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sexta-feira, 25 de junho de 2021

Sempre o lado das vítimas

O lado dos poderosos é mais cómodo. É mais interessante e aliciante, porque arrasta mordomias, privilégios, benesses variadas e glória prazerosa para o ego. 

Mas este caminho não é o do Evangelho de Jesus de Nazaré. O caminho do Mestre é o partido das vítimas em todas as circunstâncias.

Os tempos inquisitoriais que nós vivemos, não se compadecem com as vítimas. A multidão ululante das redes sociais, onde pululam bruxos/as, juízes, caluniadores e carrascos não se compadece dos frágeis e das vítimas que cada vez mais aparecem como fruto das desigualdades e injustiças estruturais que as sociedades montaram para benefício de alguns contra o bem estar da maioria.

Por isso, de Jesus de Nazaré e do Seu Evangelho, bebemos a inspiração para que nenhum comodismo, nenhuma moda, nenhum vento que passe, atrapalhe o bom senso que manda estar sempre do lado das vítimas, mesmo que isso nos custe um bom pedaço da vida.  

O vazio da comunicação social em geral, toda ela financiada por grupos económicos poderosos, lançou um vazio preocupante sobre as nossas cabeças. Tudo manietado. Todos os agentes da comunicação social condicionados. A pluralidade informativa é zero. A diversidade de opinião é chão que já deu uvas. Por isso, contraditoriamente, para o bem e para o mal, resta-nos ainda as redes sociais, que no meio de tanta miséria, ainda oferecem alguma coisa onde se pode escolher sob a mediação de uma aturada filtragem.

É deveras intrigante que quando se esquece as vítimas para valorizar um prato de lentilhas, sob o alto preço da perda da dignidade, do caráter e dos valores evangélicos que são a razão de ser da condição cristã, fica o mundo mais pobre ainda e perde-se completamente a razão de ser da existência daquelas instituições que bebem do Evangelho. Daí a cada vez mais emergente falta de credibilidade e o aumento da indiferença face às instituições que nunca deviam esquecer o lado das vítimas.  

Devia ser normal abençoar o amor vivido sob qualquer espécie de relação. Então se se pode abençoar animais, plantas, infra estruturas e objetos variados… Porque não pode ser abençoado o amor, experimentado de qualquer forma? – Responde-se assim, a ideia que devia ser regra prioritária é sempre em primeiro lugar as vítimas, as pessoas. É irritante notar que tantas vezes é mais importante um papel ou um formulário do que a pessoa concreta e as suas circunstâncias.

Devia ser normal a inclusão das vítimas, fossem elas quais fossem. Obviamente, que humanamente custa, mas não é princípio evangélico amar a todos, particularmente, os inimigos? – Por isso, é inaceitável que as pessoas fiquem privadas da comunhão ou excomungadas, quando contraíram uma segunda relação, porque falhou a primeira e agora tentam refizer as suas vidas. Reparemos neste absurdo, sob o domínio tenebroso da violência doméstica, se alguém matar o cônjuge, pode depois confessar-se e fica logo integrado na comunhão, mas uma segunda ou mais relações de amor não podem participar na comunhão.  

Bom senso é o que se precisa. E pensar um pouco no sofrimento que ensombra a vida das vítimas pode fazer de cada um de nós um agente determinado pela libertação daqueles que andam sob o jugo terrível dos fardos que as estruturas impiedosas deste mundo oferecem.

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