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segunda-feira, 22 de março de 2010

A instituição Igreja tem um problema estrutural e cultural

Por Ana Vicente#
A opinião pública em geral e a comunidade dos baptizados em particular, ou seja, a Igreja, de acordo com as orientações do Concílio Vaticano II, está/estamos em estado de choque com as revelações acerca dos imensos sofrimentos infligidos a crianças e adolescentes, de ambos os sexos, por membros do clero católico (e por algumas freiras) ao longo destas últimas décadas em muitos países do mundo (provavelmente em todos) e também em Portugal. Logo surgem vozes dizendo que tal também acontece noutros meios e em especial no âmbito da família - é verdade, mas a sabedoria popular afirma que um mal não desculpa outro e procurar minimizar a gravidade dos abusos com este tipo de argumentação é, em si, já um abuso.
Há muito que se sabia que estas violências existiam, mas quem procurava levantar a voz era, quantas vezes, calado. Em 2005 conheci uma norte-americana, dos seus 40 anos, que tinha sido abusada sexualmente pelo senhor prior, aos 7 anos de idade. Amigo da família, ela não se atreveu a contar aos pais o que se tinha passado. Salvou-a mudar-se para outra zona dos EUA, enquanto as crianças que continuaram na paróquia continuaram a viver num estado de extrema vulnerabilidade. Quando jovem mulher fez queixa à diocese, que se comprometeu a pagar-lhe uma terapia, desde que ela assinasse um documento a afirmar que jamais falaria do caso. Foi preciso passarem uns anos para que ela percebesse a violência do que lhe tinha sido exigido e rompeu o silêncio, sendo hoje uma dirigente de uma das principais associações de vítimas de abuso clerical.
A ocorrência destes abusos força-nos a procurar reflectir o porquê e qual a forma de garantir que "nunca mais". E também de fugir de respostas generalistas, do tipo: o problema é haver tantos padres homossexuais numa instituição que condena a homossexualidade (não confundir homossexualidade com pedofilia). Ou o melhor é acabar com o celibato imposto aos padres na Igreja ocidental desde o século XI, mas não imposto ao clero anglicano que queira agora integrar a Igreja Católica.
O cenário é, creio, bastante mais complexo (embora essas questões sejam muito sérias) e tem a ver com a forma como a instituição Igreja se tem vindo a organizar. O problema é estrutural e cultural e realça o facto de imperar na instituição um clericalismo e um autoritarismo que nada tem a ver com o espírito dos Evangelhos. Aí, o fundador do cristianismo combate activamente o clericalismo e declara mesmo que ele é o único sacerdote. Mas o ser humano tem tendência para estabelecer distinções entre as pessoas e rapidamente se montaram estruturas de poder e de hierarquia que colocaram sobre pedestais pessoas do sexo masculino, escolhidas para uma missão vista como sobrenatural. Se esta foi e continua a ser a atitude face aos padres, os bispos então viam-se e eram vistos como seres muito especiais, acima de qualquer suspeita, porque não seriam bem bem humanos. Com agendas tão sobrecarregados como as dos políticos, poucos descem ao povoado para contactar com a vida quotidiana da vasta maioria da população. Do alto da sua autoridade, estes padres e bispos, a quem é imposto um celibato incompatível com a grande maioria do ser e do estar dos seres humanos, assumiram um poder sobre os comportamentos e sobre as consciências dos fiéis que, repito, nada deve ao espírito evangélico. Evidentemente sempre houve padres e freiras que reflectem santidade nas suas formas de vida, mas o que nos preocupa é a extensão de um fenómeno de abuso de autoridade por parte de pessoas que deveriam ser exemplos morais em comportamento e em misericórdia.
A obsessão pelo comportamento sexual dos fiéis, traduzida num sem-fim de instruções, proibições, admoestações, emanadas de um clero exclusivamente masculino e celibatário, resultou, finalmente, em que a grande maioria dos fiéis fizessem orelhas moucas. As relações pré-matrimoniais são largamente praticadas e aceites pelos católicos praticantes, como o são o uso de métodos contraceptivos ditos "artificiais", que mais não são do que a manifestação de uma atitude responsável face à parentalidade, por que obviamente todos os métodos "iludem a natureza", como concluiu a maioria dos membros da comissão que aconselhou Paulo VI sobre a necessidade de uma nova atitude face à sexualidade (mas que lamentavelmente não foi atendida com as consequências que se conhecem - uma imensa perda de credibilidade do Vaticano).
O teólogo inglês Timothy Radcliffe, que já foi superior dos dominicanos e esteve em Portugal, declarou que "esta terrível crise dos abusos sexuais está profundamente ligada ao facto de que o poder pode corromper as relações humanas". E apela para que a Igreja se transforme num espaço onde seja possível encontrar Deus e os/as outros/as em clima de amizade e de acolhimento, em que seja reconhecida a igual dignidade de todos os baptizados, em particular os mais frágeis e vulneráveis.
E, evidentemente, uma estrutura que teme as capacidades e os carismas de metade (ou a maioria) dos seus crentes, as mulheres, excluindo-nos do serviço e do ministério, não pode estar sã. Quem está interessado nestas mudanças urgentes? Quem terá coragem para as promover? E quem as teme? E quando é que em Portugal vão emergir as pessoas de ambos os sexos que foram vítimas de abusos, sexuais, físicos, psicológicos, por parte de padres ou freiras? Para que "nunca mais" tais violências possam ser repetidas.
(# Membro do movimento Internacional Nós Somos Igreja e investigadora)
Nota da redacção: impossível ser mais realista quanto ao estado da nossa Igreja católica actualmente. Estamos perante um texto muito importante, que deve fazer reflectir todas as pessoas que se inquietam com os problemas graves que atravessam a Igreja Católica de alto a baixo. Obrigado Ana Vicente pela brilhante reflexão.

