segunda-feira, 1 de junho de 2009
Orações sobre a oração
Com o início do mês dos Santos populares, vamos caminhar um pouco sobre algumas orações que nos desvelam o encontro com Deus. Para que não reste só folguedo e excessos de toda a ordem.
Primeira oração, disse um mestre do Espírito: «Se eu falto ao amor ou se falto à justiça, afasto-me infalívelmente de Vós, ó meu Deus, e o meu culto não é mais que idolatria. Para crer em vós, preciso crer no amor e crer na justiça e vale muito mais crer nesta coisas que pronunciar o Vosso Nome. Fora do amor e da justiça é impossível que eu alguma vez Vos possa encontrar. Mas aqueles que tomam o amor e a justiça por guia estão no caminho verdadeiro que os conduzirá até vós».
Segunda oração é um poema, a «Oração de um desocupado», Juan Gelman, poeta contemporâneo argentino, que diante de Deus de Pai canta e reza desta forma:
«Pai, /
desce dos céus, esqueci /
as orações que me ensinou minha avó, /
pobrezinha, ela repousa, não tem mais que lavar, limpar, não tem mais /
que preocupar-se, andando o dia todo, atrás da roupa, não tem mais que velar de noite, / penosamente, /
rezar, pedir-te coisas resmungando docemente». ///
Desce dos céus, se estás, desce então, /
pois morro de fome nesta esquina, /
não sei para que serve haver nascido, /
olho as mãos enchadas, /
não tem trabalho, não têm, /
desce um pouco, contempla /
isto que sou, este estômago vazio, /
esta cidade sem pão para meus dentes, a febre, /
cavando-me a carne, /
este dormir assim, /
sob a chuva, castigado pelo frio, perseguido. ///
Te digo que não entendo, Pai, desce, /
toca-me a alma, olha-me /
o coração, /
eu não roubei, nem assinei, fui criança /
e em troca me golpeiam, /
te digo que não entendo, Pai, desce, /
se estás, pois busco /
resignação em mim e não tenho e vou /
encher-me de raiva e afilar-me /
para brigar e vou /
gritar até estoirar o pescoço de sangue, /
porque não posso mais, tenho rins /
e sou um homem, /
desce! Que fizeram da tua criatura, Pai? /
Um animam furioso /
que mastiga a pedra da rua?».
Terceira oração, descobrimos este episódio sobr eum vida. Outro dia ouvimos esta história, que teria tudo de conto ou fábula se não fosse real. Uma mulher tinha um segredo muito bem guardado no interior da sua casa. Chamou um padre e disse-lhe que lhe ía mostra um segredo. Entraram os dois no quarto onde vivia a mulher e mostrou-lhe uma criança. Um Filho. Um monstro. A cabeça era enorme como a de um adulto. O corpo como o de uma criança muito pequenina. Os olhos fitos no tecto. A língua entrava e saía como a de uma serpente.
- Meu Deus! - Exclamou o padre como se fosse um gemido de medo. A mulher disse: - Padre, eu cuido deste meu filho já há oito anos. Ele só conhece a mim. Eu gosto muito dele. Quase ninguém sabe deste meu segredo. Logo a seguir disse: - Deus é bom. Deus é Pai... E, depois, olhou serena para o alto e exclamou: - Seja feita a Sua vontade assim na terra como no céu! - Só isto bastou para dizer tudo. O padre saiu dali sem dizer palavra. Cabisbaixo. Aterrado por causa do filhinho. Perplexo por causa da sua mãe. Só uma palavra lhe veio à mente: «Mulher, é grande a tua fé» (Mt 15,28).
A quarta oração, é um poema de Frei Fernando, Frei Ivo e Frei Beto, a oração de um presioneiro, em «O Canto na Fogueira»:
Senhor, /
quando olhares para os que nos apresionaram /
e para aqueles que à torturam nos entregaram; /
quando pesares as acções do nosso carcereiro /
quando julgares a vida dos que nos rejeitaram, /
esquece, Senhor, o mal que por ventura cometeram. /
Lembra, antes, que foi este sacrifício /
que nos aproximamos do Teu Filho Crucificado: /
pela torturas adquirimos as suas chagas; /
pelas grades, a sua liberdade de espírito; /
pelas penas, a esperança do Seu Reino; /
pelas humilhações, a alegria dos seus filhos. /
Lembra, Senhor, que desse sofrimento /
brotou em nós, qual semente esmagada que germina, /
o fruto da justiça e da paz, /
a flor da luz e do amor. Mas lembra, sobretudo, Senhor, /
que jamais queremos ser como eles, nem fazer ao próximo o que fizeram a nós.
Por fim, a quinta oração desperta-nos para a verdadeira imagem de Deus e para a descoberta da relação autêntica com Dues, que é sempre em cada momento da vida um Pai amigo e misericordioso. Outro grande mestre do espírito disse ao seu discípulo: «Tu não podes brincar com o animal que mora dentro de ti, sem te tornares totalmente animal. Tu não pode brincar com a mentira, sem perderes o direito à verdade. Tu não podes brincar com a crueldade sem perverteres a ternura do espírito. Se quiseres manter limpo o teu jardim, não podes deixar nenhum espaço entregue às ervas daninhas».
Para a oração e verdadeira relação com Deus, descobrimos que melhor que todas as nossas certezas, o melhor de tudo é estar certo que Deus nos atende como nosso Pai. Amen.
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