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quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Sobre o meu avô

O meu avô era um figurão de homem. Sempre me lembro dele. O seu carinho. O Seu afecto. A sua paz interior. O seu sorriso. A sua bondade. Nada nele escapava à ternura e ao amor por todos. Um homem completo. Diríamos que era um «homem dos sete ofícios». Sabia tirar dentes. Sabia cortar os cabelos. Sabia esterilizar (capar) os porcos e os cabritos. Um agricultor de primeira. Um tratador de animais como poucos. Pois, então, uma só palavra, um artista. As solicitações não paravam a todas as horas do dia e da noite. E estava o avô José ou o de «cima» - era a sua alcunha, o José de Cima ou o tio de cima, como toda a gente sabia pronunciar com todo o respeito – mas, de cima, porquê? - Porque um pouco em baixo residia outro familiar do meu avô, chamado de «baixo» ou tio de baixo, como toda a gente o tratava nas redondezas. Estamos perante duas famílias, os de cima e os de baixo. Nada mau, para trato num ambiente rural, onde podiam surgir as alcunhas muito graves. E assim se faziam os sítios da nossa terra, as figuras emblemáticas existiam e todos nutriam por elas um respeito sagrado. Mas, a parte estes considerandos. Gostaria mais de destacar a figura sublime do avô. Um homem lindo de morrer. O seu rosto enrugado aqui e ali, uma barba branca da cor da neve, os cabelos, já muito poucos por sinal, mas reflectiam uma brancura transcendente. O seu estilo na forma como sugava o cigarrinho Santa Maria, aproveitado até à exaustão, elevava para a admiração. O seu acto de fumar era um cerimonial, um acto feito de prazer e alegria pela vida. Então era vê-lo nas tardes de Domingo, na entrada da casa, bordão na mão direita e o cigarrinho Santa Maria na outra, a ser gostosamente fumado com o delírio da festa, que eram as tardes de Domingo nos recantos dos caminhos. Por isto tudo, o meu avô fica na memória e nunca mais deixará de ser uma figura da minha infância. Nos momentos de maior cansaço, tristeza ou desânimo, regresso a ele e nele e por ele encontro outra luz e outra vontade para caminhar. Desta forma, acredito na eternidade. Mais acredito que a ternura, os simples gestos dos avós marcam para sempre as novas gerações. Só assim se percebe que o amor é eterno. Esta é a melhor herança que os avós poderão deixar.

1 comentário:

sarocas disse...

Adorei o texto.. Também tenho em mim uma espantosa memória do meu avó. Foi uma grande pessoa para toda a minha familia. Todos nós sentimos a sua falta. Simplesmente me identifiquei com o seu texto e quis demonstrar o meu apreço por me ter feito lembrar o quão importantes são os nossos avós.