23 comentários:

joaquim disse...

Mais uma vez em absoluto desacordo!

E desculpe que lhe diga mas não é minimamente um retrato realista da nossa Igreja Católica!

Abraço em Cristo

M Teresa Góis disse...

Grandeza de texto-sem ofender demonstra as fragilidades pecaminosas desta Igreja.Diz bem a autora que esta Igreja que ao longo de séculos prega a moral e os bons costumes,que persegue famílias, que denuncia o divórcio não aceitando cristãos-recasados (ou não), que inferniza a catequese das crianças e jovens e que omite as suas próprias derrotas.Há que conciliar o diálogo e a razão, há que abrir os tabus e, disto eu não abro mão, há que punir civilmente os culpados e denunciando-os publicamente, não por uma questão de perseguição, mas por questão de prevenção. Atéw hoje, esses sacerdotes têm sido transferidos p/ outras par´quias, sem aconselhamento, sem tratamento. Não, não se deve calar o problema.
Joaquim - creio que você não tem acompanhado o que a nível nacional e internacional se descobre sobre o caso.A "nossa" Igreja não é a do nosso bairro, a do nosso concelho, a NOSSA IGREJA é uma comunidade irmã: quando um sofre, sofremos todos...

Autor do blog disse...

Muito bem cara amiga Tukakubana... É pena que muita igreja esteja cega, surga e muda perante o sofrimento da igreja indefesa, pobre e pequenina. Então não foi para os pequeninos que Jesus veio (basta lembrar S. Mateus, «Eu te bendigo, óh Pai, porque não foi aos grandes que revelastes estas verdades, mas aos pequenos...»). Deixemo-nos de ser patéticos a defender a maldita da «cultura do segredo» que tanto mal está a fazer à Igreja Católica inteira.

Anónimo disse...

Parabéns pelo texto, apesar de ser catolica, vejo as nossas igrejas cheias de gente hipocrita, e não são apenas os padres, mas aqueles que os acompanham. Para além dos abusos sexuais, também temos de falar das paternidades não assumidas sobretudo em jovens menos informadas, ou até com atrasos e dos erros cometidos ao longo de decadas pelo nosso clero. Mas é claro se um padre erra, osbispos estão sempre a incobrir e a aranjar maneira para que todos se calem.
Errar é humano e nos somos pecadores - mas há que assumir...

Ao Sr. Joaquim só faço uma pergunta: Qual o motivo pelas quais a nossas igrejas estão tão vazias?

joaquim disse...

É pena que nos deixemos levar por análises generalistas, cheias de lugares comuns, generalizando o que não é generalizável, dando como hábito o que é excepção.
O texto apresentado é pobre e igual a tantos outros a que esta organização nos tem habituado.
É muito fácil denegrir sirvindo-se das más interpretações daquilo que verdadeiramente são Documentos da Igreja e que são usados parcialmente e com interpretações ao sabor de cada um.
Noutro comentário coloco um, apenas um texto de um blogue 31 da Armada, que nem é sequer um blogue de cariz religioso mas que demonstra à saciedade as falsidades que se vão apregoando, sem escamotear as infelizes realidades que acontecem.

joaquim disse...

o texto segue em três partes.

1ª parte

De Miseria Humanae conditionis
Ontem à noite estalou a discussão na minha timeline do twitter. Por causa do documentário, BBC Panorama, exibido na SIC-Notícias sobre os crimes de abuso sexual realizados por padres católicos.

A discussão generalizou-se e eu, incapaz de responder às várias posições, prometi transportar para aqui a discussão. Há matérias difíceis de conversar em 140 caracteres e, talvez, no blog é mais fácil usar argumentos em vez de soundbites.

