Domingo V da Quaresma
21 de Março de 2010
Nem eu te condeno...
A mulher pecadora é acusada de um crime grave, "foi surpreendida em adultério", no tempo de Jesus, tais mulheres eram apedrejadas até à morte, em obediência a uma má interpretação da lei do Antigo Testamento. Para Jesus, esta condenação era bárbara demais.
Mais uma vez, Cristo, mostra que não tolera hipocrisias e que veio para estabelecer a compreensão e a misericórdia diante do pecado, mesmo que seja uma ofensa grave contra Deus e contra a dignidade humana. A resposta de Jesus revela claramente que o perdão é possível e demove por completo todos os inquisidores que pretendem matar os pecadores.
A hipocrisia é flagrante neste episódio, os moralistas que agora querem purificar a sociedade através da morte da mulher impura, foram também eles beneficiados com os seus serviços. Os mesmos que gritam morte à mulher pecadora também foram servidos pelos seus préstimos.
A sociedade humana é assim mesmo. Por um lado, escrupulosa no cumprimento das regras, mas, por outro, serve-se da miséria quando dá jeito pessoal, mesmo que para tal sejam violados os valores e os princípios da dignidade humana de forma descarada.
Ninguém é perfeito, todos têm as suas manchas pecaminosas que provocam distância em relação a Deus e desencontro pessoal. Jesus, ensinará o seguinte: quem não tiver pecado que de imediato atire a primeira pedra.
Diz-nos o texto, que todos se retiraram um a um até ficar apenas Jesus e a mulher. Todos nós somos muito rápidos a acusar os outros porque são pecadores e raramente nos reconhecemos como tal. É sempre mais fácil olhar os defeitos dos outros e muito difícil reconhecer as nossas limitações. Não serve para nada considerar-se o mais santo de todos e andar constantemente com acusações contra os irmãos.
A palavra de Jesus ecoa, como a doçura do mel, «nem eu te condeno. Vai e não tomes a pecar". Está assente que nenhum pecado é maior e mais forte que o perdão de Deus. Todo o pecado do homem mesmo que seja o muito grave, é sempre uma pequena gota diante do oceano infinito da compaixão misericordiosa de Deus.
A condenação não tem lugar no coração de Deus, revelado plenamente em Jesus como o Pai do reencontro e da reconciliação plena com todos os homens. Este é o caminho da graça de Deus mostrado por Jesus a todos nós mediante estes gestos de ternura amorosa.
Certamente que Jesus não aprova nenhum pecado nem quer com a sua constante disponibilidade para o perdão e reconciliação, incentivar os homens ao pecado. Mas, demonstra que o mal não se combate com o mal e com violência. A acção de Deus é sempre em favor da pessoa condenando sempre o mal que eventualmente gere o seu coração.
As atitudes menos boas da vida não se combatem eliminando as pessoas que as cometem, mas perdoando e oferecendo vida nova e plena.
5 comentários:
Deus não condena, corrige.
Pena que tantos "bons" cristãos condenem facilmente, militem numa Igreja delicodoce sem voz activa, que calendarize os seus arrependimentos à Quaresma e não ao exercício (que deveria ser diário, o que é impossível)de uma reconciliação
mais plural, mais humana para alcançar o mais Divino.
Padre José Luis, a grande fadista Lucília do Carmo cantava muito bem este fado sobre Maria Madalena. Só Deus sabe o que é o pecado e aquele que o pratica. O nosso Deus não é um justiceiro, castigador, vingativo. Ele reabilita sempre o homem e a mulher que têm acidentes nos seus percursos de vida. Ele ressuscita o Homem e Mulher debelitados e fragilizados nas suas condutas.Reabilita-os. Não perde tempo com querelas, ou vistas vesgas, mesquinhas por parte desses fariseus de todos os tempos, que fingem que cumprem a lei, mas sobrecarregam os fardos dos oprimidos, dos desvalidos. Desses homens e mulheres que têm um coração tão puro que até têm vergonha de olhar para o céu. Os que estão sempre a bater no peito são hipócritas e mentirosos. Mas de todos os tempos e em todos os lugares. Não só nas igrejas, nos partidos encontramo-los permanentemente a mentir e depois safam-se com indemnizações douradas. Um abraço
Ângelo Paulos
"A acção de Deus é sempre em favor da pessoa condenando sempre o mal que eventualmente gere o seu coração.
As atitudes menos boas da vida não se combatem eliminando as pessoas que as cometem, mas perdoando e oferecendo vida nova e plena."
Pense nisto que escreveu e compare com as afirmações que teceu acerca da condenação dos padres pedófilos...
Ana
Obrigado Ana pelo seu comentário. Um ponto: não condenei os pedófilos, sejam padres, pais de famílias ou outros, disse que a pedofilia é um crime que deve ser julgado pelos tribunais. E ponto final.
Ponto dois: obviamente que Deus salva sempre a pessoa que comete o mal, mas repudia e reprime todo o mal deste mundo. É assim que eu acredito.
Com carinho e gratidão vemos o «pensamento em busca» do grão de mostarda publicado no «Banquete da Palavra», que tanta luz faz nas nossas vidas.
Obrigado.
comunidade fraterna de reconciliação
grao-de-mostarda@hotmail.com
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