Sentimentos, emoções e imediatismo fazem parte da religiosidade. Mas… O que será isso diante do transcendente, para onde deve apontar toda a religiosidade séria.
Mas, actualmente estamos a viver uma religiosidade que se reduz a um sentimentalismo perigoso que apela à satisfação das emoções mais imediatas e nada mais fica ou compromete para além do momento. Aquele momento do «foi bonito», até mais uma próxima vez onde irei satisfazer o ego com o verbo encher. É a religião reduzida ao pacote com a data de prazo bem definida.
Antes de mais convém salientar, que diante deste sentimentalismo que varre a Igreja Católica de alto a baixo, alguns momentos, do Papa Bento XVI, nomeadamente, algumas intervenções nalguns fóruns mundiais. O texto para o dia mundial da paz de 2010, é fabuloso. Pena que no interior da Igreja poucos o leiam e o levem a sério. Destaco, entre nós, a figura do bispo do Porto D. Manuel Clemente, que recentemente foi galardoado com o prestigiado prémio Pessoa. Estamos perante um homem «culto e inteligentíssimo», assim o definiu o Pe Tolentino Mendonça. O prémio Pessoa de 2009, atribuído a D. Manuel Clemente, revela que estamos perante um oásis no panorama episcopal português.
Está na moda a religiosidade sentimental, imediatista ou baseada nas emoções. Esta é a acção pastoral da maior parte das igrejas cristãs e católicas de modo especial. A crise geral da Igreja, que teme fazer reformas profundas, urgentes e necessárias para que a Igreja tenha resposta eficaz para entrar em diálogo com o mundo actual, puxa as pessoas da Igreja de hoje para a promoção de iniciativas que mobilizem algum público.
As nossas «Missas do Parto», não se tornaram famosas ou simpáticas pela mensagem para a vida que transmitem, mas pela diversão, pelos comes e bebes que se oferecem nos adros das igrejas. É o sentimentalismo no seu melhor. O bailarico move multidões neste caso, felizmente, no ano passado o mau tempo não permitiu tanta diversão ao ar livre e obrigou que mais alguns entrassem nas igrejas. Não quero com isto descurar as pessoas que sempre participam nestas celebrações, que a elas aderem pela fé e que dessa forma melhor pretendem celebrar o Natal.
Outro aspecto, que mobiliza multidões e que alimenta o ego de muita gente, é Nossa Senhora. Iludir-se com muita gente que as imagens e celebrações com Maria – (onde está Maria de Nazaré, a Mãe de Jesus, lembram-se?) – mobilizam, é um puro engano. Não representa renovação da Igreja nem muito menos significa mais e melhor compromisso na vida da Igreja e do mundo.
É curioso que nos primeiros séculos do Cristianismo - e os Apóstolos foram pioneiros – houve a proibição do culto mariano. Não se falava em «Nossa Senhora», mas em Maria de Nazaré, para evitar o risco de se endeusar Maria ou com isso levar à irrelevância o essencial, que é Jesus Cristo, como Filho de Deus, o que verdadeiramente importa no Cristianismo.
Actualmente, recorre-se a «Nossa Senhora» e, de modo especial, as imagens que se veneram nos grandes Santuários Marianos, para mostrar algum peso e presença da Igreja no mundo de hoje.
Este caminho, aparentemente, sabe bem, enche o ego e deixa satisfeita alguma igreja, mas para o futuro e em termos de compromisso de todos e de cada um na vida da Igreja e do mundo, redunda em nada. Porque tudo é vivido emotivamente, o momento e a situação de vida de cada um (uma doença, um conflito familiar, uma desgraça qualquer, a falta de trabalho e etc.), é o que conta, por isso, recorre-se a «Nossa Senhora», ora para agradecer, ora para pedir. Estamos perante uma moda, um sentimento, uma emoção que deixa pouco ou nada de mensagem sobre Jesus Cristo e o Seu Evangelho.
Em tempos de crise, facilmente se cai no sentimentalismo. Porém, seria necessário que a Igreja mais responsável – permitam-me que fale deste modo – não se deixasse embarcar nem iludir pela grande mobilização que tal caminho gera. E quando o ego de alguma igreja se satisfaz com esta religiosidade, estamos muito mal, porque é sinal que a crise ainda é mais forte do que antes se pensava. Por isso, requer-se coragem para que se trave todo o sentimentalismo que varre a Igreja de alto a baixo, mesmo que daí advenham alguns dissabores desagradáveis.
A título de exemplo, para fazer pensar, conta-se que no século XIX, um bispo do Funchal chegou a proibir as Missas do Parto. Porque será que tal aconteceu? – Penso que todos já sabem a resposta. Dá que pensar uma decisão tão radical…
3 comentários:
P.José Luís parabéns pelo texto e pela coragem em divilgá-lo. Ninguém do clero da Madeira tem essa coragem de dizer as verdades que, infelizmente, ensombram a igreja, particularmente a da Madeira. Mas é preciso ser profeta e ser um sequaz de Jesus Cristo. Maria tem um lugar em todo o mundo católico e deve ser venerada como aMãe de Deus. Eu gosto ir a Fátima e lá reflectir, orar e aprender sobre o que se passa no Mundo. Devo dizer que, apesar de tudo, aprende-se muito, mas fujo tudo o que seja "bentinhos" tal como o Eça de Queiroz no seu livro "Maias" pões amulher de Afonso da Maia pedir para sair da Inglaterra, novamente, ir nas procissões, rezas e medalhinhas etc etc. A Religião quer queiramos, quer não, fala-nos mais ao sentimento e às emoções. Antigamente os bons sermões eram os que ponham as pessoas a chorar.
Nessa não alinho. Na sua sim.Porque está próxima do Evangelho do Senhor Jesus e do ensinamentos do Concílio e de todas as Instituições civis ou religiosas que defendem os Direitos Humanos e da Natureza.
Senhor Padre
Gosto do que escreveu e concordo em quase tudo com aquilo que diz. Claro que é preciso coragem para o fazer, e o senhor tem essa coragem. Gosto muito do seu blog e dos seus textos, deixam-me sempre a pensar.
A paz do Senhor
Maria
Já se sabe que tenho ideias próprias, se calhar não mto convencionais. Penso que Deus, na criação da Criatura, em todas sem acepção de cor ou raça ou local de nascimento, lhe terá plantado a semente da Espiritualidade. Depois, por inserção em sítio ou família, somos iniciados na Religião-levados em pequenos ou por opção, em adultos.Contudo, as tais "devoções ao molhe" é que são consideradas a verdadeira religião, grosso modo. Na m/ óptica, sem espiritualidade.
Seria curioso, P. José Luis, abordar este tema
tuka
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