Existiram demasiados abusos em instituições católicas. Abusos criminosos, abjectos, cometidos por quem, muitas vezes, tinha a responsabilidade de zelar por menores de idade. Abusos realizados por homens, adultos, que têm de ser levados à justiça pelos crimes que cometeram.

Nisto, creio, estamos todos de acordo.

Mas, parece, há quem escreva que a responsabilidade não é de esses homens, adultos, criminosos. O problema, dizem, é a "instituição", a Igreja. Ou o Papa. Claro que a Igreja tem problemas, faz erros e deve corrigir-se mas, ao colocar-se o crime na Igreja, está-se a desresponsabilizar criminosos, só porque são padres católicos.

Bem sei o argumento: uma prática reiterada e a ocultação pela "hierarquia". Vamos por partes:

Quanto à prática reiterada de um crime, temos visto tudo misturado: abusos sexuais com punições corporais (nos anos cinquenta, a sério? como num caso alemão...), professores com sacerdotes, etc. Não tenho dúvidas que parte dessas práticas foram reiteradas pelo erro, e talvez crime, de olhar para o lado demasiadas vezes - de saber e não dizer ou, pior, de resolver mudando o sacerdote de paróquia. Esse erro tem de ser corrigido e esse crime julgado. Tão simples?

Infelizmente não. E essa dificuldade, na forma como a Igreja lidou com o assunto até recentemente, tem que ver com a questão da "ocultação".

joaquim disse...

2ª parte

Primeira questão:

Na minha discussão de ontem, afirmava-se que "a prova definitiva" do "política de encobrimento" estava encontrada. Era um documento secreto, este.

O documento, chamado Crimen Sollicitationis, referido no documentário foi assim descrito pelo Diário de Notícias (em 2006):

"Um documento secreto do Vaticano, elaborado pelo então cardeal Joseph Ratzinger, o actual Papa, terá sido utilizado durante 20 anos para instruir os bispos católicos sobre a melhor forma de ocultar e evitar acusações judiciais em caso de crimes sexuais contra crianças.
Segundo a BBC, que ontem divulgou a existência desta cartilha num programa televisivo intitulado Crimes sexuais e o Vaticano, o documento de 39 páginas, escrito em latim em 1962 e distribuído pelos bispos católicos de todo o mundo, impõe um pacto de silêncio entre a vítima menor, o padre que é acusado do crime e quaisquer testemunhas ou pessoas a par do ocorrido. Quem quebrasse esse pacto seria excomungado pela Igreja Católica." (...) "Os críticos garantem que o documento servia apenas para evitar a eficácia de qualquer acusação judicial por crimes sexuais - e também para silenciar as vítimas."

- Já agora, uma busca no google mostra que o "então cardeal Joseph Ratzinger" não era nem cardeal nem sequer Bispo, em 1962 -

Estas instruções referem-se à "solicitação" no confessionário - ou seja, propostas ou actos sexuais no âmbito da confissão -, são baseadas no Código de Direito Canónico e não referem - mas incluem - o abuso com menores de idade. Eu sei que isto dificulta a interpretação, além de ser escrita em latim, mas não nos podemos esquecer qual a função de tão "relevante prova".

- Entendo que é difícil explicar a diferença entre a lei canónica e as leis, civis ou penais, que neste documento são chamadas de "positivas". No entanto, esta instrução é uma adenda ao Código Canónico (neste caso do de 1917, creio), e nunca poderia ir contra este -

Este documento, aqui mal traduzido e com erros óbvios, trata de instruções para os possíveis processos no âmbito dos tribunais eclesiásticos. Em lado algum fala em "evitar acusações judiciais" e se, de facto, obriga ao silêncio, fá-lo sobre o processo canónico (incluíndo as testemunhas) enquanto processo. Ou seja, o processo canónico é que é secreto, o crime que o origina não. O Bispo não é impedido de o relatar à justiça.

Além disso, no parágrafo 15, pode ler-se como a denúncia é obrigatória, sob pena de excomunhão. isto para evitar que o excesso de fervor religioso impedisse um fiel de denunciar um sacerdote, sendo assim obrigado a fazê-lo (by the way, quem ontem no twitter não acreditou nisto faça o favor de ir ler).

Mais uma nota sobre esta "prova cabal do encobrimento":

O "segredo inviolável" é o da confissão sacramental que, não existindo, não se aplica.

joaquim disse...

3ª parte

Segunda questão:

Mas, infelizmente, isto não acaba aqui. É que há um segundo documento e uma referência ao anterior feita pelo - agora sim - Cardeal Ratzinger, chamado Graviora Delicta. Esta seria, então, a prova de que o actual Papa colaborou no encobrimento!

