Antes de mais apraz-me dizer que será um livro
incontornável para quem venha a ter desejos de fazer a hercúlea e heroica história
da agricultura na Madeira. Apreciei o capítulo especial sobre o Porto Santo, as
suas especificidades, o potencial produtivo que ele oferece, cujo segredo está
no aproveitamento das águas, na ação política e na vontade de trabalhar dos porto
santenses.
Como alguém já definiu e eu corroboro, esta obra é «enciclopédica».
Basta reparar logo que perpassa todas a áreas e atividades relacionadas com a
agricultura na Madeira. A história como tudo começou desde chegada dos
primeiros habitantes, o que fizeram, o como fizeram.
Assim, feita a descoberta das especificidades dos
terrenos, a sua transformação em poios, desenvolveu-se de seguida a engenharia
da água e a sua canalização - a obra mais extraordinária que a Madeira tem a
par das monumentais paredes empedradas com a pedra «viva» da Madeira – as
diversas chamadas de atenção às autoridades políticas, as denúncias das muitas
asneiras que se fizeram neste campo, as abalizadas e comprovadas sugestões… Não
falta aturada reflexão sobre a fruticultura, a bananicultura, a
vitivinicultura, a cana-de-açucar, a horticultura, a criação de gado e o
pastoreio, a pecuária... Enfim, uma panóplia de assuntos relacionados com todos
os domínios da agricultura que devem ser tidos em conta por todos nós, porque a
agricultura é fundamental para as populações, a sua fixação e o seu desenvolvimento.
Não deixa de reclamar uma forte atenção para
comercialização dos produtos, a joia da coroa da agricultura, que deve ser
feita com benefício justo para o agricultor, coisa que não aconteceu durante
muitos anos e que veio contribuir bastante para o abandono agrícola que
sofremos. Os intermediários e os grupos económicos que se alaparam ao suor do
agricultor para o explorarem, foram dos principais a contribuírem para a fuga
de muitos agricultores, o empobrecimento populacional das comunidades rurais e daí
a descaraterização da nossa paisagem.
No final do livro deu voz às florestas. Alerta para a
praga dos incêndios e de como podem ser combatidos ao longo de todo o ano e não
apenas quando as labaredas consomem o património ambiental.
Tem um belíssimo capítulo sobre jardinagem.
A obra termina com um nota sobre o autor, onde ele se
apresenta de forma simples, mas com conhecimentos científicos e com a sua comprovada
experiência em todas estas matérias, particularmente, na produção de vinhos
Terras do Avô. Não se nota qualquer resquício de altivez, mas de forma simples,
fala-nos de técnicas experimentadas cientificamente em diálogo franco com a experiência
concreta dos agricultores.
Por isso, estou plenamente de acordo quando se diz,
que hoje temos mais agricultores de gabinete do que agricultores a mexer na
terra. A geração do Eng.º Duarte Caldeira comprova o contrário, que é possível,
ciência agrícola, inovação tecnológica e prática concreta.
Esta obra para mim serviu mais uma vez para perceber
a fortuna fertilizante que é a nossa amada terra da Ilha da Madeira, que se
lamenta ter sido esquecida, despreza, abandonada…
Esta obra merece ser lida, estudada nas escolas para
que as gerações mais novas despertem para o potencial de enormes possibilidades
que a Madeira tem e o quanto podem os seus terrenos aráveis oferecerem de sustento
à existência dos madeirenses e os que nos visitam saborearem do melhor do mundo
que a nossa agricultura pode oferecer quanto à excelência de paladares.
Caro Eng.º Duarte Caldeira, parabéns por esta obra
emblemática. Espero que seja valorizada e que sirva a muitos para despertarem para
esta atividade tão antiga quanto é a humanidade, a agricultura.
E com o mote, que é preciso não esquecer, «se o
campo não planta a cidade não janta», se faz esta obra rica de conteúdos
importantes para a história da agricultura da Madeira. Que seja reavivado este
grito de guerra dos trabalhadores rurais que
lutam pela valorização da terra, mas também que seja uma constatação empírica do
quanto será importante hoje e no futuro fazer valer qual é que é a origem da
alimentação que chega à mesa das pessoas.
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