Em causa recentes escândalos de pedofilia
10.03.2010 - 19:40 Por António Marujo
O cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, afirmou que a Igreja Católica deve examinar o tema do celibato eclesiástico na procura de explicações para os actos de pedofilia cometidos por membros do clero.
A declaração do cardeal surge tanto mais importante quanto Schönborn é considerado um homem próximo do Papa Bento XVI.
Numa publicação da sua diocese, hoje editada e citada pela AFP, o cardeal considera que devem ser examinadas sem compromisso as possíveis causas por trás dos escândalos de pedofilia que têm atingido vários países. Nos últimos dias, foram revelados casos na Alemanha, Áustria e Holanda.
“Isso inclui a questão da educação dos padres, tal como a questão do que se passou a seguir à revolução sexual da geração de 1968. Isso inclui o tema do celibato, tal como o desenvolvimento pessoal”, escreve o cardeal.
Na Áustria, nos últimos dias, foram tornados públicos três casos de abusos, relativos às décadas de 1970 e 80. Nos três casos, veio ao de cima o encobrimento que a hierarquia tinha feito do que se passara.
Schönborn acrescenta que compreende a frustração de numerosos funcionários de comunidades religiosas. “Basta de escândalos! Como fazemos nós para sermos considerados suspeitos de infracções que não cometemos? Porque é sempre à Igreja no seu conjunto que é apontado o dedo”, acrescenta.
Quem não tem dúvidas sobre a importância do celibato na questão é o teólogo germano-suíço Hans Küng, que viu várias das suas posições serem condenadas logo no início do pontificado de João Paulo II. Antigo colega do actual Papa na universidade, ainda na Alemanha, Küng admite que estas situações acontecem também nas famílias, escolas, associações e em igrejas onde não existe a regra do celibato.
Num artigo publicado no "Le Monde", sexta-feira passada, Hans Küng sublinha que “estes desvios não se devem atribuir ao celibato”. “Mas este é a expressão estrutural mais surpreendente da relação crispada que a hierarquia católica mantém com a sexualidade, a mesma que determina a sua relação com a questão da contracepção e outras.”
No texto, o autor de O Cristianismo – Essência e História, e de várias outras obras publicadas em português, acrescenta que no evangelho o celibato “não pode ser considerado senão como uma vocação livremente consentida (um ‘charisma’) e não como uma lei universalmente constrangedora”. E acrescenta: “É o celibato erigido em regra que contradiz o evangelho e a tradição do catolicismo primitivo. Convém, por isso, aboli-lo.”
A regra do celibato, escreve ainda este teólogo, tornou-se um pilar essencial do sistema “romano”, reforçando o clericalismo. Ao mesmo tempo, tornou-se hoje a causa principal do “défice catastrófico” do número de padres, do “abandono – carregado de consequências – da prática da comunhão e em muitos casos do desmoronamento da assistência espiritual personalizada”.
Nota da redacção: Muito interessante que o assunto Celibato do clero esteja a ser colocado na base dos escândalos sobre pedofilia. E cada vez mais se discute a necessidade de ser abolida esta regra desumana e anacrónica, para passar a ser uma opção livre e responsável no seio da Igreja e como se tornará a Igreja uma comunidade mais humana e fraterna quando no seu seio conviverem sacerdotes casados e solteiros. Porém, todos acolhendo o Celibato como um dom que edifica toda a Igreja. Muito bem, estou seguro que o Espírito Santo guiará a Igreja para o lugar certo.
5 comentários:
Padre José Luís o Espírito Santo ilumina este Papa nalgumas coisas que ele diz, nomedamente, no âmbito social e ambiental. Nisto, ele é progressista e faz reflexões muito sérias e bonitas. Sabe, neste aspecto, questionar-nos. Mas lá no que concerne à Igreja ele é um conservadorão da pior espécie. Por consequinte, não acredito que o celibato (razão única de os padres e bispos serem imorais e depravados)seja com este Papa sequer posto em causa. Ele põe tudo em orações. E é pena pq há sacerdotes que saíram da igreja e eram bons, porque não estavam para auguentar a disciplina desumana e assexuada do celibato. Os eunucos são os indivíduos com distúrbios. Psicologicamente abalados e quem paga são as crianças ou adolescentes. A igreja católica é muito intrasigente e inumana nas questões da sexualidade. Bento XVI é tridentino.Autoritário.
Mas que é um sinal importante e interessante que cardeais próximos do Papa comecem a colocar o assunto, é muito importante... Até ao dia que a mudança acontrcerá, se Deus quiser, para bem da Igreja do Evangelho de Cristo.
Das opiniões que vão sendo tornadas públicas por cardeais próximos da Cúria, temo uma coisa - que sejam "calados". O conservadorismo existente é notório. Fica levantada a polémica que pode ser uma corrente a suscitar coragens, mas o Vaticano tudo calará. Por outro lado, à medida que vão sendo revelados factos com décadas, não seria de admirar que outros mais recentes venham a público.
João Paulo I teria reformulado a Igreja e deu conta das suaS INTENÇÕES, por isso teve vida breve. Estes factos enchem-nos de tristeza.
Há pais de família pedófilos. O problema da pedofilia, tão grave, não é do celibato mas da incapacidade estrutural de certos homens viver a sua afectividade e sexualidade. Ingénuos são aqueles que pensam que por acabar o celibato acabaria a pedofilia. Ilusão. O problema é muito mais grave e mais complexo. A Igreja não obriga ninguém ao celibato, é uma opção livre. Quem aceitou o celibato deve ser em cada dia humilde a viver este grande dom e vocação e ao mesmo tempo chaga aberta que magoa e doi no seguimento de Cristo para uma doacção total. É triste ver padres que para justificarem a vida que levam atirarem pedras ao celibato. Sejam mas é crescidos e mais maduros, ou pensam que a vida é fácil, mesmo para quem é casado?
Caro anónimo: Não se julga ninguém, nem faça papel de filho mais velho da parábola do Filho Pródigo. Você conhece todos os padres? Você conhece o Cardeal de Viena e o porquê desta figura relevante da Igreja e próximo do Papa Bento XVI, reflectir o que refletiu? Quem disse que acabaria a pedofilia se o Celibato deixar de ser uma regra imposta a todos os padres? Cuidado com o que se diz e que se rocure reflectir com elevação sem acusações. É isso que o Espírito Santo deseja. Se os nossos antepassados temessem a mudança, o que seríamos nós hoje. Não temer a mudança é um dom maravilhoso que nos oferece o Espírito de Deus.
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