Ora bem, com o novo Código de Direito Canónico, de 1983, ficaram ab-rogadas as leis canónicas promulgadas anteriormente. Só que, esta epístola da Sagrada Congregação da Doutrina e da Fé (tão secreta que está na internet do vaticano), não confirma as instruções anteriores (aliás, em parte não conformes com o novo Código), apenas as cita como tendo estado em vigência. Sendo referente aos delitos graves em relação aos sacramentos, refere igualmente os abusos sexuais no âmbito do confessionário. Aliás, no caso de crimes sexuais com menores de idade, aumenta o prazo de prescrição (do processo eclesiástico, relembre-se) para dez anos após a maioridade da vítima.

Acusa-se ainda de, com este documento, Ratzinger ter uma política centralizadora para encobrir os factos... No entanto, a verdade, é que este documento obriga o Bispo a informar o Vaticano e a ser esta Congregação a julgar os apelos (segunda instância, se quisermos) dos tribunais das dioceses. Isto significa que um processo destes não consegue ficar "encoberto" numa diocese remota, e obriga o próprio Vaticano a tomar conhecimento. Encobrimento? Pelo contrário.


Mas houve ocultação? Existiram ocultações, sem dúvida, que são condenáveis moralmente e, se possível, criminalmente. Mas, não é lícito chamar a todos os padres de pedófilos, como não seria em relação aos professores, aos pais, aos jornalistas, aos ilhéus, etc...

A Igreja Católica tem sido a entidade mais escrutinada nesta questão - e Graças a Deus, digo eu - mas este problema, que é de direitos humanos, só piora com acusações falsas e fora de contexto, como as referidas acima.
__________________________________

Este texto está publicado no blogue 31 da Armada, com a asinatura de DBH e é bem demonstrativo de como se desmonta as análises feitas apenas com um fim que é desacreditar a Igreja Católica, que, volto a repetir, tem erros com certeza, porque é feita de homens como eu pecadores.
E eu tukakubana, com todo o respeito, conheço bem a Igreja, não só a da minha Paróquia, mas a da Diocese, a de Portugal e também a do mundo, porque sou também Igreja.
Abraço em Cristo

Autor do blog disse...

Obrigado Joaquim pelo texto que enviou. É importante também e é uma opinião válida, porém, não ensombra em nada o que se possa pensar em sentido contrário e o facto de se reflectir que a «cultura do segredo», foi e é um dos caminhos principais da Igreja Católica. O Cardeal da Irlanda reconhecer isso, lembra-se? Mas, adiante fazendo o bem.

joaquim disse...

Caríssimo Padre José Luís Rodrigues

Concordo consigo que em tempos houve "cultura de segredo", mas precisamente por se reconhecer esse erro há muito que este Papa e muitos Bispos e Sacerdotes, vêm advogando e exigindo uma cultura de verdade e de justiça para as vitimas e para os prevaricadores, e é isso mesmo que dizem tantos documentos da Igreja, que como se vê são tão mal interpretados e muitas vezes propositadamente.
Tenho para mim, que a honestidade, a profundidade, a fé deste Papa incomoda muita gente e acredito firmemente que o Espírito Santo deu mais uma vez à Igreja o homem certo para os tempos conturbados que a Igreja atravessa e vai ainda atravessar.
Mas uma Igreja perseguida cresce sempre e torna-se mais forte e eu todos os dias rezo por esta Igreja que eu amo e que tão bem me acolheu.

Um abraço em Cristo

joaquim disse...

E obrigado por aceitar os meus comentários que apenas pretendem ajudar a melhor discernir a Igreja a que ambos pertencemos e que ambos com certeza amamos.

Autor do blog disse...

Joaquim amigo, não precisa de me agradecer porque aceito os seus comentários. Eu é que lhe agradeço todo o seu interesse e inquietação. Saiba que cultivo a diferença e acho que é nessa diferença que se faz a comunhão. É esse o desafio principal do Evangelho de Jesus Cristo, por essa causa, Ele deu a vida. Também nós devemos cultivar a diferença como um valor, sem preconceitos e com toda a abertura.
Quanto à «cultura do segredo», não pense Joaquim que seja uma coisa do passado, tenho experiência prática que não é. É ou não é verdade que um padre ou um leigo que marque a diferença é posto de lado? - Claro que isso acontece. E também acontece que as Igrejas diocesanas vivem dentro de uma estufa de segredo em relação a todos, repare,as contas da Igreja só alguns, mas a todos é pedido que dêem ofertas, o património é de alguns, as negociatas com as entidades públicas só de alguns e muito mais... Isto só para falar do ponto de vista material, do ponto de vista pastoral, são imensas as situações. É desta cultura que falo e critico, porque a Igreja é de todos e o que é de todos a todos diz respeito.

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...

