Crónica
Considero importante questionar o alcance da indústria do futebol na sociedade portuguesa. É demasiado o tempo que as pessoas consomem a ver, a ouvir, a discutir, a pensar nas suas paixões futebolísticas. É demasiado o espaço ocupado pelo assunto futebol e anexos, nos meios de comunicação social, sem critérios pedagógicos e apenas seguidores das audiências. Inventam-se jogadas e criam-se factos porque a realidade não basta para tão pouca notícia!
Não é sábio, nem é são subjugar as mentes e os corações a tanto discurso inútil, repetitivo, explorador e alimentador de rivalidades, sujeito a uma lógica de mercado.
O desporto é bom, sobretudo, quando praticado. Transformado em espectáculo distrai, serve de catarse, põe à solta os instintos, patrocina e enriquece a indústria, reduz a visão do mundo e das pessoas. Quando começa a faltar o pão, redobra-se o jogo para entreter e distrair dos problemas.
Os sinais de crise, patentes de alguns anos a esta parte, são depressa ignorados: por fintas para a frente, caneladas nos ditos intelectuais, medo da impopularidade e permanentes e novos campeonatos, nacionais, europeus, mundiais.
É impressionante como o sistema industrial fabrica a influência nas conversas, a alteração de horários na vida familiar, o investimento afectivo, a centralidade de observação existencial. Todos se lembram como, graças ao futebol, a bandeira nacional passou a ser estimada. O que faz crer que os nossos Maiores, os que identificam o melhor da Pátria, são os jogadores de futebol!
Não admira que nas novas gerações haja muitos a desejarem ser jogadores, até pelos escandalosos proventos! Dedicar-se ao bem comum, seja na política, seja na ciência, seja nas artes ou nas comunidades religiosas, não aparece como apreciado e sedutor.
Este artigo integra o livro "Para lá do Tempo - Opinião no página 1", selecção de textos escritos para o jornal online da Renascença. O volume inclui participações de D. Carlos Moreira Azevedo, Cristina Robalo Cordeiro, Cristina Sá de Carvalho, Fernando Adão da Fonseca, João Ferreira do Amaral, José Miguel Sardica, José Tolentino Mendonça, Luís António Santos, Luís Cabral, D. Manuel Martins, Manuel Pinto e Maria do Rosário Carneiro.
D. Carlos Moreira Azevedo In Para lá do Tempo - Opinião na página 1, ed. Paulinas
2 comentários:
Padre José Luís "Panis et circus" trinfou sempre ao longo da história da humanidade. Em Portugal era "fubebol fado e fátima" o tal engodo que alienou as pessoas para desviarem-nas da política. Hoje, apesar de tudo, as pessoas discutem, estrabucham só que o desporto rei é mais forte que as discussões nas Assembleias da República e Regionais. Alguém se interessa com isso. Mas, exceptuando, o meu Ilustre Amigo, as homilias das igrejas são muito pobres e desmotivam as pessoas a serem críticas ou analistas dos
problemas que afligem a sociedade. A Igreja voltou-se para a sexualidade e ancorou aí o seu discurso e os problemas do desemprego, fome, Natureza são para s política. A virgem peregrina para mim tem o mesmo efeito do futebol. As rezinhas, a beatice , as velinhas, processões. Tudo isto infantiliza-nos o nosso amor ao Evangelho.
Para além das palavras de José Ângelo, creio e com muita convicção que o mal do povo português é a falta de cultura. Mos tempos da trilogia "futebol, fado, fátima" havia mais cultura a a partir dos bancos de escola: no programa escolar, nos hábitos de leitura impingidos ou não, mas que geraram gerações com apenas 4ª classe, sobretudo mulheres, com conhecimentos maiores do que os jovens que hoje saem do 12º.Referirei só e apenas, a História de Portugal, a Geografia, as Ciências...
Hoje, à custa do futebol querem construir a "Portugalidade" made in China, pendurada nas janelas. As caneladas, essas, já vêm da cultura de casa ensinada aos pequenos...
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