A noite de ontem foi preenchida com a redobrada felicidade
de assistir ao espetáculo no Teatro Municipal Baltazar Dias, a peça em formato
de bailado, Saltos Altos. É mais um grito de alerta sobre os temas reincidentes
sobre a condição da mulher no que diz respeito a ser bastas vezes desconsiderada
nos vários patamares da vida em sociedade.
A peça Saltos Altos direciona ao espectador um forte
murro no estômago, todo o universo da mulher, a igualdade de género, as lutas
constantes para que sejam forçadas a construírem uma imagem que esteja muito
acima daquilo que são realmente. A manutenção do equilíbrio em cima dos saltos
altos (sinal e símbolo indispensável do universo feminino), é uma violência
injustificável, se tivermos em conta que a mulher não foi criada para suster o
corpo acima daquilo que a natureza determina. O que isso acarreta de malefícios
sob pressão psicológica e em termos da saúde física.
Por conseguinte são denunciadas todas as injustiças
que ainda fazem erguer uma monumental clivagem de sofrimento. A linguagem que
anda de boca em boca diariamente, é bem reveladora dessa injustiça que menoriza
a condição de ser mulher. E é tão grave que tanta gente, maiormente
representantes de instituições respeitáveis, que deviam estar na linha da
frente no combate a este status quo,
mas, ao contrário, esforça-se exaustivamente e extensivamente, mesmo que
algumas vezes redunde o ridículo, para justificar a permanência desse
vocabulário da soberba patriarcal e do machismo…
Tão bom que a maioria do elenco da peça tenham sido
jovens a dizerem não, chega de ansiedade e de todos os obstáculos a que estão
sujeitas as mulheres na família e na sociedade em geral. Gostei particularmente
quando o grupo responde ao texto magnificamente sincronizado: NÃO.
Na sinopse está dito: «O que quer
dizer viver num patriarcado? Uma sociedade igualitária não combina com
patriarcados nem matriarcados! - “Eu não quero aceitar as coisas que não posso mudar,
quero mudar as coisas que não posso aceitar.” (Angela Davis)». É esta a luz que faz falta às sociedades para se iluminarem, para que de uma vez por todas deixem de ser agremiações de pessoas que se movem por interesses de poder e domínio à conta do sofrimento esclavagista de largas maiorias.
Saltos Altos é um grito-alerta muito bem-vindo nestes tempos que estão a retomar de forma desavergonhada regras absurdas contra as mulheres. Os talibãs ressuscitados, vieram revelar que os altos padrões, definidos pelas sociedades, da «mulher inferior ao homem» ou da «mulher perfeita», estão vivos e mantêm-se na cabeça de muita gente e tomara que fossem só em sociedades consideradas menos evoluídas.
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