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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O Esplendor do caos

Bem sei que este título não é nada original. Muitos ao longo da história da literatura foram meditando e escrevendo sobre esta contradição. Não sei se vos acontece, mas frequentemente me deixo embalar pela beleza da confusão e confesso que o esplendor do caos me seduz como beleza artística. Se assim não é, repare-se na belíssima e famosa obra prima de Picasso, «A Guernica». E lembremos ainda como são famosos os mercados de comércio das cidades árabes, os denominados Medinas. São em todas as cidades árabes verdadeiras atracções turísticas que cativam milhares e milhares de pessoas. Ali encontramos um autêntico esplendor do caos. Esta atracção pelo caos faz parte da humanidade e parece ser uma realidade quotidiana do viver em sociedade. São muitas e variadas as manifestações sociais pouco organizadas e dentro da normalidade desejada.
Não sei por que carga de água, ou talvez até sei, no final da campanha eleitoral autárquica me lembrei disto. O caos está para vida e todo o nosso viver está envolto na profundidade do caos, compete-nos organizar o caos, por isso, o melhor das campanhas eleitorais, está precisamente quando elas acabam e logo nos preparamos para o dia dos votos para que aí a luz organize o caos.
Por isso, não serve muito andar pela ânsia de respostas. Basta saber estar e deixar-se seduzir pelo caos que visto assim se converte em esplendor. Por exemplo, na Medina em pouco tempo estamos a regatear um simples pano sem qualidade nenhuma, um objecto que teimam em dizer que é de valor, mas que a réstia de lucidez lembra que não vale um cêntimo furado. Mas que importam estes circunstanciais momentos perante todo o ruído ensurdecedor do ambiente que nos habitua a receber uma certa musicalidade interessante. Como gostamos disso!
Mais um pouco sobre a Medina. Dentro desse mundo estamos mergulhados no meio de um oceano imenso de chocalhos, trapos dos mais variados materiais, cangalhos que não servem para nada, bijuterias sem valor nenhum. Mas reparemos ainda nos cheiros de corpos suados que são uma constante por todo o lado. E os animais que também são uma presença imprescindível, porque são eles os responsáveis pelos excrementos e pela urina dos recantos das pequenas ruelas onde se estende o caos. Tudo serve para ornamentar a confusão convertida no quadro criativo do caos. As pessoas lá estão vestidas com maltrapilhos como personagens essenciais para preencher o quadro desse caos que os nossos olhos contemplavam avidamente. Gosto de ver isso… Acho até necessário.
Neste ambiente aparentemente interessante e sublime encontramos uma sedução necessária para compreender uma realidade do mundo e da vida. O caos pode em muitas situações cativar e fazer nutrir simpatia. Porém, não pode nem deve ser uma constante para a felicidade. Somos animais de hábitos dizemos frequentemente, mas que isso não nos leve a sentir que afinal a miséria ou a pobreza extrema, a destruição motivada pela guerra e pelos ataques terroristas, se devem converter em quadros de beleza que devemos apreciar como realidade estética. O caos onde ecoa o grito da dor e da morte não é bom e nem muito menos belo, por isso, este caos não é esplendoroso nem merece contemplação de prazer artístico. Ainda bem que termina hoje a campanha eleitoral e logo no domingo podemos todos juntos refazer a ordem a partir do caos.

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