O grande responsável pela pedofilia é o papa e cúria romana. São os tais cegos que não querem ver. E os seus funcionários maiores (cardeais e bispos) e os menores (cónegos e padres e leigos). Pobres crianças e adolescentes vítimas desses gajos todos.Muito embora, os pedófilos sejam mais vítimas que culpados. O grande responsável é o papa e o seu séquito. Não querem mudar essa tenebrosa lei do celibato. Deveria ser livre.

joaquim disse...

É com grande admiração que vejo aqui colocado um comentário insultuoso e indigno, tanto mais que existe a moderação de comentários.

Não percebo caro Padre José Luís Rodrigues como é possível dar resposta aos meus comentários, mas não o fazer com este que insulta o Papa, os Bispos, os Sacerdotes e até os trata por "gajos".

Anónimo disse...

Boa tarde, Sr. Padre Joaquim, como já percebemos é um padre muito conservador, mas já parou para pensar que se não houvesse a cultura do segredo, provavelmente não se teriam dado tantos casos de pedofilia nas igrejas e quantos estarão ainda a encoberto.

Já pensou, que estes casos podem até ser beneficos - depois da tempestade bem a bonança. O que não podemos é compactuar com eles, a menos que pensemos de igual forma.

Não se trata de ser contra a Igreja, mas é sim uma questão de justiça.

Cumprimentos

joaquim disse...

Caro anónimo

Em primeiro lugar não sou padre, a não ser que assim me tenha chamado por ironia.
Sou casado, pai de filhos e avô de netos.

Em segundo lugar não me conhece minimamente para dizer que eu sou conservador.
Pelo contrário, engana-se, não o sou nem um pouco!
O defender a Igreja não significa conservadorismo, embora muitos o julguem assim.
Considero-me uma pessoa em união com o Concílio Vaticano II.

Em terceiro lugar já expliquei acima num texto que coloquei que os Documentos da Igreja provam que não houve uma “cultura de segredo”, mas sim que alguns enveredaram por esse caminho.

Em quarto lugar é de salientar que este Papa tem tentado e exercido a sua missão há muito tempo contra essa dita “cultura de segredo”.

Em quinto lugar não nego que tenha havido casos de pedofilia e que até ainda haja, e que sobre os prevaricadores deve ser exercida toda a justiça, eclesiástica e civil.

Em sexto lugar um caso só que houvesse na Igreja já era demais, mas é extraordinário quando se quer fazer passar uma ideia que só a Igreja Católica tem casos destes, quando esta terrível praga passa por todas as igrejas e sociedade civil.

Em sétimo lugar é incrível a severidade com que se julgam os homens da Igreja, (e assim deve ser), em contraponto com os políticos, artistas e outros envolvidos em casos idênticos.

Em oitavo lugar a maior parte destes casos já se passaram há algum tempo. Na sociedade civil prescrevem e ninguém fala deles, na Igreja Católica são mantidos nas notícias com fins perfeitamente definidos de ataque á Igreja e a um Papa que incomoda muita gente.

Em nono lugar tenho orgulho cristão em pertencer a esta Igreja apesar dos seus erros, porque também eu erro todos os dias.

Em décimo lugar rezo todos os dias pelas vitimas destes casos, por aqueles que lhes deram origem e para que o Espírito Santo continue a iluminar a Igreja nestes tempos tão dificeis.

Um abraço em Cristo

joaquim disse...

Noticia da ZENIT, para que percebamos até onde chega a imprensa para denegrir a Igreja e o Papa.

