Publicidade

Convite a quem nos visita

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

O campo planta todo o mundo janta

Após uma leitura atenta da obra «A Agricultura Madeirense e Eu», do Eng.º Duarte Caldeira, venho a terreiro dar a minha opinião sobre a obra.

Antes de mais apraz-me dizer que será um livro incontornável para quem venha a ter desejos de fazer a hercúlea e heroica história da agricultura na Madeira. Apreciei o capítulo especial sobre o Porto Santo, as suas especificidades, o potencial produtivo que ele oferece, cujo segredo está no aproveitamento das águas, na ação política e na vontade de trabalhar dos porto santenses.

Como alguém já definiu e eu corroboro, esta obra é «enciclopédica». Basta reparar logo que perpassa todas a áreas e atividades relacionadas com a agricultura na Madeira. A história como tudo começou desde chegada dos primeiros habitantes, o que fizeram, o como fizeram.

Assim, feita a descoberta das especificidades dos terrenos, a sua transformação em poios, desenvolveu-se de seguida a engenharia da água e a sua canalização - a obra mais extraordinária que a Madeira tem a par das monumentais paredes empedradas com a pedra «viva» da Madeira – as diversas chamadas de atenção às autoridades políticas, as denúncias das muitas asneiras que se fizeram neste campo, as abalizadas e comprovadas sugestões… Não falta aturada reflexão sobre a fruticultura, a bananicultura, a vitivinicultura, a cana-de-açucar, a horticultura, a criação de gado e o pastoreio, a pecuária... Enfim, uma panóplia de assuntos relacionados com todos os domínios da agricultura que devem ser tidos em conta por todos nós, porque a agricultura é fundamental para as populações, a sua fixação e o seu desenvolvimento.

Não deixa de reclamar uma forte atenção para comercialização dos produtos, a joia da coroa da agricultura, que deve ser feita com benefício justo para o agricultor, coisa que não aconteceu durante muitos anos e que veio contribuir bastante para o abandono agrícola que sofremos. Os intermediários e os grupos económicos que se alaparam ao suor do agricultor para o explorarem, foram dos principais a contribuírem para a fuga de muitos agricultores, o empobrecimento populacional das comunidades rurais e daí a descaraterização da nossa paisagem.  

No final do livro deu voz às florestas. Alerta para a praga dos incêndios e de como podem ser combatidos ao longo de todo o ano e não apenas quando as labaredas consomem o património ambiental.

Tem um belíssimo capítulo sobre jardinagem.

A obra termina com um nota sobre o autor, onde ele se apresenta de forma simples, mas com conhecimentos científicos e com a sua comprovada experiência em todas estas matérias, particularmente, na produção de vinhos Terras do Avô. Não se nota qualquer resquício de altivez, mas de forma simples, fala-nos de técnicas experimentadas cientificamente em diálogo franco com a experiência concreta dos agricultores.

Por isso, estou plenamente de acordo quando se diz, que hoje temos mais agricultores de gabinete do que agricultores a mexer na terra. A geração do Eng.º Duarte Caldeira comprova o contrário, que é possível, ciência agrícola, inovação tecnológica e prática concreta.

Esta obra para mim serviu mais uma vez para perceber a fortuna fertilizante que é a nossa amada terra da Ilha da Madeira, que se lamenta ter sido esquecida, despreza, abandonada…

Esta obra merece ser lida, estudada nas escolas para que as gerações mais novas despertem para o potencial de enormes possibilidades que a Madeira tem e o quanto podem os seus terrenos aráveis oferecerem de sustento à existência dos madeirenses e os que nos visitam saborearem do melhor do mundo que a nossa agricultura pode oferecer quanto à excelência de paladares.

Caro Eng.º Duarte Caldeira, parabéns por esta obra emblemática. Espero que seja valorizada e que sirva a muitos para despertarem para esta atividade tão antiga quanto é a humanidade, a agricultura.

E com o mote, que é preciso não esquecer, «se o campo não planta a cidade não janta», se faz esta obra rica de conteúdos importantes para a história da agricultura da Madeira. Que seja reavivado este grito de guerra dos trabalhadores rurais que lutam pela valorização da terra, mas também que seja uma constatação empírica do quanto será importante hoje e no futuro fazer valer qual é que é a origem da alimentação que chega à mesa das pessoas.

Sem comentários: