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quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Saltos Altos

A noite de ontem foi preenchida com a redobrada felicidade de assistir ao espetáculo no Teatro Municipal Baltazar Dias, a peça em formato de bailado, Saltos Altos. É mais um grito de alerta sobre os temas reincidentes sobre a condição da mulher no que diz respeito a ser bastas vezes desconsiderada nos vários patamares da vida em sociedade.

A peça Saltos Altos direciona ao espectador um forte murro no estômago, todo o universo da mulher, a igualdade de género, as lutas constantes para que sejam forçadas a construírem uma imagem que esteja muito acima daquilo que são realmente. A manutenção do equilíbrio em cima dos saltos altos (sinal e símbolo indispensável do universo feminino), é uma violência injustificável, se tivermos em conta que a mulher não foi criada para suster o corpo acima daquilo que a natureza determina. O que isso acarreta de malefícios sob pressão psicológica e em termos da saúde física.

Por conseguinte são denunciadas todas as injustiças que ainda fazem erguer uma monumental clivagem de sofrimento. A linguagem que anda de boca em boca diariamente, é bem reveladora dessa injustiça que menoriza a condição de ser mulher. E é tão grave que tanta gente, maiormente representantes de instituições respeitáveis, que deviam estar na linha da frente no combate a este status quo, mas, ao contrário, esforça-se exaustivamente e extensivamente, mesmo que algumas vezes redunde o ridículo, para justificar a permanência desse vocabulário da soberba patriarcal e do machismo…

Tão bom que a maioria do elenco da peça tenham sido jovens a dizerem não, chega de ansiedade e de todos os obstáculos a que estão sujeitas as mulheres na família e na sociedade em geral. Gostei particularmente quando o grupo responde ao texto magnificamente sincronizado: NÃO.

Na sinopse está dito: «O que quer dizer viver num patriarcado? Uma sociedade igualitária não combina com patriarcados nem matriarcados! - “Eu não quero aceitar as coisas que não posso mudar, quero mudar as coisas que não posso aceitar.” (Angela Davis)». É esta a luz que faz falta às sociedades para se iluminarem, para que de uma vez por todas deixem de ser agremiações de pessoas que se movem por interesses de poder e domínio à conta do sofrimento esclavagista de largas maiorias.

Saltos Altos é um grito-alerta muito bem-vindo nestes tempos que estão a retomar de forma desavergonhada regras absurdas contra as mulheres. Os talibãs ressuscitados, vieram revelar que os altos padrões, definidos pelas sociedades, da «mulher inferior ao homem» ou da «mulher perfeita», estão vivos e mantêm-se na cabeça de muita gente e tomara que fossem só em sociedades consideradas menos evoluídas. 

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