Lobby laicista contra Papa: grande boato do “New York Times”
Por Massimo Introvigne
ROMA, quinta-feira, 25 de março de 2010 (ZENIT.org).- Se existe um jornal que me vem à mente quando se fala de lobbies laicistas e anticatólicos, este é o New York Times. No dia 25 de março de 2010, o jornal de Nova York confirmou esta vocação sua com um incrível boato relativo a Bento XVI e ao cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone.
Segundo o jornal, em 1996, os cardeais Ratzinger e Bertone teriam ocultado o caso – indicado à Congregação para a Doutrina da Fé pela arquidiocese de Milwaukee – relativo a um padre pedófilo, Lawrence Murphy. Incrivelmente – após anos de esclarecimentos e depois que o documento foi publicado e comentado amplamente em meio mundo, desvelando as falsificações e erros de tradução dos lobbies laicistas –, o New York Times ainda acusa a instrução Crimen sollicitationis, de 1962 (na verdade, 2ª edição de um texto de 1922) de ter agido para impedir que o caso Murphy fosse levado à atenção das autoridades civis.
Os fatos são um pouco diferentes. Por volta de 1975, Murphy foi acusado de abusos particularmente graves e desagradáveis em um colégio para menores surdos. O caso foi imediatamente denunciado às autoridades civis, que não encontraram provas suficientes para proceder contra Murphy. A Igreja, nesta questão mais severa que o Estado, continuou com persistência indagando sobre Murphy e, dado que suspeitava que ele fosse culpado, limitou de diversas formas seu exercício do ministério, apesar de que a denúncia contra ele tinha sido arquivada pela magistratura correspondente.
Vinte anos depois dos fatos, em 1995 – em um clima de fortes polêmicas sobre os casos dos “padres pedófilos” –, a arquidiocese de Milwaukee considerou oportuno indicar o caso à Congregação para a Doutrina da Fé. A indicação era relativa a violações da disciplina da confissão, matéria de competência da Congregação, e não tinha nada a ver com a investigação civil, que havia sido levada a cabo e que havia sido concluída 20 anos antes. Também é preciso observar que, nos 20 anos precedentes a 1995, não houve nenhum fato novo nem novas acusações feitas a Murphy. Os fatos sobre os quais se discutia eram ainda aqueles de 1975.
A arquidiocese indicou também a Roma que Murphy estava moribundo. A Congregação para a Doutrina da Fé certamente não publicou documentos e declarações 20 anos depois dos fatos, mas recomendou que se continuasse limitando as atividades pastorais de Murphy e que lhe fosse pedido que admitisse publicamente sua responsabilidade. Quatro meses depois da intervenção romana, Murphy faleceu.
Este novo exemplo de jornalismo lixo confirma como funcionam os “pânicos morais”. Para desonrar a pessoa do Santo Padre, desenterra-se um episódio de 35 anos atrás, conhecido e discutido pela imprensa local já na década de 70, cuja gestão – enquanto era da sua competência e 25 anos depois dos fatos – por parte da Congregação para a Doutrina da Fé foi canônica e impecável, e muito mais severa que a das autoridades estatais americanas.
De quantas destas ‘descobertas’ ainda temos necessidade para perceber que o ataque contra o Papa não tem nada a ver com a defesa das vítimas dos casos de pedofilia – certamente graves, inaceitáveis e criminais, como Bento XVI recordou com tanta severidade –, mas que tenta desacreditar um pontífice e uma Igreja que incomodam os lobbies pela sua eficaz ação de defesa da vida e da família?

Autor do blog disse...

Também me parece interessante esta visão do IMWAC, que coloca a discussão no seu devido lugar e chama a atenção de todos para concentrarmos as nossas energias na renovação da Igreja, porque o bem da Igreja deve estar muito acima de pessoas concretas, porque as pessoas passam e a Igreja permanece...


"Em relação aos abusos sexuais, em vez de procurar causas externas, a Igreja deve analisar urgentemente as suas próprias estruturas!"

Comunicado do IMWAC sobre alguns aspectos da Carta Pastoral do Papa Bento XVI à Igreja Católica Irlandesa.

Sobre o conteúdo da carta

"Em vez de procurar as causas externas deste problema tão grave, a Igreja deve analisar, urgentemente, as suas próprias estruturas, sem quaisquer preconceitos ou medo. Neste momento, a sua credibilidade corre sérios riscos”, afirmou Raquel Mallavibarrena, Coordenadora do Movimento Internacional Nós Somos Igreja, em resposta preliminar à carta do Papa à Igreja Católica Irlandesa, assinada por Bento XVI no dia 19 de Março de 2010 e publicada dia 20.

É deplorável que o Papa não esteja disposto a responsabilizar as estruturas eclesiásticas pelo "perturbante assunto do abuso sexual de crianças”, mas, pelo contrário, transfira a culpa para tendências sociais como “as rápidas mudanças sociais” e “modos de pensar e avaliação das realidades seculares”. Citar uma "falsa leitura" do Concílio Vaticano II e do seu “programa de renovação” como uma das causas é revoltantemente escandaloso.

O Papa acusa a sociedade de esperar demasiado dos membros do clero, em termos éticos, todavia aponta “o mistério do sacerdócio" como um chamamento superior, demonstrando efectivamente que os sacerdotes devem ser considerados seres humanos especiais.

Este documento papal dirigido aos Bispos Irlandeses não satisfará os fiéis nem os muitos milhares de vítimas que exigem exonerações e reformas estruturais. Não chega recomendar exercícios espirituais tradicionais como "iniciativas concretas”, mas nenhumas reformas estruturais.

As palavras fortes do Papa aos Católicos Irlandeses não podem esconder o facto de o Vaticano ser igualmente responsável. A carta De delictis gravioribus assinada a 18 de Maio de 2001 pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), e por Tarcisio Bertone, secretário da mesma, é particularmente importante neste assunto dado não exortar os bispos a denunciar crimes às autoridades civis. Na verdade, impõe "sigilo pontifício" (secretum pontificium) relativamente a estes assuntos.

