Há muito tempo que desejava apresentar no
Banquete da Palavra um cardápio pela mão do amigo Raul Ribeiro. Finalmente,
aqui está com a mestria e beleza da escrita que tão bem ele sabe apresentar. Desfrutem… E muito obrigado Raul e sê bem vindo ao nosso Banquete...
“Ora, a fé é a certeza daquilo
que esperamos e a prova das coisas que não vemos.”
Hebreus 11.1
Qual a tua relação com Deus?
A resposta mais comum, nesta era de
comunicação virtual e solidão espiritual, é de que “falo com ele, à minha
maneira”. A procura activa pela palavra de Deus e pela descoberta ou
aprofundamento da Fé, cada vez menos se traduz napresença
assídua nos Seus templos e na partilha dessa vivência em comunidade. Neste
tempo de querer ter tudo e crer não ter tempo para nada, é quase com naturalidade
que nos tornamos passivamente indiferentes a Deus. De quando em vez, por
descargo de consciência ou obrigação social, lá arriscamos sussurrar umas
breves orações, enquanto desenhamos um mecânico e envergonhado sinal da cruz.
Mas quando o nosso castelo, de areia feito, é abalado e ameaça desmoronar-se, é
para Deus que nos viramos, em apelos lancinantes e fervorosas juras de eterna
devoção. Concedida a Graça e regressados à bonança… “Deus sabe
que eu não tenho tempo para Ele agora…”o
Tornou-se, assim, um expediente habitual
afirmar que “falo com Deus, à minha maneira”. É uma muleta que
desobriga da comparência e do envolvimento, e que prescinde de testemunhas e
cúmplices. Ao mesmo tempo, eleva-nos a um estatuto superior à generalidade dos
fiéis, que carecem de intermediário, local e hora marcada para comunicar com o
Altíssimo.
Eu, pecador me confesso, também sou
assim. Quando instado, como agora, a comentar a minha relação com Deus,
dificilmente fujo a este lugar-comum.
Contudo, com o passar dos anos, há
um vazio cá dentro que teima em crescer. Há algo que falta, e que não se
preenche com monólogos de circunstância.
Falta-me a FÉ.
Sim, tenho uma espécie de crença; sim, encontro
Deus, o meu Deus, nas pequenas coisas de todos os dias, na simplicidade e na
inocência, num olhar dos meus filhos ou no abraço de um amigo.
Sim, acredito em alguma coisa; acredito
na bondade como princípio ético e modelo de vida; acredito no amor e na
alegria; acredito que o sentido de humor é uma dádiva, e que o riso nos aproxima
do divino.
Mas, repito e insisto, falta-me a
FÉ, e quero alcançar o conforto e a confiança que descubro no olhar
de quem a tem.
Admiro aqueles que abrem a porta a Deus
de sorriso aberto, sem fazer perguntas nem esperar contrapartidas, sem
racionalizar nem questionar.
Eu ainda não o fiz, porque é sempre mais
fácil rejeitar do que aceitar aquilo que não vemos nem conseguimos
demonstrar.
Curiosamente, este texto tomou um rumo
totalmente diverso da minha intenção inicial, mas escrevê-lo teve o efeito de
aproximar-me da essência de algo que me andava a escapar.
Hoje, acreditem, dei mais um
pequeno passo em direcção a Deus.