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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Deus e eu

Há muito tempo que desejava apresentar no Banquete da Palavra um cardápio pela mão do amigo Raul Ribeiro. Finalmente, aqui está com a mestria e beleza da escrita que tão bem ele sabe apresentar. Desfrutem… E muito obrigado Raul e sê bem vindo ao nosso Banquete... 

“Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.”
Hebreus 11.1 
Qual a tua relação com Deus?
A resposta mais comum, nesta era de comunicação virtual e solidão espiritual, é de que “falo com ele, à minha maneira”. A procura activa pela palavra de Deus e pela descoberta ou aprofundamento da Fé, cada vez menos se traduz napresença assídua nos Seus templos e na partilha dessa vivência em comunidade. Neste tempo de querer ter tudo e crer não ter tempo para nada, é quase com naturalidade que nos tornamos passivamente indiferentes a Deus. De quando em vez, por descargo de consciência ou obrigação social, lá arriscamos sussurrar umas breves orações, enquanto desenhamos um mecânico e envergonhado sinal da cruz. Mas quando o nosso castelo, de areia feito, é abalado e ameaça desmoronar-se, é para Deus que nos viramos, em apelos lancinantes e fervorosas juras de eterna devoção. Concedida a Graça e regressados à bonança… “Deus sabe que eu não tenho tempo para Ele agora…”o
Tornou-se, assim, um expediente habitual afirmar que “falo com Deus, à minha maneira”. É uma muleta que desobriga da comparência e do envolvimento, e que prescinde de testemunhas e cúmplices. Ao mesmo tempo, eleva-nos a um estatuto superior à generalidade dos fiéis, que carecem de intermediário, local e hora marcada para comunicar com o Altíssimo.
Eu, pecador me confesso, também sou assim. Quando instado, como agora, a comentar a minha relação com Deus, dificilmente fujo a este lugar-comum. 
Contudo, com o passar dos anos, há um vazio cá dentro que teima em crescer. Há algo que falta, e que não se preenche com monólogos de circunstância. 
Falta-me a FÉ. 
Sim, tenho uma espécie de crença; sim, encontro Deus, o meu Deus, nas pequenas coisas de todos os dias, na simplicidade e na inocência, num olhar dos meus filhos ou no abraço de um amigo. 
Sim, acredito em alguma coisa; acredito na bondade como princípio ético e modelo de vida; acredito no amor e na alegria; acredito que o sentido de humor é uma dádiva, e que o riso nos aproxima do divino.
Mas, repito e insisto, falta-me a FÉ, e quero alcançar o conforto e a confiança que descubro no olhar de quem a tem.
Admiro aqueles que abrem a porta a Deus de sorriso aberto, sem fazer perguntas nem esperar contrapartidas, sem racionalizar nem questionar.
Eu ainda não o fiz, porque é sempre mais fácil rejeitar do que aceitar aquilo que não vemos nem conseguimos demonstrar. 
Curiosamente, este texto tomou um rumo totalmente diverso da minha intenção inicial, mas escrevê-lo teve o efeito de aproximar-me da essência de algo que me andava a escapar.
Hoje, acreditem, dei mais um pequeno passo em direcção a Deus.

A sede e o pote

Escrever nas estrelas
O clima político que se viveu este fim de semana na Madeira foi tão empolgante que a dado momento pensei, houve eleições regionais e ninguém me disse nada.
A sede é grande e são muitos com sede. A pressa e a vontade desmedida para chegar ao pote pode quebrar o pote e no fim o caldo fica entornado.
Para quem não se lembra do significa da expressão «ir com muita sede ao pote», aqui deixo o significado. Conta-se que uma pessoa andou pelo deserto durante muito tempo sem beber nem comer, quando estava quase à beira da morte por causa da forte sede, avistou um pote com água, mas foi com tanta pressa, mais ainda com tanta falta de atenção e com forte avidez para agarrar o pote, que o deixou cair no chão, reduzindo-se a cacos e água foi toda bebida pela areia. Por sua vez, o homem não conseguiu beber uma gota de água que fosse para saciar toda a sua forte sede. Isto é, quem quer fazer alguma coisa com muita ansiedade e vontade, pode espatifar com tudo e deitar tudo a perder.
Por isso, não é boa conselheira a falta de inteligência, movida pela ganância do poder. Os arranjinhos que colocam em causa promessas garantidas a pés juntos que se iriam cumprir, mas afinal, sobrepondo-se, os interesses podem ser esquecidas facilmente e «palavra dada é palavra honrada», como gostam tanto dizer agora. Os atropelos, uns contra os outros sem respeito, só porque é política tem que ser assim, não, não tem que ser assim, pode haver ambição, é certo, mas com serenidade, sem vinganças e sem sacrificar ninguém.
O mau exemplo que se passa para a sociedade, que quando se vê legitimada pelos maus comportamentos dos seus representantes ou proponentes a tal, encontra razão de ser na concorrência desleal, na lógica da cunha, na subserviência, no lambebotismo, no medo de pensar e de falar, nos insultos caluniosos… Apenas estes entre tantas coisas que não se esperam que venham dos meandros partidários, mesmo que queiram fazer-nos crer que isso é política e que o jogo democrático assim o exige.
Deve ser por isso que este pensamento do Mestre Sun Tzu, é necessário ser chamado à liça desta conversa: «O general que possui muita ambição não será um bom general e a derrota será certa. Um bom general deve vencer-se a si próprio para depois vencer os adversários». O jogo começou, é certo, o tempo do jogo é longo e, seguramente, que os agentes do jogo serão muitos. No decorrer do jogo veremos onde estarão as melhores propostas e os agentes políticos que melhor se apresentam com seriedade e sinceridade para levarem a cabo a sua concretização. O povo pode ser manso, mas não e tolo, felizmente.