Deste modo, os bispos e núncios limitavam-se a seguir directivas do Vaticano, ainda que isto não os absolva de não exercerem solicitude pastoral. Todavia, o facto de tantos terem seguido as directivas do Vaticano, torna o Vaticano cúmplice e responsável pelo encobrimento dos abusos sexuais. Mediante estes factos, o Papa devia pedir perdão à Igreja, tornando possível começar de novo.

Autor do blog disse...

Continuação do documento do IMWAC:

O caminho do perdão

Levando em linha de conta os milhares de casos, nomeadamente na Irlanda e nos Estados Unidos, devemos perguntar-nos se o número de 3 000 acusações em 50 anos, divulgado por um representante da CDF a 13 de Março de 2010, é plausível. A CDF dá uma falsa impressão quando se refere a "apenas" 300 casos de pedofilia "no sentido estrito" (definido como até aos 14 anos). Os outros casos são acusações de "atracão sexual por adolescentes", que devem ser condenados com o mesmo rigor da verdadeira pedofilia.

A "política de tolerância zero" das declarações anteriores, aplicável aos EUA e exigida pelo Papa, não é explicitamente mencionada na carta. Os Bispos da Igreja Católica Romana estão moralmente obrigados a seguir esta política.

O movimento católico reformista considera essencial a revisão dos ensinamentos da Igreja sobre a sexualidade. Nela deve incluir-se a questão do celibato obrigatório na Igreja Católica Romana, que já foi sugerida até mesmo por bispos e cardeais. Ainda que não exista uma relação causal simples entre o celibato obrigatório e a violência sexual a lei que obriga ao celibato é uma expressão visível da hostilidade de uma igreja masculina contra a sexualidade e as mulheres. A falta de estruturas colegiais e democráticas como meio de tornar as estruturas eclesiais responsáveis perante os leigos é igualmente um problema que deve ser levado em linha de conta. Só quando os problemas estruturais forem reconhecidos e enfrentados é que a Igreja se pode tornar credível e suscitar perdão e reconciliação.

Nesta Quaresma, a Igreja institucional é intimada a arrepender-se e a reformar-se para que o Reino de Deus anunciado por Jesus de Nazaré se possa tornar mais visível nas estruturas da Igreja Católica Romana.

joaquim disse...

Toda a gente sabe o que é o movimento "Nós somos igreja" e o que pretende.
É uma mentira o que se afirma sobre a carta De delictis gravioribus que é afinal o contrário do que se afirma. Basta lê-la!

Aqui deixo mais um artigo entre muitos que esclarecem a verdade, mas o que fazer, é melhor dar a conhecer aqueles que são contra!

A política da transparência adotada pelas Igrejas locais a pedido do Papa Bento poderá esclarecer que não vigoram mais as regras de discrição que, no passado e também recentemente, deram lugar a protestos dos tribunais e de órgãos de investigação constituídos pelas autoridades civis por causa da "não colaboração" dos ambientes eclesiásticos.

Agora, elas colaboram, e não é verdade – como vem sendo repetido apesar de todas as retificações oficiais e oficiosas – que o documento de 2001 que tem a assinatura do cardeal Ratzinger e está intitulado "De delictis gravioribus" seja responsável pela cobertura que se pretende denunciar: ele foi, pelo contrário, uma pedra angular para a adoção da política da transparência.

Os primeiros sinais dessa política seriam vistos por ocasião da viagem de Bento XVI aos EUA em 2008 e depois à de Sydney, em julho do mesmo ano. Em Washington e em Sydney, o Papa encontrou as vítimas dos abusos e afirmou – principalmente em Sydney – que os culpado estavam sendo processados e que a Igreja colaboraria com os tribunais civis.

O caso alemão está levando à plenitude a atitude da colaboração. É possível ver o benefício do remédio, mas o dano de imagem do escândalo permanecerá. Tem valor a justíssima revelação de que a pedofilia é de todos, mas a acusação só é dirigida à Igreja Católica. Porém, existe a relevância incomparável da instituição católica: mesmo quando todas as Igrejas cristãs se opõem – digamos – à guerra ao Iraque, os títulos são dedicados, quase que exclusivamente, à oposição feita pelo Papa. O mesmo acontece com os escândalos.

Além disso, existe o preconceito anticatólico de ambientes nacionais a confissões mistas, como são os EUA, a Grã-Bretanha, a Austrália, a Alemanha, a Holanda, para citar os países onde a mira sobre a Igreja Católica foi mais decisiva. Os ambientes eclesiásticos defendem que o celibato não tem nada a ver com a pedofilia e têm razão de rejeitar a hipótese de uma influência direta, mas não se pode negar razoavelmente uma influência indireta sobre os critérios de seleção dos futuros sacerdotes: a impossibilidade de ordenar homens casados induz os bispos a serem generosos ao admitir à ordenação candidatos de maturidade afetiva dúbia, que seriam recusados se houvesse alternativas para fornecer sacerdotes às paróquias. Não deve ser ignorada a influência que a longa convivência, durante os anos da formação, apenas com colegas homens pode exercer sobre sujeitos de equilíbrio psicológico incerto que a penúria de candidatos induz a tolerar.

