Há muito que tinha deixado de viver. Não queria
viver. Foram inglórias as tentativas para o ajudar nos últimos tempos. Poucos (alguns amigos) compreendendo a sua forma de ser, tentaram de tudo para o ajudar. Ninguém conseguiu engendrar a melhor solução para o salvar daquele oceano de tristeza onde estava mergulhado.
Sempre foi uma vítima de si próprio. Da sua
insegurança. Dos seus medos. Do que diziam ou pensavam os outros acerca dele.
Não admira que o melhor companheiro que encontrava para se refugiar e para esquecer
os males que carregava às costas, ter sido o álcool.
Nesta hora, à parte todas as balelas que se vão dizer dele e dos rios de lágrimas de crocodilo que se vão verter, será preciso também lembrar que foi vítima da incompreensão geral. Vítima da família. Vítima de alguns colegas padres. Vítima de alguns bispos. Vítima de tantos que se serviram dele para o «explorar», sabendo da sua «doença» que se chamava insegurança e propensão fácil para a vitimização.
Enfim, morreu mais um padre votado ao abandono. E nestes casos o melhor que acontece é sempre a libertação pela morte. Porque se livrou de si e dos outros (nós
todos) deste mundo que não socorrem as vítimas, mas que quando podendo ainda as
maltratam mais e descartam como se de lixo se tratassem.
Confesso que muito mais podia ter feito eu por ele.
Sinto-me com algum remorso. Foram um sem números de chamadas nunca atendidas. Procurá-lo
sem nunca o encontrar. Tudo isto é em vão referir por hora, porque não resolve nada. É apenas o meu lamento e mais uma certeza de que ajudar as pessoas é dos trabalhos mais difíceis de levar acabo.
Mas, positivamente, guardarei dele a sua sabedoria, abertura de espírito e todos os conhecimentos abalizados em áreas hoje desprezadas pelo ensino e pela incultura geral que nos assiste, o grego, o latim e o hebraico. Era um profundo conhecedor da literatura clássica. E provavelmente dos padres da sua geração (e da atual), o que melhor conhecimento tinha do Concílio Vaticano II. Várias vezes o ouvi citar de cor passagens longas do texto conciliar. Infelizmente, por ter sido descartado, não contribuiu como deveria ter sido nestas matérias para engrandecer o conhecimento geral da sociedade madeirense. A inveja clerical e os ciúmes que campeiam a Madeira destroem pessoas.
Foi meu professor. Foi meu pároco. Um grande, mas
mesmo muito grande obrigado por tudo o que me ensinou e testemunhou de bondade,
de fé e de esperança. Descansa em paz Padre Eleutério.
6 comentários:
Padre José Luís, gostei muito de ler a sua mensagem, crítica, frontal, verdadeira! É caso para dizer: o que se pode e deve fazer hoje não se deve adiar para um nunca á tarde!
Da minha época. Uma rara inteligência.....
Uma rara inteligência, sensível, culto, diferenciado Descanse em paz
Deus o tenha. Gostava muito dele.
Concordo em tudo o que mencionou. Infelizmente faleceu um ser humano de excelência. Foi meu professor, foi o meu padre de casamento e bodas de prata. Um ser inteligente e grande conhecedor da filosofia e ideologia Cristã. Que a sua alma descanse em paz.
Infelizmente partiu mais um sacerdote das margens dos iluminados das cores perpuras e dourada. Caso para dizer, onde param os valores do Grande Mestre da história da Humanidade e da própria Igreja?
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