciso ter dinheiro ou ser licenciado em economia.
São todos iguais.O que não sabia é que para amar a Deus é preciso ter um curso.
Na minha opinião, solidamente modesta, o que falta à Igreja é: pobreza, humildade, transparência, Caridade e diálogo.
Todo este trabalho foi iniciado com João XXIII que associava a estas qualidades a qualidade do humor, que esta igreja sisuda e benta não sabe o que é.Paulo VI prosseguiu e João Paulo I, o Papa assassinado, programava uma maior abertura na Igreja ou seja, por em prática as virtudes que acima referi. Infelizmente, já se começa a "assassinar" as crianças no ensino da Catequese - uma seca, diz a maioria.O "trabalho" que se pede aos pequenos leigos é trabalho de artes manuais: cartazes, pinturas, frases bonitas.A própria Celebração não é, regra geral, apropriada às crianças ou jovens; não há diálogo, não lhes é dada a importância que eles precisam, essa exclusividade de, mesmo pequenos, se afirmarem na comunidade.Depois, o que interessa `Igreja com "patrão" é muitas comunhões, crismas, casamentos, e, num entremeio, pedir, mantendo a distância da escada superior do altar ao último banco da assembleia. Temos depois os que uma vez ordenados, fazem os retiros - obrigatórios -, mas não se reciclam. Noto que muitos leigos evoluem mais do que muitos padres e isso é óptimo.
Vivi dois grandes movimentos católicos em Lisboa ("Os novos escolhem Deus" e "Por um Mundo melhor")e encontrava nos desconhecidos ao meu lado a mesma febre, o mesmo empenho, a mesma comunhão.Vivia-se Igreja.
Hoje, e referindo apandemia Mariana, arrastam-se multidões. Ficaram a saber mais da vida de Maria? Não. Perceberam melhoros seus sentimentos, dores ou alegrias? Não. Assimilaram a Sua mensagem que nos foi legada em vida? Não.Quere-se uma igreja AOS MOLHOS eu, simplesmente, prefiro-A mais vazia.
Caro Pe. José Luís,
Sem querer deixar aqui um texto enorme repleto de teologia na sua versão mais pura, acho que a Igreja continua a ser atrativa.
Quando a mensagem transmitida é pura e consciente os fieis aderem. Mas a meu ver o problema é mesmo esse! É ser uma mensagem vivida por quem a transmite!
Muitas vezes ouve-se muito e pratica-se pouco!
No entanto o Espírito de Deus vai actuando sobre os seus fieis instruindo-os a viver e anunciar o Reino de Deus (paz, justiça e verdade).
Apesar de tantos pontos de vista diferentes é muito importante a unidade na Igreja. Se não há comunhão não há Igreja.
Abraço,
Padre José Luís, gosto muito de seguir o seu blog pela sua frontalidade que admiro. É difícil nos tempos que correm ser-se tão frontal, sem se sofrer as consequências. Que o Senhor esteja sempre consigo!
Maria
Dinarte, não basta transmitir uma mensagem pura e consciente; é preciso que haja quem a saiba acolher. E isso aprende-se, vive-se. "Não se nasce cristão", um cristão faz-se ao longo da vida. Para isso precisa de mestres, acompanhamento, apoios e incentivos.
Mas estou de acordo com a actuação exemplar do Espírito, que nunca desiste! Valha-nos isso para as nossas omissões.
A palavra comunhão, na igreja tornou-se um chavão, que anda na boca de tanta gente e que a reclama para ser posta em prática só pelos outros. Lembro-me de gente que não sabe falar de outra coisa senão de comunhão para os outros, os bispos, alguns padres e leigos muito chegados a estes. Tantas vezes até me sinto enojado com tanto falar de comunhão, porque começo a lembrar-me dos tantos casos de padres que morrem abandonados sem apoio nenhum da igreja, dos párocos perseguidos nas comunidades sem uma palavra de quem devia apoiar, a não transparência das contas da igreja, os segredos dos negócios que a igreja faz com os poderes políticos, do património os leigos em geral e os padres nada sabem, só alguns previligiados que a igreja alimenta... E vêem-me falar de comunhão, pobre palavra quando pronunciada por algumas pessoas dentro da igreja.
tukakubana,
Concordo plenamente consigo!
Outro ponto importante na vida da Igreja é a formação. Muitas vezes nãe se entende certas questões da nossa fé porque nunca tivemos formação. Não basta a catequese, é preciso alargar horizontes.
E nós cristãos, temos a tendência de nos contentar com pouco, acho eu. É o que eu vejo (a começar por mim).
Pe. José Luís, a Igreja não é perfeita mas é sempre chamada à perfeição. Espero que entenda o contexto da palavra "comunhão". Surge na partilha de ideias com vista a criar uma Igreja mais justa, mais ao modo de Jesus.
Dinarte, obviamente que entendo e compreendi perfeitamente o teu comentário. Apenas alarguei o sentido da palavra comunhão e o desejo da mesma que também partilho contigo, mas, esta palavra devia merecer um maior respeito. E face ao uso desmedido da dita palavra, penso muito daquilo que Jesus diz no Evangelho: «Pensais que vim trazer a paz, não, Eu vim trazer a guerra». Algures li que tomar decisões, agir, viver é pura e simplesmente dividir. Interessante esta perspectiva. Pois, face a uma comunhão artificial, sem alma, construída, eu prefiro o confronto de ideias, o diálogo aberto no respeito pela dignidade de todos.
Alargando o sentido da palavra mágica "comunhão", e convergindo para uma igreja mais moderna e dinâmica, deve ser permitido o casamento aos padres.
Um padre tem todo o direito natural de compartilhar a sua vida com uma mulher.
É urgente desburocratizar a Igreja Católica.
Era para ontem!
MUITA PERSPICÁCIA.MUITA SAGACIDADE.PARABÉNS
P. José Luis esta Igreja não é atractiva para os jovens porque constantemente os exclui quer nas suas opções sexuais, quer na sua maneira de expressar os seus sentimentos e desafios. Esta Igreja vive de uma imagem que fabricou mas dentro de 10 anos terá os templos vazios porque ela ainda vive e se contenta com manifestações ilusórias como a visita da imagem de Fátima mas depois no dia a dia a Igreja está oca não responde aos desafios do mundo contemporâneo. Obrigado pela sua frontalidade.
Rodrigo Paulo
Esta Igreja não atrai porque parou no tempo. É uma Igreja que cada dia que passa deixa marcas de vergonha na humanidade. Veja-se o caso de centenas de padres pedofilos e de bispos que também o são e têm encoberto esta vergonha como é o caso da Irlanda. Depois a Igreja aparece todo moralista contra os homossexuais quando dentro da própria casa tem a podridão que mais tarde ou cedo vem ao de cima. Não sei se publicará o meu comentário, mas se o faço é para que a Igreja acorde e não continue na miragem de que muitos a seguem, pelo contrário muitos a toleram mas aos poucos acontecerá o que está á vista de todos, menos do Papa e dos Bispos.
SARA
Agora o Farinha quer que os padres casem. Bonito. Quando todos se separam querem meter os padres no tormento do matrimónio. coitados. Não desejem assim tão mal.
A Igreja não atrai? mas será que a igreja tem de atrair como um qualquer concerto com barracas da coral? tamos bem, tamos bem.
Falam da pedofilia dos padres mas esquecem que há mais pais de familia pedófilos. ninguém fala nisso, pois não, não é notícia.
Gostava de ver se a igreja do padre josé Luís está mais cheia que as outras. gostava de ver se há mais jovens. gostava de ver se há assim algo de tão diferente, de revolucionário. João Renato
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