Não voltarei a este assunto, porque nada mais há a acrescentar.

Um abraço em Cristo

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...

Padre José Luís, relativamente ao Sr. (padre ou Leigo) pouco me interessa ficou aborrecido pelo facto de tratar os membros da Hierarquia Católica por "gajos" . O problema é desse senhor, porquanto, mesmo malcriado, porventura "ovelha perdida" "moeda tb perdida" "filho mais novo do Filho Pródigo" ou ainda uma "Madalena" cuidado!não sou gay, que seria de todo apedrejado.
Mas só Deus é que me há-de julgar n-ao é o Sr. Joaquim nem mesmo o Sr Bento XVI, que é um hipócrita e atrasado no tempo, que já deveria há muito tempo facultar homens e mulheres casados ou solteiros a serem sacerdotes. Eu é que perdoo, porque não esmago os pedófilos embora condenando a pedofilia. Esta existe por culpa do papa e da hierarquia da igreja católica que em vez de ver o problema pela raiz continua igual à igreja medievelista tal como o tempo e a sua sexualidade não evoluíssem. A Igreja concentrou a sexualidade e tudo é que é do foro moral na sua assumpção de pecado. Pecado não é o Sr Busch que mandou matar para o Iraque ,mesmo que o Papa João Paulo II tivesse condenado essa evasão e tenebrosa guerra sem fim. Bento XVI foi aos EU condenar veementemente a pedofilia e os seus autores -os padres- mas pouco falou na guerra do Iraque. Sr Joaquim com esta igreja não me entendo. No entanto, aceito que tenha os seus sequazes e defensores.

joaquim disse...

Caro Padre José Luís Rodrigues

Julgo que venho aqui pela última vez.

Parece-me que a minha presença não é aqui bem vinda, nem desejada.

Esperei sinceramente um comentário seu ao último comentário de um seu leitor que apelida o Papa de hipócrita.

Um comentário em que se diz que a culpa da pedofilia é do Papa, porque não mudou a Doutrina da sexualidade!

Não vendo qualquer comentário seu, desculpe mas tenho que admitir que está de acordo com o referido comentário.

Com efeito, sempre que eu coloco um comentário, educado e na tentativa de nos ajudar a reflectir a todos, o Padre José Luís Rodrigues sempre tem alguma coisa a dizer em oposição ao que eu escrevo.

Ao não o fazer neste caso apenas pode significar que está de acordo com o comentário, pois que, havendo moderação de comentários, apenas são publicados aqueles que o autor do blogue permite.

Se este comentário que refiro se insere dentro daquilo que o Padre José Luís Rodrigues escreve no frontispício do seu blogue, (Os comentários só serão publicados se discutirem ideias e valores. Opiniões sensatas que discordem ou reafirmem com respeito e elevação. Caso contrário, se são asneiras e ofensas pessoais ao autor do blog ou terceiros, são imediatamente deitados ao lixo ), então desculpe mas eu não sei o que é que considera um insulto a terceiros e até mesmo ao autor do blogue que é membro consagrado da Igreja Católica, que aqui é insultada, não como critica construtiva mas apenas destrutiva.

Julgamentos não os faço, contrariamente ao que diz o comentarista referido, apenas me entristeço e rezo.

Se eu estiver enganado espero bem que o Espírito Santo me guie para que eu possa perceber o meu erro.

Um abraço em Cristo

Autor do blog disse...

Caro Joaquim:

Viva!

Não comentei o Ângelo, neste comentário concreto, precisamente porque o achei forte, este comentário está muito aquém de outros comentários terríveis (profundamente ofensivos) que tenho recebido contra o Papa e contra os padres. O grande perigo agora é a generalização, disso tenho muito receio e acho que devemos todos trabalhar para que isso não aconteça. Não tenho tido muito tempo por estes dias, não posso comentar todos os comentários que chegam, alguns respondo outros não, se reparar já respondi a alguns do Ângelo e outros não. Já respondi a alguns seus e a outros não. Quanto ao assunto da pedofilia na Igreja, já estou farto e cheio, para mim é um assunto encerrado, já está mais que expressa a minha opinião.
Quanto a este comentário que achou ser uma ataque feroz contra o Papa. Deixe lá e fosse esse o mal todo do mundo e da nossa Igreja. Se desse importância a todos os nomes que me chamam, há muito que tinha abandonado tudo. Força e ânimo nas convicções. Adiante fazendo o bem.


Um abraço fraterno em Cristo nossa Páscoa